Crise que começou com a Guerra da Ucrânia pode acabar com promissor time holandês
Entenda como o Vitesse foi de sensação a rebaixado no futebol holandês, e o buraco ainda pode ser mais fundo
Nesta sexta-feira (19), a Federação Holandesa de Futebol (KNVB) anunciou que seu comitê independente de licenciamento impôs ao Vitesse a perda de 18 pontos na Eredivise (Campeonato Holandês). Isso faltando quatro rodadas para o término do torneio. Segundo o comunicado da KNVB, o clube da cidade de Arnhem não havia cumprido todos os requerimentos de licenciamento “por um período extenso”, infringindo assim as regras de transparência da entidade.
Com a subtração de 18 pontos, o Vitesse, que já amargava a lanterna da Eredivise, ficou com menos um ponto (-1) na tabela de classificação e teve seu rebaixamento decretado. Isso porque, o Excelsior, primeiro time fora da zona de rebaixamento, soma 25. Ou seja, não há mais chances matemáticas da equipe de Arnhem lutar contra o descenso nas últimas quatro rodadas da liga holandesa.
A diretoria do Vitesse já se posicionou sobre o tema e garantiu que não vai recorrer da punição junto à KNVB. Edwin Reijntjes, diretor-geral interino do clube, afirmou que tal movimento poderia fazer o time perder a atual licença, o que acarretaria falência e fechamento da instituição (ainda não está 100% livre disso). Apesar do momento delicado que o Vitesse atravessa, o executivo se mostrou aliviado com a oportunidade de manter a licença.
— Apesar de ser um dia triste para todos que apoiam o Vitesse, essa é a realidade. Por outro lado, quero deixar isso bem claro para todos, que estamos extremamente felizes com a oportunidade que nos foi dada ao mantermos a licença. Isso também estava por um fio — disse Edwin Reijntjes.
Fundado em 1892, o Vitesse é o segundo clube mais antigo de futebol na Holanda, ficando atrás apenas do Sparta Rotterdam. O time disputa a 1ª divisão local desde a temporada 1989/90 e nunca havia sido rebaixado. Seu melhor resultado na Eredivise foi a vice-liderança — feito que conseguiu alcançar em quatro oportunidades.
Entenda a relação da Guerra da Ucrânia com a crise do Vitesse
Pressão sobre Valeri Oyf
A invasão à Ucrânia, eclodida em fevereiro de 2022, fez com que milionários russos se tornassem alvo de pressão política e análise minuciosa por parte de governos europeus e dos Estados Unidos. No futebol, tal premissa também se cumpriu. Antes do Reino Unido bloquear o dinheiro do Chelsea, Roman Abramovich colocou o bicampeão europeu à venda – Todd Boehly comprou. O Everton, por sua vez, comunicou o rompimento de todos os contratos com Alisher Usmanov, amigo de Vladimir Putin (presidente da Rússia) e dono da holding que era uma das principais patrocinadoras do clube de Liverpool. Posteriormente, foi a vez do Vitesse se resguardar.
O oligarca russo Valeri Oyf, então proprietário do Vitesse, decidiu vender suas ações em março de 2022. Dono da “Performance Management Holding BV”, ele usava a empresa holandesa para financiar o clube. Desde que o magnata se desligou da instituição, a equipe de Arnhem nunca mais foi a mesma.
— Dói muito dizer adeus ao Vitesse, mas na situação atual estou tomando esta difícil decisão considerando os interesses do clube, funcionários, torcedores, patrocinadores e outras partes interessadas. Levarei como lembrança um período especial, no qual sempre me senti muito envolvido com o clube e aproveitei as grandes atuações. O Vitesse está no meu coração e sempre estará, clube e torcedores — disse Valeri Oyf em comunicado na época.
Fim da parceria com o Chelsea
Em virtude da amizade entre Roman Abramovich e Valeri Oyf, Chelsea e Vitesse formaram uma parceria de 2010 até o início da Guerra Rússia-Ucrânia. Nela, o time holandês era utilizado pelo clube londrino como uma espécie de ‘fábrica de testes'. Ou seja, recebia jovens talentos e os colocava para jogar. Mason Mount, Nemanja Matic, Gaël Kakuta, Patrick van Aanholt e Lucas Piazon são alguns exemplos de jogadores que fizeram parte de tal projeto.
O auxílio do Chelsea fez o Vitesse obter sucesso no futebol holandês. Reforçado com jogadores promissores e motivados (em mostrar serviço), o time de Arnhem não passou sustos da Eredivise. Pelo contrário. Conseguiu boas campanhas no torneio de pontos corridos, faturou o título da Copa dos Países Baixos de 2016/17 e participou de competições continentais.
Queda vertiginosa em campo
Como citado, a saída de Valeri Oyf abalou as estruturas do Vitesse. O clube não conseguiu compradores até o momento, acumulou dívidas e precisou reduzir os gastos. As consequências disso? Bagunça administrativa, falta de transparência, elenco modesto, queda vertiginosa em campo e rebaixamento inédito.
Na primeira temporada sem Valeri (2022/23), o Vitesse terminou em 10º lugar na Eredivise, com 40 pontos conquistados. Em 34 rodadas disputadas, a equipe venceu 10, empatou 10 e perdeu 14. Marcou 45 gols e sofreu 50.
Já na atual temporada, antes da punição imposta pela KNVB, o Vitesse somava 17 pontos, com quatro triunfos, cinco empates e 21 reveses.