Análise da temporada 2016/17 do Campeonato Holandês (II – a parte de cima)
Após uma semana relativamente movimentada, o futebol holandês enfim entrou no clima de férias. Fora a esperada promoção de Marcel Keizer ao comando do time principal do Ajax (promoção que dá a impressão de recomeço, assim como era com Peter Bosz), o que ocorreu ficou mais no campo das especulações do que na realidade. Mesmo o plano ambicioso do Feyenoord ainda é só um plano: até há interesse em Robin van Persie, mas o fato do eventual ganho ser mais técnico (o atacante não tem a mesma liderança que Dirk Kuyt esbanjava para o elenco) faz a diretoria ponderar muito antes de gastar – além disso, RvP ainda tem mais um ano de contrato com o Fenerbahçe, que certamente quererá algum dinheiro para liberar o goleador máximo da história da seleção holandesa.
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Assim, é mais útil continuar lembrando do impressionante fim de temporada do Ajax, da festa que o Vitesse pôde fazer, da boa surpresa que o Utrecht foi e, acima de tudo, da redenção do Feyenoord, que enfim terminou o seu calvário. É hora de terminar a análise da temporada 2016/17 do Campeonato Holandês.
Feyenoord
Colocação final: Campeão, com 82 pontos
Técnico: Giovanni van Bronckhorst
Maior vitória: Feyenoord 8×0 Go Ahead Eagles (29ª rodada)
Maior derrota: Excelsior 3×0 Feyenoord (33ª rodada)
Principais jogadores: Nicolai Jorgensen (atacante), Eric Botteghin (zagueiro) e Karim El Ahmadi (meio-campista)
Artilheiro: Nicolai Jorgensen (21 gols)
Quem mais partidas jogou: Eric Botteghin (zagueiro) e Jens Toornstra (meio-campista), que jogaram todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado nas quartas de final, pelo Vitesse
Competição continental: Liga Europa (eliminado na fase de grupos)
Conceito da temporada: ótimo
5 a 0 no Groningen, na primeira rodada. “Ah, o Feyenoord sempre começa bem, depois cai.” As vitórias se avolumavam no primeiro turno, fora e dentro de casa. “E num clássico, será que o clube vai resistir?” Pois o Stadionclub foi a Eindhoven, superou a pressão do PSV e conseguiu uma vitória marcante por 1 a 0, provando: este ano não seria igual àqueles que passaram. Bem, na verdade, a equipe de Roterdã precisaria fazer isso ao longo de todas as 34 rodadas que disputaria, para enfim contentar sua torcida. Para enfim poder gritar que era um grande holandês, um clube campeão. Até poderia ter ido melhor na Liga Europa (começou vencendo o Manchester United, mas caiu melancolicamente na fase de grupos), mas… no fundo, não importava. A torcida, os jogadores, o técnico Giovanni van Bronckhorst: todos tinham um foco supremo.
Vieram os primeiros tropeços: empate para o Heerenveen, derrota para o Go Ahead Eagles (logo para o lanterna!). Bastou: “Ah, agora vai cair, o Ajax está melhorando, o Feyenoord não vai aguentar”. Mesmo que o clube não tenha perdido a primeira posição por nenhuma rodada. Mesmo que Dirk Kuyt, titular no começo e reserva constante no resto da temporada, tenha contido suas queixas para manter a liderança inquestionável que tinha para o resto do grupo de jogadores. Mesmo que Brad Jones, goleiro contratado às pressas após a lesão de Kenneth Vermeer, estivesse sendo garantia de segurança. Mesmo que Eric Botteghin transbordasse firmeza no miolo de zaga. Mesmo que Karim El Ahmadi e Tonny Vilhena fizessem uma dupla quase perfeita no meio-campo. Mesmo que Jens Toornstra e Steven Berghuis evoluíssem no ataque. Mesmo que Eljero Elia conseguisse atuações para reagir na carreira. Mesmo que Nicolai Jorgensen tenha sido contratação certeira: o mais constante jogador da equipe, goleador e, muito provavelmente, o melhor jogador do campeonato.
No returno, os solavancos foram mais fortes. Como esquecer aquela derrota para o Sparta, na 25ª rodada, quando um gol sofrido aos 40 segundos de jogo não foi igualado em 90 minutos? E a derrota no Klassieker em Amsterdã, para o Ajax – de novo, sem conseguir superar a nêmesis? E o susto no 2 a 2 com o Zwolle – perdendo por 2 a 0 em vinte minutos no primeiro tempo, precisando correr atrás do empate? E o susto supremo: perder o primeiro “jogo do título”, para o Excelsior, na 33ª rodada, ficando apenas um ponto à frente de um Ajax que subia? Como fazer tudo isso? O Feyenoord respondeu ganhando os jogos que precisava ganhar, contra os pequenos. Fazendo de De Kuip uma fortaleza ainda mais temível do que já é. Contando com a crença fortalecida de sua torcida. Contando com a variedade de destaques – se Jorgensen não jogasse bem, Toornstra jogava; se os dois decepcionassem, Berghuis aparecia; se os três negassem fogo, Vilhena crescia na hora difícil etc.
E a resposta final veio contra o Heracles. Com Dirk Kuyt marcando três gols e provando o tamanho de sua importância para o Feyenoord, no glorioso ato final de sua carreira. Finalmente, era o fim dos “ah, mas…”. Ninguém tinha mais direito de duvidar do Feyenoord: clube que sofreu, sim. Mas que ganhou na hora certa. Foi regular como havia muito tempo não era. E que, por isso, deu a Het Legioen uma alegria de que ela já tinha se esquecido – afinal, havia 18 anos ela não a tinha. Uma alegria da qual nunca mais se esquecerá.
Ajax
Colocação final: Vice-campeão, com 81 pontos
Técnico: Peter Bosz
Maior vitória: Ajax 5×0 NEC (13ª rodada)
Maior derrota: Ajax 1×2 Willem II (3ª rodada)
Principais jogadores: Davy Klaassen (meio-campista), Hakim Ziyech (meio-campista) e Kasper Dolberg (atacante)
Artilheiro: Kasper Dolberg (16 gols)
Quem mais partidas jogou: Davy Klaassen (meio-campista), com 33 partidas
Copa nacional: eliminado nas oitavas de final, pelo Cambuur
Competição continental: Liga Europa (vice-campeão)
Conceito da temporada: ótimo
Uma vitória difícil sobre o Sparta Rotterdam, na primeira rodada. Um empate preocupante contra o Roda JC, em casa, na segunda. Finalmente, uma derrota vexatória para o Willem II – certo, foi apenas por 2 a 1, mas a não ser quando se perde para um outro integrante do trio de grandes holandeses, ver o Ajax perdendo na Amsterdam Arena pela Eredivisie é sempre algo que bordeja o vexaminoso. Para piorar, a humilhação imposta pelo Rostov na terceira fase preliminar da Liga dos Campeões doeu demais. De quebra, dois destaques do time deixavam Amsterdã: Jasper Cillessen e Arkadiusz Milik. A pergunta era uma só: havia esperança para o Ajax?
Também alvo de alguma desconfiança (afinal, nunca foi técnico de ponta, embora tivesse feito bom trabalho no Vitesse), Peter Bosz começou a trabalhar. O Ajax se arriscou no mercado, como havia muito não fazia, gastando na necessária e pedida compra de Hakim Ziyech para o meio-campo. Lentamente, as coisas foram se acertando: Kasper Dolberg começou a marcar gols aqui e ali, o papel tático de Bertrand Traoré era valioso, Amin Younes fazia a melhor temporada de sua carreira, Davy Klaassen e Ziyech se equilibraram bem na armação das jogadas, Davinson Sánchez tinha recomposição impressionante na defesa, André Onana surpreendia no gol (fazendo o emprestado Tim Krul ter de procurar outro time), Bosz ia achando o grupo com que preferia trabalhar (incluindo o afastamento de gente que não lhe agradou e saiu, como Anwar El Ghazi ou Riechedly Bazoer)… e o Ajax foi crescendo, com campanhas elogiáveis na Eredivisie e na Liga Europa.
E no returno, a “lagarta” Ajacied transformou-se em “borboleta” (que metáfora!). A juventude chegou, com a promoção lenta e constante de Justin Kluivert, a segurança invejável de Matthijs de Ligt, o desembarque fulgurante de David Neres. Na Eredivisie, só restava o esforço para buscar um Feyenoord disposto a não decepcionar sua torcida – e o Ajax se esforçava (tanto que foi o melhor time do returno). E na Liga Europa, entre as atuações exuberantes e ofensivas na Amsterdam Arena e os temores defensivos fora de casa, o clube da estação Bijlmer Arena avançou, avançou… e chegou onde nenhum clube holandês esperava chegar na atualidade: na final de um torneio continental – mesmo que este fosse a Liga Europa, bem mais acessível. Aí, o Manchester United “cortou as asas” da equipe, com autoridade. E não deu para superar o Feyenoord na liga. Ainda assim, não faltavam razões para um gigantesco aplauso ao Ajax, como havia muito o clube não merecia. Se o vice-campeonato de 2015/16 foi um completo anticlímax, os vices desta temporada foram honrosos, muito honrosos.
PSV
Colocação final: 3º lugar, com 76 pontos
Técnico: Phillip Cocu
Maior vitória: PSV 5×0 Willem II (30ª rodada)
Maior derrota: Feyenoord 2×1 PSV (24ª rodada)
Principais jogadores: Jeroen Zoet (goleiro), Héctor Moreno (zagueiro) e Davy Pröpper (meio-campista)
Artilheiro: Gastón Pereiro (10 gols)
Quem mais partidas jogou: Davy Pröpper (meio-campista), com 33 partidas
Copa nacional: eliminado na segunda fase, pelo Sparta Rotterdam
Competição continental: Liga dos Campeões (eliminado na fase de grupos)
Conceito da temporada: regular
O Feyenoord emocionou e enlouqueceu sua torcida ao longo das 34 rodadas do Campeonato Holandês. O Ajax foi embalando aos poucos, até protagonizar outra empolgante história na temporada. E o PSV? Ficou na dele. O que não significa boa coisa. Os Boeren fizeram uma temporada absolutamente sem graça. Até tiveram um bom returno – foram o segundo melhor time -, mas nunca chegaram a empolgar a torcida. Talvez porque deram claros sinais da necessidade de reformulação. Sinais já exibidos com a melancólica participação na fase de grupos da Liga dos Campeões. Ou com o estilo de jogo “manjado”, facilmente marcado pelos adversários.
Claro, houve razões para destaque aqui e ali. Após algumas atuações temerárias no começo da temporada, Jeroen Zoet voltou a impor respeito no gol. Héctor Moreno deixou de lado a imagem de “violento” que tinha: foi o esteio da zaga em todo o campeonato, e fez por merecer a transferência que conseguiu. E… ficou nisso. Se houve, em meio-campo e ataque, algum jogador que mereceu destaque no PSV, este foi Marco van Ginkel: de novo chegando para o returno, de novo emprestado pelo Chelsea, de novo o ponta-de-lança mostrou ótimo desempenho. Fez sete gols (terceiro na artilharia dos Eindhovenaren na Eredivisie, em seis meses). Mas ficou só nele.
De resto, Andrés Guardado, Davy Pröpper, Luuk de Jong, Gastón Pereiro, Jürgen Locadia (este até tem como se defender: perdeu boa parte do campeonato, por lesão)… nenhum deles exibiu capacidade e regularidade para impulsionar a equipe na temporada. A torcida percebeu, e não gostou muito do marasmo visto. Embora não seja caso para demissão (alguns torcedores pediram-na), Phillip Cocu tem muito trabalho a fazer nesta pré-temporada que está por começar. Para sua sorte, a nova geração já começou a aparecer no PSV: Sam Lammers, Ramon-Pascal Lundqvist, Dante Rigo, Steven Bergwijn. É destes que deverá partir a mudança necessária no comportamento do time de Eindhoven em campo.
Utrecht
Colocação final: 4º lugar, com 62 pontos
Técnico: Erik ten Hag
Maior vitória: Utrecht 3×0 Go Ahead Eagles (9ª rodada), NEC 0x3 Utrecht (27ª rodada) e Utrecht 3×0 Twente (30ª rodada)
Maior derrota: Utrecht 1×5 Groningen (6ª rodada)
Principal jogador: Sébastien Haller (atacante)
Artilheiro: Sébastien Haller (15 gols)
Quem mais partidas jogou: Ramon Leeuwin (lateral direito), Willem Janssen (zagueiro/volante), Yassin Ayoub (meio-campista) e Sébastien Haller (atacante), todos com 36 partidas – 32 pela temporada regular, 4 pelos play-offs de vaga na Liga Europa
Copa nacional: eliminado nas quartas de final, pelo Cambuur
Competição continental: nenhuma
Conceito da temporada: bom
Ah, se não fossem os clubes grandes… quem sabe assim, o Utrecht receberia o valor que merecia, pela temporada que fez. De novo, os Utregs mostraram um estilo técnico e ofensivo em suas partidas – com mais variedade tática do que a média do futebol holandês. Parte graças ao talento do técnico Erik ten Hag, dos nomes mais promissores do cargo no país. E a maior parte, seguramente, graças ao equilibrado grupo de jogadores, com titulares e reservas mostrando o mesmo nível. O gol foi prova disso: Robbin Ruiter teve séria concussão cerebral no final do turno, e o dinamarquês David Jensen teve de entrar. Agradou tanto que não só continuará titular, com a virtual saída de Ruiter, mas também foi convocado pela primeira vez para a seleção de seu país.
No meio-campo, Willem Janssen teve tripla utilidade: enfim livre das lesões, o capitão do time mostrava capacidade na zaga e no meio-campo. Na frente, a dupla Yassin Ayoub e Nacer Barazite criava boas jogadas – e até chegava para finalizar. Mas nem seria necessário, diante de uma equipe que tinha duas opções confiáveis (Gyrano Kerk e Richairo Zivkovic – este, enfim jogando bem após chamar mais atenção pelas indisciplinas cometidas no Ajax) e… Sébastien Haller. O francês conseguiu a merecida e desejada transferência (Eintracht Frankfurt), deixando antes seu nome na história do clube: não só foi o goleador da equipe nas três temporadas passadas, mas tornou-se o jogador estrangeiro a mais ter marcado gols na trajetória do Utrecht.
Superar o trio de ferro era querer demais, mas o Utrecht merecia até uma vaga direta na Liga Europa, tal a qualidade que demonstrou. Tinha a chance de fazer justiça nos play-offs – justamente a fase em que fraquejara em 2015/16. E fez: com algum drama, superou o AZ e garantiu vaga na Liga Europa. Hora de mostrar num palco mais prestigioso o que pode fazer. O Utrecht tem totais condições de fazê-lo.
Vitesse
Colocação final: 5º lugar, com 51 pontos
Técnico: Henk Fräser
Maior vitória: Vitesse 5×0 Sparta Rotterdam (26ª rodada)
Maior derrota: Feyenoord 3×1 Vitesse (17ª rodada) e Zwolle 3×1 Vitesse (25ª rodada)
Principais jogadores: Lewis Baker (meio-campista) e Ricky van Wolfswinkel (atacante)
Artilheiro: Ricky van Wolfswinkel (20 gols)
Quem mais partidas jogou: Guram Kashia (zagueiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: Campeão
Competição continental: nenhuma
Conceito da temporada: bom
Se clubes como AZ e Heerenveen fraquejaram nas horas decisivas da temporada, o Vitesse fez o inverso: cresceu no momento que precisava crescer. Mostra disso foram as atuações da própria equipe no returno. Se o time de Arnhem ainda se baseava mais na força coletiva durante as primeiras 17 rodadas (faz parte do jeito do técnico Henk Fräser), os destaques começaram a aparecer na reta final. E foram fundamentais para uma temporada, de certa forma, inesquecível do Vites. Tudo começou na defesa, com o goleiro Eloy Room mantendo sua elasticidade habitual, e com Guram Kashia consolidando seu papel como ídolo da torcida, no miolo de zaga.
No meio-campo, as tarefas ficaram melhor divididas: Marvelous Nakamba mostrou força física para marcar, enquanto Lewis Baker ganhou espaço para despontar como mais um promissor jogador inglês: trouxe perigo nas cobranças de falta, criou jogadas, enfim, virou o cérebro que o Vitesse desejava após a saída de Valeri “Vako” Qazaishvili. No ataque, enfim, Milot Rashica foi um coadjuvante útil para a grande estrela: Ricky van Wolfswinkel, o bom filho que à casa tornou, para reabilitar a carreira. Não só conseguiu isso, mas levou a reboque o time – simbolizando isso com a vice-artilharia na Eredivisie e, acima de tudo, pelos dois gols marcados na final da Copa da Holanda, sendo o rosto do primeiro título da história de 125 anos do Vitesse. De quebra, mais uma boa campanha na liga. O que mais a torcida aurinegra poderia querer?
AZ
Colocação final: 6º lugar, com 49 pontos
Técnico: John van den Brom
Maior vitória: AZ 5×1 Heracles Almelo (13ª rodada)
Maior derrota: Feyenoord 5×2 AZ (26ª rodada)
Principais jogadores: Derrick Luckassen (zagueiro/volante) e Wout Weghorst (atacante)
Artilheiro: Wout Weghorst (17 gols)
Quem mais partidas jogou: Derrick Luckassen, com 35 partidas – 31 pela temporada regular, 4 pelos play-offs de vaga na Liga Europa
Copa nacional: Vice-campeão
Competição continental: Liga Europa (eliminado na segunda fase)
Conceito da temporada: regular
Quase. Uma das palavras mais conhecidas do futebol holandês pode descrever bem a campanha que o AZ fez na Eredivisie. Quase foi o “melhor do resto” no campeonato (ficou boa parte do tempo na quinta posição, seguindo o Utrecht a par e passo). Quase pôde prescindir dos play-offs (afinal, chegou à final da Copa do Holanda). Quase sonhou em fazer uma boa campanha na Liga Europa (superar a fase de grupos já foi uma grande coisa). Quase tinha um time bem equilibrado, unindo gente experiente (Ron Vlaar e, no returno, Tim Krul) a novidades das mais promissoras que o futebol holandês tem (Ridgeciano Haps, Wout Weghorst e, principalmente, Derrick Luckassen). Mas na hora de conseguir provar todo o potencial que tem dentro da Holanda, o time de Alkmaar sempre fracassou na temporada.
Às vezes, fracassou até vergonhosamente – certo que cair na Liga Europa para o Lyon era previsível, mas os Alkmaarders não tinham um time frágil a ponto de tomar 4 a 1 em casa e 7 a 1 fora. De resto, ao longo do returno a equipe foi caindo em relação ao Utrecht – terminou em sexto, longínquos nove pontos atrás. Os veteranos decepcionaram: Vlaar lesionou-se de novo, e Krul teve momentos de irregularidade. Na Copa da Holanda, um time mais experiente não foi páreo para um Vitesse mais decisivo nos momentos finais do jogo. Finalmente, nos play-offs pelo lugar na Liga Europa, os símbolos decisivos do “quase”. Nos dois jogos contra o Groningen, um talento eclodiu – Calvin Stengs, meio-campo de 18 anos, autor de dois gols. E na decisão da vaga, contra o Utrecht, a mostra foi mais forte: o jogo de ida teve um 3 a 0 exuberante, com Weghorst e Stengs despontando. Mas na volta… o Utrecht devolveu o 3 a 0, e levou a vaga para o torneio continental, nos pênaltis. E o AZ deixou a incômoda impressão de que, apesar da temporada até elogiável, poderia ter feito bem melhor.
Twente
Colocação final: 7º lugar, com 45 pontos
Técnico: René Hake
Maior vitória: Twente 4×1 ADO Den Haag (6ª rodada)
Maiores derrotas: Ajax 3×0 Twente (26ª rodada) e Utrecht 3×0 Twente (30ª rodada)
Principal jogador: Enes Ünal (atacante)
Artilheiro: Enes Ünal (18 gols)
Quem mais partidas jogou: Nick Marsman (goleiro), que jogou todas as 34 partidas
Copa nacional: eliminado na primeira fase, pelo Utrecht
Competição continental: nenhuma
Conceito da temporada: bom
Na pausa de inverno, ainda era possível duvidar, acreditar que algo iria desandar no returno. Não desandou. Então, é possível repetir a pergunta para o Twente: quem diria?! Para um clube que ficara na primeira divisão holandesa do jeito que ficara – pela porta dos fundos, recebendo perdão da federação após as dívidas -, cumprir com louvor a tarefa de fazer um campeonato seguro foi um bálsamo, diante da situação financeira que o clube viveu (e ainda vive, de certa forma). Aliás, só o fato de terminar na zona dos play-offs pela Liga Europa – que só não disputou pela punição de três anos sem competições continentais, imposta pela KNVB – já dá a noção de como a temporada dos Tukkers foi elogiável. E foi elogiável, principalmente, por dois fatores.
O primeiro, a regularidade: raramente o time de Enschede teve solavancos, na tabela (foi 7º no turno, e 9º no returno) e em seus desempenhos (foi o sétimo colocado nos jogos em casa, e o oitavo nas partidas fora). Tal feito deveu-se ao outro fator justificador da boa campanha: as atuações dos destaques. Sem muitas mudanças no esquema tático, alguns jogadores cresceram de produção, como Joachim Andersen, seguro na defesa, Kamohelo Mokotjo, veloz na marcação, e, principalmente, Enes Ünal, que justificou o empréstimo do Manchester City com seus 18 gols, tornando-se dos melhores atacantes da temporada (e também merecendo a contratação do Villarreal). Após muito tempo, a torcida do Twente voltou a ter algum motivo de relativo orgulho. Algo que parecia inimaginável.
Groningen
Colocação final: 8º lugar, com 43 pontos (na frente pelo melhor saldo de gols)
Técnico: Ernest Faber
Maior vitória: Utrecht 1×5 Groningen (6ª rodada) e Groningen 5×1 Zwolle (31ª rodada)
Maior derrota: Groningen 0x5 Feyenoord
Principais jogadores: Sergio Padt (goleiro) e Mimoun Mahi (atacante)
Artilheiro: Mimoun Mahi (17 gols)
Quem mais partidas jogou: Sergio Padt (goleiro), que jogou todas as 36 partidas – 34 da temporada regular e duas dos play-offs de vaga na Liga Europa
Copa nacional: eliminado na segunda fase, pelo Utrecht
Competição continental: nenhuma
Conceito da temporada: regular
À primeira vista, pode parecer que o Groningen protagonizou mais uma daquelas temporadas que passam despercebidas no futebol holandês. Não brilhou como o Utrecht, não decepcionou como AZ e Heerenveen: teve regularidade. Porém, talvez essa regularidade seja justamente o ponto mais positivo da temporada da equipe do norte holandês. Após momentos turbulentos em 2015/16, fazia falta um time que desse o mínimo de confiança à torcida. E os Groningers conseguiram isso.
Principalmente por causa da maior solidez da equipe. Simbolizada em dois nomes: Sergio Padt, um dos melhores goleiros da Eredivisie, com porte físico imponente e força nas saídas de gol, ganhando respeito que foi premiado com a convocação para a seleção holandesa, nas datas FIFA mais recentes. E Mimoun Mahi, que trouxe mais velocidade ao ataque, transformando-a em gols. Sem contar os coadjuvantes de valor: Simon Tibbling, Brian Linssen, Ruben Jenssen, Oussama Idrissi. Ainda não foi suficiente para fazer frente ao AZ nos play-offs pela Liga Europa. Mas foi, para fazer a torcida crer que o Groningen pode melhorar em 2017/18.
Heerenveen
Colocação final: 9º lugar, com 43 pontos
Técnico: Jurgen Streppel
Maiores vitórias: Roda JC 0x3 Heerenveen (6ª rodada), ADO Den Haag 0x3 Heerenveen (7ª rodada), Groningen 0x3 Heerenveen (9ª rodada) e Heerenveen 3×0 Roda JC (24ª rodada)
Maior derrota: Ajax 5×1 Heerenveen (31ª rodada)
Principais jogadores: Sam Larsson (atacante) e Reza Ghoochannejhad (atacante)
Artilheiro: Reza Ghoochannejhad (20 gols)
Quem mais partidas jogou: Erwin Mulder (goleiro), que jogou todas as 36 partidas – 34 da temporada regular e duas dos play-offs de vaga na Liga Europa
Copa nacional: eliminado nas quartas de final, pelo AZ
Competição continental: nenhuma
Conceito da temporada: regular
É possível dividir a temporada que o Heerenveen fez em duas, a partir de um momento. Que, aliás, nem foi numa partida da equipe da Frísia. Foi precisamente em Holanda 1×1 Bélgica, amistoso da Laranja em novembro do ano passado, quando Stijn Schaars, volante que era o destaque da grande campanha que o Fean fazia até então (e até por isso voltava à Oranje), deixou o jogo com uma lesão muscular na coxa. Ela se revelou mais grave do que parecia. E a partir do returno, a equipe da camiseta alviazul com folhas vermelhas de lírio desabou. Basta dizer: foi a penúltima colocada, tomando-se o desempenho nas últimas 17 rodadas, só melhor do que o rebaixado Go Ahead Eagles.
Foram onze derrotas, com duas vezes ocorrendo sequências de três reveses. O que fez a equipe despencar, tendo dificuldades até de garantir lugar nos play-offs por vaga na Liga Europa. Curiosamente, alguns jogadores seguiam tendo bom desempenho técnico, como os destaques Ghoochannejhad e Larsson, além do goleiro Erwin Mulder. Foi o que segurou a equipe na região desejada da tabela (também graças à presença de AZ e Vitesse nela, é verdade). Todavia, com uma equipe sem a segurança defensiva do turno, havia muito o respeito pela campanha fora perdido. E nos play-offs pela Liga Europa, não ocorreu nada mais do que o esperado: derrotas para o Utrecht. Certo, o Heerenveen terminou a temporada com total segurança. Mas diante do que prometia…