HolandaLiga Europa

Ajax honrou sua grandeza e reviveu o melhor de seu futebol em triunfo demolidor sobre o Lyon

O Ajax protagonizou uma noite gigantesca na (futura) Johan Cruyff Arena, como os melhores momentos de sua história sugerem. Conquistou uma vitória de peso sobre o Lyon, tão pesada quanto a sua camisa. Um triunfo que deixa os Godenzonen próximos da classificação à decisão da Liga Europa, naquela que pode ser a sua primeira final continental desde 1996. Tudo isso justamente no ano em que o clube celebra os 30 anos de seu título da Recopa e os 25 de sua Copa da Uefa. Diante de um pano de fundo tão glorioso, os torcedores presentes nas arquibancadas reviram a grandeza ausente há tempos, ou que apenas conheceram pelas imagens antigas, pelos artigos de jornal, pelas vozes de seus pais. No primeiro confronto das semifinais, os Ajacieden enfiaram 4 a 1 sobre os franceses. E poderia ter sido ainda mais.

Apesar da goleada, o Ajax encontrou dificuldades durante o primeiro tempo. O Lyon demonstrava que seria um adversário mais duro do que os encarados anteriormente na competição. Os Gones criavam mais perigos no ataque, com Nabil Fekir e Maxwel Cornet comandando as ações. No entanto, os Godenzonen ligariam a velocidade 1 do modo ‘Futebol Total' a partir dos 25 minutos. A partir de uma cobrança de falta de Hakim Ziyech, Bertrand Traoré apareceu para dar um leve desvio às redes. Os holandeses passaram a apresentar um jogo mais solto, contando com a movimentação de seus homens de frente. E ampliaram com uma pitada de sorte aos 34. Após uma saída de bola ruim do goleiro Anthony Lopes, Bertrand Traoré ajeitou de cabeça para Kasper Dolberg avançar com o caminho livre e fuzilar. Nos acréscimos, ainda quase houve o terceiro, mas Anthony Lopes se redimiu com duas defesaças.

O placar deixava o duelo aberto para o segundo tempo. E, definitivamente, o que se viu foram 45 minutos alucinantes de futebol – com 25 finalizações, 16 delas no alvo. Os dois goleiros se agigantaram sob as traves. Entretanto, por mais que Anthony Lopes fosse estupendo, o Ajax encantava. Trocava passes com enorme velocidade, envolvendo a exposta defesa do Lyon. Só não aplicou uma goleada mais contundente porque às vezes abusou do preciosismo nas finalizações, embora também encontrasse um paredão na meta adversária.

O terceiro gol saiu logo aos três minutos. Outra vez, a defesa do Lyon falhou. Ziyech roubou a bola de Lucas Tousart e lançou Amin Younes. O camisa 11 chutou para defesa parcial de Anthony Lopes, mas a bola acabou passando a linha. De qualquer maneira, a exibição de gala dos Ajacieden não se determinaria pelos erros dos rivais. Os méritos seriam totais. Diante da desvantagem, os Gones partiram para o ataque. Contudo, à medida que buscava a pressão, se expunha à aceleração dos anfitriões. E o jogo vertical dos Godenzonen enchia os olhos.

Em meio ao tiroteio, os goleiros passaram a se destacar. Anthony Lopes parava os contragolpes do Ajax, especialmente com Dolberg. Enquanto isso, André Onana fez o possível para evitar o tento do Lyon. Aos 21, enfim, os franceses descontaram em chute colocado de Mathieu Valbuena. Todavia, em resposta ao gol, os Ajacieden não se enclausuraram. Pelo contrário, ligaram a velocidade máxima de seu Futebol Total. Atravessavam o campo em poucos segundos, para bombardear o gol adversário. O quarto viria cinco minutos depois, em excelente troca de passes, para Traoré escorar às redes e coroar sua ótima atuação individual.

Onana ainda fez três boas defesas logo na sequência dos gols. Todavia, os 20 minutos finais em Amsterdã se resumiram a um massacre do Ajax contra Anthony Lopes. Faltou um pouco mais de contundência aos holandeses durante as finalizações. De qualquer maneira, o goleiro vivia mais uma partida expressiva nesta Liga Europa. Foram mais seis intervenções do camisa 1, evitando um saldo bem pior para o reencontro na França. E, apesar das chances desperdiçadas, nada minou o orgulho dos Godenzonen. Nas arquibancadas, os torcedores pulavam e cantavam a sonhada final na Suécia. Em muitos rostos, era possível ver uma mistura entre sorrisos e lágrimas, especialmente entre os mais velhos.

Obviamente, restam 90 minutos de futebol a serem jogados. E, pela maneira como derrotou Roma e Besiktas nas fases anteriores, com um ataque perigosíssimo, o Lyon deixa claro que não está morto. Ainda assim, a noite é toda do Ajax. Do time extremamente jovem e talentoso, que amadurece bastante nesta reta final da temporada. Do clube de história tão rica, que finalmente reencontra as bonanças europeias. A quinta-feira guarda um feriado importantíssimo à Holanda, dia de relembrarem as cicatrizes da Segunda Guerra Mundial. Desta vez, porém, os Ajacieden têm salvo-conduto para varar a noite. Nesta quarta, as memórias do passado glorioso transbordam diante da felicidade proporcionada pelo presente.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
Botão Voltar ao topo