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Takefusa Kubo: de olho na medalha e numa forma de impressionar o chefe (ou arrumar outro melhor)

Atacante japonês 20 anos que definiu a vitória da sua seleção tenta se firmar no futebol europeu

Autor do gol da vitória do Japão sobre a África do Sul na rodada de abertura dos Jogos Olímpicos, o atacante Takefusa Kubo aproveitou a familiaridade com o Tokyo Stadium  para mais uma vez mostrar seu talento e fazer um pouco de cartaz para os técnicos e dirigentes europeus, a fim de descolar uma “promoção” em seu atual emprego, como jogador do Real Madrid, ou então conseguir uma transferência e uma situação mais digna do que nos últimos dois anos, em que defendeu três camisas diferentes.

A relação de Kubo com a Espanha, aliás, é turbulenta desde sua infância. O garoto chegou ao país aos 10 anos para completar sua formação no Barcelona, depois de ser selecionado no auge da fama das canteras de La Masia como formadora de craques – afinal, estamos falando de 2011, o ano em que o time de Messi, Xavi e Iniesta, sob o comando de Guardiola, ganhou a Champions e o Mundial encantando o mundo.

Kubo encantou a todos, colecionando atuações de destaque e caminhões de gols em torneios de base com a camisa blaugrana. Mas, quando estava perto de completar 14 anos, em março de 2015, deixou o clube depois que o Barcelona foi condenado pela Fifa por aliciamento ao contratar um jogador estrangeiro menor de 18 anos. De volta para casa, acertou com o FC Tokyo, que joga no mesmo estádio da partida disputada nesta quinta-feira pelo Grupo A do torneio olímpico.

Na J-League, também deixou suas marcas: é o mais jovem atleta a jogar pela competição, aos 15 anos e 5 meses, e também o mais jovem a marcar um gol, cinco meses depois. Os boatos de um futuro no futebol europeu se tornaram cada vez mais fortes e ele ainda passou um semestre emprestado ao Yokohama F Marinos até que, em 14 de junho de 2019, dez dias depois de completar 18 anos, foi anunciado pelo Real Madrid. Nesse dia, estava aqui no Brasil para disputar a Copa América, em sua estreia pela seleção principal.

O contrato de cinco anos com o clube merengue, porém, nunca foi colocado em prática. Ele foi primeiro registrado pelo time sub-19, depois no Castilla, o time B do Real Madrid, para, em agosto, acabar emprestado ao Mallorca. Foi titular durante a maior parte da temporada, marcada pela interrupção pela pandemia, mas acabou voltando a Madri sem acordo para ficar. Sem o interesse de Zidane, acabou emprestado duas vezes.

No Villarreal, praticamente só foi titular em jogos da Liga Europa, onde marcou seu único gol, num jogo contra o Sivasspor. Em La Liga, fez muitas participações vindo do banco, sem brilho, e o contrato foi rescindido em janeiro, mas Kubo nem teve tempo de se estabelecer no Bernabéu e já foi novamente emprestado ao Getafe, no qual também teve pouco brilho.

Com o retorno de Carlo Ancelotti, Kubo segue com futuro incerto. Embora em alguns veículos ele seja apontado como “reforço” para o treinador no processo de remodelagem de um elenco relativamente envelhecido, o mais provável é que ele seja negociado novamente. Assim, suas apresentações nos Jogos Olímpicos servem, de certa forma, como portfólio – e novos lances como o belo gol contra os sul-africanos pode ser um excelente cartão de visitas para essa busca por recolocação profissional.

Foto de Fernando Cesarotti

Fernando Cesarotti

Fernando Cesarotti é jornalista há 22 anos e professor há sete. Na Copa de 2018, escreveu a coluna 'Geopolítica das Copas' na Vice. Hoje, entre uma aula e outra, produz o OlimpCast, podcast que conta histórias dos Jogos Olímpicos. No Twitter, @cesarotti.
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