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Barbra Banda: a dona dos truques joga no ritmo dos gols

Atacante de Zâmbia fez seu segundo hat-trick nos Jogos Olímpicos contra a China e agora vai aparecer no caminho do Brasil

Uma jogadora de futebol que começou a carreira dividindo o tempo entre os campos e os ringues de boxe é até agora uma das surpreendentes estrelas do torneio feminino dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020: Barbra Banda já marcou seis vezes até agora na competição, três em cada partida, ajudando a seleção de Zâmbia a superar a fragilidade defensiva e, assim, dar algum brilho a uma campanha que parecia ser só de vexames.

Na estreia, contra a Holanda, os três gols de Banda definiram um pouco comum placar de 10 a 3 em favor da seleção laranja. Neste sábado, ela voltou a fazer um hat trick e transformou uma derrota parcial de 3 a 1 numa incrível vitória por 4 a 3 – que acabou um empate em 4 a 4 por causa de outra atuação impressionante, de Shuang Wang, autora dos quatro gols chineses.

Banda nasceu em 20 de março de 2000, mais de uma década depois de Kalusha Bwalya e seus companheiros encantarem o mundo na Olimpíada de Seul-1988 com um futebol alegre e ofensivo. Muitos daquela equipe morreriam num acidente aéreo, em 1993; Bwalya sobreviviu, virou técnico e dirigente e acabaria punido pela Fifa em 2018 com dois anos de suspensão, acusado de receber propina para votar a favor da escolha do Catar como sede da Copa de 2022.

Mas esta é uma história sobre campo e bola, coisas que fazem parte da vida de Barbra Banda desde os seis anos, levada pelo pai a praticar futebol. Ela depois conheceu o boxe, e durante a adolescência se dividiu entre os dois esportes, e ainda não tinha se decidido de vez quando foi chamada para defender a seleção das Rainhas do Cobre (como o time feminino de Zâmbia é conhecido) no Mundial Sub-17 de 2014, bem no período em que completava 14 anos.

Feita a escolha definitiva, em 2018 disputou a Copa Africana de Nações e em seguida profissionalizou-se no futebol espanhol, defendendo o Logroño. No ano passado, recebeu um convite para o futebol chinês e passou a vestir a camisa do Shanghai Shengli, pelo qual foi artilheira da Liga Chinesa, com 18 gols.

No ano passado, após a classificação de Zâmbia num Pré-Olímpico em que foi preciso superar mata-matas contra Zimbábue, Botsuana, Quênia e, na final, Camarões, Banda concedeu uma entrevista ao site oficial dos Jogos Olímpicos, recuperada neste sábado, em que falava sobre suas expectativas altas para o torneio. “Temos o objetivo de chegar às semifinais. Temos algo de especial. Acredito no meu time e os adversários têm que estar prontos para nós.”

E prosseguiu, esbanjando confiança: “Eu conheço o futebol. Aquele que quer mais é que vai conseguir alcançar. Separadas não vamos a lugar nenhum, mas unidas tudo é possível”, discursou, em tom de autoajuda. Disse, no entanto, estar reticente sobre o futuro do futebol feminino em seu país: “Todos se concentram mais nos homens. Para nós, só olham quando temos bom desempenho. Não temos patrocínio, mas vamos crescer aos poucos, com o tempo.”

Tanta confiança lhe rendeu a faixa de capitã do time. Em campo, se os resultados da equipe não ajudaram, ela conseguiu mostrar que o otimismo sobre seu futuro individual, na entrevista concedida mais de um ano atrás, era certeiro. “Sou jovem e ainda estou me desenvolvendo. Quero estar entre as melhores, esse é meu sonho. Deixar uma marca com meu próprio nome.”

Segunda-feira, contra o Brasil, diante da estrela Marta, que poderá jogar para igualar o recorde de Cristiane como maior artilheira dos Jogos Olímpicos, Barbra Banda terá a chance de continuar a escrever sua história.

Foto de Fernando Cesarotti

Fernando Cesarotti

Fernando Cesarotti é jornalista há 22 anos e professor há sete. Na Copa de 2018, escreveu a coluna 'Geopolítica das Copas' na Vice. Hoje, entre uma aula e outra, produz o OlimpCast, podcast que conta histórias dos Jogos Olímpicos. No Twitter, @cesarotti.
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