PSG tem maior folha salarial do mundo com € 728 milhões e prejuízo de € 369 milhões na temporada 2021/22
Relatório mostra que o clube tem uma folha maior que a sua receita, ao contrário de outros clubes com folhas altas, como Real Madrid e Manchester City

O Paris Saint-Germain tem a maior folha salarial do mundo para um clube profissional de futebol, com impressionantes € 728 milhões por ano, de acordo com o European Champions Report 2023. Além disso, o clube registrou prejuízo de € 369 milhões na mesma temporada analisada, 2021/22. Ou seja: é um clube que gasta muito, mas mesmo com os aumentos de receita, ainda não se paga. Claro, nem precisa, porque o QSI (Qatar Sports Investment, braço do governo do Catar que controla o clube) tem dinheiro a perder de vista.
O relatório compreende apenas clubes campeões das suas ligas locais e por isso analisou oito clubes de oito países: Manchester City da Inglaterra, Real Madrid da Espanha, Paris Saint-Germain da França, Bayern de Munique da Alemanha, Milan da Itália, Ajax da Holanda, Porto e Portugal e Trabzonspor da Turquia.
Em termos de comparação, o Real Madrid, segundo colocado na lista, tem uma folha salarial, de € 519 milhões – 29% a menos que o PSG. E isso porque houve um aumento na folha salarial de 29% em relação à temporada anterior pelo bônus pago por vencer a Champions League. O Manchester City tem uma folha salarial de € 418 milhões e o Bayern de Munique tem uma folha salarial de € 324 milhões.
O Milan tem uma folha salarial de € 170 milhões, enquanto o Ajax tem folha de € 109 milhões. O Porto tem uma folha de € 89 milhões e o Trabzonspor tem uma folha de € 48 milhões. A diferença entre todos esses e o PSG é que as receitas são maiores que a folha salarial, o que não acontece no clube de Paris, que teve receitas de € 670 milhões, abaixo dos seus gastos com salários e despesas operacionais.
Em 2021, o PSG contratou jogadores de peso como Lionel Messi, Sergio Ramos e Achraf Hakimi, o que aumentou o gasto salarial, segundo o relatório, em 45%. Ainda durante a temporada, o clube renovou o contrato do atacante Kylian Mbappé e, assim, aumentou ainda mais os gastos da folha, já que deu um aumento considerável ao astro francês. Até por isso, o prejuízo na temporada foi de € 369 milhões.
E o Fair Play Financeiro, alguém perguntará. Pois é, e o Fair Play Financeiro, caro leitor? Em setembro, o PSG foi multado pela Uefa por violar a regulação do Fair Play Financeiro (FFP) e condenado a pagar… € 10 milhões. Isso mesmo: a multa foi de apenas € 10 milhões, ap[os um acordo com a entidade, que envolveu a assinatura de um termo para ajuste de conduta, que é basicamente um documento dizendo que se o clube não cumprir o estabelecido, será punido mais durante – leia-se, outros € 55 milhões.
O prejuízo nesta temporada 2021/22 certamente não cumpre os requisitos, mas como o acordo prevê um período de três anos, o clube pode compensar este ano muito ruim com outros dois anos bons – o que significará ou um aumento de receitas ou uma redução de custos. As receitas podem vir inclusive da venda de jogadores e, por isso, a venda de Neymar foi tão falado desde a temporada passada.
Seria uma forma de compensar esses gastos monumentais e ter uma receita relevante – tanto pelo dinheiro que entraria como taxa de transferência quanto pela economia de salários, já que o brasileiro tem rendimentos dos maiores no clube. Mas sabendo disso, Neymar abrirá mão dos salários gigantescos que tem garantidos até 2027 para ir a outro clube ganhando menos? Parece improvável, ao menos neste momento.
Antonio Di Cianni, chefe de estratégia e economia do futebol no Football Benchmark, conversou com o Athletic sobre o caso do PSG e foi enfático: o clube precisará mudar a sua estratégia financeira.
“A metodologia foi muito simples no sentido que que a grande maioria da informação incluída no Relatório da Champions vem ou de comunicados públicos de cada clube, ou em alguns casos dos próprios clubes que nós entramos em contato antecipadamente para que eles compartilhassem conosco os pontos financeiros chave”, afirmou Di Cianni.
“Para o PSG, os números são impressionantes, mas de uma forma que era esperado. Isso pode ser sustentável? Bom, a Uefa assinou um acordo com o PSG em setembro, então acho que o fato de eles terem ultrapassado o s € 700 milhões em prejuízos nos últimos três anos fez a Uefa os alertar com um acordo e com algumas limitações que são consequências desse acordo”, afirmou Di Cianni.
“Então o PSG, de alguma forma, precisa trazer números mais viáveis nos próximos três anos para a federação no acordo em vigor. Mas então todo clube é diferente, porque o PSG claramente sofre com um mercado de baixos direitos de TV na França, e sofreu com uma capacidade limitada na temporada passada no Parque dos Príncipes, porque eles são usualmente um dos melhores em termos de receita no dia de jogo”, continuou o representante da Football Benchmark.
“Eles querem construir um novo estádio, mas há um grande debate com o prefeito de Paris e o presidente do PSG porque ele quer tanto expandir o atual estádio ou jogar em outro lugar em Saint-Dennis (no Stade de France), que é quase duas vezes maior que o Parque dos Príncipes. O PSG usa seu estádio em capacidade total agora, mas é diferente para tirar dinheiro dele”.
“Então, a terceira alavanca em que eles realmente fazem a diferença é a receita comercial, graças aos laços com o mundo árabe. De todos os clubes e todos os países, certamente Manchester City e PSG podem ser comparáveis, mas o City joga na Premier League, que é muito mais atrativa em termos de capacidade, claro”.
O que fica claro é que o Fair Play Financeiro é absolutamente leniente com o PSG, que tem prejuízos homéricos e ainda assim ganhou um acordo em que recebeu uma punição suave, pode pagar uma multa que ainda será suave se descumprir e não receberá a punição pesada, que seria ficar fora das competições, como aconteceu com outros clubes que descumpriram a regra.
Se o PSG quiser cumprir o acordo, nos próximos anos precisará de uma operação mais lucrativa, o que implicará tanto na redução de despesas salariais quanto na venda de jogadores – e as duas coisas podem estar casadas, claro. Messi deve deixar o clube dentro dos próximos dois anos, se não sair já no meio de 2023, e Neymar é outro candidato a deixar o clube. Só isso já aliviaria muito a folha salarial do PSG.
Mais do que uma eventual punição pesada da Uefa, é importante para o clube de Paris pensar em ser sustentável financeiramente, como o Manchester City se tornou, para o caso da saída dos catarianos um dia. Porque em um mundo onde se compra e vende clubes de futebol com facilidade, essa é sempre uma possibilidade.
Veja European Champions Report 2023 do Football Benchmark abaixo: