Lloris anuncia sua aposentadoria da seleção da França como uma figura de dimensões históricas
Recordista em jogos pela França e capitão do título em 2018, Lloris encerra sua trajetória pelos Bleus aos 36 anos
Hugo Lloris ocupa um lugar privilegiado na história da seleção francesa. O goleiro se tornou o recordista em jogos pelos Bleus recentemente, com 145 aparições. Mais do que isso, teve o gosto de participar de duas finais de Copa e erguer o troféu como capitão em 2018. Candidatíssimo a ser lembrado como o maior arqueiro da equipe nacional em todos os tempos, o veterano de 36 anos anunciou seu adeus das convocações. Nesta segunda-feira, Lloris confirmou ao jornal L'Équipe que está se aposentando da França. Abre espaço a novos talentos, em especial Mike Maignan, seu provável sucessor como titular.
“Chega um momento em que você precisa saber como passar o bastão. Não quero me apropriar disso, sempre disse e repeti que a seleção francesa não pertence a ninguém. Todos nós temos que garantir que assim seja, eu primeiro. Acho que o time está pronto para seguir em frente, também há um goleiro que está pronto”, afirmou Lloris. “Prefiro sair no topo do que esperar por uma queda de rendimento ou uma disputa maior. Há também uma escolha familiar, sinto necessidade de passar mais tempo com minha esposa e com meus filhos”.
Lloris ganhou suas primeiras oportunidades na seleção da França ainda na base, enquanto fazia sua formação com o Nice. O goleiro passou primeiro pelo time sub-18 dos Bleus e depois foi campeão europeu com o sub-19 em 2005, parte de uma geração compartilhada com Yoann Gourcuff e Yohan Cabaye. Depois, também integrou a equipe nacional sub-21, numa altura em que ganhava fama nacional. Logo se transferiu do Nice ao Lyon e também chegou à seleção principal.
A estreia de Lloris pela França aconteceu em 2008, aos 21 anos. Não demorou a se tornar titular e a acumular suas primeiras aparições nas competições internacionais. Disputou o Mundial de 2010, antes de receber a braçadeira de capitão em 2012 e jogar também a sua primeira Eurocopa. Todavia, eram tempos bastante conturbados dos Bleus, em que os atritos nos bastidores se sobrepunham à capacidade dentro de campo. O clima se apaziguou a partir da chegada de Didier Deschamps. Foi então que Lloris se estabeleceu realmente como uma liderança, ao mesmo tempo em que desembarcava no Tottenham.
Lloris ainda faria parte de uma França que precisou ganhar casca em alto nível, eliminada pela Alemanha nas quartas de final da Copa de 2014 e superada por Portugal na final da Euro 2016 dentro de casa. Entretanto, o ápice para a geração veio com a conquista do Mundial de 2018. Lloris completou 100 partidas pelos Bleus exatamente durante a competição. Fez boas partidas e foi uma referência ao sucesso do time, embora tenha encerrado sua participação em campo com uma lambança na decisão contra a Croácia. Ao menos, não foi isso que custou o título e nem sua chance de erguer o troféu como capitão.
Desde então, Lloris sabia que a sequência de sua trajetória na França seria lucro para o tamanho de sua história. O arqueiro não evitou a campanha modesta na Euro 2020, mas de novo estaria no topo do pódio com a conquista da Liga das Nações em 2021. Por fim, o grand finale ficou reservado à Copa do Mundo de 2022. Foi um torneio positivo do goleiro, apesar de alguns pontos de questionamento sobre seu nível de atuação e também sobre sua liderança nos vestiários. Segundo informações da imprensa local, Lloris foi um dos pivôs do entrave envolvendo Karim Benzema. Não estaria contente com a volta do atacante, ao lado de outras lideranças do grupo, como Antoine Griezmann.
A principal atuação de Lloris no Catar aconteceu contra a Inglaterra. Fez defesas importantes e igualou Lilian Thuram como recordista em partidas pela França naquela ocasião. Na mesma noite, também se equiparou a Fabien Barthez e Thierry Henry como franceses que disputaram mais jogos de Copas do Mundo. Os recordes isolados seriam seus, assim como virou o goleiro com mais partidas em Mundiais, 20, uma a mais que Manuel Neuer. Só não seria suficiente na decisão contra a Argentina, em que suas dificuldades em disputas por pênaltis ficariam expostas, eclipsado por Emiliano Martínez na marca da cal.
Com a obra encerrada, Lloris se despede da seleção da França num lugar bastante notável. É o capitão do título em 2018 e também um goleiro histórico. Dá para discutir se foi o melhor da posição, mas como maior ele acaba por se colocar num patamar parecido ao de Fabien Barthez. Fica uma discussão sobre estilos, com Lloris apresentando uma postura mais sóbria e mais segura sob as traves. Os números dilatados também o favorecem, embora a lista de feitos do antecessor ainda conte com uma conquista da Eurocopa.
E a impressão é de que a seleção da França estará muito bem servida no futuro. Mike Maignan é um goleiro que vem inclusive de temporadas recentes melhores que as de Lloris. Seria reserva na Copa do Mundo, é verdade, mas foi uma pena que sua lesão recente tenha custado a convocação ao Mundial. De qualquer maneira, aos 27 anos, se coloca como dono da camisa 1 para os próximos dois ciclos de Copa do Mundo. Como o próprio Lloris salientou, parece mais sábio neste momento evitar uma disputa e abrir alas para quem, em qualidade, pode ser ainda melhor pelos Bleus – mas dificilmente com a estatura histórica que Lloris atingiu. Neste sentido, seu posto será muito grande por tanto tempo.