Ligue 1

Verratti deixa o PSG como um grande vencedor e também alguém que poderia ter dado um pouco mais

Apesar de nem sempre estar disponível por causa de lesões e cartões, Verratti é o jogador mais vitorioso da história do PSG

Durante todo o projeto do Catar no Paris Saint-Germain, o meio-campo foi uma preocupação. Não foi o setor que recebeu mais investimentos, muitas apostas não se pagaram e abrigou poucos jogadores de primeira linha. Marco Verratti era uma exceção e, ao mesmo tempo, parte do problema porque entre lesões e excesso de cartões amarelos, nem sempre esteve disponível. De qualquer maneira, marcou época. Conquistou 30 títulos. Fez mais do que o bastante para ser um ídolo, e é uma pena que a saída, para o catariano Al-Arabi, tenha acontecido pela porta dos fundos.

Ao lado de Neymar e Messi, foi um dos alvos dos protestos da torcida do PSG que deixaram o clima horrível no primeiro semestre do ano. Verratti é conhecido por ter um estilo de vida agitado fora dos gramados, o que não deveria ser uma questão, mas se torna uma um pouquinho maior diante da sua vasta coleção de problemas físicos. Depois da chegada de Luis Enrique, não demorou para ficar claro que não teria vida longa no Parque dos Príncipes, embora tivesse contrato até 2026.

Participou da turnê asiática de pré-temporada, mas, logo que o elenco retornou, perdeu algumas sessões de treinamento, não foi convidado para tirar as fotos de divulgação da temporada e a imprensa francesa noticiou que houve uma reunião com o diretor Luis Campos e com o técnico, na qual seu futuro foi discutido. Outros veículos foram mais longe e disseram que ele foi informado que não estava mais nos planos.

Antes da estreia da temporada, Luis Enrique foi questionado sobre Verratti e convidou os observadores a se atentarem às suas ações porque “elas expressarão claramente minha opinião sobre a situação”. Verratti não foi relacionado para nenhuma das quatro primeiras rodadas do Campeonato Francês. O Al-Hilal aproveitou a visita a Paris para tentar convencer Kylian Mbappé a passar um tempinho na Arábia Saudita para conversar com o volante, mas não deu negócio.

Ainda aos 30 anos, o campeão da Eurocopa que nunca disputou uma partida de Serie A não terá nem o hype do Campeonato Saudita porque aceitou a proposta, também muito lucrativa, do Al-Arabi, do Catar. Segundo a Gazzetta dello Sport, seu salário foi dobrado. O PSG receberá cerca de € 45 milhões pela venda de um dos jogadores mais importantes da sua história.

Onze anos e 30 títulos

Verratti não foi o reforço mais badalado do mercado do verão europeu de 2012, o que realmente elevou o PSG de patamar. Apresentado no mesmo dia que Zlatan Ibrahimovic, na época muito mais conhecido do que um garoto de 19 anos, com cara de adolescente, que havia brilhado na Serie B italiana pelo Pescara. Outros reforços estelares daquela janela foram Thiago Silva e Ezequiel Lavezzi. Se foi o mais importante é discutível, mas Verratti foi o mais vitorioso de todos.

  • Ligue 1 – 9
  • Copa da França – 6
  • Copa da Liga Francesa – 6
  • Supercopa da França – 9

A Supercopa, como sempre, infla um pouco os números, mas é a quantidade de troféus do Campeonato Francês que realmente chama a atenção porque ilustra como ele esteve presente em toda a era dourada do Paris Saint-Germain. Despede-se como o jogador mais vitorioso da história tanto do clube quanto da elite francesa e, com 416 jogos, precisava apenas de mais uma temporada para bater o recorde de Jean-Marc Pilorget de mais partidas pelo PSG.

Verratti quebrou alguns paradigmas do que se esperava de um primeiro volante. É baixinho, mais que Xavi e Iniesta. Tem inteligência e qualidade de passe para qualificar a saída de bola e controlar o meio-campo, junto com atributos defensivos, principalmente o desarme. Nem sempre calcula direito as suas investidas, o que explica ter levado 156 cartões amarelos em sua carreira por clubes, mas sabia se controlar porque não foi tantas vezes expulso. Raramente chega na área para finalizar e fez apenas 11 gols pelo PSG.

Seus jogos mais marcantes foram quando esteve no controle de tudo, como na vitória por 1 a 0 sobre o Real Madrid na primeira perna das oitavas de final da Champions League de 2021/22, quando foi chamado de gênio por Neymar, colocado no mesmo patamar de Xavi e Iniesta. O PSG perdeu aquela eliminatória e, como todos os seus ídolos recentes, a lacuna no currículo de Verratti é nunca ter conseguido o principal título europeu.

E o problema de Verrati, especificamente, foi disponibilidade. Em apenas três das suas 11 temporadas, superou a marca de 2.000 minutos na Ligue 1 – um pouco mais da metade de uma edição completa com 38 rodadas. O máximo que conseguiu ficar em campo foi 2.459 minutos, em seu terceiro ano. No geral, transitou entre 1.400 e 1.900 pelo campeonato nacional. Claro que algumas ausências foram para poupá-lo e o PSG disputava outros torneios também.

Mas, mesmo pegando o número bruto de partidas, daria apenas 38 por temporada, em um universo de até 62 jogos, se o PSG disputar a Supercopa (1), a final das duas copas (10) e da Champions League (13) – o que fez apenas uma vez – além do Campeonato Francês. O torcedor parisiense já estava acostumado a não ter Verratti em metade das partidas do seu time. Agora terá que se acostumar a não tê-lo em todas.

– Eu tive muito orgulho de jogar pelo Paris Saint-Germain por mais de uma década, estar lado a lado com tantos grandes jogadores e conquistar 30 títulos. Paris, o clube e seus torcedores sempre terão um lugar especial em meu coração. Eu sempre serei um parisiense – despediu-se.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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