Compra de Neymar pelo PSG está na mira da Justiça Francesa; alvos são ex-dirigente e deputado do partido de Macron
Ex-deputado de Macron e até ministro das Contas Públicas da França são investigados

A Justiça francesa investiga desde a última segunda-feira registros na Receita Federal do país em busca de irregularidades sobre supostas vantagens fiscais que o PSG recebeu durante o processo de contratação do brasileiro Neymar, atualmente no Al-Hilal. Na época, o clube parisiense gastou 222 milhões de euros para contratar o astro, naquela que foi a maior contratação da história do futebol até então, e levantou suspeitas sobre possíveis irregularidades fiscais e manobras para facilitar a transação.
Segundo informação do portal Médiapart desta quinta-feira, o processo de contratação de Neymar pelo PSG foi registrado na Direção-Geral de Finanças Públicas (DGFIP) do Ministério da Economia e Finanças. Agentes policiais do Gabinete Central de Combate à Corrupção e à Fraude Fiscal (Oclciff) estiveram no local para uma análise dos documentos. As investigações sobre a suposta fraude na contratação de Neymar acontecem desde PSGsetembro de 2022 e estão sob responsabilidade dos juízes Vincent Lemonier e Serge Tournaire.
O maior foco da investigação é esclarecer a intervenção do ex-diretor de comunicação do PSG Jean Martial Ribes e do ex-vice-presidente da Assembleia Nacional, Hugues Renson, que era deputado pelo partido do presidente francês, Emmanuel Macron, sobre a suspeita de ambos terem feito manobras para obter vantagens fiscais sobre o valor aplicado na contratação do brasileiro.
Por que a contratação de Neymar se tornou caso de polícia na França?
Ao examinar as mensagens trocadas entre Jean-Martial Ribes e Hughes Renson, os juízes do caso constataram que o PSG, em julho de 2017, temia pagar uma alta quantidade de impostos e contribuições previdenciárias sobre o enorme valor a ser pago ao Barcelona pela multa rescisória de Neymar. Os agentes fiscais do clube estimaram que o risco de tributação era alto e poderia variar entre 67 e 224 milhões de euros em impostos.
Na noite do dia 24 de julho, Jean-Martial Ribes pediu ao ex-deputado macronista Hughes Renson, na época, vice-presidente da Assembleia Nacional, que o ajudasse a amenizar a tributação do contrato do astro brasileiro. Renson interviu imediatamente junto ao Ministro das Contas Públicas, Gérald Darmanin, que utilizou de seu poder para cortar parte da tributação e facilitar o pagamento da multa rescisória por parte do PSG.
“Darmanin tem o caso em mãos e está trabalhando nisso”, disse Renson à Jean-Martial, que retribuindo o favor recebido, enviou dois ingressos ao ex-deputado para acompanhar aos jogos do PSG, e de quebra, lhe presenteou com uma foto autografada por Neymar ao lado de seu filho. Documentos divulgados pelo Football Leaks partilhados com o Médiapart revelaram que na mesma noite do dia 24 de julho, Jean-Martial foi recebido Jérôme Fournel, chefe de gabinete de Gérald Darmanin.
Após a reunião, o ministro escreveu uma nota ao PSG na qual aconselhou o clube a contornar a jurisprudência de sua própria administração. Três dias mais tarde, a Direção-Geral de Contas Públicas da França e a Urssaf (órgão responsável pelo recolhimento e envio de recursos de contribuições sociais) emitiram comunicados indicando que o clube parisiense não teria impostos, nem contribuições para a segurança social a pagar sobre a transferência milionária.
Uma mensagem de do ex-deputado Renson indica sugere que o ministro de Contas Públicas estaria à frente do trâmite: “Estava com o Gérald. Nós conversamos. Ele considera isso bom”, disse o parlamentar.
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Envolvidos no caso se esquivam de respostas
A Médiapart foi em busca de ouvir o outro lado da história, mas até o momento da publicação desta matéria nenhum dos envolvidos neste caso quis se manifestar. Gerald Darmanin, hoje Ministro do Interior da França, cargo que ocupa desde 2020, também manteve-se em silêncio. No último dia 15 de janeiro o parlamentar esteve na futura vila olímpica dos jogos de Paris, em Saint-Denis.
Perguntado pela imprensa presente se o executivo teve ou não participação direta na liquidação fiscal do contrato de Neymar, Darmanin foi assertivo ao dizer que não responderia ninguém a respeito deste caso.