França

Como CazéTV e GOAT lidam com invasão estrangeira nas transmissões das ligas europeias?

Estrangeiros estão aderindo às VPNs para assistir a jogos transmitidos no Brasil gratuitamente

Não é mais novidade que o futebol tem deixado de ser exclusividade das empresas de televisão para integrar também a programação de uma enorme gama de serviços de streaming. CazéTV e Canal GOAT, por exemplo, são detentores dos direitos de transmissão de campeonatos europeus para o Brasil. É o caso da Ligue 1 (Campeonato Francês), transmitida pelo canal do streamer Casimiro Miguel, e da Bundesliga (Campeonato Alemão), exibida pelo GOAT.

A descentralização dos direitos de exibição das ligas europeias no Brasil com a entrada de novas caras da internet neste mercado é um praticamente consolidado. Mas com ele, surgem os problemas ligados à rede online — como a facilitação da pirataria e a mais recente invasão estrangeira nas transmissões brasileiras.

No dia 24 de agosto, por exemplo, a CazéTV decidiu suspender a transmissão dos jogos da Ligue 1 após uma invasão francesa. No contrato firmado pela LiveMode, empresa de mídia por trás da CazéTV, o acesso às partidas do Campeonato Francês só é permitido para aparelhos conectados no Brasil.

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CazéTV está transmitindo a Ligue 1 para o Brasil

Invasão estrangeira na CazéTV e no canal GOAT: como acontece?

O acesso foi viabilizado por meio de VPNs, sigla inglês para Rede Privada Virtual, que contornam o bloqueio geográfico (ou geoblocking) das plataformas que exibem a partida — neste caso, o YouTube –, através da alteração de registro dos dispositivos.

O bloqueio geográfico também é de responsabilidade das plataformas, como YouTube e Twitch TV. Portanto, somente aparelhos conectados no Brasil podem acompanhar a transmissão da Ligue 1 na CazéTV, ou da Bundesliga no Canal GOAT, gratuitamente.

Situação resultou em bloqueio de transmissão da Ligue 1

Para respeitar o contrato firmado com a Ligue 1, a CazéTV suspendeu a transmissão da 2ª rodada do campeonato até que o problema do geoblocking fosse resolvido. A presença dos franceses na live foi detectada por meio da interação dos torcedores no chat.

A GOAT passou por situação semelhante com a Liga Alemã, notificando o usuário brasileiro que a transmissão da partida poderia ser derrubada para um novo link ser criado como forma de driblar a invasão estrangeira com VPN.

Por que há presença de franceses em lives de canais brasileiros?

A Ligue 1 não fechou com nenhuma emissora de televisão aberta na França para 2024/25. Como consequência, quem quiser acompanhar o campeonato local em canais fechados ou streaming no país precisará pagar 45 euros (cerca de R$ 277 reais na cotação atual).

Insatisfeitos com o valor, franceses estão incentivando o uso de VPNs para burlar o sistema e conseguir acesso gratuito aos jogos da Ligue 1 por meio de transmissões internacionais de forma clandestina. Segundo a imprensa francesa, torcedores do Saint-Étienne chegaram a espalhar tutoriais pelo estádio ensinando como assistir ao canal brasileiro.

A insatisfação dos franceses com a transmissão da Ligue 1 está tão grande nesse início de temporada que a torcida do Saint-Étienne espalhou um tutorial de como assistir às partidas de graça pela CAZÉ TV
byu/jorge-ben-jor infutebol

Na Alemanha, a reclamação é parecida. As partidas exclusivas da TV fechada e/ou streaming faz parte dos usuários buscarem maneiras alternativas (e sem custos) para acompanhar os jogos ao vivo.

Então, como proteger os direitos de transmissão exclusivos para o Brasil?

A Trivela conversou com Ricardo Taves, então CEO do Canal GOAT*, para entender a real situação no Brasil. Para ele, o uso de VPNs é algo nichado, já que a ferramenta não é tão conhecida pela maioria dos usuários.

Mais do que isso, ele argumenta que uma possível invasão estrangeira em partidas da Bundesliga não tem tanta adesão, pois os alemães têm opções para acompanhar a transmissão localmente. Além disso, a experiência do usuário não é mesma em uma live brasileira.

Tudo começou na França, porque lá eles estão acostumados com players gratuitos, como aqui no Brasil agora, e, por ficarem sem, deram início a esse movimento (uso de VPNs). Na Alemanha tentaram fazer a mesma coisa, mas não teve adesão, já que o público alemão tem mais facilidades e opções para ver os torneios. E existe um ponto nisso tudo que é a experiência em usar o VPN em outro idioma não ser legal. Imagina a gente buscando um Campeonato Brasileiro exibido em russo. Não é positivo.

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Ricardo Taves, então CEO do canal GOAT (Imagem: Divulgação)

Procurada pela Trivela, a CazéTV respondeu em nota que “as ferramentas que bloqueiam VPNs já estão funcionando”. Ademais, a LiveMode, empresa que gerencia o canal, trabalha “ativamente com a Ligue 1 para combater a pirataria”.

Esse, aliás, é um ponto congruente entre GOAT e CazéTV. Taves reconhece o novo fenômeno dos VPNs e o árduo trabalho com as plataformas para solucionar essa questão. Por outro lado, os aparelhos piratas que captam sinal de televisão, chamados de TV box, são um empecilho ainda maior.

Em minha opinião, a questão do VPN é muito menor do que parece, é uma tempestade em copo d’água, só está ganhando relevância por ser novidade. As caixinhas de PDV piratas vendidas no comércio informal trazem muito mais audiência pirata do que o VPN jamais sonharia em trazer.

*Nesta sexta-feira (27 de setembro) foi noticiado que Ricardo Taves deixou o Canal GOAT para se juntar à área de estratégia digital do Corinthians

Foto de Matheus Cristianini

Matheus CristianiniRedator

Jornalista formado pela Unesp, com passagens por Antenados no Futebol, Bolavip Brasil, Minha Torcida e Esportelândia. Na Trivela, é redator de futebol nacional e internacional.
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