França

Futebol francês viveu fato inédito com este árbitro que interrompeu um jogo por causa de cantos homofóbicos

O futebol francês viveu um fato inédito na última sexta-feira (16), durante a partida entre Nancy e Le Mans, pela Ligue 2. As duas equipes se enfrentavam no Estádio Marcel Picot, em Nancy, quando o árbitro Mehdi Mokhtari interrompeu o jogo por causa de cantos homofóbicos sendo entoados por uma seção da torcida da casa.

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A interrupção aconteceu aos 27 minutos do primeiro tempo e durou aproximadamente um minuto. O locutor do estádio avisou que a partida poderia ser suspensa se os torcedores não parassem, enquanto alguns jogadores do Nancy foram até a torcida reforçar o pedido para que a manifestação discriminatória cessasse.

A decisão de Mokhtari de parar a partida foi amplamente elogiada na França, incluindo pelas ministras do Esporte e da Igualdade de Gênero, Roxana Maracineanu e Marlène Schiappa, respectivamente. “É a primeira vez que isso acontece, e espero que seja a última”, escreveu Maracineanu no Twitter. Após o jogo, o presidente do Nancy, Jean-Michel Roussier também condenou os gritos: “Essas músicas não têm espaço em um estádio de futebol”.

O jornal francês L’Équipe tentou contato com o árbitro, mas não obteve sucesso. A categoria já é conhecida por falar pouco, e, com o incidente ainda sob investigação, as regras proíbem que Mokhtari fale sobre o caso. Em vez disso, no entanto, a publicação conversou com Stéphane Lannoy, diretor técnico regional de arbitragem da região de Altos da França e que conhece bem Mokhtari.

Para Lannoy, a decisão do árbitro não foi surpresa alguma. “Ele é guiado por valores de tolerância e respeito ao próximo. As lutas contra a homofobia e o racismo são importantes para ele”, descreveu o dirigente ao jornal.

A ação de Mokhtari chamou muito a atenção por seu ineditismo e a escassez de precedentes conhecidos no futebol mundial. Na França mesmo, nesta temporada que está apenas no começo, 18 partidas da Ligue 1, Ligue 2 e Copa da Liga Francesa tiveram relatos de gritos homofóbicos nas súmulas dos árbitros ao fim dos jogos. Apesar da regra estabelecer que se pode interromper o jogo diante de incidentes do tipo, Mokhtari foi o primeiro a fazê-lo na França.

A falta de ação, ao menos na França, teria como um de seus motivos a falta de clareza de quais termos deveriam ser penalizados por árbitros, escreve o L’Équipe. Não há código prevendo quais palavras deveriam ser interpretadas como homofóbicas, cabendo ao árbitro usar o bom senso para determinar quando parar ou não uma partida.

Associações de combate à homofobia têm discutido com a Liga de Futebol Profissional francesa a elaboração de uma lista de palavras homofóbicas proibidas nos estádios do país. No entanto, Yoann Lemaire, presidente da associação Foot Ensemble, por exemplo, acha que a proibição do dia para a noite sairia pela culatra e que o melhor caminho é sensibilizar as pessoas.

No Brasil, o STJD anunciou em junho que começaria a punir cantos homofóbicos depois da volta do futebol nacional após a Copa América. Durante a pausa, foi enviado um ofício a clubes, federações e árbitros sobre as mudanças. O primeiro passo seria uma campanha de conscientização, seguida então por punições que variariam de multas a perda de pontos e até exclusão de competições mata-matas, dependendo da intensidade dos xingamentos discriminatórios.

Como tudo no futebol brasileiro, precisamos esperar o tempo passar para avaliar como é que as coisas foram geridas e se houve, de fato, aplicação na prática do que está previsto na lei. Se qualquer coisa, o exemplo de Mehdi Mokhtari é um bom ponto a se seguir – mas é melhor esperar sentado. Atrasos de salário, por exemplo são castigáveis, e, bom, o que não falta no futebol brasileiro é atraso. O que falta, você pergunta? Punição aos clubes que não pagam os honorários.

Foto de Leo Escudeiro

Leo Escudeiro

Apaixonado pela estética em torno do futebol tanto quanto pelo esporte em si. Formado em jornalismo pela Cásper Líbero, com pós-graduação em futebol pela Universidade Trivela (alerta de piada, não temos curso). Respeita o passado do esporte, mas quer é saber do futuro (“interesse eterno pelo futebol moderno!”).
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