A iminente demissão de Tuchel no PSG também corresponde à perspectiva de contar com Pochettino

O Paris Saint-Germain tende a dar um presente de Natal dos mais indigestos a Thomas Tuchel. Segundo diferentes veículos de imprensa, o treinador foi demitido nas últimas horas – em decisão que ainda precisa ser anunciada oficialmente pelo clube. A informação foi apurada por diferentes jornais, incluindo L'Equipe e Kicker, duas das publicações mais sérias da Europa. E a notícia não surpreende tanto assim, apesar do momento pouco provável à mudança. O PSG não apresenta sinais de uma evolução concreta e, desde a final da Champions, as oscilações do time se tornaram maiores. É bom ponderar que Tuchel precisou lidar com diferentes desfalques e problemas nos últimos meses, o que não alivia tanto sua barra, considerando a terceira colocação na Ligue 1 e os riscos vividos na fase de grupos da Champions. No entanto, talvez o maior acelerador da troca no comando seja mesmo a perspectiva de contar com Mauricio Pochettino.
Pochettino permanece à disposição no mercado, desde que deixou o Tottenham na temporada passada. O nome do argentino sempre surge quando um treinador balança nas principais equipes da Europa. Seus trabalhos o referendam, sobretudo nos Spurs, pela maneira como conseguiu desenvolver a equipe e promover ao protagonismo diversos jogadores renomados. No Parc des Princes, Pochettino precisaria lidar com um vestiário de egos maiores, que se tornou um problema a Tuchel em diferentes momentos. Ainda assim, conta com uma equipe capaz e às vésperas de um mercado de transferências. Apesar das limitações geradas pelo Fair Play Financeiro, o novo técnico poderia corrigir carências e indicar novos nomes.
É importante lembrar que Pochettino já conhece o ambiente do Paris Saint-Germain, de certa maneira. Em seus tempos de zagueiro, o argentino teve uma passagem relevante pelo Parc des Princes entre 2001 e 2003. Depois de sua longa estadia no Espanyol, o rodado beque chegou como referência ao sistema defensivo, em tempos nos quais Ronaldinho era a grande estrela do PSG. Ficou duas temporadas e meia, em que não conseguiu conquistar títulos expressivos, mas deixou sua marca pela leitura de jogo e pela liderança. Não à toa, Pochettino virou capitão dos parisienses em sua última temporada. Deixaria a equipe junto com a saída do técnico Luis Fernández, assinando depois com o Bordeaux.
A adaptação à França e à língua não serão barreiras a Pochettino. Além disso, o PSG acertaria com um treinador que traz consigo uma bagagem no futebol de primeiro nível e um trabalho que o respalda às transformações. Haverá uma urgência para corrigir os rumos da temporada, sobretudo na Ligue 1, que apresenta um nível competitivo bem mais elevado nesta campanha e adversários melhor preparados. A cobrança, de qualquer forma, ainda é a tão sonhada conquista da Champions League. Talvez o intuito dos parisienses seja aproveitar o momento, antes que as saídas de Neymar e Kylian Mbappé possam acontecer.
O possível acerto com Pochettino garante melhores projeções além dos próximos seis meses. Thomas Tuchel viu sua relação se desgastar em pouco tempo e muitas vezes não conseguiu montar uma equipe coletivamente forte, que potencializasse as individualidades. A falta de um meio-campo consistente, sobretudo, foi um problema recorrente em sua passagem pelo Parc des Princes. E a relação interna piorou nos últimos meses. Tuchel estava descontente com a condução do futebol pela diretoria, sobretudo no mercado de transferências e na renovação de contratos, e as rusgas com Leonardo se tornaram públicas.
Apesar das limitações nas contas com a pandemia e com o Fair Play Financeiro, Leonardo preferiu romper o contrato de Tuchel e pagar a multa. Com o vínculo em vigor até o final da temporada, o PSG sequer optou por abrir conversas à renovação e deixou claro que o ciclo do alemão estava no fim, o que explicava um pouco mais o clima ruim. Mas a falta de relação se uniu com as perspectivas paralelas visando Pochettino. No momento em que a oferta ao novo treinador parece se alinhar, o gasto extra com a rescisão de Tuchel foi admitido pela diretoria como necessário e acelerou um pouco mais as coisas.
Assim, fica a impressão de que os últimos resultados aconteceram independentemente de Tuchel e de suas tentativas em encontrar soluções à equipe, como as adaptações no esquema tático. O time cumpriu sua parte na Champions League ao terminar na liderança do grupo mais difícil, apesar das vulnerabilidades expressas nos jogos de mais peso, que deixavam dúvidas ao início dos mata-matas. Já na Ligue 1, os tropeços mais frequentes contra clubes tradicionais indicam que a concorrência encontra novos caminhos de dilapidar a hegemonia de Paris. Pouco importaram as goleadas recentes contra os rivais mais fracos, a exemplo dos 4 a 0 sobre o Strasbourg nesta quarta – um resultado construído só no fim, aliás, sem as facilidades que o placar indica. Bater em sparring não é qualquer garantia de estabilidade no Parc des Princes, e desta forma Tuchel sai.
O PSG aposta que um treinador possa transformar o rendimento do time, especialmente nos principais confrontos. É para isso que Pochettino chega, sem grandes perspectivas de contratações bombásticas em janeiro. Tentará trabalhar com a possibilidade que tem em mãos, talvez com alguns negócios de emergência, mas com respaldo da diretoria. A princípio, alguns problemas dos parisienses não se resolverão com um estalar de dedos. Mas se a permanência de Tuchel só ganhou uma sobrevida com a campanha na Champions, o clube preferiu não esperar mais para tentar criar uma equipe mais confiável, inclusive pelo embate com o Barcelona nas oitavas continentais se aproximando.
O Paris Saint-Germain foi atrás do melhor treinador à disposição no mercado, que talvez logo arrumasse um emprego, e que possui sua identificação no Parc des Princes. De qualquer maneira, é preciso ter consciência de que Pochettino não deve se tornar o salvador de imediato e há questões de montagem do elenco, sobre as quais Tuchel tinha razão de se queixar, que fogem das meras atribuições do técnico. Porém, diante daquilo que poderia ser feito, o PSG optou por arriscar num nome que transmite segurança e não ver o marasmo dos últimos anos se repetir nesta nova reta final de temporada.