‘A ferida nunca vai fechar’: Payet desabafa sobre saída da França
Em entrevista, Payet admitiu que chegou triste ao Rio de Janeiro após deixar o Olympique de Marseille, mas que se reencontrou no Vasco

Dimitri Payet se redescobriu na carreira. Em 2023, ele deixou o Olympique de Marseille após o fim de seu contrato, onde é ídolo, para se aventurar em um mercado totalmente diferente para ele. O meia desembarcou no Rio de Janeiro em agosto de 2023 para jogar com a camisa do Vasco da Gama, sendo a principal contratação do então lanterna do Campeonato Brasileiro.
Mesmo fora de forma e ficando fora de diversas partidas, o camisa 10 francês, que também não sabia falar português, foi se adaptando e ganhando a torcida cruzmaltina, que depositou muita fé nele. Apesar de só ter dado uma assistência e ter feito dois gols, ele foi importante na arrancada que fez o Vasco permanecer na elite do futebol nacional no ano passado.
Já em 2024, a virada de chave parece ter acontecido. Em 9 partidas na Taça Guanabara, ele já fez 2 gols e deu 5 assistências. A última inclusive foi na quinta-feira (7), para o gol de Lucas Piton antes da vitória cruzmaltina nos pênaltis contra o Água Santa, pela Copa do Brasil. Seus números justificam a camisa 10 e um investimento de tal tamanho, mesmo com o atleta já tendo 36 anos. Mesmo assim, adorado pela torcida brasileira, desembarcar no Brasil não foi tão fácil assim para ele. Em entrevista ao jornal francês L'Equipe, ele admitiu ter sido muito difícil lidar com a sua saída do Olympique de Marseille, clube em que teve duas passagens, e que optou por não renovar o contrato dele.
– Honestamente, essa ferida nunca vai se fechar. A separação foi brutal e muito difícil para mim. Depois, você tem que conviver e lidar com isso. Quando cheguei (ao Brasil), eu estava no chão.
A primeira passagem de Payet pelo time marselhês foi entre 2013 e 2015, antes de ele ir ao West Ham. Mesmo sendo o principal jogador do time londrino, inclusive eleito com um dos melhores meias da Premier League em 2016 e indo disputar a Eurocopa no mesmo ano, Payet forçou um retorno para o Olympique de Marseille seis meses dois, que deu certo. Foram mais sete anos no clube e quase 250 partidas antes da dolorosa saída. No entanto, ele admitiu que apesar de optar por um mercado bastante atípico para europeus, o Vasco foi uma escolha pensada com base na história do próprio clube.
— A pressão aqui é grande e foi também por isso que vim. Eu gosto disso. Eu vivo para isso. É uma forma de pressão para sentir esse amor e as expectativas de milhares de apoiadores. Eles esperam que você seja decisivo. Isso é ainda mais verdadeiro quando você veste o número 10, do Roberto Dinamite. A família dele deu a benção na minha chegada e eu não podia decepcioná-los. Não queria ir para um clube sem pressão ou sem ambição. Eu queria um clube quente, onde as pessoas me odiassem se eu não fosse bem.
Payet encontrou pressão e lidou muito bem no Vasco
E foi exatamente isso o que ele encontrou, até pelo momento que o Vasco vivia no campeonato. Mas sua chegada, ao lado do técnico Ramón Díaz e também de atletas como Gary Medel, Pablo Vegetti e Paulinho de Paula, foram essenciais para a recuperação cruzmaltina. Mas de tudo isso, o que Payet mais fez questão de destacar foi o apoio da torcida mesmo nos piores momentos. Ele disse haver semelhanças entre os apoiadores de Vasco e OM, e que isso o fez se sentir mais confortável em São Januário.
– Sempre escolhi meus clubes com base em seus estádios. Eles têm que estar cheios e tem que haver uma atmosfera. É primordial. Eu precisava dessa paixão. Se eu não tivesse tido isso, teria morrido lentamente. Gosto quando os torcedores são exigentes. Essa relação que tive com a torcida do Olympique de Marseille eu acabei reencontrando no Vasco.
Payet se surpreendeu com nível técnico do Brasileirão
E não foi só isso que surpreendeu Payet. Algo que também o deixou positivamente impactado foi com o nível técnico do Campeonato Brasileiro. Mesmo tendo clubes com menos condições financeiras do que em França e Inglaterra, países por onde o meia jogou, ele afirmou que a mistura entre tática e jogo individual de fato deixa o nível melhor.
— Fiquei agradavelmente surpreendido com o nível de jogo (do campeonato). Jogamos futebol total lá. Às vezes, demais. Tenho que desacelerar meus companheiros porque eles sempre querem atacar. Mas gosto do estilo deles, do controle de bola, do jeito de provocar, de driblar. Vem da rua. É um futebol autêntico, gratuito e menos quadrado. Isso me cai bem.
Deixar o clube onde é ídolo e criou laços profundos foi realmente algo muito doloroso para o francês. Mas já nos últimos anos de sua carreira, ele se reencontrou em outro continente, em um clube gigante no país do futebol. Nada como alguns meses para se adaptar à língua, o seu próprio corpo e também a outro ambiente para fazê-lo se sentir melhor, e recuperar a alegria de jogar ao som de um São Januário lotado.