Tebas, presidente de La Liga, reforça crítica à decisão do TAS: “Esses clubes-estado (PSG e City) fazem o que querem”

Tão logo foi divulgada a decisão do TAS de reverter a decisão da Uefa de excluir o Manchester City de competições europeias por duas temporadas, Javier Tebas, presidente de La Liga, foi um dos primeiros a reagir com críticas à deliberação do tribunal. Pep Guardiola, técnico dos Cityzens, respondeu ao dirigente, afirmando que ele estava com inveja da Premier League e do futebol inglês. A tréplica veio forte do lado de Tebas: “Esses clubes-estado fazem o que querem”.
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Em entrevista à ESPN na quarta-feira (15), Tebas afirmou que os atores do futebol tiveram uma sensação de justiça quando o City foi inicialmente punido pela Uefa, já que “todos sabemos o que o Manchester City fez”.
“Quando eles foram punidos, não houve nenhuma surpresa para a maioria de nós que estamos envolvidos no futebol. Não que as pessoas estivessem felizes, mas havia uma sensação de justiça sendo feita contra esses grandes clubes-estado, o outro sendo o Paris Saint-Germain. Por outro lado, quando o TAS anulou a decisão, houve protestos, de Klopp e Mourinho, porque todos sabemos que eles tentam encontrar um jeito de contornar as regras do Fair Play Financeiro. Como disse o Klopp, foi um dia ruim para o futebol.”
Após os primeiros comentários de Tebas sobre o assunto, Guardiola ironizou o presidente de La Liga: “Ele é um especialista jurídico incrível. Na próxima vez, perguntaremos a ele qual tribunal deveria nos julgar”. O técnico então defendeu que o City estará na próxima Liga dos Campeões por mérito próprio e por ter feito as coisas certas. “Com esse tipo de pessoa, quando é bom para eles, está perfeito, mas se é contra eles, é um problema. Estaremos na Champions League na próxima temporada, sr. Tebas. O que fizemos, fizemos apropriadamente.”
O dirigente, por sua vez, tem visão completamente contrária e não se desculpa com o treinador, como este havia pedido. “O Manchester City estará na Liga dos Campeões na próxima temporada porque o TAS fez algo errado, não porque o City fez as coisas da maneira certa. Eu gostaria de ver o julgamento final do TAS. Quando ele sair e eu ler, eu direi a Guardiola aquilo de que estou convencido, que eles não fizeram as coisas corretamente. O TAS errou.”
Mesmo fora do atual imbróglio, ainda que tenha sido também absolvido por tecnicalidade em 2019, o PSG foi outro alvo de Tebas, que acredita que clubes-estado estão prejudicando o futebol europeu.
“O City, ao longo dos últimos cinco anos, junto com o PSG, é o clube que mais gastou. O City não fez contratações com seus próprios recursos, como o Manchester United, que arrecada dinheiro por meio da televisão ou de patrocinadores. Eles contrataram com petrodólares, com dinheiro obtido por meio do petróleo pelos Emirados Árabes. Os clubes-estado na Europa fazem o que querem. Patrocínios fictícios, naming rights de estádios, no caso do Manchester City. O Estádio Etihad não vale isso, e isso cria uma situação econômica muito perigosa para nós.”
Os maiores críticos à implementação do Fair Play Financeiro em primeiro lugar verão as falas de Tebas como uma comprovação de que o instrumento serve para manter o status quo dos clubes tradicionalmente gigantes no futebol europeu. Embora seja uma crítica que encontra algum lastro, a verdade é que o sistema claramente não tem conseguido fazer isso. Sem penalizar equipes pegas violando seus termos, como no caso do City desta vez, dá razão à outra parcela da disputa, que afirma que se trata de um dispositivo à caça de clubes menores e que não ousa colocar as mãos nos maiores.
Atacado por todos os lados, parece ter ficado claro após este último episódio que o Fair Play Financeiro precisa ser repensado. De nada adianta ter uma legislação se, por tecnicalidades, ela não pode ser aplicada. Ainda que bem-sucedido em sua tentativa de tornar o futebol europeu mais sustentável (os mais de 700 clubes das elites nacionais foram de € 1,7 bilhão de perdas em 2011 a € 579 milhões de lucro em 2017), é válido apontar o seu fracasso na tentativa de limitar o crescimento artificial de clubes.