Navas e Rakitic conectaram o presente ao passado vitorioso do Sevilla na Liga Europa
Os dois veteranos esbanjaram experiência em Budapeste e impulsionaram os espanhóis ao sétimo título da competição
O Sevilla é uma entidade da Liga Europa. Na brincadeira, meio no folclore, falamos em pacto quando, por exemplo, arranca o empate do nada contra o Manchester United com dois gols contra. Ou marca outro na final e depois é campeão nos pênaltis. Na prática, os jogadores ganham confiança quando disputam o torneio com o escudo do heptacampeão no peito. E ajuda, claro, se o time contar com veteranos que não apenas conhecem essa história vitoriosa como foram responsáveis por escrevê-la.
Apesar de ser um clube com alta rotatividade de jogadores, o Sevilla ainda conta com um bom contingente que ganhou a Liga Europa em 2019/20. Nomes como o goleiro Bono, um dos destaques da decisão contra a Roma, Joan Jordán, Nemanja Gudelj, Fernando, Suso e outros. O técnico José Luis Mendilibar não estava errado ao dizer, antes da semifinal, que não tinha experiência neste tipo de palco, mas seus atletas, sim. Dois veteranos, especificamente, têm ainda mais e estiveram em outras batalhas europeias vencidas pelo Sevilla.
O primeiro dos sete títulos de Liga Europa/Copa da Uefa do clube espanhol foi conquistado em 2005/06. E lá estava Jesús Navas, atuando pelo lado direito do meio-campo. Ele está disputando sua vigésima temporada no futebol europeu e, aos 37 anos, os pulmões ainda estão em dia. Não consegue ser titular todos os fins de semana, mas começou jogando na maior parte do mata-mata, à frente do campeão do mundo Gonzalo Montiel, e fez 48 partidas nesta temporada.
Este foi o seu quarto título de Liga Europa. Ele também participou do bicampeonato, em 2006/07, e daquela campanha em 2019/20, durante a bolha da pandemia. No meio do caminho, ganhou experiência de Champions League com uma semifinal pelo Manchester City, seu clube durante os únicos quatro anos dos 20 como profissional em que não defendeu o Sevilla. Tem um currículo vasto de títulos, que também inclui Copa do Mundo e Eurocopa pela Espanha, como reserva.
O que impressiona nesta fase avançada da carreira de Navas é como conseguiu se adaptar a ser um lateral direito confiável, após passar a maior parte da sua carreira como um jogador bastante ofensivo. Mesmo com a idade avançada, não deixa buracos na defesa e ainda consegue ter energia para apoiar, como no cruzamento que terminou com o gol contra de Gianluca Mancini. Bateu de frente com Leonardo Spinazzola, que até perdeu uma chance clara no começo da partida, mas não teve facilidades para atacar. Melhor a partir do fim do primeiro tempo, o Sevilla cruzou 40 vezes. Dez foram de Jesús Navas, que ficou em campo até os cinco minutos da prorrogação.
Rakitic conquistou sua primeira Liga Europa com o Sevilla anos depois de Navas. Em 2013/14, sob o comando de Unai Emery, o início de uma sequência de três títulos. Até então, tinha experiência modesta em competições europeias por Basel e Schalke 04. Um dos destaques daquela campanha e daquela temporada, foi contratado pelo Barcelona e, logo de cara, conquistou a Champions League. Marcou na final e se consolidou como um dos melhores meias do mundo. Teria mais três campanhas longas pelos catalães, duas às quartas de final e uma à semifinal, antes de retornar para o Sevilla em 2020.
Como Navas, também está em uma fase diferente da sua carreira. Um bom paralelo é com o ex-colega de seleção, Luka Modric, que pode ter perdido um pouco em regularidade, mas compensa com experiência e crescendo nos grandes jogos. Ele fez 51 partidas na temporada, embora raramente chegue aos 90 minutos. Na Liga Europa, foi intocável. Saiu apenas a sete minutos do fim da derrota para o Fenerbahçe em Istambul e, mesmo aos 35 anos, ficou em campo durante quase os 150 minutos de jogo em Budapeste – contando todos os acréscimos.
E se Navas dava força pelos lados, Rakitic foi o termômetro. O terceiro jogador do Sevilla que mais tocou na bola (105), atrás de Navas e Gudelj (105 cada), e o segundo responsável por mais passes (93), também atrás do veterano lateral direito, com uma taxa de acerto alta. Deu dois passes para finalização e acertou a trave com um balaço de canhota da entrada da área. Nem esteve muito protegido, atuando como segundo homem de meio-campo, e teve bons números defensivos, com três bloqueios, dois desarmes e uma interceptação. Na hora de cobrar seu pênalti, o terceiro da disputa, depois do erro de Mancini, não vacilou.
Muita coisa deu errado para o Sevilla nesta temporada, com três técnicos diferentes e risco de rebaixamento no Campeonato Espanhol. Era, objetivamente, difícil entender chegou tão longe na Liga Europa, em meio a tantos problemas. Conseguiu porque sabe jogar esta competição e isso não é místico. Mata-mata exige concentração, administração, intensidade, sabedoria, coração e experiência, uma memória institucional que é nutrida dentro do Sevilla e se manifesta em várias figuras. Em nenhuma mais do que em Jesús Navas e Ivan Rakitic.