Como governo inglês pode causar banimento da Inglaterra de Euro e Champions League
Mesmo sendo um dos paises-sede, a seleção inglesa pode ser excluída pela Uefa por conta de intervenção estatal
Após ser vice-campeã das últimas duas edições da Eurocopa, a Inglaterra consolida o projeto para ganhar a primeira taça desde a Copa do Mundo de 1966 e será uma das sedes da edição de 2028 ao lado de Irlanda do Norte, Irlanda, Escócia e País de Gales.
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No entanto, pode ser que o selecionado inglês nem dispute a competição, além de um impacto também para os clubes ingleses que disputam a Champions League, conforme informações dos conceituados jornais The Times e The Athletic.
A Uefa teria enviado um alerta ao governo do Reino Unido, hoje comandando pelo primeiro-ministro Keir Starmer, do Partido Trabalhista, para não seguir em frente com o plano de estabelecer um regulador independente do futebol (IFR na sigla em inglês), o que poderia causar o banimento da Euro e a exclusão de times na principal competição de clubes.
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Esse plano é antigo, proposto ainda pelo governo conservador que estava no poder em 2022.
O que propõe o órgão regular do futebol inglês:
- Tornar os clubes mais sustentáveis financeiramente
- Impedir competições separatistas (como a Superliga Europeia)
- Regular aquisição de equipes, exigindo apresentação de modelos sólidos financeiros
- Ajudar a distribuir as cotas televisivas de forma igualitária entre a Premier League e as divisões abaixo da Liga Inglesa de Futebol (EFL)
- Mais poder aos torcedores nas decisões dos clubes
A entidade máxima do futebol europeu é absolutamente contra esse IFR, também chamado de “cão de guarda” na Inglaterra, por acreditar que essas competências deveriam ser da Federação Inglesa de Futebol (FA).
Theodore Theodoridis, secretário-geral da Uefa, enviou em 2 de setembro uma carta à secretária de cultura britânica, Lisa Nandy, explicando a contrariedade ao regulador estatal.
— Um dos requisitos fundamentais da Uefa é que não deve haver interferência governamental na gestão do futebol. Temos regras específicas que protegem contra isso para garantir a autonomia do esporte e a imparcialidade da competição esportiva, cuja sanção final seria excluir a federação da Uefa e as equipes da competição. — escreveu, em carta obtida pelo The Athletic, o executivo “número 2” da entidade, atrás apenas do presidente Aleksander Čeferin.
Theodoridis mostra preocupação que o regulador possa sair de suas atribuições iniciais e passe a cumprir a agenda dos objetivos de política externa e comercial do governo do Reino Unido, o que poderia impedir que clubes fossem adquiridos por fundos ligados a outros estados (como a Arábia Saudita no Newcastle) ou amistosos em outros países.
O dirigente também se mostra incomodado com a intervenção nas cotas televisivas. A realidade atual é que as gestões de Premier League e EFL negociam e distribuem o dinheiro para os clubes, mas a última se mostra incomodada com a elite do futebol inglês, pois quer mais receitas aos clubes de divisões inferiores.
— [É] imperativo proteger e preservar a independência da FA. A UEFA está preocupada com o potencial de expansão do escopo dentro do IFR. Embora a intenção inicial do IFR seja supervisionar a sustentabilidade financeira de longo prazo dos clubes e ativos patrimoniais, sempre há o risco de que, uma vez estabelecido, o IFR possa expandir seu mandato além dessas áreas. — apontou.
A Uefa também tem medo do efeito que isso pode causar em outros países e acabar tornando o futebol “ingovernável”. Por exemplo, havendo um regulador em cada país, a entidade europeia e as respectivas federações perderiam cada vez mais poder.
Enquanto o Athletic publicou que só há possibilidade de exclusão da Euro, o Times expôs que a Inglaterra corre risco até de não disputar a Copa do Mundo, visto que a fórmula de classificação à competição é feita via Uefa. Os clubes também poderiam ser impedidos de disputar Conference League, Liga Europa e, claro, Champions.
Favorável ao regulador, a Associação de Torcedores de Futebol (FSA) disse estar “confiante de que não há risco para a participação da Inglaterra em torneios“, criticando as manchetes da imprensa e exaltando a apuração da BBC, que apontou que autoridades “acreditam que não há risco de a Inglaterra ser banida pela Uefa“.
— Os critérios que definem e avaliam a independência da IFR devem ser meticulosamente elaborados para evitar potenciais conflitos com o papel da FA. Isso é necessário para evitar sanções sob os estatutos da Uefa e da Fifa. O escopo do IFR deve permanecer focado na sustentabilidade financeira de longo prazo dos clubes, com vistas a garantir que ele não ultrapasse áreas que possam ser percebidas como interferência externa na governança do futebol. — detalhou Theodore Theodoridis, em parte da carta publicada pela BBC.
— [A Uefa] respeitosamente exige mais esclarecimentos e compreensão neste contexto para garantir a conformidade com os Estatutos da Uefa e evitar implicações indesejadas para a governança do futebol. — finalizou.
A secretária Lisa Nandy ainda não respondeu a Uefa, mas há a expectativa que a resposta venha nos próximos dias.
Governo trabalhista trata regulação como ‘prioridade máxima'
Um comunicado do Departamento de Cultura, Mídia e Esporte (DCMS) exaltou o projeto de regulador ao colocar o torcedor “no centro do jogo” e melhorar a governança e a sustentabilidade financeira do futebol inglês;
— O Projeto de Lei de Governança do Futebol estabelecerá um novo Regulador Independente do Futebol que colocará os fãs de volta no centro do jogo e abordará problemas fundamentais de governança para garantir que o futebol inglês seja sustentável para o benefício das comunidades dos clubes no futuro.
Em junho, no Discurso do Rei, o Partido Trabalhista garantiu que a Inglaterra será “o melhor lugar do mundo para ser um fã de futebol” com o regulador, que garantirá “a sustentabilidade financeira dos clubes ingleses de futebol” e que os times não sejam “desviados da pirâmide do futebol inglês”, em alusão à Superliga.
A expectativa é que a legislação do regulador seja apresentada em outubro ou novembro. A secretária aponta o trabalho como “prioridade máxima”.