De tão idolatrado, Bakircioglu virou mosaico em seu jogo de despedida na casa do Hammarby
Kennedy Bakircioglu não é o jogador mais marcante de sua geração na Suécia, mas possui uma carreira respeitabilíssima. Filho de refugiados assírios que escaparam da perseguição na Turquia, o meia começou a carreira no Assyriska – clube fundado por, entre outros, seu próprio pai e que visava acolher a comunidade local que se formava com a diáspora assíria. Além disso, jogou por diversos clubes ao redor da Europa, incluindo Ajax, Twente, Iraklis e Racing Santander. Passou até mesmo por testes no Manchester United no início da carreira, sem ser aprovado. E defendeu a seleção sueca em 14 partidas, de 2001 a 2008, embora nunca tenha disputado uma competição internacional. Em nenhum outro lugar, porém, ele pode se sentir tão em casa quanto no Hammarby.
São duas passagens pelo clube de Estocolmo. A primeira aconteceu ainda nos primórdios de sua trajetória, depois de estourar no Assyriska. Bakircioglu foi contratado em 1999 e não demorou a causar impacto. Foi eleito a revelação do Campeonato Sueco em 1999, diante de suas ótimas atuações. Idolatrado pela torcida, o camisa 10 logo se tornou o maestro da equipe, seja por sua categoria para bater na bola ou pela qualidade na criação. O ápice aconteceria em 2001. O veterano liderou os alviverdes ao seu primeiro titulo nacional. Anotou oito gols e sete assistências na campanha, eleito o melhor da temporada no país. Depois, teve o gosto de disputar as preliminares da Champions. Só que a saída do Hammarby, em 2003, não seria muito feliz. O meia não aceitou renovar o seu contrato e chegou a ser suspenso por isso, até deixar a agremiação com o passe livre.
As feridas cicatrizariam em 2012. Bakircioglu retornou ao Hammarby para a reta final da carreira, aos 32 anos. Encontrou o clube na segunda divisão do Campeonato Sueco e, como capitão e artilheiro, comandou o acesso em 2014. Nas últimas temporadas, o camisa 10 viveria mais um bocado da idolatria, embora fosse perdendo espaço entre os titulares. Aos 38 anos, ainda na elite da liga local, disputa a última temporada de sua carreira. E aquele que pode ser o último gol da carreira é simplesmente fantástico: acertou um chutaço de falta para fechar a vitória sobre o IFK Göteburg. Na comemoração, o veterano de calvície avantajada e uma inescapável pança comemorou dando boas goladas num copo de cerveja.
Neste domingo, todavia, Bakircioglu precisou encarar sua despedida na Tele 2 Arena. Às vésperas da aposentadoria, disputou o último jogo do Hammarby como mandante na temporada. Mais de 30 mil compareceram às arquibancadas, com direito a cortejos rumo ao estádio para celebrar a lenda. Lutando pela classificação à Liga Europa, atualmente na terceira colocação, os alviverdes derrotaram o Häcken por 1 a 0. O camisa 10 saiu do banco e participou dos minutos finais da partida. Ainda assim, o melhor ficou para as homenagens além da bola rolando.
Durante a entrada das equipes em campo, a torcida ergueu nas arquibancadas três bandeirões para exaltar Bakircioglu – um deles fantástico, com o meia comemorando um gol de braços abertos. Além disso, coloriu as tribunas com as cores do Hammarby. O ídolo não conteve a emoção, puxando a fila de jogadores com a braçadeira, mesmo que seguisse ao banco pouco depois. Quando foi a campo, a 20 minutos do apito final, mais festa – com direito com aplausos em pé e sinalizadores. Já depois da vitória, o meia ficou no centro do gramado para dedicar suas últimas palavras, ao lado da esposa e da filhinha. Recebeu alguns presentes, inclusive mensagens de velhos amigos reproduzidas no telão, entre eles Zlatan Ibrahimovic e Klaas-Jan Huntelaar. A diretoria alviverde ainda confirmou que, em honra do maestro, vai aposentar a camisa 10 pelas próximas 10 temporadas. Nada mais digno para exaltar uma lenda.
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