Conference League

O Zrinjski viveu uma memorável estreia: transformou o 0x3 em 4×3 contra o AZ

O AZ abriu três gols de vantagem em Mostar, mas o Zrinjski buscou uma inacreditável virada por 4 a 3, na estreia de um clube da Bósnia em fases de grupos europeias

O Zrinjski Mostar desfrutava de uma noite histórica nesta quinta-feira, pela Conference League. Pela primeira vez, um clube da Bósnia-Herzegovina disputava uma partida de fase de grupos por competições europeias. E a inauguração desse momento especial ao país culminaria numa partida memorável também por outros motivos: o Zrinjski conseguiu derrotar o AZ por 4 a 3 em Mostar. Os holandeses chegaram a abrir três gols de vantagem no placar durante o primeiro tempo, até que uma inimaginável virada ocorresse na segunda etapa. Será uma daquelas vitórias para gerações de torcedores relembrarem.

O Zrinjski é um clube que se diferencia na Bósnia-Herzegovina, por ser fortemente ligado à comunidade croata. A equipe traz inclusive referências ao país vizinho em seu escudo e não esconde a maneira como está enraizado junto à etnia. Isso auxilia a alimentar inclusive uma animosidade com o Velez Mostar, clube mais tradicional da cidade nos tempos de Iugoslávia. Embora tivesse tradicionalmente uma torcida mais plural em relação às etnias, o Velez acabou se aproximando mais dos bosníacos após a independência da Bósnia, justamente pela ascensão do Zrinjski em paralelo à Croácia.

A virada inesquecível

O AZ era claro favorito no confronto com o Zrinjski Mostar. Os holandeses foram semifinalistas da última Conference e vivem um ótimo início na Eredivisie, com quatro vitórias em quatro rodadas. O time treinado por Pascal Jensen perdeu jogadores importantes, como Tijjani Reijnders e Milos Kerkez, mas preserva talentos como Yukinari Sugawara, Dani de Wit e Vangelis Pavlidis. Estavam presentes em campo, além de outros jogadores rodados como Jordy Clasie e Mat Ryan. Era de se esperar uma vitória mesmo em Mostar, e isso se desenhou.

O AZ precisou de dez minutos para abrir o placar, com Myron van Brederode, sozinho para completar o cruzamento de Mayckel Lahdo. O placar se ampliou aos 32, quando Sven Mijnans aproveitou um rebote do goleiro. E a partida parecia resolvida aos 44, com o terceiro gol dos visitantes, numa infiltração sem dificuldades de Dani de Wit. O Zrinjski era mero espectador em campo. Além da abertura concedida pela defesa, o ataque teve somente duas finalizações. A posse de bola não passou dos 24%.

A melhora do Zrinjski no segundo tempo foi enorme. Não tanto em relação à posse de bola, apenas 33%. Entretanto, a efetividade no ataque impressionou. Quase todos os avanços renderam tentos para a incrível virada. O primeiro gol contou com uma colaboração do goleiro Mat Ryan. Zvonimir Kozulj cobrou uma falta de longe e o australiano aceitou, logo aos três minutos. O AZ tentou responder na sequência, mas parou no goleiro Marko Maric e Pavlidis também carimbou a trave.

O segundo gol do Zrinjski veio apenas aos 23, numa pintura de Josip Corluka. Bateu do bico da grande área e meteu no ângulo, encobrindo Ryan. O empate se confirmou logo aos 26, quando Aldin Hravanovic dominou e definiu da meia-lua. Já o gol decisivo, aos 36, saiu com o oportunismo de Kozulj dentro da área, aproveitando o rebote de uma bola na trave. Ainda restava tempo para o AZ tentar uma reviravolta, mas os alvirrubros sequer conseguiram empatar com a pressão nos minutos finais.

O Zrinjski assume a liderança no Grupo E, revertendo os prognósticos. Afinal, não foi a única surpresa da chave nesta quinta-feira. Na outra partida, o Legia Varsóvia derrotou o Aston Villa por 3 a 2 na Polônia. Por duas vezes os ingleses empataram o jogo, mas em três oportunidades os poloneses apareceram à frente no placar, com destaque aos dois gols de Ernest Muçi. Os Villans pouparam parte de seus destaques, mas ainda assim tinham nomes como Emiliano Martínez, Clément Lenglet, Youri Tielemans, John McGinn, Nicolò Zaniolo e Leon Bailey entre os titulares. Douglas Luiz, Moussa Diaby e Ollie Watkins vieram do banco, sem sucesso.

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A história do Zrinjski

O Zrinjski Mostar é um clube de história particular na Bósnia. Foi fundado em 1905 e chegou a ser banido do futebol em 1945, por fazer parte do Campeonato Croata nos tempos de estado fantoche dos nazistas. O ressurgimento aconteceu em 1992, durante a Guerra da Iugoslávia, com a independência bósnia. A equipe servia para reunir a comunidade croata de Mostar. Tal ligação é tão expressiva que permitiu o empréstimo de Luka Modric ao Zrinjski no início de sua carreira, cedido pelo Dinamo Zagreb por uma temporada.

O Zrinjski Mostar também se estabeleceu como um clube importante do Campeonato Bósnio. A equipe soma oito títulos na liga nacional, firmando-se como maior campeão do período após a independência. Os tricolores venceram os dois últimos troféus e, na temporada passada, ainda fizeram a dobradinha com a Copa da Bósnia. Já nas competições continentais, a equipe nunca tinha chegado tão longe, desde a estreia em 2005/06. Sua melhor campanha havia ocorrido exatamente em 2022/23, quando só não alcançou a fase de grupos da Conference por uma derrota diante do Slovan Bratislava na prorrogação da última fase qualificatória.

Na atual campanha, o Zrinjski Mostar eliminou o Urartu, da Armênia, na primeira fase da Champions. Depois, caiu diante do Slovan Bratislava, mais uma vez. Com isso, os bósnios foram repescados para a Liga Europa e mediram forças contra o Breidablik. A vitória por 6 a 2 na ida, em Mostar, encaminhou a classificação. Assim, a derrota por 1 a 0 na Islândia foi apenas um detalhe. Não atrapalhou a festa dos tricolores. A queda aconteceu apenas na última fase qualificatória da Liga Europa, contra o LASK Linz. Mesmo assim, o Zrinjski acabou repescado à Conference. E estreou com o pé direito na fase de grupos.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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