Por caso de corrupção esportiva ocorrido há nove anos, Osasuna deve ser excluído da próxima Conference
Uefa deve oficializar a punição em breve, mas Osasuna já se defende e promete recorrer, ao afirmar que a denúncia partiu do próprio clube e incide sobre antigos dirigentes

O Osasuna fez por merecer a vaga na Conference League 2023/24. Numa temporada em que os navarros alcançaram a decisão da Copa do Rei, também tiveram uma campanha bastante regular em La Liga. A equipe dirigida por Jagoba Arrasate terminou na sétima colocação, o que marcaria o retorno às competições europeias depois de 16 anos. Entretanto, a participação dos Rojillos na Conference está em xeque. A Uefa deve punir a equipe com a exclusão do torneio, por um caso de corrupção esportiva ocorrido há nove anos – com participação de dirigentes da agremiação, mas denunciado pelo próprio clube meses depois. Os navarros ainda tentarão recorrer, mas, neste momento, a tendência é de que o Athletic Bilbao seja o representante espanhol no torneio europeu, herdando a vaga como oitavo colocado em La Liga.
O caso de manipulação de resultados com o Osasuna aconteceu em 2013/14. Dirigentes do clube fizeram pagamentos a jogadores adversários na reta final de La Liga, para que se motivassem em vitórias contra concorrentes dos navarros na parte inferior da tabela. No fim das contas, o esquema não deu muito certo e a equipe terminou rebaixada para a segunda divisão. Apesar disso, as autoridades espanholas realizaram uma investigação a partir de 2015, diante da denúncia realizada pela atual diretoria dos Rojillos. Os dirigentes envolvidos foram punidos, assim como jogadores adversários. A Uefa, mesmo assim, avaliou que o caso é grave suficiente para que o Osasuna acabe excluído da próxima Conference League.
O Osasuna se defende e promete acionar o Comitê de Apelações para impugnar a decisão. O clube acusa a Uefa de ser “forte com os fracos e fraca com os fortes”, ao ignorar que a própria justiça espanhola declarou o Osasuna, como instituição, vítima do desvio de dinheiro realizado pelos dirigentes para a manipulação de resultados. Além disso, os Rojillos acusam a federação espanhola de se omitir diante do episódio, sem defender os direitos de seu filiado. A entidade ainda teria vazado informações para a imprensa, segundo os navarros. Insinua certo favorecimento ao Athletic Bilbao, clube mais forte nos bastidores.
“O Osasuna tomou conhecimento, nesta tarde, das conclusões do informe elaborado pelos inspetores do Comitê de Controle, Ética e Disciplina da Uefa. Neste informe, os inspetores declaram a inelegibilidade do clube para participar da Conference League 2023/24, negando desta forma o direito de participar das competições europeias, que o clube ganhou de forma justa em campo”, escreve o Osasuna, em comunicado oficial. “Os inspetores da Uefa consideram que a sentença do Tribunal Supremo, que condena vários ex-dirigentes do clube, é motivo suficiente para excluir o Osasuna, nove anos depois do ocorrido. Isso, apesar de que a mesma sentença é produto da denúncia realizada pelos atuais gestores do clube e fruto do trabalho do Osasuna como acusação particular durante todo o procedimento judicial, para perseguir quem desviou, com fins pouco claros, dinheiro da entidade”.
“O clube não compartilha dos critérios da Uefa, recorrerá ao Comitê de Apelações e anuncia que lutará legalmente, até as últimas consequências, para defender seus direitos. Forte com os fracos e fraca com os fortes, a justiça da Uefa não quis levar em conta que foram os próprios tribunais espanhóis que declararam, literalmente, que o Osasuna foi vítima do desvio de dinheiro realizado por alguns de seus ex-dirigentes, pelas costas do órgão máximo de gestão da entidade, a Assembleia, e dos mecanismos de controle do próprio clube. Com essa decisão, a Uefa pretende castigar novamente o Osasuna, na figura dos atuais gestores, que apresentaram a denúncia”, complementa o clube.
O Osasuna ainda salienta que, depois do rebaixamento à segunda divisão, o clube correu riscos de cair à terceirona e precisou iniciar um processo de reconstrução interna, diante das dívidas geradas a partir dos antigos dirigentes. Na visão dos Rojillos, uma punição da Uefa colocaria em xeque a imagem do clube e seus méritos esportivos, bem como o apoio da torcida ao longo dos últimos anos. O Osasuna ainda enfatiza que está “preparado para o pior”, mas que não deixará de lado suas convicções e defenderá seus direitos.
Em nota oficial posterior, a federação espanhola tentou se defender. Declarou que o posicionamento do Osasuna é uma “falta de respeito” e apontou que o clube convenientemente deixou de lado a origem das denúncias, de gravidade extrema. A partir de então, o Osasuna providenciaria mais uma resposta com novas acusações contra a federação por um suposto “cinismo e um ataque à instituição”. Uma clara queda de braço está deflagrada também no ambiente interno do futebol espanhol.
O caso é bastante delicado. Se por um lado a diretoria do Osasuna joga a culpa em outra gestão, por outro a Uefa abriria um precedente perigoso se não agisse contra o clube. De qualquer maneira, pelo distanciamento temporal do episódio e também pela forma branda como a confederação trata clubes mais poderosos, a reclamação dos Rojillos ganha mais força. É de se imaginar que a ação ainda percorra o Tribunal Arbitral do Esporte, a depender do parecer do Comitê de Apelação. Fato é que o processo compromete o próprio planejamento do Osasuna para a Conference e torna inimaginável sua participação. Por aquilo que foi o trabalho dos últimos anos, os navarros mereciam demais essa vaga.