Conference League
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Paquetá demorou a engrenar, mas entregou o que o West Ham queria: o toque qualificado, que valeu o título

Mesmo numa temporada irregular, Lucas Paquetá apareceu no momento mais importante, com a assistência que garantiu o título da Conference aos 45 do 2° tempo

Lucas Paquetá é a contratação mais cara da história do West Ham. Os Hammers desembolsaram €60 milhões para trazer um jogador que, na teoria, seria um diferencial técnico dentro do elenco. A excelente forma do brasileiro nos tempos de Lyon endossava o valor pago pelos londrinos. A expectativa era de que o camisa 11 permitisse voos ainda maiores para um clube que vinha de ótimas campanhas na Premier League. Mas se o roteiro dessa história não foi tão linear, o final é feliz. Paquetá teve dificuldades em sua adaptação ao futebol inglês e precisou brigar contra o rebaixamento. No entanto, cresceu com o time e ofereceu seus lampejos na fase decisiva da Conference League. Inclusive a assistência que, aos 45 do segundo tempo, abriu caminhos e permitiu o gol do título na vitória por 2 a 1 sobre a Fiorentina. É um dos heróis da equipe que leva os Irons de volta ao topo de uma competição europeia depois de 58 anos.

Aos 25 anos, Paquetá conviveu com as oscilações ao longo de sua carreira. Causou um impacto imenso quando surgiu no Flamengo, mas não correspondeu nos tempos de Milan. A mudança para o Lyon foi a melhor decisão possível para o meio-campista, num ambiente de menor pressão e dentro de uma equipe melhor organizada para o seu futebol. O jovem cresceu a ponto de fazer o time orbitar ao seu redor em certos momentos das últimas duas temporadas. Não conquistou títulos na França, mas se colocou como um dos melhores jogadores em atividade no futebol francês. Um destaque que respingou na seleção brasileira, com a titularidade conquistada na Copa América de 2021 e o excelente desempenho na reta final das Eliminatórias.

Havia chegado um novo momento para Paquetá capitalizar com o seu sucesso. O West Ham pode não ser um clube da primeira prateleira na Premier League, mas vinha de boas campanhas consecutivas e garantia visibilidade nas competições europeias – o que não teria se ficasse no Lyon nesta temporada. O camisa 11 desembarcou no Estádio Olímpico de Londres para ser um dos donos do time. Algumas pessoas até contestaram sua decisão, quando poderia buscar espaço num clube mais expressivo. Ainda assim, o brasileiro teria um protagonismo importante na Inglaterra. Apenas precisou de paciência, diante de uma adaptação que não foi automática ao novo país.

Até pelo nível de investimento realizado pelo West Ham, Paquetá seria titular da equipe na Premier League. O brasileiro não precisou de muitos jogos para mostrar sua qualidade técnica, com alguns lances exuberantes de habilidade. Mas não é que elevou o desempenho dos Hammers de imediato. Pelo contrário, o time de David Moyes demorou a se encaixar na temporada. O camisa 11 também não conseguia garantir gols ou assistências com regularidade. Seria naturalmente cobrado, diante da sequência ruim da equipe e da proximidade da zona de rebaixamento.

A Copa do Mundo ofereceu um novo foco para Paquetá e o meio-campista teve bons momentos na campanha do Brasil, mesmo por vezes cobrado em demasia. A caminhada até as quartas de final não foi o esperado, mas o meio-campista não saiu chamuscado. Só que a volta para o West Ham não seria simples, com a sequência sem vitórias que afundava o time na tabela. Paquetá, ao menos, passou a corresponder melhor quando os londrinos deram seus primeiros sinais de reação. Seus quatro gols garantiram pontos na briga contra o rebaixamento, embora a salvação só tenha sido confirmada na reta final da campanha.

A esta altura, o West Ham já estava com sua cabeça voltada à Conference League. Os Hammers despontavam entre os principais favoritos do torneio, pela força de seu elenco, e emendavam vitórias. Paquetá começou poupado na fase de grupos, mas ganhou espaço nos mata-matas, à medida que David Moyes priorizou seus titulares. E o camisa 11 teve sua atuação mais brilhante na temporada durante o jogo mais duro antes da decisão. Nas quartas de final, os Irons se viram ameaçados pelo Gent, que abriu o placar no Estádio Olímpico de Londres, após o empate na Bélgica. Foi só no segundo tempo que saiu a virada por 4 a 1, com um pênalti convertido por Paquetá e duas assistências, se redimindo do erro no tento dos visitantes. Mesmo sem participar diretamente dos gols, o brasileiro também fez boas partidas nas semifinais contra o AZ.

Já na decisão contra a Fiorentina, era natural que Paquetá tivesse os holofotes ao seu redor. Tecnicamente, era um dos melhores jogadores em campo. Mais do que isso, o brasileiro formava uma excelente meia-cancha ao lado de Declan Rice e Tomas Soucek. Complementava os companheiros sendo o mais refinado do trio, mas sem perder a pegada. Durante o primeiro tempo, entretanto, o camisa 11 não conseguiu se sobressair tanto. A Viola teve o controle da partida e o armador não encontrou muitos espaços. Não era fácil bater de frente com um leão como Sofyan Amrabat.

O jogo melhorou no segundo tempo, assim como Paquetá. O camisa 11 começou a se apresentar mais no setor de criação e a dar fluidez para a sua equipe. Também não deixava de se empenhar na sólida marcação dos Hammers, líder de desarmes na partida. Entretanto, o que se espera de Paquetá é o toque diferente. Ele quase veio para Michail Antonio, em grande jogada individual, mas havia impedimento do jamaicano. Ainda assim, no apagar das luzes, o brasileiro tirou o coelho da cartola. Numa bola espirrada no meio, o armador raciocinou rápido e deu o passe entre as linhas. Pegou Jarrod Bowen em disparada e fez o ponta deixar quatro defensores para trás, antes de definir na saída do goleiro Pietro Terracciano. A assistência que valeu o título.

Ainda é possível discutir a adaptação de Lucas Paquetá à Premier League e a maneira como não rendeu de forma contínua no West Ham – diferentemente de outros meio-campistas brasileiros que fizeram sucesso no campeonato. Mesmo assim, não se nega que o camisa 11 foi decisivo. Teve seu destaque na reta final da Conference League e deu o passe que garantiu uma taça histórica para os Hammers, no título continental que não viviam desde 1964/65. Já dá motivos para ser lembrado com carinho pela torcida e para justificar o investimento. Além disso, certamente ganhará créditos para tentar uma volta por cima e uma melhor colocação na Premier League.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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