Champions League

Outra vez, o Arsenal saiu do jogo de ida precisando de um milagre para se classificar

Por Bruno Bonsanti

Houve uma curta janela de tempo, entre empatar de pênalti e o fim da primeira etapa, em que o Arsenal esboçou complicar a vida do Bayern de Munique. Mas não passou mesmo de um rascunho, imediatamente descartado pelos bávaros nos 20 minutos iniciais do segundo tempo quando os donos da casa foram avassaladores demais para os ingleses aguentarem. O empate por 1 a 1 rapidamente transformou-se em goleada por 4 a 1, enquanto o Arsenal tentava descobrir onde estava. No fim, Thomas Müller ainda fez o quinto e a sétima eliminação seguida dos Gunners nas oitavas de final da Champions League parece iminente.

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Há dois problemas aqui. O primeiro é ter se tratado apenas de um esboço: o Arsenal sequer conseguiu um resultado que lhe deixasse mais ou menos vivo para o jogo de volta. Sequer conseguiu, de fato, complicar a vida dos adversários. De novo. Nas seis eliminações anteriores, apenas a mais distante foi equilibrada. Na temporada 2010/11, conseguiu vencer o Barcelona, por 2 a 1, no Emirates, e classificava-se até os 25 minutos do segundo tempo, quando os catalães marcaram duas vezes em um curto espaço de tempo, para vencer por 3 a 1.

As cinco quedas seguintes foram bem mais feias, entre outros motivos, porque o Arsenal pareceu quase eliminado assim que o árbitro apitou o fim do jogo de ida. Tem tido constantemente que encarar a segunda partida com a sensação de que apenas um milagre o classificaria. Isso coloca uma pressão muito grande nos ombros dos jogadores treinados por Wenger, que não são, também, os melhores do mundo em lidar com ela. Torna tudo muito mais difícil.

Em 2011/12, o Arsenal conseguiu executar a tal missão impossível, com uma contribuição inestimável do Milan, que havia vencido, na Itália, por 4 a 0. No entanto, o primeiro tempo no Emirates terminou 3 a 0 para os donos da casa, que tinham 45 minutos para pelo menos levar a partida para a prorrogação. Não conseguiram.

Nas duas temporadas seguintes, as bolinhas colocaram o Bayern de Munique na trajetória inglesa. E os dois jogos de ida foram realizados no Emirates. E o Arsenal perdeu os dois, por 3 a 1 e 2 a 0, respectivamente, cabendo-lhe a ingrata missão de ganhar dos bávaros, na Allianz Arena, por três gols de diferença para se classificar. Até caiu com a cabeça erguida no primeiro desses confrontos, quando conseguiu ganhar por 2 a 0, mas o segundo gol, de Koscielny, saiu a quatro minutos do fim do jogo, mais assustando o Bayern do que qualquer outra coisa. No outro, empate por 1 a 1, sem chances.

O Arsenal tinha razão em reclamar da falta de sorte nos confrontos das oitavas de final. No entanto, em 2014/15, foi sorteado contra um adversário muito mais acessível do que o Bayern de Munique: o Monaco. Mesmo assim, perdeu de novo o jogo de ida, no Emirates, por 3 a 1, com um gol de Ferreira Carrasco, nos acréscimos, deixando tudo mais difícil. Tinha condições de reverter a desvantagem, considerando a qualidade técnica superior, e quase conseguiu: venceu na França, por 2 a 0, mas foi eliminado pelos gols marcados fora de casa.

E aí as bolinhas voltaram a aprontar. O Barcelona foi o adversário sorteado para enfrentar o Arsenal nas oitavas de final da última temporada da Champions League. O primeiro jogo seria disputado em Londres novamente. O time da casa aguentou até que bem, até Messi marcar duas vezes, a primeira delas aos 26 minutos do segundo tempo, e selar a vitória do Barcelona por 2 a 0. Lá foi o Arsenal mais uma vez precisar ganhar por três gols de diferença, fora de casa, contra um dos gigantes do futebol europeu. Perdeu por 3 a 1 no Camp Nou.

Ou seja, quando enfrentou gigantes, como Barcelona, Bayern de Munique e Milan – que naquela época ainda não estava na draga de atualmente -, o Arsenal foi presa fácil. E aí entra o segundo problema: meramente complicar a vida dessas equipes não basta para as ambições do torcedor, o que só aumenta a frustração. O torcedor do Arsenal quer que o seu time seja um desses gigantes, quer encarar esses duelos de igual para igual, como fez o Manchester United no final da década passada, ou o Chelsea, ou como o Manchester City pretende fazer, contratando Guardiola. Ou como o próprio Arsenal conseguiu fazer, principalmente naquela temporada 2005/06, quando perdeu do Barça na decisão.

Isso parece muito distante de acontecer neste momento. E por quê? O Arsenal tem dinheiro, contratos de TV milionários, a maior renda de dia de jogo da Inglaterra, uma torcida numerosa e apaixonada, e uma tradição das mais ricas – terceiro maior campeão inglês e o maior da Copa da Inglaterra, empatado com o United. É verdade que poucos times têm conseguido vencer Bayern, Barcelona e Real Madrid ultimamente. Esses clubes formaram um grupo de elite. Mas o Arsenal mal consegue participar de um bom combate, como fizeram, algumas vezes, Atlético de Madrid, Juventus, Paris Saint-Germain e City – com a ressalva de que esses dois últimos têm mais dinheiro que todo mundo -, para citar alguns exemplos.

Todos os dedos apontam para Arsène Wenger, e é realmente difícil isentá-lo de culpa. Está há 20 anos no Arsenal, e se Iwobi e Kieran Gibbs acabam se vendo responsáveis por bloquear Lahm e Robben, é porque é este o elenco que ele montou, ou por vontade e filosofia, ou por falta de capacidade para negociar e buscar negócios melhores. O seu indefectível estilo de jogo, ofensivo e com muitas trocas de passe, também apresenta muitos riscos contra equipes tão poderosas se não for executado à perfeição, por mais que, na partida desta quarta-feira, ele tenha entrado em campo com a proposta clara de defender e contra-atacar – proposta a qual o time não está acostumado. Mas a linda jogada individual de Robben não permitiu que esse plano durasse mais do que 11 minutos.

Mas nem tudo cai nas suas costas. Os jogadores mais talentosos que ele contratou também precisam assumir responsabilidade. Sánchez tenta e Sánchez briga, mas Özil desaparece. Não se viu a sombra do alemão na Allianz Arena. Principal fonte de criação da equipe, terminou a partida com apenas 24 passes, menos do que cinco de seus companheiros que foram titulares – e um dos cinco que passaram menos a bola foi Koscielny, que ficou apenas um tempo em campo. É verdade que, no geral, a bola ficou quase o tempo inteiro nos pés do Bayern, que teve 75% de posse de bola e trocou quase 800 passes, contra apenas 270 dos ingleses. Também se poderia argumentar que os companheiros desperdiçam as oportunidades criadas pelo meia alemão, mas apenas um passe de Özil a partida inteira terminou em finalização.

O tempo passa, e o Arsenal parece correr atrás do rabo. Estagnado. Não sobe de patamar, não consegue se fortalecer ou se fortalece menos que os seus principais adversários. A dez pontos da liderança na Premier League e praticamente eliminado da Champions, esta parece ser outra temporada em que os principais títulos escaparão dos Gunners. A pressão só cresce para cima de Wenger, chegando ao fim do seu último ano de contrato.

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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