Marcado na derrota, Jack Grealish teve um jogo impecável na classificação do City a mais uma final
O meia inglês, sempre muito contestado, faz uma ótima temporada e dessa vez ajudou o City a bater o Real Madrid

Jack Grealish ficou marcado pela eliminação do Manchester City na semifinal da última temporada da Champions League no Santiago Bernabéu. Não foi o único responsável, outras coisas aconteceram, inclusive uma das maiores reviravoltas da história da competição, mas ele desperdiçou duas oportunidades de matar a partida. Apenas aumentou a pressão em cima de um transferência muito cara que não estava brilhando em seu primeiro ano pelo time de Pep Guardiola. Nesta quarta-feira, a história foi diferente. Se não teve papel tão decisivo, terminou a goleada por 4 a 0 sobre o Real Madrid como um dos melhores em campo, o que não tem sido nem novidade nesta sequência que deixa o clube próximo da Tríplice Coroa.
Grealish é um bom objeto de estudo para como avaliamos transferências. O preço acaba ditando a percepção. Isso é um pouco inevitável, e aproximadamente € 115 milhões nunca deixará de ser muito, por melhor jogador que ele seja. Clubes, porém, vivem contextos diferentes. Uma taxa de transferência geralmente reservada para craques foi investida pelo City em um jogador secundário porque… bom, a resposta mais simples é que o City tem dinheiro suficiente para fazer isso. É também um time mais coletivo do que a média, com cada um exercendo a sua função. Quem brilha mesmo costuma ser Kevin de Bruyne. E agora Erling Haaland, colecionando números fenomenais.
Mas também às vezes é preciso dar tempo ao tempo. Grealish não teve que se adaptar a um novo país ou a uma nova liga, mas a responsabilidades diferentes. No Aston Villa, ele era o centro do universo. Tudo girava em torno do seu futebol. Tinha liberdade para prender a bola o quanto quisesse, chutar quando quisesse, dar o passe que quisesse, ficar de boa no campo de ataque enquanto os companheiros marcavam. Evidentemente, seria diferente no Manchester City, para o qual foi contratado para ser a peça de uma engrenagem mais ampla.
Demorou um pouco para um jogador com tanta personalidade dentro de campo enfrentar a memória muscular de fazer os lances que sempre fazia e entender como poderia ajudar o coletivo. Principalmente, ficar satisfeito com apenas cumprir a sua função com excelência e contribuir para uma boa vitória, sem necessariamente ser o protagonista. Foi o que aconteceu nesta quarta-feira: ele até participou da jogada do segundo gol, com um bom passe para a infiltração de Gündogan, mas no geral brilhou porque tomou as decisões certas, errou pouco, puxou bons contra-ataques, prendeu a bola e ajudou o sistema ofensivo do City a fluir.
Contar para os critérios de inscrição, como um jogador formado na Inglaterra, teve um papel importante para entrar no radar de Guardiola, mas ele foi contratado porque tem características raras: sabe prender a bola, tem criatividade, passe apurado e o drible curto. Em um time que confia tanto no sistema, é capaz de fazer algo diferente e improvável. Mas isso não aparecerá em todos os jogos e, nos outros, ele tem que compor o todo. Como vem fazendo, transformado em um meia-esquerda à moda antiga, quase um ala, geralmente colado na linha lateral sem a bola para dar amplitude, de olho nas inversões de jogo e, quando recebe, partindo para cima em diagonal.
A sua capacidade de executar essa função foi essencial para o esquema tático que Guardiola colocou em ação para a grande arrancada que o deixa a uma vitória de conquistar a Premier League, além de ter chegado às finais da Champions League e da Copa da Inglaterra. Ele está sendo titular regularmente desde a virada do ano e entre os jogadores mais utilizados por Guardiola. Se não é o craque do time, ou se nunca será um jogador de € 100 milhões, pouco importa: dessa vez, a classificação à final passou pelos seus pés.