Guia da Champions League 2023/24 – Grupo B: Sevilla, Arsenal, PSV e Lens
É a volta do Arsenal à Champions League, e (pelo menos) a briga pela segunda vaga nas oitavas de final deve ser boa
Por que acompanhar?
É a volta do Arsenal, com um time jovem e empolgante que quase foi campeão inglês. Partimos do princípio de que será o bastante para liderar um grupo que não conta com outro clube do mesmo calibre financeiro, embora não tenha nenhum cachorro morto. Pelo contrário. A briga pela segunda posição pode ser o grande atrativo. O Sevilla parte à frente, como campeão da Liga Europa, mas não tanto assim do PSV e mesmo do Lens, desfalcado pelo mercado e em um começo difícil de temporada.
Títulos
- Sevilla: Nenhum
- Arsenal: Nenhum
- PSV: 1988
- Lens: Nenhum
Retrospecto recente
Sevilla
- 2022/23: Fase de grupos
- 2021/22: Fase de grupos
- 2020/21: Oitavas de final
- 2019/20: Não disputou
- 2018/19: Não disputou
Arsenal
- 2022/23: Não disputou
- 2021/22: Não disputou
- 2020/21: Não disputou
- 2019/20: Não disputou
- 2018/19: Não disputou
PSV
- 2022/23: Playoffs
- 2021/22: Playoffs
- 2020/21: Não disputou
- 2019/20: Segunda fase preliminar
- 2018/19: Fase de grupos
Lens
- 2022/23: Não disputou
- 2021/22: Não disputou
- 2020/21: Não disputou
- 2019/20: Não disputou
- 2018/19: Não disputou
Ambição
Sevilla
O Sevilla é um dos clubes mais bem sucedidos no futebol continental nas últimas duas décadas. Raramente na Champions League, porém. Claro que a dificuldade é maior, mas, desde que começou a empilhar títulos de Liga Europa, conseguiu apenas uma campanha que chegou às quartas de final. O Porto fez isso mais vezes. A prioridade é encarar um grupo em que tem totais condições de ser a segunda força, classificar-se com tranquilidade e tentar ir o mais longe possível.
Arsenal
Entre todos os méritos de Arsène Wenger, um dos maiores foi ter estabelecido o Arsenal como um clube de Champions League por tanto tempo: 19 temporadas seguidas. Um dos sinais de que estava na hora de ir embora foi justamente o quinto lugar na Premier League de 2016/17 que encerrou a sequência. O trajeto para retornar não foi simples ou rápido ou linear. Os Gunners pelo menos conseguiram manter um bom coeficiente europeu e deram um pouco de sorte de pegar o grupo do campeão da Liga Europa como cabeça de chave. Logo, partem como favoritos à classificação e ao primeiro lugar, embora não seja uma daquelas chaves que oferecem vitórias automáticas.
PSV
Bate um alívio apenas de chegar aos grupos. As últimas duas tentativas pararam nos playoffs, a última fase preliminar. O PSV não faz um barulhinho na Champions League faz tempo. Chegou às oitavas de final em 2015/16 e nunca mais conseguiu avançar. Aquela chave tinha Manchester United, Wolfsburg e CSKA Moscou. Parecida com essa. Um clube inglês mais poderoso e dois adversários com os quais deve brigar pelo menos em igualdade de condições. Apesar de que a derrota por 3 a 2 no agregado para o Sevilla na repescagem da Liga Europa da temporada passada tenha sido menos equilibrada do que o placar sugere.
Lens
O Lens quase fez uma coisa mais difícil do que ficar à frente de PSV e Sevilla: pressionou o PSG pelo título francês e, no fim, ficou apenas um ponto atrás. Então teria condições de se candidatar a uma vaga nas oitavas de final. Há problemas, porém. Dois dos seus principais jogadores foram vendidos. Loïs Openda para o RB Leipzig e Seko Fofana para o Al-Nassr. Essas saídas em si não significariam necessariamente que perdeu o embalo, mas apenas um ponto nas cinco primeiras rodadas da Ligue 1, sim. Em todo caso, se conseguir recuperar a forma da última temporada, pode ser perigoso.
Ponto forte
Sevilla
O Sevilla sabe como poucos manejar um confronto europeu. Além da parte técnica e tática, aquela coisa de saber quando recuar, quando avançar, quando é a hora certa de dar o bote. Não se desesperar com os momentos mais difíceis, como contra o Manchester United, quando saiu atrás em Old Trafford, conseguiu empatar e desfilou no segundo jogo. A questão é fazê-lo em um patamar de dificuldade mais elevado. A última campanha na Liga Europa foi um bom sinal de que dá porque passou pelo United e pela Juventus, dois clubes com camisas pesadas e investimento de Champions League.
Arsenal
O Arsenal reencontrou o caminho após a saída de Wenger quando decidiu ter uma identidade mais bem definida. De estilo de jogo, com Mikel Arteta, um antigo capitão do clube que aprendeu o ofício sob Pep Guardiola. Não pratica exatamente o mesmo futebol, mas tenta armar um time com vocação ofensiva, que pressiona e sabe trabalhar a bola. Mas também de perfil de elenco. O diretor Edu Gaspar conduziu uma operação bem sucedida de trocar jogadores mais velhos, caros e acomodados por jovens talentosos e com fome. Deu certo até antes do que se esperava, e claro que o outro lado da moeda é a inexperiência.
PSV
É o único integrante do grupo que já venceu a Champions League. Então tem isso. Mas faz 35 anos e o futebol mudou um pouquinho desde então. O PSV mostrou uma grande capacidade ofensiva nas preliminares, goleando Sturm Graz e Rangers para selar a sua vaga, e isso tem aparecido também na Eredivisie. Melhor ataque da última temporada, apesar de não ter ficado com o título, e também do começo da atual. O trio ofensivo é talentoso, com Noa Lang e Johan Bakayoko pelos lados e o gigante Luuk de Jong dentro da área. Hirving Lozano chegou no fim do mercado para reforçá-lo um pouco mais. As chegadas de Joey Veerman do meio-campo complementam esse poder de fogo.
Lens
O Lens foi vice-campeão com um time equilibrado. Com a ajuda de 21 gols de Loïs Openda, teve o quarto melhor ataque da Ligue 1. O destaque, porém, foi mesmo a sua defesa. É quase difícil de acreditar que tenha sofrido apenas 29 gols em 38 rodadas. Para referência, a segunda retaguarda mais sólida foi a do Nice, vazada 37 vezes. O principal ponto de preocupação deste começo de campanha, e que não deveria ter sido tão afetado pelas saídas, é que já levou 11 tentos em apenas cinco jogos. De repente, virou a pior defesa da elite francesa.
O craque
Sevilla
Ainda estamos esperando para ver quando Ivan Rakitic vai diminuir o ritmo. Retornou ao Sevilla para a última fase da sua carreira e ainda disputou mais de 30 rodadas nas últimas três edições de La Liga. Nada mal para um trintão que continua jogando sempre que possível neste começo de campanha. Tem experiência quase inigualável para os grandes confrontos em uma posição estratégica do time, no controle da posse de bola e do meio-campo. Qualidade, então, nem se fala.
Arsenal
Martin Odegaard é um caso curioso porque foi tratado como craque e depois como um fracasso antes de realmente fazer qualquer coisa no futebol europeu. Era um fenômeno das categorias de base que chegou garoto ao Real Madrid, com todos os benefícios e dificuldades que isso representa. A maré começou a mudar para o menino-prodígio que estreou pela seleção norueguesa aos 15 anos quando ele foi emprestado à Real Sociedad. Os merengues o chamaram de volta para compor o elenco em 2020, mas ele novamente não teve oportunidades. O Arsenal pintou como a salvação. Com confiança, Odegaard tornou-se o jogador que todos imaginavam. Um meia-atacante extremamente talentoso, inteligente, que coleciona assistências e bonitos gols e consegue liderar um clube tão importante.
PSV
Um centroavante com quase 1,90 metros de altura não encaixa em todas as equipes. Por exemplo, sempre foi um corpo estranho no Barcelona, não passou de uns momentos no Sevilla e não se firmou com outras camisas. Mas Luuk de Jong vai se tornando um jogador histórico do PSV. A primeira passagem havia sido extremamente prolífica e a segunda começou igual. Ele fez 18 gols na última temporada, além de 10 assistências, o que sugere que não é apenas um poste que fica dentro da área brigando com os zagueiros. Não deixou a peteca cair e está com nove tentos em nove partidas (e cinco passes decisivos) na nova campanha.
Lens
Se o rolê do Lens foi a defesa, vale a pena destacar o zagueiro Kévin Danso. O austríaco de 23 anos fez 40 jogos e foi o integrante do elenco com mais minutos na última temporada, contando todas as competições. As únicas partidas que perdeu foram por suspensão. Eleito para a seleção da Ligue 1 ao lado do goleiro Brice Samba, Openda e Fofana. Estreou na seleção em 2017, mas foi resgatado por Ralf Rangnick e ainda entra e sai do time. Com boa idade, foi especulado no Napoli como possível substituto de Kim Min-jae e em clubes ingleses, como Manchester United e Newcastle.
Mister Champions
Sevilla
Havia poucos jogadores que o Sevilla poderia contratar que tirariam esse posto de Rakitic. Não que ele se importe muito com isso, mas Sergio Ramos era um deles. O garoto formado nas categorias de base que foi vendido muito cedo e cuja volta para casa, recusando propostas mais polpudas da Arábia Saudita e da Turquia, foi uma das histórias mais legais do mercado. E olha que ele é um personagem controverso que colecionou polêmicas e atraiu antipatia das arquibancadas, inclusive do Ramón Sánchez Pizjuán em duelos amargos pelo Real Madrid. O que nunca foi possível criticar é a sua qualidade e o seu currículo. Ramos tem 137 partidas de Champions League. Poucos homens na história (nove) fizeram mais. E conquistou quatro títulos, com vários momentos de protagonismo.
Arsenal
O elenco do Arsenal é relativamente jovem e inexperiente. Mas nos últimos anos, contratou algumas sobras de clubes que estiveram frequentemente na Champions League. Os mais vividos na competição são a dupla ex-Chelsea, Jorginho e Kai Havertz, com 39 jogos cada um. O meia italiano ainda traz casca pelo Napoli, e o alemão, pelo Bayer Leverkusen. Havertz até fez o gol da vitória na final de 2020/21. Outro que passou por vários altos e baixos na Champions é Gabriel Jesus. Está logo atrás, com 38 partidas, todas tentando dar ao Manchester City o seu primeiro título europeu.
PSV
Com 32, De Jong é quem tem mais partidas de Champions League no elenco. Esteve no PSV em um período com mais presença na fase de grupos e também passou por Sevilla e Barcelona. Hirving Lozano traz uma experiência importante do Napoli, e Sergiño Dest, de Milan e Barça. Curioso é o caso de André Ramalho. Jogou apenas nove vezes na fase de grupos, quase todas pelo Red Bull Salzburg, mas fez 27 partidas nas preliminares.
Lens
O Lens não disputa a Champions League desde 2002/03. A experiência do elenco na competição é quase nula. O lateral esquerdo Faitout Maouassa fez dois jogos de fase de grupos pelo Rennes e um pelo Club Brugge. Nampalys Mendy teve uma participação especial pelo Leicester, depois daquele título inglês milagroso, e Ruben Aguilar, outro recém-chegado, esteve em duas partidas das fases preliminares com a camisa do Monaco.
O técnico
Sevilla
Quando chegou, a prioridade era clara: evitar o rebaixamento. A temporada do Sevilla havia sido trágica, entre a saída de Julen Lopetegui e o retorno de Jorge Sampaoli. A chance era excepcional para José Luis Mendilibar, um técnico de rodagem em contextos mais modestos. Mais sólido do que espetacular. Era inexperiente demais quando assumiu o Athletic Bilbao, clube em que foi formado. Conseguiu o acesso com o Valladolid e teve regularidade no Osasuna. Seu grande trabalho era com o Eibar, mantido na primeira divisão, sem sustos, por seis anos. De cara, conseguiu os resultados que precisava para afastar o fantasma da queda e, como estava no Sevilla, paralelamente foi longe na Liga Europa. Tão longe que a competição se tornou o primeiro título importante de uma carreira de quase 30 anos.
Arsenal
Uma grande contribuição de Mikel Arteta ao futebol é ser um exemplo dos frutos que um clube colhe quando tem paciência. Houve mais de um momento em que a sua demissão seria absolutamente justificável, como quando deixou a vaga na Champions League escapar com uma derrocada na reta final da Premier League. E para o rival Tottenham. A evolução desde que assumiu no lugar de Unai Emery passou longe de ser linear, mas, de repente, tudo encaixou. O fato de ter realmente brigado pelo título com o Manchester City não foi tão impressionante quanto a maneira como conseguiu fazê-lo, com um futebol encantador, explosivo e divertido. Em seu primeiro trabalho como técnico principal, continuará precisando superar testes e precisará provar que consegue dar mais um passo à frente.
PSV
O PSV pegou embalo depois da virada do ano. Sua última derrota pela Eredivisie foi no fim de janeiro. Tarde demais para evitar o título do Feyenoord, mas carimbou o Ajax na final da Copa da Holanda. Também com rumores de desavenças nos vestiários, Ruud van Nistelrooy foi demitido, e Peter Bosz voltou ao futebol holandês. Chamou a atenção levando o Ajax à final da Liga Europa e ganhou chances em centros mais ricos. Geralmente com o mesmo roteiro: momentos em que o trabalho parecia promissor, mas de repente desabou. O mais estável foi pelo Bayer Leverkusen. Até agora, fez o que precisava fazer no PSV. Classificou-se à fase de grupos e ganhou as quatro primeiras rodadas da Eredivisie.
Lens
Franck Haise teve um começo curioso como técnico principal. O Lens brigava pela promoção à Ligue 1. Philippe Montanier conseguia resultados, mas não convencia. Uma sequência ruim após a virada do ano, com uma vitória em sete rodadas, custou seu emprego. Haise foi promovido da equipe reserva em fevereiro de 2020. Ganhou duas partidas e de repente havia conquistado o acesso porque o futebol francês foi interrompido pela pandemia. Mais do que provou as suas credenciais na elite, levando o Lens a dois sétimos lugares consecutivos antes de quase chocar o Paris Saint-Germain.
A contratação
Sevilla
Mendilibar sabia que não seria o mercado mais movimentado. A saída de Monchi para o Aston Villa não ajudou também, embora Victor Orta pareça um substituto competente. A prioridade do técnico era manter o time que conquistou a Liga Europa. Quase deu, mas Bono aceitou a proposta do Al-Hilal, e Gonzalo Montiel, na realidade mais reserva que titular, foi emprestado ao Nottingham Forest. O Sevilla se virou como deu, buscando contratações mais baratas e apostas. Como costuma fazer mesmo em momentos mais abundantes. Um nome interessante é o do ponta belga Dodi Lukébakio, uma das poucas coisas boas que o Hertha Berlim apresentou enquanto agonizava na Bundesliga antes do rebaixamento.
Arsenal
Mercado ia, mercado vinha, e todo mundo queria contratar Declan Rice. E ninguém o fazia. É uma das particularidades da Premier League, com vários clubes que não brigam pelo título, ou sequer por vaga na Champions League, mas são saudáveis financeiramente o bastante para não precisar vender suas principais estrelas. O West Ham decidiu que era a hora depois de conquistar a Conference League. Rice foi o capitão que ergueu o primeiro troféu europeu dos Hammers após 58 anos. Logo depois da final, a diretoria deixou claro o volante iria embora. A questão era quem o contrataria. Chelsea, Manchester City e Manchester United sempre pareceram na briga. Foi uma demonstração de força que o Arsenal tenha conseguido levar um jogador completo, técnico e forte fisicamente, perfeitamente adequado às exigências da liga inglesa, para dar outra dimensão ao seu meio-campo.
PSV
Hirving Lozano foi um foguete em sua primeira passagem pelo PSV. Fez 40 gols em dois anos. Bastante para um jogador de lado de campo. Era cobiçado no mercado e escolheu o Napoli, que teve uma década bem competente desenvolvendo jogadores ofensivos. Não chegou a ir mal, não chegou a ir muito bem também. Nunca se firmou realmente como titular, embora tenha tido seus momentos. Fato é que não deu o passo à frente como se esperava, tanto que retornou a Eindhoven, agora como um cara mais experiente em uma equipe relativamente jovem.
Lens
O Lens gastou parte do que recebeu por Openda e Fofana em reposições – e a outra parte em apostas que buscará desenvolver. O meia Andy Diouf, 20 anos, foi uma contratação interessante para o meio-campo, mas quem mais chamou a atenção foi Elye Wahi. A começar pelo preço: pode custar até € 35 milhões, incluindo as variáveis, de longe o reforço mais caro da história do clube. O dobro do investimento que Openda havia exigido. Com experiência nas categorias de base da França, Wahi tem apenas 20 anos e vem de uma temporada na qual marcou 19 vezes em 33 rodadas pelo Montpellier.