Daniel Alves está na história da Champions, e sua reinvenção na Juve reforça isso

Daniel Alves desembarcou em Turim para um recomeço. Encerrou a passagem brilhante de oito anos pelo Barcelona por vontade própria. Tinha mais um ano de contrato com os blaugranas, mas uma cláusula permitia que o lateral deixasse o Camp Nou quando bem entendesse. Apesar de toda a gratidão nutrida, o veterano queria se provar – sobretudo, aos dirigentes que o desconsideravam. Assim, assinou com a Juventus. Chegou a um clube de ponta, que permitiria ampliar ainda mais seu currículo. E também oferecia bastante à Velha Senhora, com um reforço ofensivo e calejado nas competições mais difíceis, especialmente a Champions. União benéfica para as duas partes, que já se valeu nesta quarta. O brasileiro não apenas resgatou o seu melhor futebol, como também aproximou os bianconeri da decisão continental. Ao que tudo indica, Dani Alves terá a chance de erguer a orelhuda pela quarta vez.
VEJA TAMBÉM: Com estilo e precisão, Juventus trancou a porta e passou por cima do Monaco
Dentro do qualificado elenco de Massimiliano Allegri, Daniel Alves pode não ser titular absoluto. Mas não é por isso que deixa de ser importantíssimo aos juventinos. Em um setor no qual a equipe possui diversas opções, o treinador vem sabendo tirar o melhor do veterano. Não o desgasta em todas as partidas, aproveita a sua polivalência e conta com as suas virtudes em vários jogos grandes. Desta maneira, o camisa 23 consegue render muitíssimo bem. Reveza com Stephan Lichtsteiner e Juan Guillermo Cuadrado nas funções pelo flanco direito. Atua como lateral, ala ou meia. Até na trinca de zaga já entrou, e não decepcionou.
Se Lichtsteiner e Cuadrado são os favoritos de Allegri na Serie A, na Champions não há nem conversa. Daniel Alves é o terceiro com mais minutos em campo na competição, atrás apenas de Gianluigi Buffon e Gonzalo Higuaín. Só não começou duas partidas como titular, uma delas lesionado. E contribui demais para o sucesso dos bianconeri no torneio continental. É o jogador que mais criou ocasiões de gol na competição. Balançou as redes duas vezes. Deu quatro assistências, duas delas nesta quarta, abrindo o caminho dos italianos rumo à decisão.
A atuação de Daniel Alves na vitória por 2 a 0 sobre o Monaco foi soberba. O camisa 23 parecia onipresente na ala direita do campo. Bem protegido pelo excelente sistema defensivo da Juve, tinha liberdade para atacar. E suas subidas infernizaram os anfitriões no Estádio Louis II. Fugia do óbvio, não só buscando a ponta, como também afunilando pela faixa central. Demonstrava um entrosamento enorme como Paulo Dybala. Combinações que determinaram os dois gols da Velha Senhora. No primeiro, seu vigor físico preponderou. Arrancou do campo de defesa, tabelou com Dybala, tabelou com Higuaín e tapeou toda a defesa ao dar um inteligentíssimo toque de calcanhar para o centroavante arrematar. Já no segundo, mais força nas pernas. Roubou a bola, recebeu de volta e cruzou com uma precisão típica de suas melhores lembranças no Barcelona – as últimas delas, na tríplice coroa em 2014/15, quando já tinha calado os críticos.
Mas, indo além dos lances capitais, Daniel Alves fez de tudo na visita ao principado. Que o trabalho defensivo não seja o seu forte, o brasileiro se empenhou bastante sem a bola, principalmente ao pressionar a saída dos adversários. Postura fundamental, considerando a força que o Monaco possui em seu lado esquerdo, com Djibril Sidibé e Thomas Lemar. Além do mais, o camisa 23 foi uma das principais opções para administrar o jogo orquestrado por Miralem Pjanic. Ele e Alex Sandro, outro que se saiu muito bem na noite, serviam como válvulas de escape nas alas, apoiados por Dybala, correndo o campo todo. De qualquer forma, o que se sobressai mesmo são as jogadas que construíram os gols. E, neste ponto, o camisa 23 foi perfeito.
Coincidentemente, a ocasião engrandece ainda mais a exibição de Daniel Alves. Justamente nesta quarta, o baiano completou 142 partidas por competições continentais, superando Roberto Carlos e se tornando o novo recordista brasileiro. Seu lugar na história da Champions é inegável. E pode ganhar mais um motivo para ser eterno. Por aquilo que apresenta na competição, sobretudo nos mata-matas, o lateral se coloca entre os protagonistas da ótima campanha da Juve. Campanha esta que deve render mais uma final, muito graças ao veterano que se reinventa e se reencontra em Turim.