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Coman teve estrela para fazer o PSG lamentar de novo sua saída, agora no Parc des Princes que um dia foi sua casa

Autor do gol do título na final da Champions de 2020, Kingsley Coman anotou mais um tento enorme contra o PSG, clube onde começou sua trajetória

Kingsley Coman ocupa um lugar especial na história do Bayern de Munique: o de herói num título de Champions League. Seu gol na final de 2020 premiou uma longa trajetória no clube, de potencial atrapalhado pelas lesões, mas de clara qualidade para desequilibrar partidas. E o adversário tornava tudo ainda mais especial para o francês na ocasião. Nascido em Paris, ele cresceu numa família de torcedores do PSG e passou nove anos nas categorias de base. Não ficou muito tempo como profissional, mas tinha uma ligação umbilical com o Paris Saint-Germain. E esse elo, dois anos e meio depois, se reafirma com mais um gol especial contra os parisienses. Coman balançou as redes do PSG de novo e determinou o triunfo do Bayern por 1 a 0 na ida das oitavas de final da Champions.

Coman aprendeu a gostar do PSG dentro de casa. O pai do garoto era fanático pelo clube e teve papel decisivo para levá-lo às categorias de base. O menino tinha nove anos quando ingressou nas estruturas do time parisiense. E por lá realizou toda a sua formação, até estrear como profissional em fevereiro de 2013. Tinha apenas 16 anos quando encarou o Sochaux pela Ligue 1, tornando-se naquele momento o mais jovem a vestir a camisa do clube. O futuro se prometia aberto ao ponta.

Porém, Coman ficou mais na filial do PSG do que na equipe principal neste início. Foram só quatro partidas pelo primeiro time. O dinheiro catariano já se impunha no elenco e as chances para os garotos da base eram mínimas. Por isso, o ponta preferiu não permanecer no Parc des Princes. Não renovou seu contrato e saiu para a Juventus em 2014. Sua passagem pela Itália seria curta. Uma temporada depois, o Bayern acertava o empréstimo do garoto, com opção de compra. A ideia era amadurecê-lo para torná-lo uma alternativa nas pontas, num tempo em que ainda imperavam Arjen Robben e Franck Ribéry.

É fato que Coman não atingiu o status das duas lendas, longe disso. Entretanto, permanece há anos como um jogador importante do Bayern de Munique. Não precisa ser um protagonista para se colocar como uma figura recorrentemente decisiva, pela qualidade individual e pelo escape ao coletivo que representa. Em sua oitava temporada, Coman soma 253 jogos pelos bávaros, com 54 gols e 61 assistências. As lesões recorrentes atravancaram inclusive o seu desenvolvimento. Mas, quando está saudável, não há dúvidas de que o ponta é muito útil. Algo visto inclusive em final de Champions.

A importância de Coman não se restringe como um ponta agudo. O francês também serve como uma arma quando é encaixado como ala, o que funcionou nesta terça-feira. Durante o primeiro tempo, Coman já era um dos melhores do Bayern diante do Paris Saint-Germain. Dava ótimas inversões e tentava abrir a defesa adversária. Faltou mais contundência ao ataque, mas um dos lances de maior perigo veio numa batida do camisa 11 para fora. Preenchia o lado esquerdo.

Já no segundo tempo, Coman reapareceu para decidir, mesmo invertido para a direita com a saída de João Cancelo. A mudança do esquema tático do PSG dava mais espaços pelos lados. Alphonso Davies foi ótimo no cruzamento para o gol. Enquanto isso, Coman fez a leitura perfeita do lance para encontrar o espaço no segundo pau e entrar sozinho. Finalizou de primeira e contou com a colaboração de Gianluigi Donnarumma. Dentro do Parc des Princes que um dia foi sua casa, o jogador preferiu não comemorar. Ainda assim, de novo se colocava como carrasco do PSG.

O problema de Coman é que o físico não o ajuda nem mesmo nas atuações mais inspiradas. O ala seria substituído aos 30 minutos, ao sentir lesão. E claramente o Bayern ficou mais vulnerável pelo lado direito, onde Serge Gnabry não deu conta de marcar Nuno Mendes. Para alívio dos bávaros, um impedimento evitou o gol de empate do PSG. Mas foi uma mostra de como a ausência de Coman tinha seu preço. A preocupação agora é recuperá-lo para o jogo de volta.

Diante das dificuldades do PSG para conquistar a Champions em todos esses anos, é provável que a mera presença de Coman não fosse a diferença para o clube ser campeão. Entretanto, os parisienses perderam um talento que une inteligência e habilidade, com condições totais de ser titular na equipe atual. O período no Bayern auxiliou seu amadurecimento, tornando-se um jogador mais completo e mais funcional. Enquanto isso, os parisienses lamentam o reencontro com o prata da casa do outro lado. Coman tem estrela para se sentir em casa no Parc des Princes e fazer seus conterrâneos sofrerem repetidas vezes.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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