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Mbappé deu calor no fim, mas o Bayern foi mais maduro que o PSG em Paris e voltou com a vitória

O Bayern de Munique finalizou o dobro de vezes e controlou melhor a bola, mas também tomou seus sustos quando Mbappé saiu do banco

O Bayern de Munique desembarcou no Parc des Princes com ares de favorito para o duelo contra o Paris Saint-Germain, no jogo de ida das oitavas de final da Champions League. O desempenho da equipe na fase de grupos foi superior, assim como os resultados recentes referendavam os bávaros, entre tantos jogos ruins dos parisienses nas últimas semanas. De fato, o Bayern se mostrou como uma equipe mais madura do ponto de vista coletivo e foi superior durante a maior parte do tempo, com mais posse de bola e o dobro de finalizações. O domínio no meio-campo era claríssimo e o triunfo por 1 a 0 reflete isso. Mas a noção de que o duelo segue aberto se corresponde a partir das individualidades do PSG. Kylian Mbappé deu calor quando saiu do banco e o empate só não veio por um impedimento mínimo, que anulou um tento do atacante na reta final.

Não foi a partidaça que se esperava no Parc des Princes. O primeiro tempo foi fraco, com raras emoções. O Bayern se impôs, mas tinha problemas para destrancar a marcação cerrada do PSG, liderada por Sergio Ramos. Foi só na segunda etapa que o jogo ganhou espaços e também lances mais agudos, além de equilíbrio. O Bayern aproveitou o desencaixe do PSG após uma mudança tática para abrir o placar com Kingsley Coman e teve chances de ampliar. O PSG cresceu mesmo quando Mbappé pôde partir para cima da defesa adversária, que segurava as pontas até então. Quando Sommer não salvou, o impedimento de Nuno Mendes no gol de Mbappé deu o alívio aos bávaros para assegurarem o triunfo.

A vantagem do Bayern é muito boa para o reencontro em Munique, dadas as condições. Mas o PSG segue com esperanças, ao se lembrar do que aconteceu em 2020/21 e, especialmente, quando se conta com um Mbappé capaz de fazer tudo sozinho quando o coletivo descompensa.

Escalações

A grande surpresa na escalação do Paris Saint-Germain era o garoto Warren Zaïre-Emery. Aos 16 anos, quebrou o recorde de precocidade como titular em mata-matas de Champions. O camisa 33 compunha o meio ao lado de Danilo Pereira, Marco Verratti e Carlos Soler. Lionel Messi e Neymar apareciam no ataque, com Kylian Mbappé no banco, voltando de lesão. Já a defesa alinhava Achraf Hakimi, Sergio Ramos, Marquinhos e Nuno Medes, além de Gianluigi Donnarumma no gol. O Bayern contava com seus novos contratados. Yann Sommer abria a escalação, com uma linha de três zagueiros formada por Benjamin Pavard, Matthijs de Ligt e Dayot Upamecano. João Cancelo e Kingsley Coman ocupavam as alas, com Leon Goretzka e Joshua Kimmich centralizados. Mais à frente, o trio de ataque era composto por Jamal Musiala, Eric-Maxim Choupo-Moting e Leroy Sané.

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Primeiro tempo

O mando de campo contou bem menos que o momento dos clubes nos primeiros minutos. O Bayern de Munique estabeleceu seu jogo como se fosse dono da casa. Os bávaros pressionavam e ocupavam o campo de ataque, com inversões muito boas. Choupo-Moting conseguiu a primeira finalização logo de cara, mas sem direção. O PSG tinha dificuldades para construir de trás. Quando conseguia quebrar a primeira linha, não acertava os passes para progredir. Messi muitas vezes se apresentava na armação. Do outro lado, o Bayern cadenciava mais e procurava os lados do campo. Ao menos, os parisienses protegiam sua área e não concediam oportunidades.

Não era uma partida com a qualidade que se esperava, fechada demais. Os lances de emoção eram raros, diante da cautela do PSG, que se limitava a fechar os espaços do Bayern. Donnarumma precisou aparecer somente aos 25, numa batida fraquíssima de Coman. No entanto, as brechas logo começaram a aumentar a partir de então. Sergio Ramos seria capaz de um desarme preciso para evitar a finalização de Musiala na área. Logo as bolas paradas viraram uma oportunidade para pressionar. Aos 30, Choupo-Moting mandou uma cabeçada perigosa, que desviou para fora. A penetração era mais constante e a defesa parisiense também ficava mais no limite. Coman mandou uma pancada para fora aos 34.

Era impressionante como o PSG não funcionava no meio-campo. A equipe não tinha muita aproximação e mal se aproximava da área. Era uma apresentação muito pobre, sem muitos recursos coletivos ou mesmo lances individuais. Quando acontecia algo diferente, geralmente era a tentativa de um passe mais agudo de Messi, que não dava em nada porque a defesa do Bayern lia bem as jogadas para interceptar. Raros eram os momentos em que os franceses ficavam mais de um minuto com a bola. Nem os contra-ataques, que tocaram o terror contra o Bayern nas quartas de final de 2020/21, saíam desta vez para os franceses.

Quem precisava trabalhar bastante era Sergio Ramos. O zagueiro lembrava seus melhores tempos na primeira etapa. Não estava muito exposto e se apresentava sempre inteiro nas divididas. Era o principal responsável por conter a insistência do Bayern, que seguia pecando na hora de finalizar em melhores condições. Um dos raros tiros no alvo aconteceu aos 43, numa sobra na entrada da área que Kimmich chutou e Donnarumma segurou sem nem dar rebote. Já a única finalização do PSG no primeiro tempo surgiu numa cobrança de falta frontal. Messi carimbou a barreira.

Segundo tempo

Os dois times voltaram com mudanças para o segundo tempo. Presnel Kimpembe substituiu Achraf Hakimi no PSG, enquanto o Bayern tinha Alphonso Davies no lugar de João Cancelo. E a decisão de Christophe Galtier deu sinais positivos primeiro. Os parisienses passaram a atuar com três zagueiros, o que permitiu aos alas abrirem bastante nas laterais do campo. Com isso, os anfitriões avançavam mais. Zaïre-Emery ocupava o lado direito e logo deu um lindo giro sobre Davies. Criou o melhor lance de seu time até então, num passe rasteiro para Neymar que Upamecano travou dentro da área, cedendo o escanteio.

No entanto, se o PSG era mais agressivo, o Bayern também podia encontrar mais frestas do outro lado. Não era uma defesa tão rígida como a da primeira etapa, com Choupo-Moting flutuando. E o gol dos bávaros surgiu aos oito minutos, para corresponder à alteração feita por Julian Nagelsmann. Sem ser acompanhado por Zaïre-Emery, Davies cruzou com muito espaço da esquerda e Coman, o ala direito, aproveitou o corredor para finalizar dentro da área. Também estava sozinho, sem que Nuno Mendes se recuperasse na marcação, e bateu rasteiro, numa bola que contou com a falha de Donnarumma. Coman não comemorou, como cria da base do PSG, mas reiterou a fama de carrasco após a final de 2020.

O PSG realizou duas mudanças de imediato. Soler e Zaïre-Emery saíram, para as entradas de Fabián Ruiz e Kylian Mbappé. Mesmo sem estar 100% fisicamente, o astro representava um perigo muito maior no aspecto individual e por sua velocidade. Até porque, independentemente da vantagem, o Bayern permaneceu com a iniciativa. Trocava passes e empurrava os parisienses para trás. O time da casa queria o campo aberto para acelerar. As ações do PSG eram mais perigosas, mas os bávaros tinham ótimo tempo para trancar as portas na defesa. E, no ataque, também encontravam a zaga francesa mais exposta.

Choupo-Moting deu até voleio aos 17, mas parou em Donnarumma, com segurança. Melhor ainda seria a arrancada de Musiala pela direita no minuto seguinte, com o passe para trás e outro arremate de Choupo-Moting. Donnarumma triscou na bola, que bateu na trave e saiu. Na cobrança de escanteio, Donnarumma salvou de novo numa cabeçada firme de Pavard. Neste momento, os alemães eram bem mais concretos em suas chances. A primeira grande investida do PSG pelo empate ocorreu somente aos 28. Mbappé foi lançado nas costas da zaga e partiu sozinho. A finalização no mano a mano foi repelida por Sommer. No rebote, Neymar chutou primeiro na defesa e depois também parou em Sommer. Mbappé ainda balançou as redes no rebote, mas estava impedido e o bandeira anulou.

Novas trocas aconteceram aos 30. Vitinha dava mais qualidade ao PSG na vaga de Danilo, enquanto Coman (sentindo lesão) e Choupo-Moting saíram para as incursões de Serge Gnabry e Thomas Müller. O Bayern encontrava mais dificuldades para controlar a posse de bola ofensiva, enquanto a defesa precisava lidar com a correria do PSG. Nuno Mendes repetidamente aparecia na linha de fundo pela esquerda. O Bayern teve até um contra-ataque aos 37, mas Müller finalizou mal demais. E o erro quase custou caro, com um gol anulado do PSG logo depois. Neymar puxou o avanço, acionou Nuno Mendes e o cruzamento rasteiro chegou para Mbappé arrematar dentro da área. Todavia, o ala estava impedido por pouquíssimos centímetros.

O mapa da mina estava desenhado no Parc des Princes. O PSG atacava com muito mais vigor e explorava recorrentemente o lado esquerdo, onde Gnabry era deficiente na cobertura defensiva. Aos 39, Nuno Mendes fez mais uma grande jogada e serviu Messi, em bola providencialmente desviada por Pavard para a linha de fundo. O Bayern precisava urgentemente ajeitar a marcação, sem concentração alguma. E numa saída errada de Sommer, o goleiro se redimiu ao segurar o tiro de Vitinha. Aos 42, Ryan Gravenberch substituiu Musiala para fechar melhor o meio, o que ajudou também os bávaros a esfriarem o duelo com mais posse. Josip Stanisic entrou depois no posto de Sané.

Foram quatro minutos de acréscimos e o Bayern abusava dos passes errados no campo defensivo a esta altura. O PSG recuperava e aproveitava para atacar. Numa dessas, aos 46, Pavard acabou expulso. Messi recebeu a enfiada em velocidade e o zagueiro só conseguiu pará-lo com falta, quase na risca lateral da grande área, que rendeu o segundo amarelo ao beque. A cobrança do lance culminou numa cabeçada torta de Sérgio Ramos por cima do travessão. Foi o último susto, com a vitória alemã confirmada logo depois.

O Bayern de Munique é um time mais maduro coletivamente neste momento, ficou claro no Parc des Princes. Porém, não é a melhor versão dos bávaros nos últimos anos e também nem é infalível. A defesa segurou bem as pontas na maior parte do tempo, enquanto o ataque careceu de um pouco mais de agressividade, sobretudo na primeira etapa, quando o embate favorecia os alemães. O PSG, afinal, tão dependente das individualidades, ganha outra cara quando conta com Mbappé. O triunfo não deixa de ser merecido pela superioridade global dos bávaros ao longo da noite. Mas não se nega que houve também um pingo de sorte pelo abafa no final que por pouco não resultou em empate.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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