Champions League

Com tantos jovens talentos, Dortmund x Monaco é um jogaço do futuro já no presente

Por Leandro Stein

Borussia Dortmund e Monaco se colocam como os oponentes perfeitos para o duelo que começa nesta terça, pelas quartas de final da Liga dos Campeões. Duas equipes com DNA ofensivo, apostando em um estilo de jogo vertical e de muito fluxo pelas laterais do campo. Dois desafiantes de rivais mais poderosos em seus países, que têm o seu lugar ao sol na competição continental. E, mais importante, dois clubes que valorizam demais a juventude em seu elenco. Neste momento, ver aurinegros e alvirrubros atuando significa também observar promessas que podem continuar por anos jogando na elite do futebol mundial.

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O trabalho respeitado de Dortmund e Monaco na formação de jogadores não vem de hoje. Basta olhar para o passado recente e a quantidade de atletas que estouraram com as camisas de ambos. Não à toa, se tornaram ainda mais referências neste sentido. Cortejados por outros clubes, tantos jovens talentosos acabam assinando com monegascos e alemães justamente pela possibilidade de se afirmarem em alto nível. Afinal, outro atributo primordial dos times é que eles não temem colocar os seus prodígios com frequência. Um passo essencial no amadurecimento da carreira e que, de quebra, eleva a reputação dos garotos.

E, embora as categorias de base tenham um papel inegável em terminar de lapidar algumas pérolas pinçadas logo cedo, como Christian Pulisic e Kylian Mbappé, muito do aprimoramento acontece no próprio elenco principal. A aptidão no trato com jovens foi característica importante ao Dortmund na contratação de seus últimos técnicos, Jürgen Klopp e Thomas Tuchel. Um caminho natural, em uma liga que vem apresentando sucessivamente novas gerações de talentos. Já no Monaco, Leonardo Jardim intensificou o processo levado em frente principalmente a partir da chegada de Dmitry Rybolovlev, magnata que visava o fortalecimento contínuo do grupo e, a partir do baque financeiro que sofreu, também sem gastar tanto dinheiro quanto se previa. As apostas se tornaram naturais.

Assim, o chamariz é claro para a contratação das revelações de outros clubes. Eles sabem que terão uma boa estrutura, técnicos que confiam em seus potenciais e um ambiente propício para ganhar rodagem. Monaco e Dortmund podem não ser o objetivo de vida de muitos destes garotos. De qualquer forma, eles veem como uma etapa importante na escalada rumo ao estrelato, para chegarem prontos às potências continentais e não correrem o risco de serem queimados rapidamente – embora a garantia, de fato, não exista completamente, como Mario Götze ou James Rodríguez podem indicar.

Ao longo de 2016-17, o rótulo do Dortmund se escancarou, destino principal de alguns dos adolescentes mais cobiçados do mundo. Ganharam a confiança por aquilo que podem oferecer, como bem deixou claro Ousmane Dembélé em sua chegada, visando o aprendizado. E o ponta francês não pode negar o acerto em sua decisão, logo se tornando um dos protagonistas na equipe de Thomas Tuchel. De maneira parecida, mas sem o mesmo impacto, também vieram Emre Mor, Raphaël Guerreiro, Mikel Merino e Alexander Isak. Pouco antes, houve Julian Weigl. Já na próxima temporada, Mahmoud Dahoud reforça o projeto. Engrossam uma lista de promessas bem-sucedidas no Signal Iduna Park que, não há muito tempo, lançou ou referendou Mats Hummels, Robert Lewandowski, Marco Reus, Pierre Emerick-Aubameyang, Shinji Kagawa, Nuri Sahin, Mario Götze, Ilkay Gündogan e ainda outros.

Do lado do Monaco, pode não haver a mesma badalação ao redor de algumas promessas, especialmente depois que o investimento de Rybolovlev diminuiu. Em compensação, a política é bem mais ampla e difusa. Durante as últimas três temporadas, os alvirrubros contrataram 23 jogadores de 23 anos ou menos, já profissionalizados, para o seu elenco principal. Obviamente, nem todos se firmaram ou mesmo seguem no clube. Boa parte compõe a base titular atual, como Benjamin Mendy, Djibril Sidibé, Jemerson, Fabinho, Thomas Lemar e Bernardo Silva. Outros figuram no elenco de apoio. E há uma massa considerável rodando por empréstimos, esperando ser pinçada de volta quando surgir uma brecha. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Gabriel Boschilia, defendendo por alguns meses ao Standard Liège. Em 2016-17, 11 jogadores “sub-22” foram cedidos temporariamente a outras equipes.

Logicamente, os reflexos de tamanha juventude em ambas as campanhas na Champions são claros. Conforme levantamento do amigo Leonardo Bertozzi, em seu blog na ESPN, os jogadores de Monaco e Dortmund nascidos a partir de 1994 somam mais minutos em campo do que os jovens dos outros seis quadrifinalistas da competição. São 2881 minutos para os alvirrubros e 2183 dos aurinegros. Dentre os 10 atletas com mais tempo em campo na faixa etária, oito são treinados por Tuchel ou Jardim: Weigl, Dembélé, Pulisic, Ginter, Lemar, Bernardo Silva, Bakayoko e Mendy. E ainda há Mbappé, que se não tem jogado tantos minutos, seu impacto na campanha é evidente.

Abaixo, uma breve apresentação de cada um dos jovens sub-23 em Borussia Dortmund e Monaco nesta Liga dos Campeões – os inscritos na lista principal e também os da lista B que já entraram em campo. Muitos deles, podem fazer a diferença nos dois confrontos, mesmo que falte experiência. Talentos prontos para decolar – e que, na verdade, já decolam:

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Borussia Dortmund

weigl

Julian Weigl – Meio-campista, 21 anos, alemão. Contratado do 1860 Munique na última temporada. O dono da cabeça de área, sem dúvidas foi um dos melhores negócios dos aurinegros nos últimos anos. Demonstra uma maturidade imensa e transmite segurança aos companheiros. Titular absoluto, só ganhou descanso em um jogo pela Champions.

Hendrik Bonmann – Goleiro, 23 anos, alemão. Trazido ao time B do Borussia Dortmund em 2013, após atravessar boa parte de sua formação no Rot-Weiss Essen. Terceiro goleiro, nunca entrou em campo pelo time principal.

Matthias Ginter – Zagueiro, 23 anos, alemão. Trazido do Freiburg em 2014, após integrar a seleção na conquista da Copa do Mundo de 2014. Embora não tenha se firmado como se esperava, segue como uma das principais opções do time. Titular em seis das oito primeiras partidas pela Champions.

pulisic

Christian Pulisic – Ponta, 18 anos, americano. Trazido à base em 2015. Uma das principais novidades do Dortmund nos últimos meses, o garoto faz um ótimo papel nesta Champions, presente em todas as partidas e titular em seis delas. Desequilibrou especialmente no jogo da classificação contra o Benfica, com um gol e uma assistência.

Raphaël Guerreiro – Lateral ou meia, 23 anos, português. Comprado do Lorient no início da temporada. Melhor de sua posição na Euro 2016, o novato tem sido bastante útil no esquema de Tuchel, especialmente por sua adaptação imediata. Jogando mais no meio, soma quatro aparições na Liga dos Campeões.

Felix Passlack – Lateral, 18 anos, alemão. Contratado ainda nas categorias de base pelo Dortmund, quando tinha 14 anos. Opção no elenco de Tuchel, disputou dois jogos pela Champions e anotou um gol.

Dembélé, do Borussia Dortmund (Foto: Getty Images)

Ousmane Dembélé – Ponta, 19 anos, francês. Comprado junto ao Rennes nesta temporada. Principal reforço dos aurinegros, o prodígio faz valer as expectativas. Mostra-se um pouco imaturo, especialmente nas tomadas de decisão. De qualquer maneira, é um talento nato. Titular em todos os jogos da Champions, soma um gol e cinco assistências.

Emre Mor – Ponta, 19 anos, turco. Contratado do Nordsjaelland no início da temporada. Outro jovem de capacidades inegáveis, embora a concorrência seja pesada neste primeiro momento. Alternativa útil no decorrer das partidas, quando se espera manter a intensidade. Entrou em três ocasiões na Liga dos Campeões.

Mikel Merino – Meio-campista, 19 anos, espanhol. Veio do Osasuna no início da temporada. Polivalente, disputa a sua primeira temporada na elite e vai se colocando mais como uma alternativa ao futuro. Não entrou em campo nesta Champions.

Monaco

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Fabinho – Lateral ou meia, 23 anos, brasileiro. Chegou emprestado em 2013, antes de ser contratado em 2015. Um dos protagonistas do sucesso alvirrubro, o campineiro cresceu ainda mais no meio de campo, ditando o ritmo do time e aparecendo bastante no ataque. São três gols e três assistências na Champions, voando diante do City.

Jorge – Lateral, 21 anos, brasileiro. Trazido do Flamengo na janela de inverno. Por enquanto, tem entrado pouco, participando da Copa da França – e como meio-campista. De qualquer maneira, foi inscrito na Champions.

Benjamin Mendy – Lateral, 22 anos, francês. Contratado junto ao Olympique de Marseille no início da temporada. Vive uma fase esplendorosa, principalmente nos últimos meses, quando suas participações ofensivas se tornaram mais constantes. Presente em oito jogos na LC, brilhou contra o Manchester City.

Tiemoué Bakayoko – Meio-campista, 22 anos, francês. Comprado junto ao Rennes em 2014. Jogador de muita força física, o volante é instrumental no 11 inicial alvirrubro, especialmente pela intensidade. Presente em 11 partidas da campanha, viveu o ápice com o gol da classificação às quartas de final.

Bernardo Silva, um dos destaques do Monaco (Foto: Getty Images)

Bernardo Silva – Ponta, 22 anos, português. Inicialmente emprestado, foi comprado em definitivo do Benfica em janeiro de 2015. Outro que atravessa um grande momento, especialmente por seu repertório de dribles. Titular em 10 jogos da Champions, só ganhou folga quando o time já tinha se classificado na fase de grupos.

Gabriel Boschilia – Meia, 21 anos, brasileiro. Trazido do São Paulo no início da temporada passada. Vinha ganhando importância no esquema de Leonardo Jardim, uma pena que a grave lesão no joelho tenha o afastado dos gramados. Contudo, não estava nos planos principais na Champions, presente em duas partidas.

Thomas Lemar – Ponta, 21 anos, francês. Comprado na temporada passada, do Caen. Jogador sub-23 do Monaco com mais minutos nesta Champions, possui uma consistência imensa, tanto no apoio quanto no combate. Deu duas assistências nas oitavas de final, diante do Manchester City.

Francesco Antonucci – Meia, 17 anos, belga. Buscado no time sub-19 do Ajax em janeiro. Talvez a grande surpresa entre os inscritos na Champions, foi colocado logo na lista principal, embora milite inicialmente na base do Monaco.

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Kylian Mbappé – Atacante, 18 anos, francês. Formado na base a partir dos 14 anos, após ser buscado em Clairefontaine, a academia da Federação Francesa de Futebol. Sensação do time na temporada, já se coloca entre os atacantes mais cobiçados do mundo. Vinha sendo reserva na Champions, ganhando a posição justamente diante do City.

Almamy Traoré – Lateral, 20 anos, malinês. Formado nas categorias de base. Opção na ala direita, tem jogado com frequência na Ligue 1. Entrou em campo duas vezes na Liga dos Campeões, inclusive na volta diante do City, adaptado na zaga após a lesão de Andrea Raggi.

Abdou Diallo – Zagueiro, 20 anos, francês. Rodou na base até parar no Monaco, em 2011. Emprestado ao futebol belga na última temporada, é peça de rotação. Jogou na última rodada da fase de grupos.

Kévin N'Doram – Meio-campista, 21 anos, francês. Cria das categorias de base, é filho de Japhet N'Doram, ídolo do Nantes nos anos 1990 e também com breve passagem pelo Monaco. Mais um usado na rotação, titular apenas no fim da fase de grupos.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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