Tata Martino sobre Messi: “Ninguém chega a esse nível sem ter grande capacidade intelectual”
Técnico do Inter Miami, Tata Martino contou sobre as conversas com Messi e o processo de adaptação do jogador à MLS e uma nova realidade

A nova vida de Lionel Messi na MLS tem alguém da confiança dele bem ao lado: o técnico Gerardo Martino, conhecido como Tata Martino, argentino como o camisa 10 e com quem o craque já trabalhou anteriormente. A enorme capacidade de Messi é muito conhecida, mas o treinador ressaltou outro aspecto do jogador: a sua grande capacidade intelectual para se adaptar às mudanças ao redor e tentar tirar o melhor não só de si mesmos, mas também melhorar o time e seus companheiros.
Messi está acostumado a atuar no mais alto nível na sua carreira, com Barcelona e depois o projeto megalomaníaco do PSG. Ir para a MLS é uma quebra grande nesse sentido, porque a liga norte-americana é, evidentemente, de um nível bem inferior às que o argentino disputou anteriormente. Não tem também uma Champions League que o desafiará no mais alto nível. Isso, porém, não pareceu ser um problema, nem em termos de motivação, nem em termos de exercer o seu melhor em campo.
Em entrevista ao ótimo site The Athletic, Tata Martino falou sobre o craque argentino.
Felicidade de trabalhar na MLS
“Seis anos atrás eu confirmei o que era trabalhar na MLS. Eu realmente gostei. Gostei daquele projeto. Era diferente (do Inter Miami) porque o Atlanta teve que construir um elenco inteiro e começarmos com muito tempo”, disse o treinador do Inter Miami.
“Aquela dinâmica de construir o time, de conversar e convencer os jogadores a vierem, confiar em Paul (McDonough, então vice-presidente do Atlanta United) pelo conhecimento dele sobre jogadores americanos. Ele os conhecia muito melhor que eu. Naquele sentido, eu realmente gostei. Nós aproveitamos o processo uma vez que começamos a competir e realmente gostei de viver em Atlanta. Aqueles foram dois anos maravilhosos”.
“Com a oportunidade de vir para Miami, sim, é uma cidade diferente e a exposição é maior agora com Leo, Busquets, Jordi e as carreiras tremendas que eles tiveram. É uma liga que gostamos e gostamos de morar nos Estados Unidos. Nos adaptamos imediatamente. E agora os resultados vieram logo de cara. Isso sempre ajuda. Trabalhamos calmamente aqui. A recepção dos jogadores conosco foi positiva e temos um bom relacionamento com os donos do clube e a diretoria. Não há razão para que este momento não seja agradável”, continuou Tata Martino.
- - ↓ Continua após o recado ↓ - -
A chegada de reforços
O treinador também foi perguntado sobre a chegada dos três jogadores ao elenco e como isso afetou o time. “Da minha posição, eu tenho três jogadores excepcionais. Colocamos peças ao redor deles de maneira sensível e baseado em um modo de jogar. Nós percebemos que nosso estilo de jogo ainda é um trabalho em andamento. Há muitas coisas que podemos melhorar. Precisamos de resultados. É isso que este momento demanda de nós”.
Um Messi que se diverte, mas com vontade de competir
Tata Martino e Messi já trabalharam juntos outras duas vezes. Primeiro, no Barcelona, na temporada 2013/14, e depois na seleção argentina, de agosto de 2014 a julho de 2016. Depois de ser demitido pela albiceleste, Martino foi para o Atlanta United, em 2017, e passou pela seleção mexicana, de 2019 a 2022, antes de voltar aos Estados Unidos, em junho de 2023, para assumir o Inter Miami — que àquela altura já se sabia que seria o time de Messi.
“Eu gosto que ele está se divertindo. Mas mais do que isso, ele não perdeu a vontade de competir. Esse é o aspecto mais importante. Há muitas formas que alguém pode desfrutar de jogar”, afirmou Martino.
“Mas sem dúvida, quando há vontade de competir, quando há vontade de continuar a provar que ele é o melhor do mundo, ajudar o time e conseguir resultados, bem, é muito mais valioso. Sua felicidade é contagiosa e nós terminamos demonstrando isso. Ele irá trabalhar, melhorar e ter um relacionamento mais próximo dos seus companheiros. Isso diz tudo sobre seu estado mental”.
Posicionamento de Messi e dificuldades da MLS
O treinador foi perguntado sobre as frequentes conversas que acontecem à beira do campo em paradas do jogo. “Os tipos de conversas que tivemos ce concentra no adversário e suas características. E como iremos abordar uma partida. Os aspectos do jogo nos quais gostaríamos de melhorar, o modo como iremos tentar dar a bola para ele. Mas nunca falamos sobre o seu papel individual”, afirmou Martino.
“O que eu acredito que precisamos é que ele tenha liberdade para se movimentar entre os espaços onde ele pode encontrar as condições certas para jogar. O que temos que fazer como time é nos adaptarmos a seus movimentos, não limitar seus movimentos. Acho que ele tem sido parte do segredo da Argentina para o sucesso. Colocar as peças certas no lugar enquanto ele se move pelo campo. É nisso que muitas de nossas conversas se concentram”.
“Quando estávamos em Rosario, falamos extensivamente sobre a liga e os tipos de situações que enfrentei em Atlanta, as características da liga, os times que iríamos enfrentar, as cidades que iríamos visitar, a quantidade de viagens, o frio, o calor, a neve, tempestades e partidas que são adiadas até que o clima melhore. Voos que podem ou não sair do chão, a fisicalidade dos adversários. Foi isso que discutimos naquela época e agora é muito mais específico sobre contra quem você está jogando e como iremos abordar o jogo”.
Maturidade de Messi e capacidade intelectual de se adaptar
Perguntado sobre os grandes atletas que amadureceram ao entrar nos 30 anos, como Michael Jordan, Kobe Bryant, Lebron James e Zinedine Zidane e se Messi tinha evoluído de forma similar e todos eles se mantiveram entre os melhores mesmo depois de passar dos 30 anos.
“Eu acho que sim porque todos esses atletas têm uma mentalidade similar. É uma mentalidade que ele não mudou desde que tinha 17 anos até este ponto da sua carreira esportiva. Então, nesse sentido, é o que todos esses atletas têm em comum. O modo como eles competem. O modo como eles sempre estão tentando serem os melhores. Em alguns casos, é um esporte individual e também esportes coletivos. Mas eles estão serem os melhores, fazer seus times melhores e fazer seus companheiros melhores”.
“Então há também a capacidade intelectual de interpretar cada estágio da sua vida e dar o seu melhor nesses momentos. Eles percebem como podem maximizar essas facetas porque não se é o mesmo jogador aos 20, 25, 30 ou 35 anos de idade. Ninguém chega a esse nível sem ter grande capacidade intelectual. Eles percebem por si mesmos onde eles estão, como eles podem contribuir e o que eles precisam fazer para serem melhores. Eles fazem isso facilmente ao longo das suas carreiras”.
“Leo estava visivelmente frustrado depois do nosso empate sem gols contra o Nashville. Eu tive que dizer a ele ‘relaxe, não iremos vencer todos os jogos. Não podemos permitir empates, mas nós temos que continuar a achar formas de crescer’. Ele estava um pouco amargo. Foi como se tivéssemos perdido o jogo. Ainda estamos tentando nos encontrar (como time), mas ele está em busca permanente para vencer e é muito difícil mudar essa mentalidade. Eu nunca gostaria que ele mudasse essa mentalidade também. É o que o torna melhor”.
O Inter Miami visita o Atlanta United neste sábado (16), às 18h (horário de Brasília). O jogo tem transmissão exclusiva da Apple TV+ com o MLS Seasson Pass.