MLS

Bale empata no 128° minuto, goleiro reserva salva nos pênaltis e Los Angeles FC é um épico campeão inédito da MLS

A MLS teve uma das finais mais apoteóticas de sua história, com empate por 3 a 3 na prorrogação e vitória do LAFC nos pênaltis para sua primeira taça

O Los Angeles FC é um dos clubes de maior relevância na Major League Soccer durante os últimos anos, mesmo que tenha entrado na liga apenas em 2018. Os aurinegros contam com uma das torcidas mais barulhentas do país, fazem um ótimo trabalho de observação no mercado, entregam um futebol ofensivo. Porém, o LAFC ainda perseguia o seu primeiro título na MLS Cup. E ele veio de maneira catártica, com uma apoteose contra o Philadelphia Union no Estádio Banc of Califórnia. Os californianos estiveram duas vezes à frente no placar, mas cederam o empate por 2 a 2 no tempo normal. O Union virou nos acréscimos do segundo tempo da prorrogação, e isso depois da expulsão do goleiro do LAFC. Quando tudo era desespero, eis que apareceu um herói contratado para decidir: Gareth Bale. O astro voltava de lesão e só entrou na meia hora final, mas decretou o placar de 3 a 3 no oitavo minuto adicional do segundo tempo extra. Com isso, a definição acabou nos pênaltis e quem brilhou foi o goleiro reserva, John McCarthy, que pegou dois pênaltis e garantiu a vitória por 3 a 0 do Los Angeles FC. É um campeão inédito e épico.

A decisão da MLS reunia em 2022 os dois melhores times da temporada. Los Angeles FC e Philadelphia Union somaram as maiores pontuações na fase de classificação, com a melhor campanha dos californianos apenas nos critérios de desempate. Já nos playoffs, os dois times dominaram suas respectivas conferências – com direito a um clássico flamante que classificou o LAFC contra o Los Angeles Galaxy. Existia a expectativa de uma grande partida, entre dois times que buscavam o título inédito, na primeira vez desde 2003 em que os donos das melhores campanhas da temporada regular se encaravam na finalíssima. Dentro de casa na final única, os aurinegros tinham uma ponta de favoritismo pela qualidade do time e pelos astros à disposição. O técnico Steven Cherundolo nem arriscou com Gareth Bale e Giorgio Chiellini, os dois fora da melhor forma por causa das contusões. Ambos começaram no banco – e o italiano sequer entrou.

A torcida do Los Angeles FC criou uma atmosfera incrível no Estádio Banc of Califórnia, com direito a mosaico do Dragon Ball nas arquibancadas. E o time da casa correspondeu no primeiro tempo, mais perigoso, mesmo que o Philadelphia Union tivesse mais a bola. O gol que inaugurou a contagem, aos 28 minutos, teve um golpe de sorte do LAFC. Numa cobrança de falta, Kellyn Acosta chutou e contou com um desvio na barreira para vencer o goleiro Andre Blake. O arqueiro do Union depois salvaria o segundo, num chute mano a mano de Carlos Vela.

A partida ganhou mais emoção no segundo tempo. O Philadelphia Union empatou aos 14 minutos. José Martínez chutou de longe e Dániel Gazdag aparou a bola dentro da área, antes de desferir um chute forte. O Los Angeles FC precisava tomar a iniciativa e conseguiu o segundo gol aos 38, numa cobrança de escanteio. Carlos Vela cruzou e Jesús Murillo completou de cabeça no primeiro pau. Todavia, nem deu muito tempo para o LAFC comemorar. O Union empatou dois minutos depois, em outra bola parada. Kai Wagner cobrou falta pela esquerda e Jack Elliott deu uma casquinha na bola. Com o placar de 2 a 2, a final seguiu para a prorrogação.

Bale entrou no primeiro tempo da prorrogação, no lugar de Carlos Vela. As oportunidades eram escassas, até que o segundo tempo extra se tornasse insano. Começou num lance muito duro aos 11 minutos. Murillo recuou uma bola péssima e Cory Burke, do Union, ia saindo na cara do gol. O goleiro Maxime Crépeau tentou se antecipar e realizou a falta na entrada da área. O lance rendeu a expulsão do arqueiro do LAFC, mas também terminou com os dois jogadores lesionados. Há suspeita de que Crépeau tenha sofrido uma fratura e, com isso, deve perder a Copa do Mundo, na qual iria como reserva do Canadá.

Por conta da interrupção, a arbitragem deu nove minutos de acréscimos. Com um jogador a mais, o Union arrancou o terceiro gol no terceiro minuto adicional. O goleiro reserva John McCarthy realizou um milagre na meta do LAFC, em cabeçada de Julián Carranza, mas Jack Elliott marcou no rebote. E quando o tempo parecia se esgotar para o Los Angeles FC, no penúltimo minuto dos acréscimos, Bale apareceu. Diego Palacios cruzou na linha de fundo e o galês subiu no terceiro andar para conferir de cabeça. O relógio anotava o 128° minuto. O gol causou um terremoto no estádio e forçou a decisão por pênaltis, com o psicológico dos visitantes em frangalhos.

Os dois times erraram as primeiras cobranças. Cristian Tello parou em Andre Blake, enquanto Gazdag bateu para fora a primeira do Union. Denis Bouanga marcou para o LAFC na sequência e o goleiro substituto McCarthy parou José Martínez. Depois, seria a vez de Ryan Hollingshead converter e McCarthy defender mais um tiro do Union, contra Kai Wagner. Coube então a Ilie Sánchez passar a régua e decretar o título do Los Angeles FC. Trazido do Inter Miami nesta temporada, McCarthy só havia atuado uma vez pelos aurinegros, e na temporada regular. O arqueiro virou eterno em sua segunda aparição pela franquia.

Antigo lateral da seleção americana, Steven Cherundolo conquista seu primeiro título da carreira como técnico. O treinador de 43 anos chegou ao Los Angeles FC para a atual temporada e encerrou a espera pela inédita conquista da MLS. Os aurinegros faziam por merecer nos últimos anos, pela mobilização ao seu redor e também pela competência constante em montar fortes equipes. Todavia, quando o time havia terminado com a melhor campanha na fase de classificação em 2019, caiu na semifinal da Conferência Oeste. Desta vez, os californianos seguiram em alto nível também nos mata-matas e levaram um troféu incontestável. Prêmio ao grupo de investidores da franquia que reúne figuras como Will Ferrell, Mia Hamm e Magic Johnson – este presente no gramado neste sábado, antes que a bola rolasse. Foi pé quente.

Já em campo, Carlos Vela sai como o grande protagonista do Los Angeles FC nesta história recente. O capitão é a principal face de um clube que se atrelou à comunidade latina e sempre rendeu bem na MLS. O time atual possui outros bons jogadores à disposição, como Denis Bouanga, Christian Arango, José Cifuentes, Diego Palacios e Jesús Murillo. Além disso, a diretoria investiu em novas estrelas para aumentar a tarimba nos vestiários. A contribuição de Giorgio Chiellini e Gareth Bale ao longo da temporada foi pequena, meros coadjuvantes no ótimo aproveitamento do LAFC. De qualquer maneira, na hora mais necessária, Bale apareceu para justificar todo o investimento. É o iluminado que torna os aurinegros campeões.

A MLS possui uma enorme rotação entre seus campeões e o Los Angeles FC se torna o 15° time diferente a levantar a taça. Além disso, é o oitavo troféu da Califórnia, com cinco do rival LA Galaxy e outros dois do San Jose Earthquakes. As últimas temporadas indicam uma abertura maior a novas franquias, a exemplo dos troféus de Atlanta United e New York City FC. O LAFC é candidato a repetir conquistas em breve e até mesmo a se tornar uma bandeira internacional da competição, pela forma como mobiliza sua gente e investe no futuro. Melhor ainda quando a história fundadora do time campeão se estabelece dessa maneira, com uma das finais mais surreais já vividas na liga.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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