Como Vitor Roque pode ser aproveitado no Barcelona?
Com chegada marcada para janeiro de 2024, Vitor Roque pode ganhar oportunidades no Barcelona como centroavante ou um "falso ponta" pela esquerda
Os 85 minutos contra o Santos no último domingo (3) foram os últimos de Vitor Roque com a camisa do Athletico-PR. A passagem não poderia terminar melhor, com uma consistente vitória por 3 x 0 na Ligga Arena. O atacante se despediu nesta terça-feira (5) do elenco e funcionários no Centro de Treinamento do Caju e já estará fora do jogo final do Brasileirão amanhã, frente ao Cuiabá. O destino do jogador é Barcelona, onde ficará pelos próximos sete anos em um dos maiores clubes do mundo, a partir de janeiro de 2024. Veja como o “Tigrinho” (apelido que ganhou popularidade após o anúncio do Barça), aos 18 anos, poderá agregar ao estilo de jogo do técnico Xavi Hernández.
????? ?????. ????? ??????? ??? ????̧? ??
— FC Barcelona (@FCBarcelona_es) July 12, 2023
Primeiro, comparando o contexto dos clubes
Desde que se tornou uma das equipes mais competitivas no Brasil, o Athletico se notabilizou por ser um time de transição, forte contra-ataque e nem tanta paciência para rodar a bola ou reter a posse. Isso é comprovado pela média de posse de bola, abaixo dos 50% nos últimos três Campeonatos Brasileiro (inclusive, em 2022, a média foi a segunda menor, com apenas 43.8%). Não quer dizer que o Furacão é totalmente defensivo no estilo de jogo, longe disso até, sempre tendo bom número de gols, como neste Brasileirão de 2023, dono do quinto melhor ataque com 51 gols, terceiro com maior número de chances criadas (80, segundo o SofaScore) e um dos clubes que mais finalizam – média de 14.5 chutes por partida, atrás apenas de Palmeiras e Bragantino.
Entendendo como o CAP passa um tempo menor com a bola e aposta em ataques rápidos, fica evidente que Vitor Roque terá que se adaptar a uma nova realidade no Barcelona. O clube catalão, praticamente desde sempre, se orgulha da forma como joga sendo o protagonista do jogo. Adepto ao Jogo de Posição, filosofia dos maiores técnicos da história do Barça, Xavi Hernández busca manter o legado na equipe e, há mais de dois anos no cargo, tem implementado seu estilo pautado na posse de bola e na ocupação de espaços.
Na última La Liga, vencida pelos Culés, o Barcelona teve a maior posse de bola da competição, ficando com a bola em 64.8% do tempo nas 38 rodadas. Com 15 partidas na edição atual, a equipe mantém a média alta, acima em dois pontos percentuais. Como acontece com times que retém muito a bola, o Barça de Xavi enfrenta defesas muito fechadas, com linhas baixas e pouco espaço para atacar em velocidade – como Vitor Roque se notabilizou no Brasil. Nesse quesito, deverá ter uma adaptação do atacante brasileiro. Sabendo das nuances táticas, como a cria da base do Cruzeiro poderá jogar no clube catalão?
Como Vitor Roque pode jogar no Barcelona?
Com exceção de alguns momentos com linha de cinco zagueiros, como na derrota para o Real Madrid, o Barça de Xavi atua na formação 4-3-3 que, no momento ofensivo, vira um 3-2-5, dividindo os jogadores em setores do campo que devem ser respeitados. Falando apenas do ataque, onde o brasileiro deve ficar, o lateral-esquerdo Alejandro Baldé fica bem aberto pelo lado esquerdo, enquanto Raphinha ou Ferran Torres (este também foi centroavante ou falso nove em algumas partidas no ano) fazem essa função na direita. Por dentro, o centroavante Robert Lewandowski atua entre os dois zagueiros e tem o apoio de João Félix e de um meia, seja Ilkay Gundogan, Gavi (agora lesionado), Pedri ou Fermín López.
Das funções/posições citadas, é natural que Vitor Roque ganhe oportunidades nas vagas do português João Félix, recompondo pela esquerda no momento defensivo, mas atacando por dentro com a posse da bola, e, claro, do polonês Lewandowski, aí, sim, a posição de origem do brasileiro como centroavante. Apesar de poder ser uma possibilidade, atuar como ponta direito colocado na linha lateral não potencializa as melhores características do atacante, que, apesar de ter qualidade para driblar, o mano a mano não é seu principal trunfo como jogador.
Momentos ❤️? @vitorroque_f
? José Tramontin/athletico.com.br pic.twitter.com/Qy5vL1T54e
— Athletico Paranaense (@AthleticoPR) December 4, 2023
Aos 35 anos, Lewandowski passou por problema físico em outubro, que o deixou fora de combate por 20 dias, e desde então não retomou a grande fase que teve na temporada anterior, quando terminou como artilheiro do Campeonato Espanhol com 23 gols. Para suprir a ausência do polonês, Xavi teve que improvisar Ferran Torres, Félix e até Fermín – nenhum cumpriu a função à altura. Imaginando que pela idade o centroavante titular tenha mais lesões, Roque deve receber muitos minutos em campo como centroavante, onde pode mostrar seu poder de finalização, a velocidade característica para superar o defensor e a força física. Apesar de ter 1,72m, Vitor mostrou aguentar o tranco em divididas mesmo contra zagueiros mais altos e com mais massa.
João Félix até começou a temporada muito bem, mas perdeu o ritmo na sequência e soma apenas um gol nas últimas 10 rodadas de La Liga. A irregularidade do português também pode ser um trunfo para o brasileiro ganhar chances com Xavi.
Algo que deve ser observado, como acontece com muitos brasileiros que atuam no ataque na Europa, é a mudança de posição. Não é raro que um jogador que atua como centroavante no Brasileirão seja movido para ponta quando atua na Europa – o que aconteceu com Gabriel Barbosa, por exemplo. Isso pode ser um dos motivos da “crise” vivida com a camisa nove na Seleção Brasileira. Além do potencial e gigante nível técnico, Vitor Roque foi contratado por 53 milhões de euros (40 fixos, 13 em impostos e pode ter mais 21 em bônus) pelo Barcelona por conta de suas virtudes mostradas como centroavante, seja o oportunismo e faro para marcar gols, a qualidade para sair da referência e flutuar em outros setores do campo ou a explosão para atacar as costas da defesa. Transformá-lo em ponta seria um equívoco de Xavi e do planejamento do clube pelo alto investimento.