Vingança, jogador decisivo, bola aérea: fatores da vitória do Bayern
A vitória do Bayern pode não ter sido surpresa, mas a goleada por 4 a 0 sobre o Barcelona foi. E vários fatores estão envolvidos em uma vitória como essa. Todos motivos já conhecidos, de um lado ou de outro, mas que exerceram um papel importante nesse caso. O primeiro dos quatro itens citados é uma curiosidade, os demais estiveram presentes na Allianz Arena, nesta terça-feira, no jogo que praticamente selou a passagem do time bávaro à final da Liga dos Campeões. Reunimos alguns dos fatores que levaram o Bayern à vitória:
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A vingança
No dia 8 de abril de 2009, o Barcelona vivia a sua primeira temporada sob o comando do técnico Pep Guardiola. Nas quartas de final, o time enfrentou o Bayern Munique do técnico Jürgen Klinsmann e que tinha Franck Ribéry e Bastian Schweinsteiger, que ainda continuam no elenco atual. Philipp Lahm estava no banco. E o time do Barcelona, com a mesma base da equipe atual, com Valdés, Piqué, Puyol, Xavi, Iniesta, Messi e Daniel Alves, passou o trator sobre os bávaros. Uma goleada sonora por 4 a 0 de um time que já mostrava o quanto era forte. Na volta, um empate por 1 a 1, com o Bayern sabendo que reverter o resultado era quase impossível.
Quatro anos depois, com Guardiola já acertado para ser o técnico do Bayern a partir da próxima temporada, a semifinal colocou Bayern e Barcelona um no caminho do outro novamente. Desta vez, um Bayern confiante da própria capacidade, finalista de duas das últimas três Ligas dos Campeões. Campeão alemão por antecipação. Com um time estrelado e com jogadores também com capacidade de decisão. Um time com poderio parecido com o Barcelona, mas em um momento melhor. E o time jogou como um animal sedento por sangue. Jogou para aniquilar o adversário. Não se conteve com um gol, nem dois. Queria golear. Queria decidir, aproveitando o quanto foi superior. Conseguiu. Os 4 a 0 são praticamente irreversíveis. E o Bayern se vinga, quatro anos depois, de uma derrota muito doída.
Müller decisivo
Depois de uma primeira temporada bem-sucedida no Bayern, Thomas Müller foi para a Copa do Mundo. Foi artilheiro e revelação da Copa. Desde então, tornou-se peça fundamental no Bayern. Na temporada passada, Müller foi o autor do gol na final da Liga dos Campeões, contra o Chelsea. O time acabou perdendo, mas Müller deixou a sua marca em um jogo decisivo. E isso não é algo anormal.
Em 2009, em seu primeiro jogo de Liga dos Campeões, Müller jogou em uma partida fácil. Depois de ver o Bayern vencer por 5 a 0 o Sporting no primeiro jogo das oitavas de final em Portugal, Müller foi chamado do time B para jogar a partida de volta. Entrou aos 37 minutos do segundo tempo e deixou a sua marca. Foi o seu primeiro gol em mata-mata da Liga dos Campeões. Na temporada seguinte, foi titular e importante no time que chegou à final da competição, mas perdeu para a Internazionale na final por 2 a 0. Na temporada seguinte, foi eliminado com o Bayern nas oitavas de final pela Inter, embora tenha feito gol no jogo da eliminação. Na temporada passada, gol na final. Mas o melhor estava por vir.
Em 2012/13, o Bayern tem sido avassalador. E Müller tem sido ainda mais decisivo, não só pelas atuações, como nos anos anteriores, mas com gols decisivos. Contra o Arsenal, nas oitavas de final, gol no jogo de ida. Contra a Juventus, novamente gol no jogo de ida. Contra o Barcelona, dois gols. Müller fez gols em todas as fases do mata-mata. Não dá para dizer que um jogador como esse não é decisivo para o time. Nesta partida contra o Barcelona, ele foi um dos melhores em campo.
Barcelona com erros de bolas aéreas
Nenhuma novidade, mas é preciso dizer: o problema nas bolas aéreas no Barcelona segue sendo grave. Os dois primeiros gols sofridos foram em jogadas pelo alto. Em ambos, um jogador do Bayern subiu de cabeça parta tocar para um companheiro. No primeiro gol, foi Dante que tocou de cabeça para Müller marcar. No segundo, Müller tocou para Mario Gomez. Em ambos, o jogador do Barcelona que subiu de cabeça para defender foi Daniel Alves. Um erro de posicionamento do Barcelona, mas também uma falta de jogadores altos para marcar. Piqué não pode marcar todo mundo. E Bartra se posicionou errado em quase todos os lances. É um problema que o time terá que lidar. Todas as jogadas pelo alto acabam sendo uma preocupação exagerada, especialmente quando o time não tem Puyol – que nem é tão alto, mas é bom pelo alto. Neste jogo, o Bayern teve 79% de sucesso em bolas aéreas. O Barcelona teve 21%.
Posse de bola não foi decisiva
Mais uma vez, o Barcelona foi dominante na posse de bola. Mas foi dominado dentro do seu estilo, algo raro em todos esses anos de estilo marcante dos blaugranas. O Barcelona ficou com 66% de posse de bola no jogo, segundo o Who Scored. Uma posse de bola inutilizada pelo Bayern, que foi absolutamente eficaz ao anular as armas blaugranas.
Xavi, normalmente o jogador com mais toques na bola e que passa dos 100 passes em uma partida, não conseguiu ter espaço para passar a bola. Teve que buscar o jogo em locais onde esteve sempre com pressão e pouco confortável. Xavi fez dois passes-chave, Alexis Sánchez fez um. E foi tudo que o Barcelona conseguiu. Para se ter uma ideia, Arjen Robben fez cinco passes-chave, Thomas Müller fez outros cinco. Javi Martínez, Dante, Philipp Lahm, Franck Ribéry, Mario Gómez fizeram um passe-chave cada um. Foram 15 passes-chave do Bayern contra três do Barcelona.
Em chutes a gol, outro sinal que a posse de bola foi pouco decisiva. O Bayern chutou 15 vezes a gol e acertou sete no alvo. O Barcelona chutou quatro e só acertou um no alvo. A posse de bola foi completamente inútil. E assistindo ao jogo, a sensação era que o Barcelona tinha ficado muito menos com a bola. Talvez pelo ritmo alucinante que o Bayern colocou.
Não é o fim do ciclo Barcelona
Algo comum em derrotas do Barcelona é a taxativa afirmação: o Barcelona agora acabou. É o começo do fim. Nesse período que o time foi a equipe a ser batida no futebol europeu, várias vezes se ouviu essa frase e ela não determinou o fim do ciclo. É verdade que o Barcelona tem problemas e não são poucos.
O rendimento do time caiu, a movimentação não é a mesma e os adversários não têm medo da posse de bola. Mas o time tem muita capacidade técnica. Precisará se reinventar, trabalhar nos problemas, mas um time como esse do Barcelona não é derrubado por uma derrota em semifinal da Liga dos Campeões. É preciso ter calma com esse tipo de diagnóstico.