Suárez: ”A vontade de vencer e o jeito como eu jogo nunca vão mudar”

A transferência para o Barcelona acalmou os impulsos de Luis Suárez. Contratado logo depois da terceira vez em que mordeu um outro ser humano durante uma partida de futebol, o uruguaio não tem sido protagonista de polêmicas. Em entrevista ao jornal Sport, afirmou que aprendeu muito em Barcelona, principalmente a aproveitar um pouco mais o esporte que pratica. Confira a seguir os principais trechos da conversa.
Comportamento
Eu ainda sou o mesmo jogador de futebol ambicioso. Eu ainda jogo com aquele desejo com o qual nasci. Esse desejo de vencer e a maneira como eu jogo nunca vão mudar. Mas eu aprendi muito, mais desde que moro em Barcelona. Estou tentando aproveitar mais o futebol. Jogar com intensidade e agressividade não significa que eu vou sair chutando as pessoas o tempo inteiro. Mas essas batalhas e discussões são quem eu sou. Agora, eu rio e me divirto mais com meus companheiros. Isso mudou, mas a maneira como eu jogo nunca será diferente. Quando eu digo que estou diferente fora do gramado é porque, se fico irritado, tem que ser por um motivo importante. No gramado, eu fico irritado com coisas pequenas.
Neymar
Ele era um jogador que, no vestiário, transmitia muita felicidade. Ele era um companheiro que sempre tinha um sorriso no rosto. Como os brasileiros, em geral. Claro que eu sinto falta disso, mas ele decidiu mudar naquele momento, não ficar mais aqui, e precisamos preencher esse vácuo que ele deixou. No momento, ele está aproveitando muito a vida em Paris. Seus objetivos são claros. Mas, obviamente, como companheiro, amigo ou torcedor de futebol, você quer os melhores ao seu lado. Mas isso (um possível retorno de Neymar) é hipotético e nunca se sabe. Ele é um jogador que faz a diferença. Mas você sempre tem que lembrar que foi uma decisão complicada que ele tomou quando decidiu sair. Assim como seria se ele decidisse voltar.
Relação com Messi
Não falamos apenas de futebol. Falamos do passado, do futuro. Somos humanos que, além de sermos companheiros de time, somos amigos que têm muito em comum. Não apenas isso, mas às vezes nossas esposas fazem coisas e nos deixam sozinhos. Na minha casa ou na dele, tomando mate. Podemos ficar sentados por duas ou três horas conversando. Mas eu sempre digo isso: muitas pessoas o veem como Messi, mas, para mim, ele é simplesmente o Leo. Conversamos muito sobre situações das partidas. As partes boas e as ruins porque somos auto-críticos. Há dia em que o time vence e eu fico frustrado porque não joguei bem. E Leo sabe que eu fico em um humor conflitivo. Da mesma maneira, eu sei quando ele está irritado porque não jogou bem.
Voltando a ser camisa 9
O sistema que tínhamos com Luis Enrique era para Leo jogar como falso nove, abrindo mão do tradicional camisa 10. Neymar ficaria em um lado e eu no outro. Mas eu sempre tinha a tarefa de entrar pelo meio e ocupar o espaço entre o zagueiro e o lateral. Foi depois de uma partida contra o Ajax. Eles recuaram bastante e, claro, com o Leo naquela posição, ele não encontrava espaço e me colocaram ali. Fizemos duas boas jogadas e, quando eu estava prestes a voltar para o lado, Leo disse: “se você quiser, pode ficar aí”. Como se estivesse me pedindo. Eu fiquei naquela posição e, depois, foi Luis Enrique quem decidiu, conversando com nós três. “Vocês gostariam de continuar jogando assim?”. Comigo como camisa 9. Nós dissemos que sim.
Dembélé
Ele é jovem e há muitas pessoas lhe dizendo que ele será uma super-estrela e que tudo será ótimo. Mas a realidade é que ainda há muito a aprender. Isso aconteceu comigo também. O que eu tenho que fazer é apoiar Ousmane. Há muitos jogadores no vestiário com os quais ele pode aprender profissionalismo. Ninguém pode ensinar Ousmane a chutar uma bola porque ele já sabe fazer isso. Mas outra coisa é treinar e trabalhar. Ele precisa da rotina para continuar melhorando. Obviamente, é um jogador que está apenas começando, mas eu acho que ele será um dos melhores do mundo.
Críticas
Vamos ser claros: crítica é a ordem do dia. Ainda mais aqui, em Barcelona, com as expectativas que existem. Todos sabem onde estão e o que é exigido de você a cada três dias. Se eu não marcar em um jogo, é isso. A dúvida aparece. Eu preciso viver com isso o tempo inteiro. As críticas não me machucam por causa da idade que tenho, eu sei para onde estou indo. O que machuca é se houver um comentário de dentro do clube – e se quiserem encontrar uma solução porque sou muito velho – e eles não disserem isso na minha cara. Isso me machucaria. Mas, na realidade, as críticas de jornalista e das pessoas não mexem comigo. Eu sei o que preciso fazer no Barcelona e a pressão de trabalhar aqui. Estou acostumado a isso e vou tentar responder da melhor maneira possível.