La Liga

Vinícius Júnior sobre críticas de brasileiros: “Espero que um dia possa fazer todos eles torcerem por mim”

Por mais que tenha dificuldades em admitir, o público brasileiro tem um problema com jogadores jovens negros que começam a ter grande sucesso e ganhar espaço na mídia. Essa faceta da torcida brasileira não aparece sempre, mas quando aparece é fácil de notar. Neymar passou por isso, embora a análise seja anuviada por outras de suas características que causam antipatia no público. No caso de Vinícius Júnior, que sequer tinha tempo suficiente no futebol para acumular tamanho rancor, isso foi mais fácil de se identificar.

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O jogador do Real Madrid falou brevemente sobre este fenômeno, assim como o problema do racismo no futebol, em uma interessante entrevista ao jornal inglês Guardian.

Quando ainda estava no Flamengo, por um misto de rivalidade com racismo arraigado, Vinícius Júnior era alvo de deboches e discriminação, apelidado de “Neguebinha” por quem se recusava a ver seu enorme potencial. A transferência ao Real Madrid, em vez de um atestado de sua qualidade, foi justificada por detratores como resultado de uma “campanha” da mídia tradicional, em especial a TV Globo, para exaltar seu futebol, como se o maior clube do mundo dependesse de possíveis narrativas criadas por uma emissora para fazer seu trabalho de observação de jovens talentos.

“Não gosto de pensar nesses momentos ruins da minha carreira (época das críticas e deboches por parte de alguns brasileiros), mas eu, com certeza, espero que um dia possa fazer todos os brasileiros torcerem por mim”, disse o jogador ao Guardian. “Não foi só contra mim. Alguns torcedores brasileiros têm problemas com o sucesso das pessoas em outras áreas da vida. Eles até não gostam do Neymar, por exemplo.”

Neste contexto, Vinícius Júnior revelou ter gostado de ver toda a movimentação por parte de fãs brasileiros na torcida pelo craque do PSG em sua busca pelo título da última Champions League: “Fiquei muito feliz quando vi tantos brasileiros querendo que ele e o PSG vencessem a Champions League”.

Em meio à explosão mundial do movimento Vidas Negras Importam, catapultado em reação ao assassinato de George Floyd pela polícia dos Estados Unidos em maio deste ano, Vinícius Júnior surgiu como uma das vozes entre os atletas a se posicionarem contra o racismo. Ele celebra a atuação de figuras icônicas como LeBron James, mas lamenta que, a essa altura, este movimento seja sequer necessário.

“Há mais interesse em apoiar nossa causa, com caras importantes como LeBron James e Lewis Hamilton, meus ídolos, liderando a causa. Aquele momento em que os jogadores da NBA se recusaram a ir para a quadra foi muito forte. Isso faz as pessoas verem o quanto nos importamos. Isso me deixa feliz e triste ao mesmo tempo, porque estamos em 2020 e ainda temos que lutar contra o racismo e outras coisas que são usadas para nos dividir.”

Já num papo mais voltado para o futebol jogado em si, Vinícius falou sobre sua luta por mais minutos e mais regularidade na equipe titular do Real Madrid. O brasileiro notavelmente ficou de fora do confronto contra o Manchester City pelas oitavas de final da Champions League, vendo todo o duelo de volta do banco de reservas, e Zidane foi alvo de críticas por isso, em um momento em que precisava correr atrás do resultado.

Inteligente em sua declaração, o brasileiro disse entender as opções do técnico e destacou o alto nível de competição dentro do elenco do Real Madrid: “Claro que eu queria entrar e ajudar o Real Madrid, mas jogo no maior clube do mundo, em que existem vários jogadores talentosos. Nosso treinador tem muitas opções para colocar no decorrer do jogo. Faz parte do esporte. Leva um tempo, mas podemos e precisamos entender cada escolha”.

Com apenas 20 anos de idade, Vinícius Júnior tem ainda muita história pela frente em sua carreira, mas ressalta que adoraria que um de seus próximos capítulos fosse a participação na Copa do Mundo de 2022, no Catar, possivelmente com a conquista do hexa.

“Espero jogar pela Seleção de novo. Muitos dos meus ídolos estão lá. O Neymar é minha inspiração, então seria legal vestir as cores do Brasil com ele. Tenho trabalhado para ser convocado e espero que possa trazer felicidade ao nosso povo. Quero jogar a próxima Copa do Mundo, que espero que possamos vencer”, projetou.

Como é também o caso no Real Madrid, o atleta entende haver uma concorrência acirrada. Portanto, para atingir seu objetivo, entende que precisa alcançar um novo patamar: “Estou focando em melhorar meus números, ter mais experiência no campo e, claro, tenho que estar preparado para ter o melhor mês da minha vida caso aconteça (a chamada para a Copa de 2022)”.

Foto de Leo Escudeiro

Leo Escudeiro

Apaixonado pela estética em torno do futebol tanto quanto pelo esporte em si. Formado em jornalismo pela Cásper Líbero, com pós-graduação em futebol pela Universidade Trivela (alerta de piada, não temos curso). Respeita o passado do esporte, mas quer é saber do futuro (“interesse eterno pelo futebol moderno!”).
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