Villarreal, do futebol de base à elite da Europa: “O presidente sabe o nome dos jogadores mais jovens”

Conteúdo oficial de La Liga
O Villarreal é uma equipe relativamente nova na La Liga Santander. O clube da cidade de Vila-real, em Castellón, com uma população de 50.000 habitantes, não havia conseguido disputar a primeira divisão espanhola até 1998. Porém, desde então, o Submarino Amarelo passou 20 das 22 temporadas na elite e terminou entre os seis primeiros em seis dos últimos sete anos.
Muitos são os fatores que explicam o sucesso do clube, mas uma das respostas mais comuns quando esta pergunta é feita é que a categoria de base do Villarreal é a força motriz das suas conquistas.
As evidências e os números sustentam essa afirmação. Dos 25 jogadores mais utilizados pelo técnico Unai Emery na temporada 2020/21, 11 deles passaram pelo menos algum tempo na famosa categoria de base do clube. Não tem goleiro entre os titulares, mas o jovem promissor sueco Filip Jorgensen está treinando com o time principal como terceiro goleiro, e já foi chamado para partidas da Copa do Rei e Liga Europa, mas ainda sem ter estreado.
Os atacantes titulares Gerard Moreno e Moi Gómez, os laterais sólidos Mario Gaspar, Jaume Costa e Alfonso Pedraza, os experientes meias Manu Trigueros e Dani Raba, o cobiçado zagueiro Pau Torres e os novos prodígios como Samuel Chukwueze, Alex Baena, Fer Niño e Yeremy Pino são alguns dos nomes mais conhecidos e que são formados no clube.

Esta é a safra atual, mas o Villarreal também teve no passado Santi Cazorla, como sua estrela, enquanto Rodri Hernández, Pablo Fornals e Borja Iglesias, que atualmente jogam por outros clubes, atingiram seu alto nível após passarem pela categoria de base do Villarreal.
Como é possível que um clube de uma cidade tão pequena e com muito menos experiência na primeira divisão que a maioria dos seus adversários, consiga desenvolver e produzir de forma constante tantos talentos?
Na opinião do diretor de metodologia do clube, Luis Arnau, o presidente Fernando Roig tem grande parte do crédito. Roig assumiu o clube em 1997, quando o Villarreal ainda não havia jogado um minuto sequer na primeira divisão espanhola. Agora, eles já estão em sua 21ª temporada da La Liga Santander.
“Quando Roig chegou ao clube, a primeira coisa que fez foi construir um complexo esportivo. Ele era muito claro ao dizer que a base do clube tinha que ser a academia. Desde o início foi claro nas decisões e ações tomadas. O presidente é uma pessoa que administra o futebol de base com muito cuidado. Sempre foi muito presente, fala sobre a categoria de base e essa proximidade é transmitida a todos nós que trabalhamos no clube. Quando você estiver assistindo a um jogo de juniores, o presidente pode parecer por lá e assistir à partida. Ele está constantemente perguntando pelo nome dos jogadores. Isso cria interesse e faz parte da identidade deles”, explicou Arnau.
A produção de jovens talentos parece que não vai parar, e haverá mais jogadores indo para o elenco profissional durante a temporada 2020/21. “Nas últimas temporadas, conseguimos incorporar dois ou três jogadores ao time principal e eles se mantém na equipe. Neste ano, por exemplo, tivemos Alex Baena, Yeremy Pino ou Fer Niño. Eles jogaram na La Liga Santander e na Liga Europa. São exemplos de jogadores que tivemos desde que eram crianças. Agora, eles estão se tornando jogadores importantes na equipe principal, apesar da idade”, continua Arnau.
Neste momento, Pau Torres é uma das referências para o sucesso dos jovens. Mesmo com apenas 24 anos, completados em janeiro deste ano, já foi convocado sete vezes para a Seleção Espanhola. Nascido em Vila-real, Torres chegou ao clube aos cinco anos e já passou por todas as categorias de base, a ponto de ser um dos primeiros nomes nas seleções semanais do campeonato. “Isso diz muito sobre o trabalho por trás do projeto da categoria de base e fala muito bem de todas as pessoas aqui”, disse Aunau sobre o exemplo de Torres, já que o atual diretor de metodologia foi o primeiro técnico quando ele chegou há muitos anos.
O Villarreal sabe, no entanto, que não pode confiar que um Pau Torres saia de Vila-real todos os anos. Você tem que olhar mais longe ao procurar o talento do futuro. “Queremos tentar chegar em breve a jovens talentosos. Estamos em uma província de 500.000 habitantes, por isso temos de trazer jogadores de fora da província e hospedá-los no nosso centro de treinamento, onde temos um grande valor na formação completa que oferecemos aos jogadores. Temos uma rede de olheiros em toda a Espanha, em todas as comunidades autônomas. Temos olheiros na Andaluzia, Madri, Cantabria, Barcelona. Trabalham para tentar recrutar ou atrair estes jogadores. A faixa etária em que recrutamos mais jogadores é entre 12 e os 14 anos”, afirma o diretor.
Um clube que forma futebolistas talentosos e boas pessoas
Assim que os jogadores de lugares mais distantes chegam ao clube, encontram instalações de última geração, pois o Villarreal entende a necessidade de fazer muito para obter resultados de sua categoria de base. Mesmo na pandemia de Covid-19, o clube aumentou seu orçamento para o futebol de base. A pandemia exigiu mais funcionários, professores e estudos, não o contrário.
“Acredito que a mudança mais importante no futebol de base foi a sua profissionalização como um todo. Em todos os departamentos: corpo técnico, treinadores, um departamento de psicologia único no nível espanhol e internacional. Temos um psicólogo para cada equipe para ajudar e melhorar os nossos treinados. Fornecer-lhes ferramentas e estratégias para desenvolver os nossos jogadores. Isto mostra as diferentes mentalidades que o Fernando Roig e o clube têm. Há muitos jogadores que não chegam ao time principal e por isso é ainda mais importante ter um projeto individual para cada jogador do clube”, pontua Arnau.
Sobre a filosofia de formar boas pessoas e também bons jogadores de futebol, prosseguiu. “No nosso projeto, existem duas partes igualmente importantes: o jogador e a pessoa. O futebol é importante, mas se um dos nossos jogadores melhora, é responsável por seus estudos e tem estabilidade na vida, fica mais fácil para ele chegar ao time profissional e permanecer. Esse era um problema que tínhamos no início, pois tínhamos um jogador muito talentoso que não dava tempo no profissional. Agora, quem sobe, consegue se estabilizar. Acho que isso se deve a toda a ênfase que colocamos em trabalhar com eles integralmente, tanto jogador, quanto pessoa”.
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Atribuições sensatas para ajudar na transição
À medida em que os jogadores passam para o time profissional, o foco do Villarreal passa a ser o mercado de empréstimo, outra razão para o sucesso da categoria de base. Cientes do número de jogadores talentosos que podem surgir a cada temporada e de que há cada vez mais qualidade no time principal, já que o clube compete todos os anos em três competições, Arnau e companhia fazem um bom trabalho em encontrar destinos de empréstimos adequados para determinados jogadores que ainda não estão totalmente preparados para o profissional.
Este ano, são 17 jogadores emprestados do futebol profissional em diferentes ligas. Por exemplo, o lateral-esquerdo Xavi Quintillà está no Norwich City, da Inglaterra, o ponta Mario González está no Tondela, em Portugal, e o lateral-direito Miguel Ángel Leal está no FC Groningen, na Holanda. Alguns atletas ficaram na Espanha e estão dando seus primeiros passos na LaLiga Smartbank, como o zagueiro Jorge Cuenca e o meio-campista Manu Morlanes, que estão indo muito bem no Almería. “Tivemos muitos jogadores que se desenvolveram em outros lugares antes de voltar e se estabelecerem no time principal, como Alfonso Pedraza ou Moi Gómez”, disse Arnau.
Pedraza e Gómez são agora dois dos muitos jovens da categoria de base que jogam com frequência com Unai Emery, enquanto o Villarreal joga competições nacionais e internacionais. Há algumas décadas atrás, seria impossível imaginar tal situação. “Este é um projeto que já dura 23 anos, desde que nosso presidente chegou aqui. Ele sempre foi muito claro que a base tem que ser a pedra angular sobre a qual se constrói o time profissional”, encerra Arnau.