La Liga

O ressurgimento de Auba no Barça supera as expectativas e atinge seu ápice com a partidaça no Bernabéu

Aubameyang representou o principal pesadelo ao Real Madrid, com dois gols e uma assistência nos 4 a 0

Pierre-Emerick Aubameyang chegou ao Barcelona como uma contratação de peso por seu nome, mas o momento do atacante gerava justas dúvidas. O gabonês não vinha em boa fase com o Arsenal e acumulava problemas disciplinares, a ponto de perder a braçadeira de capitão em Londres. Sua transferência parecia um bom negócio de ocasião tanto a ele, para renovar seus ares, quanto ao Barça, para ganhar uma opção qualificada para o comando de seu ataque sem custos. O início de Auba com a camisa blaugrana acaba indo além dos prognósticos e se torna transformador. O clube se beneficia muito com o artilheiro, enquanto sua carreira parece renascer.

Aos 32 anos, Aubameyang merece ser colocado entre os grandes atacantes africanos deste século. As ótimas fases por Borussia Dortmund e Arsenal não renderam muitos títulos, limitados a uma copa nacional com cada. Ainda assim, ser artilheiro da Bundesliga e da Premier League é um feito para poucos. A questão mais recente não era o talento de Auba, mas seu interesse para o futebol de alto nível. A falta de compromisso custou seu espaço no Arsenal, num momento em que muitos previam sua queda física pela idade – até considerando a importância da explosão em seu jogo.

Os últimos meses de Aubameyang no Arsenal foram claudicantes, entre os gols que rareavam e os entraves internos. Sua passagem pela Copa Africana de Nações, também com problemas na seleção do Gabão, atrapalhou um pouco mais a sua imagem. O Barcelona, todavia, não tinha o que perder. Precisava de novas opções e não vinha em bom momento. Diante de suas limitações financeiras, ter a chance de trazer Auba parecia um negócio bem-vindo. E assim seria para o atacante, com a oportunidade de reconstruir seu nome num clube de mais peso que seus anteriores, apesar de toda a bagunça vivida no Camp Nou.

O desempenho de Aubameyang neste início pelo Barcelona é excelente. Marcou sete gols em sete partidas em La Liga, com menção especial nos compromissos anteriores à tripleta diante do Valencia. Também faz a diferença na Liga Europa, com gols importantes nas classificações diante de Napoli e Galatasaray. Entre os muitos que cresceram na ascensão recente do time de Xavi, o centroavante era daquelas peças que providenciaram um perfeito encaixe para a melhora do rendimento. O Barça estava satisfeito e ele mesmo não esconde seu desejo de deixar as desconfianças para trás. Até que viesse o clássico no Bernabéu.

O trio de ataque do Barcelona teve uma atuação deslumbrante nos 4 a 0 sobre o Real Madrid. Ousmane Dembélé, que deslancha o clube de forma inesperada diante dos problemas contratuais, foi excepcional na criação. Não à toa, duas assistências saíram de seus pés. Ferran Torres também se apresentou muito ao jogo e repetidamente gerou oportunidades ao seu time, com verticalidade. O jovem mostra seu gosto por vestir a camisa blaugrana. Aubameyang, mesmo assim, ganha mais destaque. Pela forma como preponderou no placar e pela maneira como conduziu o bombardeio barcelonista.

Aubameyang não é o atacante infalível diante do gol. Suas boas chances perdidas são conhecidas desde os tempos de Dortmund. Porém, mais importante é a forma como atacante gera tantas chances, seja por seu posicionamento ou por sua explosão. E isso se repetiu muito no Bernabéu. Em duas delas, Auba guardou. Deu uma cabeçada certeira no primeiro gol e brilhou com a categoria no quarto, para encobrir Thibaut Courtois. Seriam seis finalizações do gabonês na noite, três delas ainda defendidas por Courtois, além de uma batida para fora. Contra uma defesa do Real Madrid desmontada, o veterano explorava os muitos espaços mais do que qualquer outro.

Além do mais, Aubameyang criou grandes chances aos companheiros. Foram duas oportunidades surgidas em seus passes. A mais bonita foi aquela que resultou no terceiro gol, num lindo toque de letra para Ferran Torres. A confiança era tanta que o gabonês se permitiu tentar alguns lances de efeito. Acertou e abrilhantou sua noite de gala dentro do Bernabéu. Em outros tempos, Auba seria aplaudido pelos torcedores merengues. A bronca era tanta que sobraram muitas vaias em sua saída no meio do segundo tempo. Elas, também, um reconhecimento de grandeza pelo tormento que causava.

Até na comemoração Aubameyang se destacou. Pegou a esfera do dragão e comemorou com uma referência a Dragon Ball. A noite foi mesmo de um Super Saiyajin ao gabonês. Logo de cara, finca seu nome na história do clássico. Mesmo se não durar tanto no Barcelona, pode ser lembrado como um nome importante num momento de reconstrução do clube. De certa maneira, lembra um pouco outros medalhões que chegaram já depois dos 30 anos no Camp Nou e ainda assim são lembrados com carinho, a exemplo de Henrik Larsson e Thierry Henry – no caso de ambos, coroados com grandes conquistas.

Se o futuro não é muito previsível, tanto ao Barcelona quanto a Aubameyang, o contrato garante tempo para que essa história se amplie. A transferência sem custos do gabonês em janeiro rendeu um contrato até 2025. Se vai permanecer até o fim é outra história. Por enquanto, os barcelonistas comemoram o momento. E num sopro de esperança ao clube, os gols de Auba estão entre as melhores cenas para os barcelonistas. Ajudam a liderar esse processo inicial possibilitado por Xavi.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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