O Barça criou uma cortina de fumaça para o Caso Negreira ao apontar o dedo para o Real Madrid – que mordeu a isca
Joan Laporta disse que o Real Madrid era o "time do regime", o que recebeu uma resposta imediata dos merengues

O Barcelona tenta criar uma enorme cortina de fumaça sobre o Caso Negreira e todas as suas consequências. Na última semana, os blaugranas criaram até mesmo um canal em seu site para que os torcedores “denunciem matérias tendenciosas da imprensa”. Já nesta segunda-feira, o presidente Joan Laporta marcou uma coletiva de imprensa em que não esclareceu nada, apenas garantiu que o dinheiro era pago para o filho de Negreira produzir relatórios. A frase que mais repercutiu, entretanto, foi a associação que o dirigente fez sobre a relação do Real Madrid com o regime franquista. Nada de novo, mas os merengues moderam a isca, produzindo até um vídeo para rebater o mandatário blaugrana.
O Caso Negreira rompeu a relação recente entre Real Madrid e Barcelona. Os dois clubes andavam de mãos dadas em questões-chave, como a Superliga Europeia e a oposição aos convênios de La Liga. Entretanto, o escândalo recente envolvendo as arbitragens botou os gigantes de lados opostos. Os merengues de início pareciam querer se isentar e proteger os parceiros. Contudo, posteriormente se apresentaram como parte prejudicada em relação aos supostos benefícios de arbitragem e se propuseram até a testemunhar na justiça. O Barça busca um troco e a declaração de Laporta reforça essa noção.
“Quero fazer referência a um clube que diz se sentir prejudicado. Um clube que sempre se viu favorecido pelas decisões arbitrais. Que foi considerado o clube do regime, por sua proximidade do poder político, econômico… Creio que vale a pena recordar que, durante sete décadas, a maioria dos presidentes do comitê de arbitragem foram ex-sócios, ex-jogadores ou ex-dirigentes do Real Madrid. Durante 70 anos, as pessoas que designavam aqueles que tinham que fazer justiça no terreno de jogo eram ex-membros do Real Madrid. Que este clube se posicione e diga que se sente prejudicado pelo melhor período desportivo da história do Barcelona… Esse juízo servirá para desmascará-los. É um exercício de cinismo sem precedentes”, falou Laporta, sem qualquer tom de novidade, mas com uma oficialidade inédita a esse tipo de acusação – tanto da relação com o franquismo quanto da histórica proximidade com as arbitragens.
O vídeo de resposta do Real Madrid foi produzido pelo canal de televisão institucional do clube. Apontam que o Barcelona condecorou o ditador Francisco Franco com três medalhas, assim como o nomeou como sócio de honra. Também apontam que a inauguração do Camp Nou teve a presença de políticos franquistas, ao passo que a ditadura apoiou o Barça em momentos distintos de dificuldades econômicas. Os merengues ainda ressaltam os oito títulos de La Liga e nove da Copa do Rei faturados pelos barcelonistas no regime, enquanto apontam que os madridistas esperaram 15 anos para levar sua primeira taça em La Liga. Reforça como membros do Real Madrid também foram perseguidos, exilados e até assassinados pela ditadura. Inclusive o presidente Santiago Bernabéu é citado, refutando a alcunha de “equipe do regime”.
O que o Barcelona apontou é de conhecimento público. De fato, o clube tem uma posição de defesa, pela perseguição inegável do franquismo ao nacionalismo catalão e a membros do clube que faziam parte do poder nos tempos republicanos. Há episódios famosos, como a suposta intimidação nos vestiários durante os 11 a 1 do Real Madrid pela Copa do Rei em 1943. Enquanto isso, o Real Madrid viveu seu período dourado num momento em que era usado de bandeira internacional pelo franquismo e desfrutou de benefícios paralelos. Mas não que o Barça estivesse totalmente isento de relações com o regime, algo basicamente imperativo em qualquer ditadura, ou que o Real Madrid tenha sido usado de imediato pelo governo – algo que aconteceu antes, inclusive, com o Atlético Aviación, o atual Atlético de Madrid.
Cada lado vai defender a versão da história que for mais conveniente. Cada lado vai negar as tantas vezes em que houve benefício da arbitragem. E, por enquanto, o Barcelona leva a melhor por desviar o foco do tema mais quente do noticiário.
— Real Madrid C.F. (@realmadrid) April 17, 2023