Numa noite de três pênaltis, o Barcelona 2×2 Atlético serviu para fazer o Real Madrid sorrir
A crise se deflagra no Barcelona neste recomeço do Campeonato Espanhol. Parte da torcida já começou a se resignar com a ideia de que pode não alcançar mais o Real Madrid na liderança, com os problemas de Quique Setién e da diretoria cada vez mais expostos. Assim, para mudar o clima na Catalunha, uma vitória sobre o Atlético de Madrid nesta terça-feira seria fundamental. Mas não foi o que ocorreu no Camp Nou. Num jogo em que a arbitragem volta a ser debatida na Espanha, três pênaltis ditaram os rumos do intenso empate por 2 a 2. Mas, ainda que faça suas reclamações, o Barça precisa reconhecer que outra vez ficou abaixo do ideal e não destrancou a defesa do Atleti. No fim das contas, quem ri é o Real, que pode abrir mais pontos de vantagem.
O Barcelona trouxe novidades à sua escalação. Antoine Griezmann mais uma vez apareceu no banco. Nesta terça, Quique Setién optou por escalar um quarteto no meio-campo, formado por Arturo Vidal, Sergio Busquets, Ivan Rakitic e Riqui Puig – destaque por suas boas aparições recentes. Já na linha de frente, Lionel Messi e Luis Suárez puxavam o carro. O Atlético de Madrid, por sua vez, manteria ideias e apenas rodaria suas peças, como Diego Simeone tem feito nesta maratona de partidas. Suspenso, Koke era o principal desfalque. O meio-campo veio alinhado com Ángel Correa, Saúl Ñíguez, Thomas Partey e Yannick Ferreira-Carrasco. Já na frente, Diego Costa estava acompanhado por Marcos Llorente.
Durante os primeiros minutos, o Atlético logo mostrou que queria seu gol no Camp Nou. O começo dos colchoneros foi melhor e, rondando a área dos catalães, Carrasco assustou em cobrança de falta. O cruzamento passou por todo mundo e Marc-André ter Stegen só viu a bola seguir para a linha de fundo. A resposta do Barça não demorou a vir, tentando destravar a marcação cerrada dos rojiblancos, com mais energia do que se viu contra o Celta. Aos oito minutos, Oblak buscaria o chute de Ivan Rakitic. E não demoraria para que a loucura tomasse conta do duelo.
Aos 11, o Barcelona abriu o placar graças a uma infelicidade de Diego Costa. O centroavante acabara de ajudar a defesa ao afastar uma cobrança de falta de Messi. Logo depois, em escanteio batido pelo argentino, o sergipano tentou desviar e mandou contra as próprias redes. Oblak ficou vendido. E os blaugranas mal tiveram tempo de desfrutar a vantagem. Três minutos depois, Carrasco arrancou e terminou derrubado na área por Vidal. Pênalti aos colchoneros.
O árbitro Alejandro José Hernández Hernández também começaria a aparecer como figura do jogo. Não exatamente por esta marcação, mas por mandar voltar a cobrança. Diego Costa chutou no canto esquerdo de Ter Stegen e o goleiro espalmou. O juiz, com aviso do VAR, preferiu flagrar que o alemão se adiantou – de fato, um passo à frente da linha, mas nada tão anormal em relação ao que normalmente acontece em qualquer cobrança. Saúl assumiu o novo tiro e manteve o canto, mas o arqueiro pulou para o outro lado e viu a bola entrar, selando o empate. Gerard Piqué, que tanto vociferou contra as arbitragens nos últimos dias, recebeu o amarelo por reclamação.
Era uma partida sem muitas chances de gol, mas estratégias distintas entre as duas equipes e alta intensidade, o que deixava o duelo mais disputado. O Atlético se fechava bem na defesa e fazia um trabalho excepcional para bloquear os espaços ao Barcelona. Messi não tinha muita liberdade e, mesmo assim, era quem mais tentava. Quase fez num chute que seguiu com perigo para fora. Os colchoneros buscavam sair em velocidade, mas sem acertar as suas estocadas na frente. O Barça tinha mais iniciativa, com quase 75% de posse de bola, mas a falta de infiltração persistia. Oblak só voltou a intervir em cobrança de falta venenosa de Messi, no fim do primeiro tempo. Já nos acréscimos, a zaga catalã apareceu na hora exata para se safar dos riscos.
O segundo tempo mal começou e a arbitragem voltou a aparecer. Aos dois minutos, um toque muito leve de Felipe resultou na falta dentro da área sobre Semedo, confirmada por Antonio Mateu Lahoz na cabine do VAR. Uma marcação questionável se teria sido forte o suficiente. Messi pegou a bola no pênalti e mandou uma cavadinha sublime, para marcar o tento de número 700 de sua carreira. O gol não modificou a estrutura do Atlético, ainda confiando em seu trabalho defensivo e nos contragolpes. A partida seguia na mesma toada, com o Barça em vantagem, mas sem poder se descuidar.
Diego Costa chegou a ameaçar em cabeçada, mas parecia só existir um caminho possível para balançar as redes conscientemente na noite: os pênaltis. Outra vez a marca da cal seria apontada aos 15 minutos, num avanço de Carrasco – a grande válvula de escape dos rojiblancos, incomodando demais pela esquerda. O belga até parecia ter tropeçado nas próprias pernas, mas recebeu um leve toque do joelho de Semedo em seu pé e se desequilibrou. Outra marcação contestável pela sutileza, embora Hernández Hernández e Mateu Lahoz mantivessem seus critérios de apitar ao mínimo contato. Saúl mais uma vez arrematou e Stegen até resvalou na bola, mas nada suficiente à defesa. Outra vez o placar estava empatado.
A tensão ficava evidente e a obrigação era do Barcelona, ainda com severas dificuldades para superar as trincheiras do Atlético. Vidal e Semedo se combinaram com qualidade, mas o chileno (aparecendo bastante na segunda etapa) errou o alvo. Logo as substituições começaram a acontecer, com Sergi Roberto no Barcelona e João Félix no Atlético. Os dois treinadores buscavam novo fôlego e Simeone trocou seu ataque praticamente inteiro logo cedo. O Barça insistia, mas parecia sentir mais o peso do cansaço e da falta de ideias. Era limitado na criação, com Riqui Puig servindo de respiro.
O Barcelona não desistiria até o final. Busquets chegou a cabecear uma bola para fora, mas os blaugranas não encontravam uma solução para vencer a zaga colchonera com a bola no chão. E os minutos derradeiros guardariam seus perigos aos anfitriões, com algumas boas escapadas do Atlético. A defesa do Barça suou em alguns momentos para travar os contragolpes dos rojiblancos, com direito a um tiro de João Félix para fora e um passe cortado por Jordi Alba na hora exata, quando Stegen estava fora. Ansu Fatih e Antoine Griezmann entraram do outro lado só no finzinho, mesmo com Suárez apático, mas apenas o prodígio teria sua chance – sem sucesso. Os míseros quatro minutos dados ao francês, aliás, enfatizam o péssimo momento.
O Barcelona sofre seu terceiro empate nas últimas quatro rodadas e, assim, pode permitir que o Real Madrid se desgarre. Os merengues estão com 100% de aproveitamento nesta retomada de La Liga e podem abrir até quatro pontos na liderança, caso vençam o Getafe nesta quinta-feira. Já o Atlético de Madrid, que vinha de quatro vitórias consecutivas, não reclama tanto da igualdade. Com 59 pontos, a equipe segue firme na terceira colocação. São cinco pontos de distância na zona de classificação à Champions, o objetivo desta reta final de campanha.