Muito bom no Athletic e útil aos outros clubes que defendeu, Fernando Llorente se aposenta aos (quase) 38 anos
O veterano, campeão do mundo e europeu pela Espanha, estava sem clube desde que deixou o Eibar ao fim da última temporada
Centroavante dos bons, identificado com o Athletic Bilbao, que se reinventou como um reserva de impacto e foi campeão do mundo, Fernando Llorente anunciou a sua aposentadoria, quase uma semana antes de completar 38 anos. Ele não atuava desde o fim da última temporada quando o seu contrato com o Eibar, da segunda divisão, chegou ao fim. Tem planos de ser comentarista e avisou que vai jogar pádel para manter a forma física.
Questionado pelo Movistar+ se o veríamos novamente nos gramados, o novo jogador daquele esporte que é meio uma mistura de tênis com vôlei disse: “Não, não. Tenho essa ideia bem clara. Agora, para me manter em forma, vou jogar pádel. Estou feliz e contente. Estou parado há oito meses desde que deixei o Eibar em junho e estou vendo o que gosto agora que deixei o futebol”. E foram muitos anos de futebol.
Llorente, com 1,95 metros de altura, estreou entre os profissionais do Athletic Bilbao em janeiro de 2005, promovido por Ernesto Valverde. Rapidamente se destacou como um centroavante dos mais clássicos, forte no jogo aéreo e com presença de área. Ainda precisou de alguns anos para se firmar, o que aconteceria em 2007/08, quando se tornou titular na segunda metade da temporada e começou jogando 24 jogos de La Liga.
Conseguiu chegar aos dois dígitos em gols em cinco edições consecutivas do Campeonato Espanhol. A sua melhor, individualmente, foi em 2010/11, quando marcou 18 vezes. No ano seguinte, com Marcelo Bielsa, faria 17 gols em La Liga, mas 29 por todas as competições, contando a campanha que terminou com a final da Liga Europa em que marcou nos dois jogos contra o Manchester United nas oitavas de final, guardou dois contra o Schalke 04 nas quartas e foi decisivo na vitória por 3 a 1 sobre o Sporting em San Mamés. Deu duas assistências para igualar o confronto e arrancou a vaga na decisão marcando aos 43 minutos da etapa final.
O brilho chamou a atenção de outros clubes, mas, como acontece com muitas estrelas do Athletic Bilbao, ir embora não foi fácil. Entrou em 2012/13 no último ano do seu contrato. Havia um interesse forte da Juventus que naturalmente se recusou a pagar a multa rescisória porque poderia tê-lo de graça na temporada seguinte. Nem a recusa em assinar um novo vínculo fez os bascos moderarem sua posição. Em outubro, Llorente abandonou um treino após discutir com Bielsa. Marcou apenas quatro vezes naquela campanha e jogou bem menos que nas anteriores.
Em 2013, encerrou sua passagem pelo Athletic Bilbao com 116 gols em 332 jogos em nove anos entre os profissionais e acertou com a Juventus. Daqui para frente, sua carreira oscilou. Chegou bem à Velha Senhora. Titular na Serie A, voltou a registrar sua média de um gol a cada duas rodadas mais ou menos, mas, no ano seguinte, embora continuasse a ser usado na liga italiana, teve participação menor na Champions League, com a chegada de Álvaro Morata. Marcou muito menos (nem chegou a 10 por todas as competições) e disputou apenas cinco minutos da final europeia contra o Barcelona.
A Juventus reforçou ainda mais o seu ataque no verão de 2015, com Mario Mandzukic, Paulo Dybala e Simone Zaza, e fechou um acordo para rescindir o contrato de Llorente. Livre no mercado, ele acertou com o Sevilla, pelo qual teve uma breve passagem. No ano seguinte, encarou uma grande aventura: o Swansea, na Premier League. Seus 15 gols em 33 rodadas foram essenciais para o clube galês escapar do rebaixamento. Após vê-lo de perto, o Tottenham, que passará a carreira inteira de Harry Kane procurando um centroavante reserva para ele, decidiu testar Fernando Llorente nessa função.
Talvez tenha sido o que mais retribuiu até agora. Não em números brutos, mas em impacto. Não brilhou muito no seu primeiro ano e teve poucas chances no começo do segundo, o que levou o Tottenham a explorar uma transferência em janeiro. No entanto, uma lesão no tornozelo de Harry Kane lhe concedeu algum espaço e ele aproveitou. Ainda em janeiro, fez gol decisivo para levar a semifinal da Copa da Liga para os pênaltis contra o Chelsea. Contribuiu para (até resolveu) três vitórias seguidas pela Premier League em fevereiro e foi o protagonista do grande momento de todo o trabalho de Mauricio Pochettino no norte de Londres: o gol que eliminou o Manchester City nas quartas de final da Champions League.
Apesar de toda a gratidão que recebeu, não foi suficiente para continuar no Tottenham. Saiu para o Napoli, em 2019, e mais uma vez atuou como o centroavante-reserva-grandão-que-briga-com-os-zagueiros-e-tenta-fazer-um-gol-no-desespero. Não teve tanto destaque. Após um ano e meio, buscou um recomeço na Udinese que não passou de seis meses. Na sua última temporada com profissional, Llorente fez dois gols em 22 jogos pelo Eibar, quase todos na segunda divisão espanhola.
Quando estava no auge pelo Athletic Bilbao, ganhou chances com a seleção. Foram apenas 24 jogos, mas ele acertou muito bem o timing: era reserva na África do Sul (fez apenas 31 minutos contra Portugal nas oitavas de final) e nem saiu do banco na Eurocopa de 2012. No entanto, colecionou duas medalhas importantes. É um campeão do mundo. Em suas andanças europeias, conquistou dois títulos italianos pela Juventus, uma Liga Europa com o Sevilla (se bem que, a essa altura, quem nunca conquistou uma Liga Europa pelo Sevilla?) e duas Copas da Itália, uma pela Velha Senhora e outra pelo Napoli. Além de ter disputado duas finais de Champions League, mesmo que por poucos minutos.
Sua carreira teve duas fases bem distintas. A primeira, com estabilidade, em um clube com o qual se identificava, marcando fim de semana sim, fim de semana não. Quando bateu a ambição, tentou dar um passo à frente, mas raras vezes conseguiu ir muito além de uma opção de elenco até ser efetivado como um reserva nos últimos anos. Teve seus grandes momentos mesmo nesse segundo período e se despede do futebol com um currículo de respeito.