Golaço na madrugada: futebol para insones na estreia de Ronaldinho no Camp Nou em 2003
Ronaldinho nunca foi um jogador comum. Contratado pelo Barcelona em 2003, foi apresentado no dia 19 de julho e fez jogos amistosos nos Estados Unidos. A sua estreia no Camp Nou foi uma história peculiar. Um jogo realizado de madrugada, que marcou o primeiro gol do craque brasileiro no estádio do Barcelona. E não foi um gol qualquer. Também não era um jogador qualquer. E, portanto, não poderia ser uma história qualquer. Aquela noite, ou melhor, aquela madrugada ficou conhecida como “futebol para insones”.
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O Barcelona estrou no Campeonato Espanhol contra o Athletic Bilbao, fora de casa, e o time comandado por Frank Rijkaard venceu por 1 a 0, gol do holandês Philip Cocu. Havia uma grande expectativa em torno da estreia de Ronaldinho no Camp Nou em jogos oficiais. Tinha estreado no Troféu Joan Gamper, no dia 22 de agosto, contra o Boca Juniors, mas agora era para valer. Contratado por € 25 milhões (mais € 5 milhões em bônus que acabaram sendo pagos), Ronaldinho era a grande aposta do presidente Joan Laporta para virar a maré, que andava muito ruim para o clube.
Eram cinco anos sem título espanhol e o time estava apenas na Copa da Uefa. Ronaldinho era, portanto, um sinal de esperança, depois da demonstração de força ao vencer uma acirrada disputa com o Manchester United. Ronaldinho era um jogador conhecido à época por gostar da noite. Companheiros de equipe no PSG diziam que ele treinava apenas uma vez por semana. Rumores dizem que Ronaldinho cumprimentou Lionel Messi em seu primeiro treino com o time profissional sem nem dormir, vindo direto da noite de Barcelona. Aliás, há quem diga que Ronaldinho escolheu Barcelona ao invés do Manchester United justamente pela cidade e o que ela oferecia em atrativos noturnos.
Quando o Barcelona o contratou, havia um temor que ele pudesse se perder na noite da cidade. Os torcedores temiam que em vez de ter suas sagradas horas de descanso, Ronaldinho passasse as noites marcando gols, metaforicamente falando. Só que foi justamente assim que ele estreou. Ou melhor, não exatamente assim, mas ele estreou, sim, em Barcelona marcando um gol – um golaço, aliás – na madrugada barcelonista. Só que nem diretoria, nem torcedores se importaram com isso, porque ele literalmente estava marcando um gol de madrugada na sua estreia na cidade: foi em um jogo contra o Sevilla, em um gol marcado quando o relógio marcava 1h30 da manhã do dia 3 de setembro de 2003. Mas como diabo isso aconteceu?
Naquela época, o calendário de jogos internacionais ainda estava um tanto quanto bagunçado. Quer dizer, na Europa, porque aqui no Brasil o caos segue reinando absoluto. O Barcelona estava ameaçado de não ter Ronaldinho, que teria que se apresentar à seleção brasileira. Outros clubes, como o Real Madrid e Villarreal, anteciparam os jogos da rodada de meio de semana de quarta, 3 de setembro, para terça, 2 de setembro, para poder contar com seus jogadores de seleção – que, naquela época, já representavam uma boa parcela do elenco.
Inicialmente, o Sevilla aceitou a ideia de antecipar o jogo. O presidente do Sevilla, José Maria del Nido, recusou e insistiu em jogar na data marcada, na quarta-feira. Você já sabe onde vamos parar, não é? O presidente Joan Laporta, do Barcelona, então informou Del Nido que o jogo seria na quarta-feira. A cinco minutos da quarta-feira. E marcou o jogo para 0h05. Isso mesmo: meia noite e cinco minutos da quarta-feira. O Sevilla ficou furioso, mas o Barcelona bateu o pé para poder jogar com suas principais estrelas – e ter Ronaldinho estreando no Camp Nou.
É claro que o jogo nesse horário precisou de uma operação completamente diferente do habitual no Camp Nou. Contratou uma pessoa diferente para ser o locutor do estádio, estendeu o horário de funcionamento do famoso museu do clube até meia noite e prometeu atrações, como tenores (não os três tenores, mas cantores líricos). Mais do que isso, fez uma ação com 25 mil pacotes de Doritos salsa, 40 mil Gazpachos, 30 mil iogurtes Actimel, pães Bimbos e 100 mil Kit Kats. Tudo de graça para quem fosse ao estádio. E com todas as reclamações (justificadas, aliás) do Sevilla, além de críticas de veículos de imprensa de Madri (que surpresa), o evento acabou sendo um enorme sucesso.
O jogo teve 80.237 pessoas presentes, com seus salgadinhos e chocolates. O então jovem José Antonio Reyes, do Sevilla, descreveu o Camp Nou naquela noite como “a maior danceteria do mundo” e Ronaldinho como “espetacular”. As pessoas ficaram em um clima descrito como tão favorável que parecia que o Barcelona tinha ganhado o jogo. E não ganhou. Naquele dia, o placar acabou em 1 a 1. Só que seria um dia tão marcante que valeu o ingresso, mesmo com tudo isso. Ou por causa de tudo isso.
O Barcelona naquele dia tinha a sua espinha dorsal com Victor Valdés no gol, Carles Puyol na defesa, Luis Enrique com Xavi no meio-campo e Sergio Garcia no ataque. Pelos lados, Rijkaard jogou dois trunfos: Ronaldinho e Ricardo Quaresma (sim, aquele, que ainda joga). Do outro lado estava o Sevilla de José Antonio Reyes, Daniel Alves e Julio Baptista. E foi o time da Andaluzia que parecia disposto a estregar a noite dos catalães ao marcar 1 a 0 com Reyes, aos 10 minutos de jogo.
Quando o relógio marcava 1h30 da manhã, Valdés jogou a bola para Ronaldinho, que dominou antes do meio-campo. Ele avançou, passando por marcadores do seu jeito característico, avançando e finalizando com um chute forte e preciso: tocou no travessão e no chão, já dentro do gol, antes de estufar a rede. O primeiro gol de Ronaldinho foi um golaço. O primeiro dos seus golaços de madrugada em Barcelona – o único deles no gramado no Camp Nou. Um gol que igualou o placar em 1 a 1, aos 13 minutos do segundo tempo.
“Eu não esperava tanta gente vir para nos assistir a essa hora”, afirmou Ronaldinho depois do jogo. “Foi como um sonho jogar em frente a tantas pessoas considerando a hora”, continuou o estreante no estádio. “Foi um dos poucos gols que eu marquei de longa distância, já que não estou acostumado a marcar gols de longe e eu dedico o gol a todas as pessoas que vieram”.
Sim, ele marcaria muitos outros golaços nos cinco anos que defendeu o Barcelona, sendo um dos maiores craques a vestir a camisa blaugrana. Também chacoalhou a noite da cidade até que decidiu, nas palavras dele, deixar o clube rumo ao Milan, em 2008. Os rumores da época é que Pep Guardiola, o então novato ex-jogador promovido de técnico do time B, onde fez um grande trabalho, ao time principal, tinha a missão de renovar o elenco. E, assim, teria liberado Ronaldinho e Deco (este segundo foi para o Chelsea).
Quem poderia imaginar que o primeiro gol de Ronaldinho seria não só um golaço, mas um gol marcado depois da meia noite no Camp Nou? Abaixo você assiste a esse golaço histórico contra o Sevilla. E como nós sabemos que só esse gol de Ronaldinho não irá te satisfazer, porque Ronaldinho tem esse efeito nas pessoas, colocamos mais vídeos abaixo para que você desfrute. De nada.