La Liga

Clube a clube, este é o Guia Trivela de La Liga 2023/24

Analisamos todas as 20 equipes do Campeonato Espanhol, com o início de mais uma temporada

O Campeonato Espanhol perdeu fôlego nos últimos anos. A imagem de “Liga das Estrelas” minguou, especialmente a partir das saídas de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. A situação financeira passa longe da bonança da Premier League, enquanto mesmo em qualidade dos jogos o torneio perdeu terreno para a Serie A e para a Bundesliga. Não à toa, esse é um momento decisivo para La Liga se reposicionar. A competição traz uma nova marca e uma tentativa de rejuvenescimento. Precisa valorizar o que tem de melhor: a história de seus clubes, a capacidade de formar talentos, as rivalidades locais. E, nestes pontos, a temporada que se inicia nesta sexta promete ser bastante interessante.

O Barcelona chega como atual campeão e grande candidato ao título, mesmo andando em areia movediça pela má gestão de tanto tempo. O time sólido de Xavi continua, com ótimas doses de talento, ainda mais pela chegada de Ilkay Gündogan e pelos garotos que reivindicam espaço. O Real Madrid é o principal concorrente. Tem Vinícius Júnior e Rodrygo, agora também Jude Bellingham. Mas perdeu Karim Benzema, perdeu Thibaut Courtois e não tem respostas às reposições. São dúvidas graúdas nas duas pontas do campo. Mais silencioso, talvez o Atlético de Madrid possa meter o bedelho. O elenco se fortaleceu, o trabalho de Diego Simeone voltou a se revigorar e Antoine Griezmann é um genuíno candidato a craque.

No mais, La Liga guarda boas disputas. Muitos times se candidatam às vagas europeias, como se viu na última temporada. Real Sociedad, Villarreal, Betis, Osasuna, Athletic Bilbao e Sevilla são os principais, mas há espaço para surpresas. Da mesma forma, muita gente vai lutar contra o rebaixamento. E o drama na rabeira promete se concentrar, mais uma vez, sobre o Valencia. Aproveitando a abertura do Campeonato Espanhol, preparamos nosso tradicional guia da competição, clube a clube. Aproveite!

Jogadores do Barcelona comemoram (PAU BARRENA/AFP via Getty Images)

Barcelona

Estádio: Estádio Olímpico de Montjuïc (49,5 mil espectadores)
Técnico: Xavi
Posição em 2022/23: Campeão
Projeção: Briga pelo título
Principais contratações: Oriol Romeu (M, Girona), Ilkay Gündogan (M, Manchester CIty), Iñigo Martínez (Z, Athletic Bilbao)
Principais saídas: Nico González (M, Porto), Francisco Trincão (A, Sporting), Sergio Busquets (M, Inter Miami), Jordi Alba (D, Inter Miami), Samuel Umtiti (D, Lille), Franck Kessié (M, Al-Ahli)
Brasileiros no elenco:  Raphinha

O crescimento do Barcelona sob as ordens de Xavi é concreto e se transformou em taça. Se a sua primeira temporada na casamata guardou um rabo de foguete ao antigo craque, com a missão de recuperar os blaugranas em descrédito, o último ano foi glorioso. Xavi conseguiu estabelecer um estilo de jogo, aproveitou o mercado de transferências engordado pelas tais “alavancas econômicas” e levou o Barça de novo ao topo de La Liga. Pode não ter sido o momento mais vistoso dos culés na história recente, com os repetitivos 1 a 0 no cartel. Entretanto, poucas vezes a equipe foi tão funcional. Contou com uma defesa praticamente intransponível, sobretudo no Camp Nou, e um ataque que se valeu de sua nova grande estrela, Robert Lewandowski.

Em teoria, a nova temporada do Barcelona começa interessante. O clube segue com limitações no mercado de transferências, mas ainda assim conseguiu trazer boas peças. Oriol Romeu não era o volante dos sonhos nem do clube, mas possui uma história em La Masía e apresentou suas credenciais na pré-temporada. Vai limpar os trilhos e ainda achar bons passes, mesmo que abaixo do nível fantástico de Sergio Busquets. Ilkay Gündogan era um dos melhores negócios possíveis e o Barça teve sorte pela escolha do alemão. Conquistou tudo o que podia no Manchester City, saiu em alta na última temporada e, sem contrato, chegou para um novo desafio na Catalunha. Já na defesa, Iñigo Martínez deverá fazer parte da rotação principal e é um dos beques mais tarimbados de La Liga.

Entretanto, nem tudo deve ser tranquilo para o Barcelona. A inscrição de jogadores em La Liga permanece em xeque. Nada menos que dez atletas blaugranas ainda não foram inscritos para a próxima temporada, diante das limitações nas finanças do clube. A lista inclui os três reforços recentes, bem como outros que já estavam no elenco. Um caminho é o acionamento de mais uma alavanca econômica ligada à venda de uma porcentagem do Barça Studios. Entretanto, a saída de mais jogadores também tende a beneficiar as estruturas internas dos culés.

Será uma temporada para ampliar a nova era do Barcelona, especialmente depois das despedidas de Sergio Busquets e Jordi Alba. Ambos figuravam entre os grandes símbolos do clube, mas o tempo pesava e as saídas aliviam a folha de pagamentos – por mais que Busquets ainda tenha feito uma campanha maiúscula na cabeça de área, sobretudo no segundo turno. Outros que não estavam nos planos também saíram de vez, a exemplo de Antoine Griezmann e Samuel Umtiti. Enquanto isso, o Barça poderá se desfazer inclusive de jogadores que contribuíram à conquista do último Campeonato Espanhol. O adeus de Ousmane Dembélé parece quase certo, com a oferta do Paris Saint-Germain. Franck Kessié confirmou seus novos rumos antes e se tornou um ativo com o interesse saudita, vendido ao Al-Ahli.

Se conseguir inscrever todos os jogadores, o Barcelona continua com um dos elencos mais fortes da Espanha e candidatíssimo a brigar pelo bicampeonato. A começar por Marc-André ter Stegen, uma das grandes certezas do clube nos últimos anos. O goleiro fez uma de suas melhores temporadas da carreira em 2023/24 e se tornou ainda mais importante na hierarquia. Seus números nos últimos meses foram históricos e, com vários resultados apertados do Barça na campanha do título, não foram poucos os jogos decididos por milagres do alemão.

Pesa também a qualidade da linha de zaga do Barcelona. Ronald Araújo é mais um que virou um esteio do Barça, com atuações em altíssimo nível. Jules Koundé e Andreas Christensen corresponderam à aposta do clube, especialmente pelo encaixe do francês na lateral direita. Alejandro Balde também se torna uma segurança na esquerda, mesmo com a despedida de Alba, pronto para ser dono da posição por longos anos. E isso sem desconsiderar os bons nomes entre os reservas, a exemplo de Sergio Roberto e Marcos Alonso.

O meio-campo do Barcelona é o setor que vem mais modificado para a próxima temporada. Oriol Romeu deve ser mesmo o cadeado para trancar o setor, dando mais espaço aos criativos à frente. E aí sobra qualidade técnica. Gündogan é mais um, o mais badalado como reforço e talvez o mais capacitado para resolver partidas com seus chutes de média distância. Frenkie de Jong bateu o pé para continuar na Catalunha e se provou instrumental, tanto que ninguém mais cogita vendê-lo. Enquanto isso, Pedri e Gavi amadurecem a olhos vistos. Foram dois protagonistas na conquista de La Liga, em especial Pedri, com algumas apresentações deslumbrantes mesmo com os problemas de lesão.

Já na frente, a garantia de gols do Barcelona é Lewandowski. A média de gols do polonês caiu na temporada passada, em relação ao que fazia no Bayern, mas seus números ainda foram superlativos. Seu início no clube empolgou, pela forma como repetidamente garantiu os resultados. A queda no segundo turno não parece uma preocupação tão grande. Raphinha oscilou, mas cresceu em momentos importantes. Ferran Torres e Ansu Fati se desvalorizaram um pouco, mas parecem capazes de entregar mais.

E, pelo que se viu na pré-temporada, os garotos da base podem ser um impulso extra. É bem provável que Xavi aproveite melhor os canteranos. Lamine Yamal tem só 16 anos, mas precisou de pouquíssimos minutos para mostrar como é diferente. Talvez se torne o resguardo para a saída de Dembélé. Abde Ezzalzouli rendeu bem no empréstimo ao Osasuna e se mostra disposto a ganhar novas chances no Barça. Para a ligação, Fermin López foi mais um que correspondeu em seus minutos nos amistosos, até mesmo com golaço no clássico contra o Real Madrid nos Estados Unidos.

Já outro desfalque que o Barcelona precisa considerar para a próxima temporada é a falta do Camp Nou. O estádio passará por reformas e, em consequência, os blaugranas atuarão no Estádio Olímpico de Montjuïc. É um palco histórico, das Olimpíadas de 1992, mas com uma capacidade de público menor e que talvez impacte em termos de adaptação. Outro ponto de inflexão para o Barça está nas copas europeias, com desempenhos fracos desde a chegada de Xavi, contrastando com o que se vê em La Liga. Ainda assim, o time da temporada passada mostra que pode crescer em diferentes frentes. O ciclo pode ser mais duradouro.

Rodrygo e Vinícius Júnior (Foto: KHALED DESOUKI/AFP via Getty Images/One Football)

Real Madrid

Estádio: Santiago Bernabéu (83,2 mil espectadores)
Técnico: Carlo Ancelotti
Posição em 2022/23: Vice-campeão
Projeção: Briga pelo título
Principais contratações: Jude Bellingham (M, Borussia Dortmund), Arda Güler (M, Fenerbahçe), Fran García (D, Rayo Vallecano), Joselu (A, Espanyol)
Principais saídas: Karim Benzema (A, Al-Ittihad), Marco Asensio (A, Paris Saint-Germain), Eden Hazard (A, sem clube), Mariano Díaz (A, sem clube)
Brasileiros no elenco: Éder Militão, Reinier, Rodrygo e Vinícius Júnior

Seria leviano descartar o Real Madrid de qualquer ambição, mas os merengues iniciam a temporada numa encruzilhada. Por enquanto, há mais perguntas que respostas aos merengues rumo a La Liga 2023/24. Não que a equipe de Carlo Ancelotti se distancie do título, muito pelo contrário. É o mais pronto para desbancar o Barcelona, mesmo que tenha deixado a desejar em 2022/23. O problema são as novelas que se estendem ao redor do Bernabéu e a falta de direção a algumas questões cruciais. Pois, afinal, lacunas surgiram.

Karim Benzema não fez sua melhor temporada no Real Madrid, mas a anterior beirou o absurdo. Diante de uma oferta faraônica da Arábia Saudita, provavelmente a última por sua idade, o craque optou por sair. A decisão é plenamente compreensível, mas deixou o Real Madrid com uma questão a resolver: como preencher a ausência do jogador mais importante do clube nos últimos cinco anos? Joselu chegou, mas não é a resposta. Kylian Mbappé está destinado a ser o herdeiro de Benzema, mas quem está desesperado é o PSG para vender, e os merengues vão cozinhar a negociação para não gastar uma fortuna. Há a alternativa de se virar com as peças à disposição, o que também demandaria uma adaptação tática.

O que Ancelotti tantas vezes utilizou na pré-temporada foi um ataque mais leve, composto por Vinícius Júnior e Rodrygo. Sem um centroavante de ofício, os dois garotos puderam circular mais e produzir mais na finalização das jogadas. Entretanto, os resultados deixaram em xeque se vale mesmo acreditar tanto nesse esquema. Os blancos venceram Milan e Manchester United, mas também sofreram derrotas para Barcelona (num resultado enganoso pelas bolas na trave) e Juventus. Resta saber a convicção de Carletto sobre tais planos, ainda com Joselu para entregar seus golzinhos sendo um homem de área.

Como se não bastasse, do outro lado do campo o Real Madrid teve uma péssima notícia às vésperas de sua estreia. Thibaut Courtois sofreu uma grave lesão ligamentar e passará os próximos meses em recuperação. É uma perda não só por ser um dos melhores goleiros do mundo, que resolve partidas, mas também pela segurança que transmite aos seus companheiros. Se o mercado por arqueiros já anda concorrido nesta janela de transferências, os merengues precisarão tirar o coelho da cartola se quiserem um novo medalhão – embora a aposta em Andriy Lunin devesse ser cogitada.

A própria situação do treinador é um ponto de interrogação. A CBF jura de pés juntos que possui um acordo para a próxima temporada. Em Madri, ninguém dá tal mudança tão certa assim. Ancelotti tem seu compromisso com o Real Madrid e um peso histórico dentro do clube, como responsável por dois títulos da Champions. Mas não que uma troca de comando pareça tão distante assim, com rumores de que o próprio Florentino Pérez se abriria ao adeus do italiano dentro de alguns meses – quem sabe, para repatriar Zinédine Zidane pela enésima vez.

Certo é que nem só de novelas vive o Real Madrid. A próxima temporada tem uma grande história no Bernabéu e ela atende pelo nome de Jude Bellingham. O meio-campista custou uma fortuna ao clube, mas precisou de pouquíssimo tempo para justificá-la. As apresentações na pré-temporada foram bem animadoras. O inglês se mostrou um jogador completo, mesmo atuando numa posição menos usual, como um meia de ligação encostado nos dois atacantes. A pecha de craque não parece pesar a ele. Arda Güler deve ser trabalhado com mais calma, mas é outro que acrescenta demais por sua habilidade na meia direita. Além de Joselu, Fran García é um promissor lateral esquerdo para compor o elenco. Isso sem falar na volta de Brahim Díaz, que pode ser útil após passar pelo Milan.

Com ou sem Mbappé, o Real Madrid preserva um dos elencos mais equilibrados da Espanha. Uma preocupação natural estará no gol, sem Courtois. Os madridistas devem correr contra o tempo para achar uma reposição, mas Andriy Lunin foi bem quando testado. A zaga teve muitas trocas e lesões na última temporada, mas há alternativas em todas as posições. Éder Militão, David Alaba e Antonio Rüdiger formam um conjunto principal excelente, enquanto há bons nomes dentro da rotação. Dá para ser inclusive um pouco mais confiável do que nos últimos meses. E serão mais exigidos, sem Courtois para salvar a pátria.

A maior fonte de talentos do Real Madrid continua no meio-campo. Toni Kroos e Luka Modric permanecem como os dois maestros merengues, por mais que a saída de Casemiro tenha sido sentida. Aurélien Tchouaméni pode não ter feito a temporada perfeita, mas correspondeu bem no primeiro ano e é jovem. Eduardo Camavinga evoluiu mesmo no período em que atuou improvisado como lateral e tem moral com Ancelotti. Federico Valverde teve momentos espetaculares e podia ser considerado inclusive o melhor do time às vésperas da paralisação para a Copa do Mundo. É outro que se torna imprescindível, seja onde entrar na equipe. Dani Ceballos adiciona características distintas dentro do leque do time. Bellingham, Güler e Brahim viram cerejas no bolo.

Já na frente, mesmo que exista uma discussão sobre a camisa 9, estão em ótimas mãos a 7 e a 11. Vinícius Júnior foi o melhor do Real Madrid com sobras na última temporada. Está entre os melhores do mundo, indiscutivelmente. Poucos jogadores na atualidade são tão capazes de esmerilhar defesas e criar ocasiões de gol com pouco espaço. Sua evolução se nota a olhos vistos. E ele parece mais disposto a se firmar como protagonista, especialmente pela forma como peitou o racismo. Rodrygo é uma excelente companhia, cada vez mais maduro e consciente em seu jogo. Pode não ter sido tão contagiante como Vini, mas fez tantas partidas maiúsculas nos últimos meses. Não à toa, seu espaço se tornou maior. Enquanto isso, Joselu vive seu conto de fadas aos 33 anos, de volta ao clube que o formou. Vai entregar gols ocasionais, como tão bem mostrou pela seleção da Espanha.

La Liga exige um ritmo que o Real Madrid não conseguiu demonstrar na última temporada. E com as tais lacunas, fica mais difícil de encontrar a regularidade. Talvez a resposta passe mesmo pelos dois grandes nomes do time. Vinícius Júnior, logo mostrando o porquê conseguiu crescer tanto nas últimas temporadas e se colocar em pé de igualdade com Benzema. Bellingham, provando que o preço é só um número e que seu talento individual será um novo trunfo nas mãos de Carlo Ancelotti. Precisarão fazer isso contra um Barcelona mais pragmático, mas competitivo ao extremo. E, neste momento, mais encaixado.

Antoine Griezmann comemora o gol do Atlético (Icon sport)

Atlético de Madrid

Estádio: Civitas Metropolitano (70 mil torcedores)
Técnico: Diego Simeone
Posição em 2022/23: Terceiro colocado
Projeção: Briga pelo título
Principais contratações: Javi Galán (D, Celta), Santiago Mouriño (D, Racing-URU) Çaglar Söyüncü (D, Leicester), César Azpilicueta (D, Chelsea)
Principais saídas: Matheus Cunha (A, Wolverhampton), Renan Lodi (D, Olympique de Marseille), Geoffrey Kondogbia (M, Olympique de Marseille), Matt Doherty (D, Wolverhampton)
Brasileiros no elenco: Samuel Lino

Colocar o Atlético de Madrid como candidato ao título para a próxima temporada parece até ousadia. Claramente os colchoneros continuam com um elenco inferior ao de Barcelona e Real Madrid, numa janela de transferências silenciosa no Metropolitano. Todavia, o segundo turno da última edição de La Liga mostrou como o Atleti pode render mais. Diego Simeone mais uma vez lidava com as críticas e alguns decretavam o fim de seu ciclo com os rojiblancos. Quando se acertou depois da Copa do Mundo, porém, o Atlético apresentou um futebol vistoso até raro para a longa passagem do argentino. Cravou seu lugar na Champions e ameaçou o Real Madrid pelo vice.

Simeone é um treinador de dimensões únicas na história do Atlético de Madrid e também na história recente de La Liga. O argentino não é o mais querido por suas ideias, mas já não pode ser acusado de não saber como repensar o seu time e buscar alternativas. Foi exatamente o que fez na última campanha, ao conseguir sua guinada no segundo turno outra vez no 3-5-2. Os dez pontos atrás do Barcelona nem parecem uma distância tão grande, considerando a campanha bem mais linear dos blaugranas. Resta saber se o ritmo continuará alto nesta retomada de trabalho, o que nem sempre aconteceu com os colchoneros durante os últimos anos.

A lista de reforços do Atlético de Madrid se concentra na defesa. As alternativas realmente andavam mais limitadas no setor, especialmente pela quantidade de lesões. Várias soluções chegaram, e a baixo custo. César Azpilicueta chega como uma bandeira do Chelsea, mesmo caminhando ao final da carreira. Çaglar Söyüncü foi um dos melhores zagueiros da Premier League em seu auge, mas deixou a desejar nos últimos anos com o Leicester e precisa se recuperar. A lateral esquerda ganha mais uma peça para a rotação com Javi Galán, com qualidade inclusive para se tornar titular. Outro que merece atenção é Samuel Lino, de volta do empréstimo ao Valencia, depois de ser um dos melhores do time na claudicante campanha dos Ches. Tende a virar uma arma nas mãos de Simeone.

E o grande reforço do Atlético de Madrid, na verdade, chegou depois da Copa do Mundo. O que Antoine Griezmann jogou no segundo turno de La Liga foi brincadeira, melhor jogador do campeonato na metade final. Pode ter sido uma versão menos elétrica do francês, em relação ao seu auge na passagem anterior pelos colchoneros. Em compensação, foi uma versão mais cerebral – e, em certos aspectos, até mais prazerosa de ver jogar. A maneira como o craque conduziu o time em grandes vitórias e resolveu partidas impressionou. Com os laços definitivamente cortados com o Barcelona, ele pode ter tranquilidade para terminar de se redimir e se consolidar na história do Atleti como bem merece.

No geral, não deixa de ser um time extremamente forte. Jan Oblak permanece com condições de se colocar entre os melhores goleiros do mundo, apesar da temporada atribulada por sua ausência na reta final. É um dos mais importantes do elenco. José María Giménez precisa ficar mais saudável, o que nem sempre é simples, mas a linha de zaga está mais resguardada com os novos reforços. Azpilicueta vai muito bem com três zagueiros pelo lado direito, enquanto Söyüncü pode crescer com Simeone. Olho também em Mario Hermoso, com menos holofotes, mas vindo de ótima temporada. Ainda há a volta de Reinildo Mandava após seus problemas com lesão.

O meio-campo é um dos setores mais experientes do Atlético de Madrid, mas precisa de um pouco mais de continuidade. Sem dúvidas pode render mais, diante das alternativas de Marcos Llorente, Koke, Rodrigo De Paul e Axel Witsel. Simeone lançou o garoto Pablo Barrios no segundo turno e ele pede passagem, com apenas 20 anos. Vale prestar atenção também em Saúl Ñíguez, que parece disposto a dar a volta por cima após um período de ostracismo. Já nas alas, figuras influentes. Nahuel Molina se encheu de confiança após a conquista da Copa do Mundo e jogou demais na reta final de La Liga. Participou decisivamente de vários gols e parece primordial ao esquema de Simeone. Yannick Carrasco também desequilibra com constância na esquerda e terá boa alternativa graças a Javi Galán.

Já na frente, com Antoine Griezmann assumindo um papel mais na ligação, a chave estará em encontrar uma fórmula ideal de encaixar as peças. Ángel Correa é um homem de confiança, especialmente por sua entrega e pelos lampejos geniais. Thomas Lemar segue como uma cartada. Álvaro Morata tem seus poréns, mas entrega seus gols. Quem pode render um pouco mais é Memphis Depay, com seus primeiros meses no novo clube atrapalhados pelas condições físicas. E a novela que se arrasta é sobre João Félix. Poderia ser um jogador muito mais importante, mas Simeone nunca o aproveitou da melhor maneira e ele mesmo também nem sempre se mostrou disposto. Dentre os pratas da casa que voltam de empréstimo, Sergio Camello e Rodrigo Riquelme podem auxiliar, pelos bons serviços prestados a Rayo Vallecano e Girona na temporada passada.

O grande primeiro passo para o Atlético de Madrid será uma boa largada em La Liga. Com a Champions recheando o calendário no primeiro semestre, o clube encontra dificuldades para conciliar as competições. Entretanto, se a fórmula do segundo turno do último Espanhol continuar funcionando, as perspectivas dos colchoneros se tornam melhores. Fincar o pé no G-4 por tantas temporadas consecutivas é importante, mas as brechas de Barça e Real também permitem sonhos maiores – como foi em 2020/21.

(Foto: Marca/Icon Sport)

Real Sociedad

Estádio: Reale Arena (39,5 mil torcedores)
Técnico: Imanol Alguacil
Posição em 2022/23: Quarto colocado
Projeção: Briga por Champions
Principais contratações: Hamari Traoré (D, Rennes), André Silva (A, RB Leipzig)
Principais saídas: David Silva (M, fim de carreira), Alexander Sörloth (A, RB Leipzig), Portu (A, Getafe), Asier Illarramendi (M, Dallas), Andoni Gorosabel (Alavés)
Brasileiros no elenco: Nenhum

Não é de hoje que a Real Sociedad se estabeleceu no primeiro pelotão do futebol espanhol, entre os clubes que lutam pelo G-4. E o retorno à Champions League demorou a acontecer, considerando o desempenho em algumas das temporadas recentes. Costumeiramente os txuri-urdin se colocavam entre os primeiros no turno inicial e lutavam até pela liderança. Contudo, caíam de nível e acabavam se contentando com a Liga Europa. Pesava o elenco curto e os problemas físicos. Não foi o que aconteceu em 2022/23. O rendimento se manteve e a volta à Champions após uma década aconteceu sem sobressaltos.

O torneio continental, assim, representa um novo desafio para a Real Sociedad. O clube precisará conciliar as duas frentes, sem realizar incrementos tão grandes no elenco. O mercado de transferências é modesto na Reale Arena. Hamari Traoré se torna uma alternativa sem custos para a lateral e André Silva é uma nova opção como centroavante, após o fim do empréstimo de Alexander Sörloth. Muito mais custoso, e insubstituível, será lidar com a perda de David Silva. Nem sempre o meia esteve inteiro, mas foi o líder técnico e espiritual das ótimas campanhas da Real durante os últimos anos. Sua aposentadoria inesperada, depois de uma lesão sofrida na pré-temporada, não deixa de ser um duro golpe.

A boa notícia é que outros pilares continuam em Donostia. A começar pelo técnico Imanol Alguacil, um dos mais longevos de La Liga e que conduz a bonança da Real Sociedad desde 2018. É um personagem muito querido pela torcida, que conhece o clube como poucos e que consegue aplicar um estilo de jogo tão funcional quanto agradável. Mesmo o olhar que possui para as categorias de base auxilia esse desenvolvimento dos txuri-urdin. Seu lugar na história foi garantido por um título da Copa do Rei, mas é sempre especial poder figurar num torneio como a Champions pela primeira vez.

Um desafio da Real Sociedad, nem sempre simples de lidar, é manter seu elenco saudável. A defesa possui bons nomes. Álex Remiro é um goleiro seguro o suficiente e abre bem a escalação. Já a defesa conta basicamente com jogadores espanhóis, exceção feita ao recém-chegado Hamari Traoré, antiga liderança do Rennes e da seleção de Mali. De resto, muitos bons jogadores, em especial Robin Le Normand. O francês de nascimento adotou a Espanha como país e participou de sua primeira conquista na última Liga das Nações. É o esteio do setor, com boas companhias como Igor Zubeldía e Aritz Elustondo.

Se por um lado David Silva saiu, por outro o meio-campo manteve outras referências, mesmo com o adeus do também veterano Asier Illarramendi rumo aos Estados Unidos. A principal permanência é a de Martín Zubimendi. O volante de 24 anos era tratado como prioridade por Xavi, mas preferiu permanecer na Real Sociedad diante da oferta do Barcelona. O time de Imanol Alguacil não começa sem ele. As parcerias por ali são muito boas, especialmente com Mikel Merino vivendo um momento de graça e Brais Méndez servindo como uma adição um pouco mais recente, de imediato encaixe.

Já no ataque, Sörloth sai como artilheiro do time, mas há alternativas. André Silva já teve momentos ótimos na carreira, mesmo sem corresponder no RB Leipzig. Mais importante, Umar Sadiq volta da lesão que o tirou da última temporada e poderá mostrar seu valor. Ainda há o garoto Mohamed-Ali Cho, de perceptível potencial apesar das contusões. Nas pontas, dois protagonistas. Takefusa Kubo fez uma temporada maiúscula em sua chegada ao País Basco e foi um dos grandes responsáveis pela vaga na Champions, especialmente por aquilo que entregou no segundo turno. Mikel Oyarzabal sofre com as lesões e rendeu pouco em sua volta, mas continua como uma liderança dos txuri-urdin. Os garotos locais também podem entregar, como Ander Barrenetxea e Jon Karrikaburu.

Até por não ocorrerem mudanças de direção tão repentinas, fica difícil de imaginar a Real Sociedad muito distante do G-4. A questão está mesmo em como o clube lidará com essa nova etapa, enfim na Champions. As campanhas recentes na Liga Europa dão sinais positivos, especialmente pela forma como competiu com Manchester United e Roma em 2022/23. Mas não é o gigantismo continental que faz os bascos tirarem os pés do chão em seu planejamento.

(PIERRE-PHILIPPE MARCOU/AFP via Getty Images/One Football)

Villarreal

Estádio: Estádio de la Cerámica (23 mil espectadores)
Técnico: Quique Setién
Posição em 2022/23: Quinto colocado
Projeção: Briga por Liga Europa
Principais contratações: Alexander Sörloth (A, RB Leipzig), Ramón Terrats (M, Girona), Ben Brereton Díaz (A, Blackburn), Santi Comesaña (M, Rayo Vallecano), Denis Suárez (M, Celta), Ilias Akhomach (A, Barça Atlètic), Matteo Gabbia (D, Milan)
Principais saídas: Nicolas Jackson (A, Chelsea), Pau Torres (D, Aston Villa), Samuel Chukwueze (A, Milan), Boulaye Dia (A, Salernitana), Arnaut Danjuma (A, Everton), Vicente Iborra (M, Olympiacos), Giovani Lo Celso (M, Tottenham)
Brasileiros no elenco: Nenhum

O Villarreal atravessa um momento de transição desde a temporada passada. A saída de Unai Emery rumo ao Aston Villa foi o primeiro ponto de cisão em relação à conquista da Liga Europa em 2020/21. Quique Setién foi o escolhido para o comando do Submarino Amarelo e, de certa maneira, conseguiu recuperar um pouco de sua reputação, manchada pela infeliz passagem no Barcelona. O inventivo treinador teve algumas sequências ruins e recebeu vaias da torcida de início, mas as boas sequências foram até mais frequentes e renderam aplausos. Os valencianos apresentaram um estilo de jogo ofensivo, que valeu importantes vitórias e garantiu a vaga na Liga Europa. Talvez o único lamento tenha ficado mesmo para a eliminação precoce na Conference, nas oitavas de final contra o Anderlecht, em torneio no qual os espanhóis pintavam entre os favoritos.

Muito maior é a quebra atual em relação ao elenco. O mercado de transferências rendeu €109,5 milhões para o Villarreal, mas o clube terá que se virar sem alguns de seus principais jogadores nos últimos feitos. A principal liderança a sair foi Pau Torres, filho querido do clube e personagem memorável na defesa. Resolveu se juntar a Unai Emery no próprio Aston Villa. Já o ataque ganhou um bom dinheiro com as vendas dos jovens Nicolas Jackson e Samuel Chukwueze, dois nomes com potencial de protagonizar o Submarino Amarelo. O setor sofreu uma renovação maior com despedidas de outras peças que não eram aproveitadas, a exemplo de Boulaye Dia e Arnaut Danjuma.

O dinheiro no caixa não significou que o Villarreal gastou horrores em contratações. Pelo contrário, o clube se mostra bem conservador nas transferências. Mas a quantidade de novidades é o mais importante. Matteo Gabbia vem por empréstimo do Milan como alternativa a zaga. O meio ganhou Ramón Terrats em definitivo, além de adições muito interessantes de Santi Comesaña e Denis Suárez, dois jogadores experimentados em La Liga. Já o ataque agora será comandado por Alexander Sörloth, vendido pelo RB Leipzig e de boa temporada na Real Sociedad. Ben Brereton Díaz se promete uma atração ao chegar sem custos do Blackburn. Os valencianos ainda pinçaram Ilias Akhomach, promessa do Barcelona que preferiu deixar a Catalunha e é muito elogiado pela habilidade da ponta para dentro.

Nem todos os problemas do time parecem resolvidos. Pepe Reina ainda é o goleiro mais experiente, mas muito longe de seu melhor, e Filip Jörgensen talvez não esteja preparado o suficiente para a missão. Sem Pau Torres, a defesa dependerá mais da referência de Raúl Albiol, outro medalhão que continua no Madrigal. Mas é um setor bem servido de nomes – a exemplo de Juan Foyth, Alfonso Pedraza, Alberto Moreno e Aïssa Mandi. Um pouco mais de profundidade nas alternativas também seria importante.

O meio terá outra ausência com o fim do empréstimo de Giovani Lo Celso junto ao Tottenham. Dani Parejo é o condutor do Villarreal e continua com bom rendimento, a ponto de ser especulado por outros clubes. Quique Setién o valorizou, mais protegido na cabeça de área. O maestro ficou no Madrigal e tem outros jogadores rodados ao lado, a exemplo de Étienne Capoue. Quem cresce dentro do clube é Álex Baena, uma das principais peças da última temporada, mesmo com somente 20 anos. Ficou marcado pelo lamentável episódio com Federico Valverde, mas também apresentou bom futebol. Com Denis Suárez e Santi Comesaña, o leque de possibilidades parece completo. Comesaña, em especial, também pode virar titular.

Já o ataque perdeu alternativas importantes, mas tem qualidade para ser reconstruído. Yeremy Pino é o grande talento pelas pontas que continua, com a pecha de jogador de seleção mesmo aos 19 anos. É outro que pode se valorizar muito mais, quem sabe para ser vendido por um preço mais alto que o pago por Nicolas Jackson. Gerard Moreno vem de uma temporada de baixa, sem as melhores condições físicas, mas o histórico respalda o herói da conquista da Liga Europa. José Luis Morales, independentemente da idade, ainda é um bom reserva à disposição. E as novidades permitirão Quique Setién redesenhar o time, especialmente pela polivalência de Brereton Díaz em qualquer função e pela efetividade de Sörloth. Com as novidades, talvez o ataque seja a menor das preocupações.

Independentemente das perdas, o Villarreal é um dos clubes com linhas de trabalho mais claras de La Liga. É isso que sustenta o sucesso do Submarino Amarelo ao longo de duas décadas. A diretoria mostrou ser capaz de reinventar a competitividade em outros momentos. E como Quique Setién não cai exatamente de paraquedas para a nova temporada, com tempo para planejar o redesenho do time sem os jogadores perdidos, talvez o impacto se torne menor do que a relevância das saídas indicaria. É preciso provar quando a competição começar, já que os resultados da pré-temporada foram ruins.

(Foto: CRISTINA QUICLER/AFP via Getty Images/One Football)

Betis

Estádio: Benito Villamarín (60,7 mil torcedores)
Técnico: Manuel Pellegrini
Posição em 2022/23: Sexto colocado
Projeção: Briga por Champions
Principais contratações: Héctor Bellerín (D, Sporting), Ayoze Pérez (A, Leicester), Marc Bartra (D, Trabzonspor), Álex Collado (A, Barcelona), Marc Roca (M, Leeds), Chadi Riad (D, Barcelona), Isco (M, sem clube)
Principais saídas: Sergio Canales (M, Monterrey), Diego Lainez (A, Tigres), Edgar González (D, Almería), Loren Morón (A, Aris), Martín Montoya (D, Aris), Víctor Ruiz (D, sem clube), Joaquín (A, fim de carreira)
Brasileiros no elenco: Luiz Felipe, Abner, Luiz Henrique, Willian José

A temporada do Betis foi boa, mas poderia ser muito melhor por aquilo que o time prometeu durante o início de La Liga. Os verdiblancos frequentaram as primeiras posições na tabela e a classificação para a Champions parecia ao alcance graças ao ótimo arranque. O rendimento não se sustentou, o que também é normal. Entretanto, as sequências de resultados ruins afastaram os andaluzes de seus melhores sonhos durante o segundo turno. A Liga Europa se tornou um prêmio de consolação pouco animador, diante das circunstâncias.

Será uma temporada também de mudanças no Betis. Os verdiblancos não contarão mais com Joaquín, o maior jogador da história do clube, que permanecia como uma enorme motivação nos vestiários. O velho craque continuará frequentando os corredores do Benito Villamarín, mas sem a capacidade de mudar o rumo das partidas. Entre aqueles que saem, outra perda sentida é a de Sergio Canales. O meia não se confirmou como uma grande promessa que pintou até no Real Madrid, mas foi um nome bem digno em períodos importantes dos beticos. Numa idade mais avançada, prefere ganhar um dinheiro a mais no Monterrey.

O mercado do Betis, por enquanto, soa como um museu de novidades. Vários dos jogadores contratados chegaram sem custos, respaldados por boas passagens recentes pelo clube. São os casos de Héctor Bellerín e Marc Bartra, dois talentos que podem auxiliar demais se recuperarem a melhor forma. Ayoze Pérez também assinou em definitivo, ao final de seu empréstimo. Marc Roca foi cedido pelo Leeds United por empréstimo e pode render bem no meio-campo, sem compensar as expectativas de quando saiu ao Bayern. Já a incógnita fica em relação a Isco. O bom futebol do meia ficou num passado distante nos tempos de Real Madrid e a estadia no Sevilla seria turbulenta. Com o contrato rompido em dezembro, acabou se mudando aos rivais.

Outro trunfo do Betis é a longevidade de Manuel Pellegrini no clube. O treinador vai para a sua quarta temporada à frente dos verdiblancos e o rendimento no geral é bom. Os beticos muitas vezes geram mais expectativas do que cumprem, mas o veterano de 69 anos faz bem o seu papel, ao manter o time nas copas europeias. O que também o respalda é a conquista da Copa do Rei há dois anos, num raro triunfo dos andaluzes. Entretanto, com a bonança vivida pelo Sevilla até na crise, existem pressões para que se faça mais no Benito Villamarín.

O elenco do Betis é razoável para ao menos manter o sarrafo em busca de mais uma vaga na Liga Europa. O gol tem duas ótimas opções com Rui Silva e o veterano Claudio Bravo. Já a defesa não é o setor mais qualificado, mas conta com um conjunto razoável de bons jogadores liderado por Germán Pezzella e Luiz Felipe. O crescimento de jovens como Juan Miranda e Abner também pode ser importante, em especial do primeiro, em quem se confia muito na Andaluzia. E as opções melhoram, com os supracitados retornos de Bellerín e Bartra.

O meio-campo ainda conta com figuras de muita experiência como Andrés Guardado, William Carvalho e Guido Rodríguez. Nabil Fekir teve sua temporada interrompida por uma grave lesão ligamentar e só deve voltar em setembro, mas é craque e resolve partidas. A boa notícia fica por conta do excelente Rodri Sánchez, que ascende como um talento dos verdiblancos e voltou com moral do Europeu Sub-21. Já na frente, Borja Iglesias continua entregando muitos gols, com a retaguarda de William José. As pontas também possuem bons nomes como Juanmi e Aitor Ruibal. Quem pode crescer mais é Luiz Henrique, que teve atuações espetaculares em algumas partidas, mas nem sempre entregou o esperado. Olho também no argentino Juan Cruz, destaque da pré-temporada.

Um ponto importante para o Betis é que as finanças do clube enfrentam problemas. Desde a temporada passada, os verdiblancos tiveram dificuldades para inscrever seus reforços. É algo que atravanca um pouco mais esse salto, sem tantos ativos para que os andaluzes vendam. Até por isso, conseguir uma vaga na Champions seria tão importante. Se o elenco ficar saudável e o talento individual prevalecer no azeitado coletivo, o sonho não é tão longínquo.

Osasuna

Estádio: El Sadar (23,6 mil espectadores)
Técnico: Jagoba Arrasate
Posição em 2022/23: sétimo colocado
Projeção: Briga por Liga Europa
Principais contratações: Alejandro Catena (D, Rayo Vallecano), José Manuel Arnáiz (A, Leganés), Johan Mojica (D, Villarreal), Raúl García de Haro (A, Betis)
Principais saídas: Aridane Hernández (D, Rayo Vallecano), Abde Ezzalzouli (A, Barcelona), Manu Sánchez (D, Atlético de Madrid)
Brasileiros no elenco: Nenhum

O Osasuna teve a pré-temporada mais turbulenta da Espanha, e por motivos que fugiram de seu próprio controle. Os Rojillos vinham de uma temporada inesquecível, em que disputaram a final da Copa do Rei e foram consistentes o suficiente para conseguir a vaga na Conference League. O problema é que a Uefa tentou barrar a volta dos navarros ao cenário continental. Um caso de corrupção esportiva ocorrido na década passada era a justificativa da entidade continental. O detalhe é que a atual diretoria havia denunciado o episódio e apresentado as provas contra seus antecessores. O caso se arrastou na justiça espanhola e rendeu prisões, enquanto o Osasuna sequer foi beneficiado com a armação, num momento em que precisou se reconstruir da rabeira na segunda divisão. No fim das contas, prevaleceu o bom senso e a sanção foi retirada.

O imbróglio, entretanto, impactou no planejamento do Osasuna para sua próxima temporada. Os navarros não puderam buscar muitos reforços, diante da aparição na Conference League. Não vão tirar os pés do chão, algo que se repete no trabalho da atual gestão. A equipe mantém um elenco basicamente com atletas espanhóis e muitos deles revelados pelas categorias de base. As chegadas de Johan Mojica, Alejandro Catena, Raúl García de Haro e José Manuel Arnáiz são pontuais, com foco na defesa. Ex-Barça B, Arnáiz vem para suprir a principal perda no ataque: Abde, que estava emprestado pelos blaugranas e foi uma das sensações na última campanha.

Para tranquilidade da torcida, Jagoba Arrasate permanece no El Sadar, mesmo se mostrando pronto a saltos maiores. O treinador vai para a sua sexta temporada à frente do Osasuna. Foi ele o responsável por resgatar o clube na segunda divisão e por fazer um trabalho seguro na elite, com campanhas de meio de tabela até a vaga nas copas europeias. É uma equipe muito sólida em seu 4-1-41, que consegue roubar pontos de adversários mais badalados e não precisa se valer apenas de seu caldeirão para conquistar triunfos. Faz tudo isso sem grandes estrelas.

Sergio Herrera e Aitor Fernández se revezaram como as duas principais opções no gol durante a última temporada, com vantagem para o segundo neste momento. A defesa possui o protagonismo de David García, zagueiro que usa a braçadeira de capitão e chegou à seleção espanhola. É o coração do time, num setor que ainda possui nomes rodados como Unai García e Nacho Vidal. A saída de Manu Sánchez, emprestado pelo Atlético de Madrid, também é uma perda. Por outro lado, Alejandro Catena chega cheio de moral pela importância no Rayo Vallecano e deve ser o parceiro ideal de García.

O meio-campo se firma ao redor de Lucas Torró, a âncora à frente da defesa e o mais fiel representante de Jagoba Arrasate em campo. Mais à frente, se soltam Jon Moncayola e Aimar Oroz. O último, aos 20 anos, é daqueles que podem aproveitar os novos passos para crescer. Já o ataque dividiu bem a incumbência de produzir gols. Chimy Ávila é o mais notável talento, aberto na ponta, onde Moi Gómez também se destaca. Como referência, Ante Budimir aproveita seu oportunismo, mas Raul García de Haro chega com moral após acumular gols na segunda divisão. Entretanto, a saída de Abde custa um pouco em qualidade individual. Arnáiz já passou pelo clube, enquanto nas últimas temporadas se destacava na segundona pelo Levante.

A Conference League deve ser tratada como um adendo para o Osasuna, não como objetivo final. Manejar o desgaste do calendário recheado será um desafio para Jagoba Arrasate, até pelo estilo intenso de sua equipe. O objetivo principal dos Rojillos é se firmar como um adversário temido e respeitado na parte de cima da tabela. Conseguiram cumprir isso brilhantemente em 2022/23.

Nico Williams comemora (Juan Manuel Serrano Arce/Getty Images/One Football)

Athletic Bilbao

Estádio: San Mamés (53,3 mil espectadores)
Técnico: Ernesto Valverde
Posição em 2022/23: oitavo colocado
Projeção: Briga por Liga Europa
Principais contratações: Iñigo Ruiz de Galarreta (M, Mallorca), Javier Martón (A, Sanse)
Principais saídas: Iñigo Martínez (D, Barcelona), Oier Zarraga (M, Udinese), Mikel Balenziaga (D, Deportivo de La Coruña), Unai Vencedor (M, Eibar), Ander Capa (D, sem clube)
Brasileiros no elenco: Nenhum

O Athletic Bilbao não empolgou na última temporada. Existiam boas expectativas sobre o clube, com os destaques do elenco consolidados e a volta de Ernesto Valverde. Entretanto, a campanha dos bascos foi errática. Os Leones até largaram bem de início e rondaram o G-4, mas isso não durou muito. As alternâncias atrapalharam o time, sobretudo na virada dos turnos. O Athletic desperdiçou muitos pontos contra rivais inferiores e mesmo em confrontos diretos. No fim das contas, sequer deu pra se manter na zona da Conference. O time só venceu um de seus últimos oito compromissos, com direito a uma goleada do Villarreal por 5 a 1.

A desconfiança se torna um pouco maior para o novo ciclo. Ernesto Valverde continua no clube e é um treinador importante na história do Athletic, assim como possui uma trajetória vitoriosa com o Barcelona. Mas não deu para notar uma consistência tão grande ou um padrão de jogo durante o último campeonato. Os Leones foram mais vulneráveis que deveriam na defesa e isso custou pontos importantes, para pelo menos garantir uma vaga nas copas europeias.

Além do mais, não é no mercado de transferências que o Athletic vai mudar de patamar. As restrições do clube ao redor de jogadores bascos tornam as possibilidades bastante limitadas. Há uma perda significativa em Iñigo Martínez, um nome importante, mas que saiu sem mostrar muita consideração pelo clube – tal qual tinha feito com a Real Sociedad. O lado bom é que ninguém saiu, mesmo os mais cortejados, como Nico Williams. Já entre as novidades, quem chama um pouco mais de atenção é Iñigo Ruiz de Galarreta, titular na boa campanha do Mallorca. Javier Martón pode ser uma alternativa no ataque pela boa pré-temporada, vindo da filial da Real Sociedad, a Sanse.

O lado bom é que, mesmo com os entraves, o Athletic Bilbao possui um conjunto bom o suficiente para almejar uma vaga na Liga Europa. Unai Simón é o goleiro da seleção, tem um nível de desempenho ainda maior pelo clube e ainda conta com um bom reserva em Julen Aguirrezabala. Yeray Álvarez se firma como principal liderança na defesa, com notável imposição. Também é importante a ascensão de Dani Vivian depois de uma boa temporada, ainda mais com a saída de Iñigo Martínez. As laterais contam com a experiência de Óscar de Marcos, uma bandeira dos Leones, e de Yuri Berchiche.

O meio-campo possui a experiência de Ander Herrera, mas a volta do maestro não foi tão boa. Mais constante foi Mikel Vesga. Já uma das melhores notícias da última temporada foi o rendimento de Oihan Sancet, que desequilibrou em muitos jogos e possui uma boa margem de crescimento aos 22 anos. Iker Muniain é menos frequente em campo, mas continua como uma liderança, pronto para se tornar recordista em jogos dos bascos. Nico Williams é o maior talento do time, capaz de arrastar defesas com suas arrancadas pelos lados do campo. Já na frente, apesar das inconstâncias, Iñaki Williams continua como um dos mais dedicados da equipe e tem seus jogos imparáveis. Ainda há a presença do interminável Raúl García, que mira o recorde de partidas de La Liga, que pertence a Joaquín. Álex Berenguer é mais um bom nome na rotação pelos lados.

Por nomes, o Athletic Bilbao não fica devendo para outros oponentes acima na tabela, que conseguiram a vaga nas copas europeias. A estabilidade financeira garante bons salários, enquanto o clube sempre faz jogo duro com seus maiores talentos e só vende com o pagamento da cláusula rescisória. Depende bem mais do entrosamento e da capacidade do treinador para dar um passo além. Qualidade existe, mas ficou aquém das expectativas na última campanha.

Rajkovic, do Mallorca (Foto: Divulgação)

Mallorca

Estádio: Son Moix (23,1 mil espectadores)
Técnico: Javier Aguirre
Posição em 2022/23: nono colocado
Projeção: Meio de tabela
Principais contratações: Cyle Larin (A, Valladolid), Siebe van der Heyden (D, Union St. Gilloise), Manu Morlanes (M, Villarreal), Omar Mascarell (M, Elche), Toni Lato (D, Valencia), Samu Costa (M, Almería), Sergi Darder (M, Espanyol)
Principais saídas: Lee Kang-in (M, Paris Saint-Germain), Iñigo Ruiz de Galarreta (M, Athletic Bilbao), Ángel Rodríguez (A, Tenerife), Matija Nastasic (D, sem clube)
Brasileiros no elenco: Nenhum

O Mallorca possui um projeto esportivo bastante interessante, que se consolida em La Liga depois de algumas temporadas em que acessos e descensos se tornaram comuns. O resultado da última temporada foi animador, com as ambições na parte de cima da tabela. Não apenas os maiorquinos passaram longe dos riscos de rebaixamento, como flertaram com as chances de descolar uma vaga nas copas europeias. Entretanto, talvez seja mais um ponto fora da curva do que uma tendência. O elenco tem seus destaques, mas não será fácil repetir o desempenho pelo segundo ano consecutivo na metade de cima.

Um dos trunfos do Mallorca está no comando técnico. Javier Aguirre é um dos mais experientes de La Liga e faz um bom trabalho no clube, relembrando seu auge por Osasuna e Atlético de Madrid. A última temporada foi a primeira completa do mexicano em Son Moix. Conseguiu formar uma equipe com boa dose de pegada, alinhada no 5-3-2, que soube aproveitar como poucas o mando de campo. Ao todo, 10 das 14 vitórias da campanha aconteceram em casa, assim como somente quatro das 16 derrotas.

O destaque do Mallorca rendeu uma perda significativa, mas não tinha como segurar Lee Kang-in diante da oferta do Paris Saint-Germain. O sul-coreano apresentou seu potencial e garantia boas doses de desequilíbrio em Son Moix. Até pela venda, o clube reinvestiu e trouxe novas peças para todos os setores. A grande adição foi Sergi Darder, um reforço caro e de história no Espanyol, trazido após o rebaixamento. Cyle Larin é outro que fica na elite após cair, depois de anotar seus gols na curta passagem pelo Valladolid. Quem pode crescer é o zagueiro Siebe van der Heyden, destaque da Union St. Gilloise nas boas campanhas recentes. Olho no meio-campista Samu Costa, jovem de boa temporada pelo Almería.

O elenco do Mallorca, no geral, é suficiente para garantir mais uma temporada acima dos riscos. Predrag Rajkovic é goleiro de clube até maior e foi um achado dos bermellones. A defesa possui jogadores competitivos como o lateral Pablo Maffeo, que tem seu valor apesar da imbecilidade com Vinícius Júnior nos últimos duelos. Jaume Costa é outro bom lateral do outro lado, enquanto Van der Heyden parece pronto a assumir a titularidade pela faixa central da defesa – onde outras opções principais são Antonio Raíllo e José Copete.

O meio-campo é o setor mais experimentado da equipe, tendo à disposição Manu Morlanes, Dani Rodríguez, Clément Grenier e Omar Mascarell. Não são jogadores fora de série, mas cumprem a missão. Sergi Darder tende a preencher o espaço deixado por Lee Kang-in como referência técnica. Já na frente, Vedat Muriqi é o ponto focal do time e o grande responsável pelos ótimos resultados recentes. Além de fazer muito bem o pivô e servir de alvo num jogo mais vertical, é um perigo constante no jogo aéreo. Pode se dar muito bem na parceria ao lado de Cyle Larin, mas explosivo, mas bastante oportunista.

Por recursos, o Mallorca não se mostra um time tão interessante dentro de La Liga. Mas conta com mecanismos bem azeitados por Javier Aguirre e características que valorizam equipes de recursos limitados. Vai ser um adversário chato de enfrentar para qualquer grande. A diferença na tabela estará pela forma como os bermellones também tentarão se impor contra concorrentes mais modestos.

(Alex Caparros/Getty Images/One Football)

Girona

Estádio: Montilivi (13,4 mil espectadores)
Técnico: Míchel
Posição em 2022/23: Décimo colocado
Projeção: Meio de tabela
Principais contratações: Artem Dovbyk (A, Dnipro-1), Yangel Herrera (M, Manchester City), Iván Martín (M, Villarreal), Daley Blind (D, Bayern de Munique), Paulo Gazzaniga (G, Fulham), Sávio (A, Troyes), Pablo Torre (M, Barcelona)
Principais saídas: Oriol Romeu (M, Barcelona), Ramón Terrats (M, Villarreal), Taty Castellanos (A, New York City), Rodrigo Riquelme (A, Atlético de Madrid)
Brasileiros no elenco: Yan Couto, Sávio

Pouca gente poderia imaginar uma temporada tão boa do Girona em sua volta à primeira divisão. Os catalães ainda levaram um tempo para pegar no tranco e passaram as 12 primeiras rodadas com só duas vitórias. A equipe, no entanto, cresceu especialmente após a pausa para a Copa do Mundo. Virou um time de muitos gols marcados e resultados expressivos – nenhum deles com o tamanho dos 4 a 2 sobre o Real Madrid. Não à toa, os alvirrubros puderam sonhar até com uma aparição na Conference. As derrotas na reta final custaram caro, mas o décimo lugar ainda assim foi um excelente prêmio.

O Girona precisará se virar sem alguns jogadores importantes. A proposta do Barcelona era irresistível a Oriol Romeu, um atleta até acima das possibilidades dos pequeninos, considerando sua história na Premier League. Taty Castellanos teve atuações mágicas e rumou à Lazio, enquanto Rodrigo Riquelme foi importante na ponta e ganhará chance no Atlético de Madrid, de onde veio emprestado. Em compensação, o Girona garantiu a permanência de outros nomes de relevo, a exemplo do goleiro Paulo Gazzaniga e do combativo Yangel Herrera. Também é uma janela de boas apostas. Artem Dovbyk é um jogador renomado por seu trabalho na seleção da Ucrânia. Savinho parece pronto para bagunçar defesas e encantou na pré-temporada, enquanto Pablo Torre traz o DNA barcelonista em seu empréstimo. Mesmo em queda abrupta, Daley Blind não deixa de ser um medalhão muito especial num clube relativamente modesto.

Também é importante a permanência de Míchel no comando do Girona. O treinador chegou ao clube em 2021 e, desde então, teve ótimos resultados em suas duas temporadas. Possui um aproveitamento acima dos 50% dos pontos disputados e um estilo de jogo agressivo, dentro das limitações que existem para os alvirrubros. Aos 47 anos, possui capacidade inclusive para se projetar a clubes mais tradicionais ou ainda se aventurar por outras ligas. Por enquanto, tentará um passo além na Catalunha.

O elenco do Girona possui uma boa mescla entre experiência e juventude. O goleiro Paulo Gazzaniga rodou bastante, especialmente pela Inglaterra. Já a defesa possui o talento de Arnau Martínez e Miguel Gutiérrez, dois laterais jovens que podem dar saltos maiores no futuro – Yan Couto é opção na lateral ou na ponta. O miolo de zaga ainda conta com o uruguaio Santiago Bueno, mais um jovem que se consolida na Catalunha. Compartilha a experiência de figuras como David López e Bernardo Espinosa.

Yangel Herrera atuou pouco na última temporada, mas sua importância se torna maior diante da saída de Oriol Romeu. Vai ser o carregador de piano. Quem também deve mostrar serviço é Aleix García, um dos melhores do time na última temporada e principal responsável por preencher a faixa central. Na construção, Pablo Torre pode aproveitar a vitrine. Já o ataque ganha novos ares com Dovbyk e Sávio. São bons acréscimos a um setor que já tinha ganhado recentemente Viktor Tsygankov, outro talento inegável do futebol ucraniano que ocupa a ponta esquerda. E não dá para ignorar Cristhian Stuani, mesmo que seus minutos em campo minguem. O uruguaio escolheu se dedicar ao Girona na reta final da carreira e continua oferecendo gols com certa frequência.

Pela movimentação no mercado e pela crescente dos últimos anos, o Girona parece ter melhores condições para se estabelecer na parte de cima da tabela do que concorrentes como Mallorca e Rayo Vallecano. Há uma linha de trabalho mais clara, que se assemelha um pouco ao que se nota no Osasuna. Obviamente, uma má sequência pode ser o suficiente para custar a confiança e botar em xeque o que se constrói na Catalunha. No mínimo, não parece time para correr grandes riscos de queda.

Rayo Vallecano comemora contra o Real Madrid (Foto: Angel Martinez/Getty Images/One Football)

Rayo Vallecano

Estádio: Vallecas (14,7 mil espectadores)
Técnico: Francisco Rodríguez
Posição em 2022/23: 11° colocado
Projeção: Meio de tabela
Principais contratações: Florian Lejeune (D, Alavés), Alfonso Espino (D, Cádiz), Aridane Hernández (D, Osasuna), Kike Pérez (M, Valladolid)
Principais saídas: Fran García (D, Real Madrid), Alejandro Catena (D, Osasuna), Santi Comesaña (M, Villarreal), Diego López (G, sem clubes), Mario Suárez (D, sem clube), Sergio Camello (A, Atlético de Madrid)
Brasileiros no elenco: Nenhum

O Rayo Vallecano sonhou. Como já tinha acontecido logo na volta à primeira divisão, a temporada passada também viu os franjirrojos ocuparem a zona de classificação às copas europeias e sonharem com uma campanha histórica. O desempenho da equipe no primeiro turno empolgava, pelo futebol agressivo e pelos grandes resultados. Até mesmo o Real Madrid foi vencido pelos rayistas no auge da equipe de Andoni Iraola. Entretanto, o ritmo caiu no segundo turno e a vaga na Conference escapou. Seriam poucas vitórias na reta final, ainda que o Rayo tenha sido dos poucos capazes a derrotar o Barcelona.

O sucesso teve seu preço. Andoni Iraola se firmou como um dos maiores técnicos da história do Rayo Vallecano, algo notável desde a conquista do acesso em 2020/21. O basco ficou muito grande para a casamata de Vallecas e resolveu se aventurar na Premier League, diante de uma oferta do Bournemouth. Francisco Rodríguez terá a missão de substituí-lo, mas não anima da mesma forma. O currículo cheio de clubes modestos da Espanha teve seu ponto alto em uma temporada à frente do Girona, na qual perdeu o acesso à primeira divisão justamente para o Rayo, na final dos playoffs da segundona. Terá a missão de ocupar a lacuna deixada pelo algoz.

O Rayo Vallecano também paga pelo preço do sucesso no mercado de transferências. O clube perdeu três peças centrais da última campanha. Fran García era uma venda até esperada, por tudo o que ofereceu na lateral esquerda, e assinou com o Real Madrid. As saídas de Alejandro Catena e Santi Comesaña também são notáveis, enquanto o garoto Sergio Camello voltou de empréstimo ao Atlético de Madrid. Não foram negócios que renderam dinheiro aos franjirrojos. As contratações são modestas, com um pouco mais de destaque à permanência de Florian Lejeune na zaga, comprado em definitivo. Kike Pérez e Alfonso Espino chegam como destaques de times que brigaram contra o rebaixamento.

É ver se, sem o seu grande mentor, o Rayo continua dando caldo. Stole Dimitrievski tende a ser mais exigido no gol do time, depois de acumular atuações milagrosas na temporada passada. Já a responsabilidade na defesa se torna maior sobre Florian Lejeune e Iván Balliu, diante das saídas de Fran García e Alejandro Catena. Aridane Hernández entrará ao lado de Lejeune na zaga, enquanto Alfonso Espino será um lateral combativo na esquerda, de bom papel no Cádiz. Iraola tinha uma base titular muito clara no setor.

No meio-campo, sem Comesaña, há outros nomes de relevo que ficam. Óscar Valentín e o ídolo Óscar Trejo foram as principais figuras do setor na última campanha, apoiados também por Unai López e Pathé Ciss. Kike Pérez chega do Valladolid com o status de provável titular na volância e gera expectativas. Já no ataque estão os mais tarimbados. Radamel Falcao García teve uma temporada muito atrapalhada pelas lesões, mas a chegada de Raúl de Tomás oferece outra boa alternativa para produzir os gols. Álvaro García também é importante na ponta esquerda, onde Bebé está de volta. Mas ninguém com a dimensão de Isi Palazón, não apenas o melhor da campanha, como um dos melhores do campeonato. Fez chover em algumas partidas.

O desafio do Rayo Vallecano é provar que a qualidade do elenco era superior à qualidade do treinador nas últimas temporadas. Não parece muito fácil de acreditar, especialmente com as perdas do meio para trás. A mudança de comando deixa um vácuo, mas ainda há recursos em Vallecas para uma volta por cima. Talvez não com vaga na Conference, mas suficiente para fugir dos temores de um novo rebaixamento.

José Luis Mendilibar com a taça da Liga Europa (Grzegorz Wajda / SOPA Images/Sipa USA/Icon sport)

Sevilla

Estádio: Ramón Sánchez-Pizjuán (43,9 mil espectadores)
Técnico: José Luis Mendilibar
Posição em 2022/23: 12° colocado
Projeção: Briga por Champions
Principais contratações: Loïc Badé (D, Rennes), Djibril Sow (M, Eintracht Frankfurt), Adrià Pedrosa (D, Espanyol)
Principais saídas: Karim Rekik (D, Al Jazira), Rony Lopes (A, Braga), José Ángel Carmona (D, Getafe), Bryan Gil (A, Tottenham), Pape Gueye (M, Olympique de Marseille), Alex Telles (D, Manchester United)
Brasileiros no elenco: Marcão, Fernando Reges

O Sevilla vem de uma temporada em que foi do inferno ao céu. Impressionava como nada se encaixava para os rojiblancos. É verdade que o elenco se enfraqueceu bastante com vendas polpudas e as reposições deixaram bastante a desejar, mas não era elenco para temer o rebaixamento, como aconteceu durante grande parte do campeonato. Julen Lopetegui via seu trabalho estagnar e foi demitido sem muita cerimônia, em meio ao carinho da torcida. Jorge Sampaoli voltou e não causou a reviravolta esperada. Só deu certo quando os sevillistas tiveram uma escolha mais modesta, com José Luis Mendilibar, acostumado a brigar na parte inferior da tabela. O comandante não apenas evitou a queda com uma grande arrancada, como repetiu o melhor dos sonhos dos andaluzes: conquistou a Liga Europa. A Champions League, do nada, surgia no horizonte.

O Sevilla não poderia tomar outra decisão diferente da manutenção de Mendilibar. Era o reconhecimento justo a um dos treinadores mais rodados da história do Campeonato Espanhol, que agarrou a oportunidade depois de anos roendo o osso com o Eibar. O veterano pode não ter a grife de outros colegas de profissão, mas possui recursos. Seu primeiro passo no Nervión foi colocar ordem na casa e proteger especialmente o sistema defensivo, com ideias simples e precisas – bem diferente das invencionices de Sampaoli. Contudo, é um comandante conhecido também por seu estilo intenso e que poderá aplicar um jogo mais agressivo em sua primeira temporada completa. Merece os créditos.

Outra mudança importante ocorrida no Sevilla esteve nos bastidores, com a saída de Monchi. O dirigente conseguiu outra segunda passagem memorável pelo clube, com mais dois títulos na Liga Europa, mas seu trabalho também deixou a desejar em alguns momentos. Na última temporada, além de mandar mal na reformulação da equipe, acumulou entreveros com jogadores. Preferiu se juntar a Unai Emery no Aston Villa. A essa altura, o sucesso dos sevillistas se sugere bem menos dependente do mago das contratações.

Só não dá para esperar muito do mercado. As contas do Sevilla estão apertadas e o clube também enfrenta problemas na inscrição de atletas. Não à toa, os negócios são bem contidos até o momento. Loïc Badé foi um dos principais zagueiros na conquista da Liga Europa e foi contratado em definitivo. Já Djibril Sow chegou do Eintracht Frankfurt para ser um eixo central na cabeça de área. A base deverá ser mais aproveitada por Mendilibar. As perdas pelo menos não são muito significativas, no máximo com jogadores que não tiveram seus empréstimos renovados, a exemplo de Bryan GIl e Alex Telles.

Mesmo sem grandes novidades, o elenco do Sevilla permanece forte o suficiente para almejar a parte superior da tabela e pelo menos brigar pelas copas europeias. Marko Dmitrovic possui grande moral com Mendilibar e foi usado com frequência no gol. Ainda assim, o clube segue contando com Bono, herói na reta decisiva da Liga Europa. O futuro do marroquino parece indefinido. Diante das propostas e do interesse do Real Madrid com a lesão de Courtois, não é de se descartar que os rojiblancos possam vendê-lo e ganhar um dinheiro extra.

A defesa permanece liderada por Jesús Navas, que ignorou a idade para fazer uma das melhores temporadas da carreira e voltar à seleção espanhola. Os lados do campo não são muito problema, até pelas alternativas de Gonzalo Montiel e Marcos Acuña no setor. Preocupa um pouco mais o miolo de zaga, num clube órfão de Jules Koundé e Diego Carlos. É ver se Marcão consegue ficar mais saudável para preencher o setor, com a ascensão de Loïc Badé e a opção de Tanguy Nianzou. Ainda é uma faixa do campo que precisa de mais cuidados e, não à toa, Nemanja Gudelj tantas vezes funcionou recuado.

O meio-campo do Sevilla, em compensação, possui uma coleção de ótimos volantes. Gudelj e Fernando Reges são duas ótimas peças na proteção, com a adição de Djibril Sow para melhorar ainda mais a construção. Ivan Rakitic é outro que segue entregando muito, independentemente da idade, enquanto Joan Jordán é um importante operário e Óliver Torres auxilia na armação, respaldado por Mendilibar. Já no ataque, Rafa Mir e Youssef En-Nesyri seguem como principais referências e precisam melhorar a entrega de gols. Muito melhores são as opções pelos lados, especialmente com a volta de Lucas Ocampos. O conjunto de pontas é renomado, ainda com Suso, Papu Gómez e Erik Lamela. Também pode ser importante a volta de Tecatito Corona do estaleiro.

No papel, esse não é o melhor Sevilla dos últimos anos. O elenco dos rojiblancos não parece tão acima de concorrentes na tabela como a Real Sociedad, o Betis e o Villarreal, como acontecia no passado. A presença na Champions garante um bom dinheiro, mas na temporada passada também demonstrou como pode ser difícil de conciliar com um plantel mais curto. O que não dá para duvidar é do trabalho de Mendilibar. Pela forma como transformou o Sevilla nos últimos meses, a retomada dentro do G-4 será normal. Só não dá para ver como uma obrigação também pelas limitações notadas no Nervión.

Celta

Estádio: Balaídos (29 mil espectadores)
Técnico: Rafa Benítez
Posição em 2022/23: 13° lugar
Projeção: Meio de tabela
Principais contratações: Carles Pérez (A, Roma), Manu Sánchez (D, Atlético de Madrid), Jonathan Bamba (A, Lille), Carlos Dotor (M, Real Madrid Castilla), Carl Starfelt (D, Celtic)
Principais saídas: Orbelín Pineda (A, AEK Atenas), Javi Galán (D, Atlético de Madrid), Gabriel Fernández (A, Pumas), Rubén Blanco (G, Olympique de Marseille), Denis Suárez (M, Villarreal), Augusto Solari (A, Atlas), Santi Mina (A, sem clube), Hugo Mallo (A, sem clube)
Brasileiros no elenco: Nenhum

O Celta vive o ano de seu centenário, algo que também gera expectativas na Espanha. E a resposta da diretoria galega às esperanças da torcida aparece no banco de reservas: o comandante dos celestes na próxima campanha será ninguém menos do que Rafa Benítez. É verdade que o melhor do treinador ficou para trás, ainda que tenha feito um trabalho digno no Newcastle não faz muito tempo. Sua reputação em La Liga, ainda assim, é grande por conta de toda a história com o Valencia. Com ligações familiares na Galícia, a escolha por Vigo foi fácil. O veterano dá um passo para trás em relação ao que construiu na carreira, mas num lugar onde deve receber muito carinho.

O problema é mesmo tirar o Celta da condição comum que acumulou nas últimas temporadas. O mais normal foi ver os celestes brigando contra o rebaixamento, depois de alguns momentos em que o time lutou pelas copas europeias. O elenco se enfraqueceu aos poucos e a diretoria não percebeu a tempo de fazer as reposições. O marasmo é considerável em Balaídos. Eduardo Coudet até trouxe certas expectativas e teve momentos razoáveis, mas não é que engatilhou um trabalho tão expressivo em termos de tabela. Se por um lado os galegos escaparam do rebaixamento com uma distância razoável em 2022/23, não é que Carlos Carvalhal tenha merecido tantos aplausos.

O ano do centenário não significa um mercado de transferências tão badalado. Alguns bons jogadores chegaram, mas no geral são apostas que chamam pouca atenção dentro de La Liga. Há um interesse maior ao que Jonathan Bamba pode fazer, ao vir de graça do Lille para reforçar o ataque. Carles Pérez pode ser uma boa opção ao ser comprado em definitivo da Roma. Ainda desembarcam os garotos Carlos Dotor e Manu Sánchez, enquanto Carl Starfelt vem por um preço razoavelmente alto do Celtic para compor a zaga. Saiu bem mais gente, inclusive lideranças importantes como Hugo Mallo e Javi Galán.

O Celta possui um bom goleiro no veterano Agustín Marchesín, mas Iván Villar jogou o segundo turno de La Liga por causa da lesão séria do argentino. A defesa terá que se virar sem gente importante, mas ainda conta com a presença do zagueiro Joseph Aidoo, um dos melhores do time na última temporada. Unai Núñez é outro pilar do sistema defensivo, enquanto Óscar Mingueza não é dos mais confiáveis, mas possui uma experiência considerável para a idade e melhorou em Vigo diante do que se via no Barcelona.

O meio-campo do Celta é razoavelmente jovem. Renato Tapia carrega o piano, enquanto despontam outros garotos como Luca de la Torre e Fran Beltrán. Ninguém com as esperanças provocadas por Gabri Veiga, meia de 20 anos que foi um dos protagonistas na última temporada e frequenta as seleções de base. Sua manutenção, diante do interesse de outros clube, é um prêmio pelo centenário. Já no ataque, ninguém tem o tamanho de Iago Aspas. Independentemente da condição do Celta, o centroavante continua como um dos melhores de sua posição na Espanha e entrega gols. Não deverá ser diferente, mesmo aos 36 anos. O setor ainda tem Gonçalo Paciência para apoiar, além do garoto Jörgen Strand Larsen, que deve ser o titular. Pelos lados, Franco Cervi e Carles Pérez eram os principais nomes, com a importante chegada de Bamba.

É um time com seus ases, mas não que o Celta pareça forte o suficiente para se colocar na metade de cima da tabela. Tais ambições dependerão muito mais do trabalho de Rafa Benítez e se o veterano retoma seu toque especial em La Liga. Dá para fazer algo grande quando se conta com Iago Aspas, especialmente se Gabri Veiga virar o craque que se imagina. Mas um centenário mais sofrido também não estará fora de cogitação.

Ledesma, do Cádiz (CRISTINA QUICLER/AFP via Getty Images/One Football)

Cádiz

Estádio: Nuevo Mirandilla (20,7 mil torcedores)
Técnico: Sergio
Posição em 2022/23: 14° colocado
Projeção: Fugir do rebaixamento
Principais contratações: Gonzalo Escalante (M, Lazio), Sergi Guardiola (A, Valladolid), Darwin Machís (A, Valladolid), Javi Hernández (D, Leganés), Lucas Pires (D, Santos), Jorge Meré (D, América)
Principais saídas: Théo Bongonda (A, Spartak Moscou), Alfonso Espino (D, Rayo Vallecano), Choco Lozano (A, Getafe)
Brasileiros no elenco: Lucas Pires

O Cádiz foi muito aguerrido para fugir do rebaixamento na última temporada. Ao longo de todo o primeiro turno, os Piratas ficaram na zona de rebaixamento de La Liga e pareciam condenados à segunda divisão. Foram cinco derrotas logo nas cinco primeiras rodadas. No entanto, mais marcante se tornou a reação dos andaluzes. Antes do fim do primeiro turno, conseguiram derrotar o Atlético de Madrid. Já na segunda metade do campeonato outras vitórias importantes pintaram, contra adversários como o Betis e o Celta. A salvação corresponde muito à postura do time.

No banco de reservas, Sergio consegue uma continuidade rara para um treinador num clube como o Cádiz. Afinal, está no mesmo cargo desde janeiro de 2022. O antigo comandante do Valladolid pode não ter muito cartaz dentro de La Liga, mas parece ideal para objetivos mais modestos na tabela. Conseguiu extrair o máximo de um elenco com claras limitações. Talvez só não seja tão fácil repetir os feitos por algumas perdas importantes na janela de transferências.

Nomes importantes se despediram do Cádiz. Théo Bongonda rendeu um bom dinheiro rumo ao Spartak Moscou, mas desfalca o ataque, assim como Choco Lozano. Já na defesa, a perda mais significativa é de Alfonso Espino, que assinou com o Rayo Vallecano. O mercado de contratações dos Piratas esteve mais voltado em garantir a permanência de figuras que já estavam no clube – é o que aconteceu com Gonzalo Escalante, Sergi Guardiola e Jorge Meré. Quem pode aportar mais à linha de frente é Darwin Machís, com bons serviços prestados do colombiano em La Liga. Lucas Pires vira solução na lateral esquerda.

A escalação do Cádiz costuma se abrir com a presença de Conan Ledesma, um goleiro um tanto quanto folclórico, mas que decidiu partidas na última temporada e está entre os melhores do campeonato. Mais uma vez, deverá ser importante na luta dos Piratas pela permanência na primeira divisão. Entre as opções da zaga, Luis Hernández é a referência por sua experiência e Fali também foi um nome frequente pelo centro, com a presença de Iza Carcelén na lateral direita. Javi Hernández e Lucas Pires devem disputar a posição na esquerda.

O meio-campo tem figuras importantes dentro do clube, muitos deles rodados. José Mari é o capitão, mas com poucos minutos na última campanha. Mais frequentes foram Rubén Alcaraz e Gonzalo Escalante, com a ajuda de Álex Fernández na armação. Fede San Emeterio é outro que merece destaque pela capacidade na transição. Já o ataque careceu de gols na última temporada, mesmo com nomes bastante conhecidos. Um deles é Álvaro Negredo, ainda na ativa aos 37 anos. Roger Martín e Sergi Guardiola recheiam a lista de trintões no setor. Na ponta direita, Rubén Sobrino é a liderança técnica do time e outro que brilhou para a permanência. A vinda de Machís é importante na esquerda, onde Awer Mabil retorna de empréstimo, mas longe de seu melhor momento na carreira. Iván Alejo também é um dos mais confiáveis do time.

Fica difícil pensar em outro objetivo diferente da fuga da segundona. Dentro das limitações do Cádiz, a sequência na primeira divisão é bastante expressiva. E numa disputa tão apertada quanto a da última temporada, os Piratas ofereceram uma capacidade de competir que não foi comum na rabeira da tabela – mesmo a outros clubes que sobreviveram. Será possível respirar mais uma vez, se mantiverem a pegada.

(Octavio Passos/Getty Images/One Football)

Getafe

Estádio: Coliseum Alfonso Pérez (16,5 mil espectadores)
Técnico: Pepe Bordalás
Posição em 2022/23: 15° colocado
Projeção: Fugir do rebaixamento
Principais contratações: Omar Alderete (D, Hertha Berlim), Gastón Álvarez (D, Boston River), Portu (A, Real Sociedad), Choco Lozano (A, Cádiz), José Ángel Carmona (D, Sevilla), Daniel Fuzato (G, Ibiza)
Principais saídas: Jaime Seoane (M, Oviedo), Munir El Haddadi (A, Las Palmas), Jakub Jankto (M, Cagliari), Kiko Casilla (G, sem clube), Erick Cabaco (D, Estoril)
Brasileiros no elenco: Daniel Fuzato

Não faz muito tempo, o Getafe era uma das sensações de La Liga. Os Azulones eram a equipe pequena mais temida de se encarar na competição. Foram três campanhas consecutivas entre os oito primeiros, logo depois de passar pela segunda divisão, com direito a classificação para a Liga Europa. Tal capacidade se quebrou e lá se vão três temporadas consecutivas em que os madrilenos ficam felizes em escapar do descenso, sempre com o 15° lugar. Tais dificuldades se repetiram na última edição do Espanhol, com o time frequentando a segundona inclusive no segundo turno. Somente uma boa sequência na reta final é que salvou.

A grande esperança para o Getafe se reencontrar com seus melhores momentos está no banco de reservas, com o retorno de Pepe Bordalás. O treinador reassumiu o time em abril e foi o responsável pela salvação. O auge recente dos Azulones também foi sob as suas ordens, com uma equipe intensa e muito aguerrida, por vezes acusada de fazer um desfavor ao futebol. Bordalás até tentou se provar no Valencia, mas a bagunça por lá era maior. Prefere se reencontrar com a velha torcida e também com parte dos comandados que integraram a epopeia rumo à Liga Europa. Achar o fio da meada, porém, não é tão simples.

O Getafe enfrenta limitações financeiras e é mais um dos clubes com problemas no mercado de transferências. A inscrição de reforços é limitada, e não que o dinheiro sobre no Coliseum Alfonso Pérez. Parte importante dos jogadores que chegaram é composta por aqueles que estavam antes por empréstimo e foram comprados em definitivo – caso de Omar Alderete, Portu e Gastón Álvarez. Entre as novas alternativas estão Choco Lozano e o goleiro brasileiro Daniel Fuzato, que deve ser reserva. Entre os que saíram, Munir é o nome mais importante, embora não tenha oferecido muito.

Com Pepe Bordalás, o que se espera pra começo de conversa é um Getafe muito combativo na defesa. David Soria é um goleiro muito bom, de um nível acima do clube, tanto que era especulado pelo Real Madrid. Já a defesa continua contando com Djené, um dos homens de confiança do treinador neste longo ciclo. Há outros bons jogadores por ali, em especial o zagueiro Domingo Duarte. A lista de opções ainda inclui os comprados Gastón Álvarez e Alderete. Na lateral direita, Damián Suárez é mais um esteio dos Azulones faz tempo. Vale ficar de olho ainda no rendimento de José Ángel Carmona, emprestado pelo Sevilla.

O meio-campo do Getafe, com Bordalás, tem um papel fundamental na pressão sobre o adversário e na compactação com a defesa. Será um trabalho bem mais de operários o desempenhado por figuras como Nemanja Maksimovic, Mauro Arambarri e Ángel Algobia. É ver como será o desenho tático, caso o treinador volte a priorizar o 4-4-2, para o encaixe de Portu e Carles Aleñá pelas pontas. Já na frente, os Azulones ainda tiveram bom poder de fogo. São dois centroavantes de peso, com Enes Ünal e Borja Mayoral somando 22 gols na campanha passada. O problema é que o turco sofreu grave lesão e será um desfalque sentido por meses. O ídolo Jaime Mata também continua à disposição, mas com um papel secundário. Choco Lozano e o garoto Juanmi Latasa também podem ajudar.

Em outros momentos, o Getafe indicou que não precisava estar recheado de talentos para superar as expectativas. E isso Pepe Bordalás sabe fazer muito bem. As limitações continuam no clube, embora o gás pareça menor do que naquela volta à primeira divisão. É ver se a pré-temporada será suficiente para Bordalás virar a chavinha e transformar uma equipe sofrível em outra que sabe sofrer para roubar pontos.

Valencia

Estádio: Mestalla (49,3 mil espectadores)
Técnico: Rubén Baraja
Posição em 2022/23: 16° colocado
Projeção: Fugir do rebaixamento
Principais contratações: Cenk Özkacar (D, Lyon), Pepelu (M, Levante)
Principais saídas: Yunus Musah (M, Milan), Jorge Sáenz (D, Leganés), Edinson Cavani (A, Boca Juniors), Toni Lato (D, Mallorca), Samuel Lino (A, Atlético de Madrid), Justin Kluivert (A, Roma), Ilaix Moriba (M, Leipzig)
Brasileiros no elenco: Marcos André

O Valencia segue firme em seu projeto para ser rebaixado em La Liga. Nem mesmo a temporada caótica atravessada pelos Ches em 2022/23 providenciou mudanças no Mestalla. Pelo contrário, a ruptura se torna cada vez mais clara. O responsável pela deterioração dos valencianos tem nome e sobrenome: Peter Lim. Poucas gestões de futebol são tão ruins, com escolhas péssimas nos bastidores e decisões tomadas por ego. Nem mesmo a saída do antigo presidente Anil Murthy melhorou as coisas. Afinal, a tomada de decisão ficou mais restrita ao círculo familiar de Lim. Não há técnico que tenha confiança desde a demissão de Marcelino García Toral após a conquista da Copa do Rei. E o elenco fica às moscas, com o proprietário mais interessado em fazer joguetes com empresários.

A temporada do Valencia dentro de campo foi deplorável. A começar com os episódios de racismo ao redor de Vinícius Júnior. Mesmo na produção de futebol, os Ches pareciam compromissados com o retorno à segunda divisão depois de mais de três décadas. Algumas fases foram muito preocupantes, especialmente pela sequência de oito rodadas sem vencer na virada dos turnos. Quando menos se esperava, algumas vitórias pontuais permitiram a sobrevivência no segundo turno, inclusive o triunfo sobre o Real Madrid. Mas não que a reação pareça durar tanto. O técnico ao menos continua: o antigo ídolo Rúben Baraja, que resolveu dar a cara a tapa para salvar seu clube do coração e, mesmo sem grande currículo, cumpriu a missão.

Entretanto, as disputas internas do Valencia irão continuar. Ao longo dos últimos anos, mais comum do que comemorar gol foi gritar “Fora Peter Lim”. A última temporada teve protestos massivos do lado de fora do Mestalla e também nas arquibancadas, mesmo que a presidência tentasse silenciar a oposição. A paz só virá quando o dono dos Ches resolver vender o clube – o que não parece tão perto de acontecer, com ele mais disposto a perder dinheiro para não ser contrariado. A pré-temporada já trouxe à tona novos conflitos.

O mercado de transferências é a cara de Peter Lim: vazio. Só dois reforços chegaram: o bom volante Pepelu e Cenk Özkacar, que estava no clube e foi comprado em definitivo. As apostas se concentrarão nos jogadores da base, que foram essenciais para a salvação na temporada passada, mas ficam na fogueira. Já as perdas acontecem a todo vapor. Edinson Cavani pode nem ter ido tão bem no Mestalla, mas será uma liderança a menos. Yunus Musah não recusaria a proposta do Milan, nem Peter Lim. Mesmo quem estava emprestado fará falta, com menção especial ao papel de Samuel Lino no ataque.

O Valencia ao menos continua com um dos melhores goleiros da Liga – por enquanto. Giorgi Mamardashvili evitou o pior na última temporada e deve ter ainda mais trabalho. A defesa também conta com a presença de José Gayà, outro que faz hora extra no Mestalla, mas reitera seu compromisso com o clube e honra a braçadeira de capitão. Não é uma linha de zaga tão ruim, pensando na experiência de figuras como Dimitri Foulquier e Gabriel Paulista, além da capacidade de Mouctar Diakhaby e Eray Cömert.

A falta de qualidade se torna um pouco mais expressa no meio, onde saídas importantes não tiveram reposição. Hugo Guillamón e André Almeida são dois jovens com imensas responsabilidades, agora com a companhia de Pepelu, um volante técnico. Recaem as esperanças sobre o garoto Javi Guerra, que teve momentos de brilho na última temporada e pode estourar de vez. Os problemas também se notam no ataque, onde o Valencia depende de jogadores limitados como Samu Castillejo, Hugo Duro e Marcos André. Por enquanto, é onde os garotos serão mais exigidos, com Diego López também entregando gols salvadores em meio ao desespero. Jesús Vázquez é outro que desponta.

É pouquíssimo para um clube com as dimensões e com a tradição do Valencia. É a consequência natural do que faz Peter Lim nos bastidores. Em outros momentos, os Ches pareciam ter recursos suficientes no elenco para não cair. Isso sequer acontece agora, e a diretoria joga contra os próprios futebolistas. O milagre dependerá muito mais daqueles que exibem um mínimo de apego aos valencianos – sejam os protagonistas que não abandonam o barco, sejam os pratas da casa que despontam, seja o treinador que parece mais a lembrança de um distante passado glorioso.

(Icon sport)

Almería

Estádio: Power Horse (15 mil espectadores)
Técnico: Vicente Moreno
Posição em 2022/23: 17° colocado
Projeção: Fugir do rebaixamento
Principais contratações: Luis Suárez (A, Olympique de Marseille), Dion Lopy (M, Stade de Reims), Sergio Arribas (M, Real Madrid Castilla), Marc Pubill (D, Levante), Edgar González (D, Betis), Iddrisu Baba (M, Mallorca)
Principais saídas: El Bilal Touré (A, Atalanta), Cristian Olivera (A, Los Angeles FC), Rodrigo Ely (D, Grêmio), Nikola Maras (D, Alavés), Francisco Portillo (A, sem clube), Dyego Sousa (A, sem clube), Samu Costa (M, Mallorca)
Brasileiros no elenco: Kaiky, Lázaro, Léo Baptistão

O Almería cumpriu seu objetivo na temporada de retorno ao Campeonato Espanhol: escapou do rebaixamento. E foi notável como os andaluzes passaram a maior parte da campanha fora do Z-3, mesmo sem ter tanta badalação ao seu redor. A equipe conquistou vitórias importantes desde o primeiro turno, quando derrubou times como o Sevilla e o Girona. Já na segunda metade da campanha, até o Barcelona foi uma surpreendente vítima. A sobrevivência veio no limite, com um ponto acima da degola, mas o desempenho dentro de casa foi excelente, onde aconteceram 10 das 11 vitórias. Será uma das chaves para repetir a permanência.

Contudo, o Almería precisará lidar com mudanças. Rubi foi o responsável pelo título da segundona e pela permanência na elite, mas se despediu da torcida ao final de seu contrato. Sem o seu grande mentor, os rojiblancos foram atrás de Vicente Moreno. O novo comandante possui uma história marcante de acessos e títulos nas divisões inferiores – foi campeão por Espanyol, Mallorca e Gimnàstic de Tarragona. Volta ao Campeonato Espanhol depois de uma experiência à frente do Al-Shabab, no agora badalado Campeonato Saudita.

Um problema para o Almería será lidar com as perdas importantes de seu elenco. El Bilal Touré brilhou na campanha e, com apenas 20 anos, seguiu para a Atalanta. A lista de desfalques ainda inclui a saída de Rodrigo Ely, o xerife no miolo de zaga. O ponto positivo é que o dinheiro foi reinvestido em diferentes setores. Edgar González é o novo beque, com Marc Pubill na lateral. O meio ganha Iddrisu Baba, Dion Lopy e Sergio Arribas. Já na frente, o colombiano Luis Suárez foi comprado em definitivo junto ao Olympique de Marseille.

Por nomes, o Almería se distancia de grandes expectativas. Fernando Martínez foi o goleiro em toda a campanha, com altos e baixos. Na defesa, sem Rodrygo Eli, o zagueiro Srdjan Babic e o lateral Sergio Akieme foram as peças mais frequentes. O clube também pode contar com vários jogadores jovens em fase de afirmação: Alejandro Pozo, Chumi, Álex Centelles. Inclusive o zagueiro Kaiky, ex-Santos, que não emplacou em seu primeiro ano na Espanha. Pubill deve ser o titular na direita, com moral da segundona.

O meio-campo teve jogadores que foram bem competentes na campanha, sobretudo o argentino Lucas Robertone e o espanhol Gonzalo Melero. São as referências principais ao lado de garotos que também crescem. Neste sentido, vale ficar de olho no que Sergio Arribas produzirá na armação ao vir do Real Madrid e também na adição de Lopy para a cabeça de área. Já na frente, Adrián Embarba e Léo Baptistão são rodados em La Liga, acompanhando Luis Suárez. E algumas das sensações dos rojiblancos foram promessas. Largie Ramazani e Lázaro fizeram algumas partidas excepcionais em La Liga. O brasileiro foi um dos heróis da permanência, ao se consolidar na reta final. Chegou a anotar até uma tripleta contra o Mallorca, na última vitória da campanha. Sem ela, os andaluzes cairiam.

O Almería parece ter uma ideia de projeto quando investe seu dinheiro em jovens atletas e espera a progressão na primeira divisão espanhola. Na temporada passada, a entrega desses jogadores foi suficiente para evitar o rebaixamento. A aposta é que eles possam dar um passo além e garantam uma permanência tranquila, mesmo com os riscos. Neste sentido, é um clube mais estável para o seu objetivo de permanência. E que também se vale de um bom treinador na transição de comando.

Bryan Zaragoza comemora o acesso do Granada, campeão da segunda divisão espanhola (Foto: Marca/Icon Sport)

Granada

Estádio: Nuevo Los Cármenes (19,2 mil espectadores)
Técnico: Paco López
Posição em 2022/23: Campeão da segundona
Projeção: Fugir do rebaixamento
Principais contratações: Shon Weissman (A, Valladolid), Gonzalo Villa (M, Roma), Famara Diédhiou (A, Alanyaspor), Gerard Gumbau (M, Elche), Wilson Manafá (D, Porto), Jesús Vallejo (D, Real Madrid)
Principais saídas: Adrián Butzke (A, Vitória de Guimarães), Isma Ruiz (M, Córdoba), Quini (D, Olympiacos), Pepe Sánchez (D, Ibiza), Rubén Rochina (A, sem clube), Jorge Molina (A, fim de carreira)
Brasileiros no elenco: Nenhum

O Granada se acostumou com a primeira divisão do Campeonato Espanhol desde a última década. Quase sempre foi um time para figurar na metade inferior da tabela, até que caiu e voltou duas temporadas depois. A passagem mais recente pela elite foi relativamente curta, mas rendeu campanhas excelentes sob as ordens de Diego Martínez e vaga até na Liga Europa. A queda se tornou inescapável em pouco tempo, mas os andaluzes aproveitaram o legado: o acesso veio de maneira imediata em 2022/23, com direito também ao título da segundona.

Numa edição equilibrada da segunda divisão, o acesso do Granada não foi tão certo. Os rojiblancos tiveram sequências ruins durante o primeiro turno e passaram a maior parte do tempo na zona dos playoffs. A escalada aconteceu especialmente a partir de janeiro, com direito a uma série invicta que durou dez rodadas. Os andaluzes entraram na luta pelos dois acessos diretos e tiveram um enorme impulso especialmente nos compromissos finais, com três vitórias nos três últimos jogos. Chegam de novo à elite, mas com a necessidade de se provar.

O treinador responsável pelo salto na segunda divisão está mantido. Paco López chegou em novembro e teve sucesso na empreitada. É uma figura experiente, com muitos trabalhos nas divisões de acesso, além de uma passagem importante pelo Levante na virada da década. Já o mercado de transferências é interessante para um clube que acabou de subir. Famara Diédhiou e Shon Weissman, que estavam emprestados, ficaram. Os andaluzes trouxeram também nomes conhecidos, como o meia Gonzalo Villar e o lateral Wilson Manafá. Destaque ao zagueiro Jesús Vallejo, cedido por empréstimo pelo Real Madrid.

O experiente Raúl Fernández fez a diferença no gol do Granada durante a segundona, melhor da competição, mas se lesionou e André Ferreira assumiu a posição na pré-temporada. Jesús Vallejo desembarca logo como o principal zagueiro e deve firmar parceria com Ignasi Miquel, companheiro com história nas seleções de base. Nas laterais, Ricard Sánchez e Carlos Neva estiveram entre os destaques do time, especialmente o primeiro, com gols e assistências na direita. O setor também conta com o veteraníssimo Víctor Díaz, dono da braçadeira de capitão e que participou da campanha do acesso nas mais diferentes funções. É um dos remanescentes da aventura europeia do Granada.

No meio-campo, Gonzalo Villar e Gerard Gumbau aumentam o leque de opções da equipe. Gumbau merece destaque especial, como um dos poucos que se salvou no descenso do Elche, valorizado na transferência a Nuevo Los Cármenes. Njegos Petrovic e Óscar Melendo foram as duas principais figuras do setor na campanha de acesso. Já o ataque reúne as maiores figurinhas carimbadas, mesmo com a aposentadoria do centroavante Jorge Molina. Antonio Puertas é um ídolo da torcida e continuou honrando essa condição. De qualquer forma, os destaques ficaram mesmo com José Callejón e Myrto Uzuni, que se revezaram entre a ponta e o papel de referência. Callejón não teve problemas em arregaçar as mangas na segundona após a história vitoriosa na Itália e entregou assistências aos 36 anos. Já Uzuni foi um fenômeno, com 23 gols e comparações até com Cristiano Ronaldo. O ponta esquerda Bryan Zaragoza, de 21 anos, é o candidato a revelação.

O encaixe do ataque do Granada é uma das chaves do time para sonhar com a permanência. O rendimento se tornou importante na guinada pelo acesso e, comparando com outros times da rabeira da tabela, não deixa a desejar quanto às opções. Também se notam outros pilares nas demais partes do campo. Sonhar com os feitos de Diego Martínez é mais difícil, mas Paco López já elevou as perspectivas desde que chegou e pode conseguir evitar a queda.

Las Palmas

Estádio: Gran Canaria (31,2 mil espectadores)
Técnico: García Pimienta
Posição em 2022/23: Vice-campeão da segunda divisão
Projeção: Fugir do rebaixamento
Principais contratações: Mika Mármol (D, Barcelona), Sandro Ramírez (A, Huesca), Aarón Escandell (G, Cartagena), Munir El Haddadi (A, Getafe), Daley Sinkgraven (D, Leverkusen), Javi Muñoz (M, Eibar), Julián Araújo (D, Barcelona)
Principais saídas: Wilfrid Kaptoum (M, AEK Larnaca), Florin Andone (A, Eldense), Sidnei (D, Ceará), Óscar Pinchi (A, Rizespor), Óscar Clemente (M, Levante), Álex Domínguez (G, Toulouse)
Brasileiros no elenco: Nenhum

Nem parece que o Las Palmas ficou cinco temporadas fora da primeira divisão de La Liga. Os canários passaram três anos consecutivos na elite, mas fizeram grandes partidas naquele período. Era um time que não temia nem Barcelona e Real Madrid, mas os peitava com um estilo agressivo desenhado por Quique Setién. A reconstrução se provou mais difícil depois disso e o clube passou um tempo como figurante no meio da tabela da segundona. Mais recentemente, voltou a brigar pelo acesso de maneira mais contundente, até fisgar uma vaga direta em 2022/23.

O Las Palmas fez um caminho diferente do Granada na última segunda divisão. Independentemente do equilíbrio, os canários passaram quase todo o tempo dentro do G-2. Auxiliou a ótima largada do time na campanha, com uma invencibilidade que durou 12 rodadas. O excesso de empates podia segurar um pouco mais a arrancada dos canários, mas o time nunca se afastava dos primeiros postos. Os riscos só foram vividos a partir de março, quando as vitórias minguaram e a equipe chegou a cair para a quinta colocação. Ao menos, a recuperação veio na hora certa, com triunfos contra rivais diretos no sprint final para selar o vice-campeonato.

Chama atenção, mais uma vez, o técnico do Las Palmas. García Pimienta tem sua história como treinador totalmente ligada ao Barcelona. Dirigiu basicamente todos os níveis na base de La Masía e passou três anos à frente do Barça B. O Las Palmas é sua primeira experiência fora dos culés, no cargo desde janeiro de 2022. É uma equipe de futebol mais vistoso, mesmo sem produzir tantos gols. E o comandante tem conhecidos do Camp Nou sob suas ordens. O mercado atual serviu para contratar em definitivo Sandro Ramírez, enquanto Munir El Haddadi veio a custo zero. Mika Mármol, menos conhecido, também saiu dos blaugranas, e Julián Araújo veio por empréstimo. Outro negócio curioso do Las Palmas é Daley Sinkgraven, com passagens por Ajax e Bayer Leverkusen.

Álvaro Valles continua como titular no gol depois do acesso. A defesa tinha o zagueiro Sidnei, que se despediu do Las Palmas. Saúl Coco e Sergi Cardona foram dois jovens que renderam bem no acesso, mas a linha de zaga deve ser o setor mais modificado. É de se imaginar que Sinkgraven e Julián Araújo ocupem as laterais, enquanto o investimento em Mármol o torna favorito entre os zagueiros. Olho em Saúl Coco, muito bem cotado na campanha da promoção.

Nuke Mfulu forma a base do meio-campo, com o jovem francês Enzo Loiodice entre as revelações da segunda divisão. O Las Palmas costuma rechear o setor com jogadores criativos. Um deles é o capitão Jonathan Viera, um dos grandes talentos dos tempos de Quique Setién e que voltou às Ilhas Canárias como capitão, após um tempo na China. Kirian Rodríguez e Pejiño foram importantes na promoção. O nome a ser acompanhado de perto, no entanto, é Alberto Moleiro. O meia de 19 anos é uma fonte de assistências e, pelas origens em comum, comparado a Pedri. Já na frente, Sandro Ramírez fez gols essenciais ao acesso, com Marc Cardona sendo outra opção como referência. Porém, quem mais pode elevar o nível é Munir, mesmo deixando para trás as expectativas que gerava quando surgiu no Barcelona.

Para um dos recém-promovidos, o Las Palmas possui um elenco bastante interessante nesta retomada da primeira divisão. E esse filme sequer é novo nas Ilhas Canárias, considerando o passado recente. Obviamente, a elite oferece desafios bem distintos e times que passam temporadas seguras no acesso tantas vezes se tornam mais visados pelos novos predadores. Mas, por contexto, nem será tão fora da curva se os insulares surpreenderem. Há bons elementos, inclusive, para se acreditar nisso.

Alavés

Estádio: Mendizorrotza (19,8 mil espectadores)
Técnico: Luis García
Posição em 2022/23: Campeão dos playoffs de acesso
Projeção: Fugir do rebaixamento
Principais contratações: Antonio Blanco (M, Real Madrid), Ander Guevara (M, Real Sociedad), Nikola Maras (D, Almería), Andoni Gorosabel (D, Real Sociedad), Giuliano Simeone (A, Atlético de Madrid), Rafa Marín (D, Real Madrid)
Principais saídas: Florian Lejeune (D, Rayo Vallecano), Toni Moya (M, Zaragoza), Álex Balboa (M, Huesca), Víctor Laguardia (D, fim de carreira), Asier Villalibre (A, Athletic Bilbao)
Brasileiros no elenco: Nenhum

O Alavés inicia La Liga à espera de um milagre. Está claro que os bascos são os mais fracos dentre os três times que conquistaram o acesso. O clube vem de uma estadia relativamente longa na elite, que durou seis temporadas, mas o flerte com o descenso foi intenso. A promoção aconteceu de imediato na reaparição na segunda divisão, mas com sua dose de sofrimento nos playoffs de acesso. E mesmo sendo um clube bem gerido, a queda impactou nas finanças e a situação inspira cuidados. Até por isso, os blanquiazules não fazem movimentos bruscos.

O Alavés só se candidatou ao acesso direto durante o primeiro turno da segunda divisão. Uma sequência de derrotas afastou o time do G-2 e, depois disso, o caminho seria mesmo se acostumar com os playoffs de acesso. Empates contra Granada e Las Palmas nas rodadas finais impediram uma reviravolta. Durante a fase decisiva, os bascos eliminaram os vizinhos do Eibar, que vinham como favoritos. Já o maior drama aconteceu nas finais, contra o Levante. O gol que carimbou a subida, o único nas duas partidas, aconteceu no 129° minuto da volta, quando os acréscimos do segundo tempo da prorrogação estouravam em Valência. O alívio veio, com a sensação de uma longa caminhada para acertar os ponteiros.

Um bom começo para o Alavés é contar com um bom treinador. Luís García acumula trabalhos relevantes com times menores de La Liga. Teve passagens longas à frente de Levante, Getafe e Mallorca, enquanto ficou os últimos anos ganhando dinheiro entre a China e o Oriente Médio. Sua missão não é simples, mas também não é nova. As contratações em definitivo de Antonio Blanco e Nikola Maras são boas notícias do mercado, enquanto Ander Guevara e Andoni Gorosabel se somam da Real Sociedad. Uma pena que Giuliano Simeone, emprestado pelo Atlético de Madrid, tenha sofrido uma grave fratura na pré-temporada e deva passar meses no estaleiro.

Antonio Sivera foi um dos heróis do acesso e está mantido no gol do Alavés. Os laterais são importantes também no time, em especial o capitão Rúben Duarte na esquerda. Como Nahuel Tenaglia voltou ao Talleres ao final de seu empréstimo, mesmo com destaque, Gorosabel jogará na lateral direita. É uma excelente adição, por toda a experiência na primeira divisão. O miolo de zaga rodou mais, com Abdel Abqar e Aleksandar Sedlar despontando. Quem vem como alternativa é Rafa Marín, cedido por empréstimo pelo Real Madrid.

Outra cria dos merengues, Antonio Blanco segue na cabeça de área. Jon Guridi é uma das principais alternativas na faixa central, ponto nevrálgico do time do acesso, enquanto Ander Guevara chega para preencher a lacuna deixada por Toni Moya. Quem pinta na criação é o veterano Salva Sevilla, um nome importante mesmo aos 39 anos. Já no ataque, o único nome intocável é mesmo o do ponta esquerda Luis Rioja, artilheiro na campanha do acesso. Miguel de la Fuente é o centroavante principal, mas sem tantos créditos, tanto que Giuliano Simeone havia chegado para o setor. Muitas alternativas ofensivas deixaram o clube, entre elas Asier Villalibre. O basco seria importante num momento decisivo, especialmente por converter o pênalti que valeu o acesso.

Por aquilo que tem em mãos, o Alavés precisa contratar. Suas finanças, entretanto, não permitem tanto investimento. Se já não era o time mais competitivo na segunda divisão, a elite pode estrangular os bascos rapidamente. E a campanha passada na primeira divisão é de péssimas lembranças, com um rebaixamento na lanterna que ninguém quer repetir. A essa altura, porém, desviar desse destino se sugere como algo de mínimas probabilidades para os blanquiazules.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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