Às vésperas de seu início, Campeonato Espanhol vive rebelião dos clubes contra a federação
O Campeonato Espanhol enfrenta sérias incertezas às vésperas de seu pontapé inicial. A próxima edição de La Liga começará dentro de três finais de semana, mas ninguém sabe ao certo em qual dia. A federação espanhola (RFEF) baixou uma determinação de que os jogos às sextas e às segundas sejam abolidos, atendendo um pedido antigo dos torcedores. Após uma norma inicial que afetaria apenas as três primeiras rodadas, instituiu-se que “cada rodada deverá ser disputada aos sábados e domingos, dentro dos horários habilitados, salvo por um acordo entre a federação e a liga”. Porém, a organização do campeonato e a maioria absoluta dos clubes compraram a briga. Afirmam que a medida unilateral comprometerá as suas finanças, temendo represálias das emissoras de TV.
Os argumentos dos clubes são totalmente plausíveis. Em primeiro lugar, porque a mudança da regra neste momento romperia com os contratos já firmados com os canais de televisão. Já a médio prazo, com menos dias disponíveis à transmissão dos jogos, reduz-se também o valor da competição nas negociações com a TV. A maior preocupação se concentra principalmente entre os clubes médios e pequenos, que possuem pouca margem de manobra em suas receitas. Eles apontam que uma mudança da situação poderia comprometer no próprio preço dos ingressos.
Nesta quarta-feira, La Liga organizou uma reunião extraordinária com os clubes da primeira e da segunda divisão. Eles manifestaram sua preocupação com a imposição feita pela RFEF. Chamam a atitude de “invasiva” e apontam a postura como um “ataque ao seu patrimônio”. O Real Madrid foi a única agremiação que não enviou representante à discussão. De resto, todos foram unânimes ao se posicionar contra a federação.
“Esse é um exercício de responsabilidade, porque assumimos compromissos com televisões a nível mundial e nacional. As regras não podem ser mudadas de um dia para o outro, porque isso pode repercutir gravemente na saúde econômica dos clubes e, sobretudo, na credibilidade da Liga”, manifestaram os clubes, em nota oficial. “É um ataque frontal à estabilidade dos clubes, porque depois de muito tempo conseguimos ser respeitados interna e externamente. Essas coisas provocam uma situação de mal-estar e de máxima preocupação. Há alguns anos, muitos dos clubes estavam com sérios problemas financeiros e dívidas com os jogadores. Não podemos dar passos para trás e nem permitir que alguém se intrometa no que foi alcançado”.
Já nesta quinta-feira, os representantes dos clubes se reuniram com Luis Rubiales, presidente da RFEF. Eles voltaram a manifestar seu rechaço à proibição imposta pela federação, apontando os danos econômicos que isso causará. A reunião também trataria de um posicionamento sobre os projetos da Uefa e da Associação de Clubes Europeus (ECA) sobre a superliga continental. A maior preocupação no momento, todavia, se concentra nos trâmites internos. É possível que isso até mesmo atrase o início da competição, considerando os processos judiciais.
A decisão da RFEF, no fim das contas, também reflete uma série de disputas de poder entre Luis Rubiales e Javier Tebas, presidente de La Liga. Ambos já haviam batido de frente em outros momentos, inclusive quando a Liga considerou levar seus jogos para fora do país. Desta vez, no entanto, a interferência soa muito mais como inconsequência. É óbvio que os jogos às sextas e (sobretudo) às segundas devem ser repensados para atender melhor os torcedores, como ocorreu na Alemanha, mas não desta maneira. Rubiales determinou os horários das três primeiras rodadas do campeonato sem consultar a Liga, cancelando 13 partidas que aconteceriam às sextas ou aos sábados. Caso não haja um acordo, La Liga espera que medidas cautelares previstas para a próxima semana ao menos normalizem a situação de início.