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As lesões no tornozelo abreviaram a carreira de Ignacio Camacho e, aos 30 anos, ele anuncia a aposentadoria

A carreira de Ignacio Camacho como profissional não acompanhou seu sucesso nas categorias de base, mas isso não significa que o volante não tenha construído uma história de respeito. Promessa do Atlético de Madrid, foi levado ao Málaga durante o enriquecimento do clube andaluz e virou uma das referências no meio-campo albiceleste, a ponto de ser convocado à seleção espanhola principal no período. Também seria valorizado no Wolfsburg, levado com o status de vice-capitão em 2017. No entanto, o cabeça de área é mais um caso de talento perdido pelas lesões. Nesta semana, com apenas 30 anos, Camacho anunciou sua aposentadoria. Os seguidos problemas no tornozelo o levaram a dar um basta nas tentativas de voltar e parar.

A relevância nas seleções de base logo deram visibilidade a Ignacio Camacho. Ele era capitão da seleção espanhola sub-17 que conquistou o Campeonato Europeu da categoria e seria eleito também o melhor jogador do torneio em 2007. Fez parte da geração vice-campeã mundial, que contava com Bojan Krkic, David de Gea e Asier Illarramendi. E seguiu presente em todas as categorias, inclusive no time campeão do Europeu Sub-21 em 2013, no qual era opção a Illarramendi, Koke e Thiago Alcântara na faixa central.

Nascido em Zaragoza, Camacho começou a carreira por clubes no futebol local, mas foi descoberto pelo Atlético de Madrid antes de ganhar destaque nas seleções menores. Recebeu a primeira chance nos profissionais em 2008 e era visto como um jogador ao futuro, embora tenha aparecido menos do que merecesse pela concorrência com medalhões. Fez parte do elenco que conquistou a Liga Europa em 2009/10, mas resolveu arrumar as malas meses depois, em busca de minutos em campo. Aos 20 anos, o Málaga parecia ser uma opção interessante ao seu amadurecimento e foi para lá que ele se mudou no inverno de 2009/10.

O Málaga tinha acabado de ser comprado por Abdullah ben Nasser Al Thani e havia toda a expectativa de se tornar uma força emergente, com o investimento em reforços. Camacho ainda não se tornou titular absoluto nas duas primeiras temporadas, mas ganhou a posição na reta final da campanha que colocou os albicelestes na Champions 2012/13. E o jovem, aos 22 anos, viraria um esteio no meio-campo do time que esteve a minutos de alcançar as semifinais continentais, sob as ordens de Manuel Pellegrini. Valorizado no clube, assim como na seleção espanhola sub-21, parecia capaz de disputar Eurocopa ou Copa do Mundo no futuro.

No fim das contas, o Málaga não manteve a regularidade, também pela personalidade intempestiva de Al Thani. Mas, dentre as muitas contratações badaladas do período de bonança, Camacho permaneceu em La Rosaleda e se tornou um dos mais idolatrados pela torcida. Sua entrega em campo também o aproximava do público e não quis aproveitar o sucesso internacional para deixar o clube. Seguiu em frente nas campanhas boas e ruins, mesmo que os problemas físicos já tenham custado períodos no estaleiro. No fim de 2014, inclusive, ganharia uma chance com Vicente del Bosque na seleção principal.

Camacho seguiu com o Málaga até 2016/17, quando estava claro que o clube não cumpriria todas as promessas de consolidação feitas no passado. O volante também não tinha se firmado na seleção, mas a reputação no clube garantia visibilidade. E, em fim de contrato, saiu num negócio que parecia ótimo ao Wolfsburg: os Lobos pagaram apenas €10 milhões pela transferência em 2017. Camacho desembarcou na Alemanha como vice-capitão e sob a ideia de que viraria uma liderança no projeto do clube. O tornozelo não o deixou.

Em três temporadas na Volkswagen Arena, Camacho disputou apenas 21 partidas pelo Wolfsburg, com um gol anotado. Já usando a braçadeira, precisou passar por uma cirurgia em outubro de 2017. Voltou em abril de 2018, mas logo teve uma lesão muscular. E, quando parecia ganhar sequência no início da temporada 2018/19, se machucaria para nunca mais voltar. Até que resolvesse desistir de sua história nos gramados nesta semana, aos 30 anos, impossibilitado de começar mais uma campanha com os Lobos na Bundesliga.

Ao todo, Camacho se submeteu a cinco operações no tornozelo. O volante ganhou chuteiras especiais para tentar reduzir o impacto sobre a articulação. Durante a pré-temporada, atuou em um amistoso do Wolfsburg, mas as dores indicaram que a única solução seria se aposentar precocemente. “Lutei cinco anos para voltar. Passei cinco vezes pela sala de cirurgia, tive meses de reabilitação, vários doutores, recaídas. Vou com a consciência tranquila de ter feito tudo o que era possível. Tudo para voltar a fazer o que tanto amo: jogar futebol. Meu pé disse basta”, afirmou, em sua conferência de despedida, ainda homenageado pelo clube.

O Wolfsburg, aliás, continuará abrindo portas a Camacho. O clube merece elogios pela maneira como se portou com o jogador e deu todas as chances possíveis para que ele retornasse aos gramados. Diante dessa impossibilidade, agora o colocará em um programa de formação profissional para que continue trabalhando nos bastidores do futebol. A liderança e a perseverança certamente já deixaram grandes lições. Aos 30 anos, o horizonte do ex-volante ainda é vasto para deixar sua contribuição ao esporte.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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