La Liga

Aos 41 anos, Rubén Castro quebrou um honroso recorde: o jogador espanhol que mais fez gols nas duas primeiras divisões de La Liga

Rubén Castro é o maior artilheiro da história do Betis e, durante os últimos anos, continua anotando seus golzinhos na segunda divisão

Rubén Castro não é o primeiro nome citado quando se pensa nos grandes artilheiros da história da Espanha. O centroavante deixou sua marca em vários clubes, sobretudo no Betis, onde é o maior goleador de todos os tempos, mas nunca atuou pela seleção espanhola ou foi artilheiro da primeira divisão de La Liga – seus dois Pichichis são limitados apenas à segunda divisão. No entanto, o veterano de 41 anos agora ocupa um lugar privilegiado nos livros: tornou-se o recordista de gols somando a primeira e a segunda divisão do Campeonato Espanhol, entre todos aqueles nascidos no país – no geral, só permanece abaixo de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. A honraria conquistada pelo centroavante do Málaga nesta segunda-feira antes pertencia a Quini, lenda do Sporting de Gijón e do Barcelona, que foi cinco vezes artilheiro de La Liga nas décadas de 1970 e 1980. Castro conseguiu superá-lo ao totalizar 285 gols nas duas primeiras divisões, marcados de 2000/01 a 2022/23.

A longevidade impulsiona a trajetória de Rubén Castro, assim como sua capacidade de emplacar por diferentes clubes. Os primeiros sucessos aconteceram com a camisa do Las Palmas, onde começou a carreira. E a contagem foi inaugurada de maneira espetacular: em outubro de 2001, Castro superou por duas vezes Iker Casillas, numa vitória por 4 a 2 sobre o Real Madrid, que ainda tinha Zinédine Zidane e Raúl em campo. O jovem atacante totalizou 36 gols com o Las Palmas nas duas primeiras divisões até 2004, embora o grosso tenha vindo com os 22 na segundona de 2003/04. Depois disso, Castro rodaria um pouco mais sem emplacar. Defendeu Albacete, Deportivo de La Coruña, Racing de Santander e Gimnastic de Tarragona na elite. Em cinco temporadas, de 2004 a 2009, não passou de 11 gols totais. Recuperaria-se apenas quando assinou com o Huesca em 2008/09 e balançou as redes 13 vezes na segundona. Depois, seriam mais 14 gols pelo Rayo Vallecano na segunda divisão de 2009/10.

O auge de Rubén Castro aconteceu a partir de sua transferência para o Betis, em 2010/11. Os verdiblancos atravessavam um período instável, em que variavam entre a primeira e a segunda divisão. Castro foi o herói de dois acessos, artilheiro da segundona em ambos. O primeiro deles aconteceu em 2010/11, com 27 gols. O atacante manteve bons números nas três temporadas seguintes na primeira divisão, com 44 gols ao todo, mas nada que evitasse o novo rebaixamento. Assim, no retorno imediato em 2014/15, o veterano guardou mais 32 gols (e de quebra 13 assistências) na segunda divisão. Nesta maré positiva, chegaria ao seu recorde em La Liga com os 19 gols de 2015/16, anotando depois mais 13 em 2016/17.

A única experiência de Rubén Castro fora da Espanha aconteceu em 2017, com sete gols em 11 partidas pelo Campeonato Chinês com o Guizhou FC. Não voltou com o mesmo ritmo ao Betis, mas se despediu dos andaluzes em 2018 como uma figura imponente. Somando todas as competições, o veterano contribuiu com 148 gols em 289 partidas, isolado como maior goleador betico em todos os tempos. Estava com 37 anos, sem mais nível para a primeira divisão, mas com lenha para queimar na segundona. E continuou empilhando gols.

Primeiro Rubén Castro retornou ao Las Palmas, onde tudo começou, a partir de 2018/19. Foram 30 gols, 15 em cada, nas duas temporadas pelos canários. Não ficou para 2020 e conseguiu se superar no Cartagena. Nas duas temporadas completas pelo clube, Castro totalizou 39 gols, 19 em 2020/21 e mais 20 em 2021/22. Assim, os 41 anos não foram problema para que o Málaga o buscasse na atual temporada. Os andaluzes atravessam um momento delicado nos últimos anos e lutam contra o rebaixamento para a terceira divisão. Castro não tem auxiliado tanto nessa urgência, com apenas sete gols em 27 partidas, seu pior rendimento em 15 anos. Apesar disso, foi capaz de quebrar o recorde de Quini nesta segunda-feira.

O Málaga derrotou o Zaragoza por 3 a 0, num resultado importante para reavivar as esperanças dos blanquiazules, que estão a cinco pontos de sair da zona de rebaixamento. Castro aproveitou a ocasião para fazer dois gols, que não apenas o emparelharam com Quini, como também deixaram o veterano para trás. Com mais dois tentos nas próximas rodadas, o centroavante do Málaga também pode superar Nino, ídolo do Elche, como jogador que mais vezes balançou as redes na segunda divisão.

A lista de recordes possíveis abarca outras estatísticas. Rubén Castro é o segundo jogador com mais partidas disputadas entre a primeira e a segunda divisão do Campeonato Espanhol. São 703 aparições, a seis de igualar a marca de Nino, que pendurou as chuteiras na temporada passada com o Elche. Já em gols, considerando também estrangeiros, apenas Lionel Messi (474) e Cristiano Ronaldo (311) estão à frente dos 285 tentos de Castro pelas duas divisões profissionais. Obviamente a assiduidade na segunda divisão impulsiona suas marcas, com 192 gols na segundona, contra 93 na elite. Mas nada que reduza sua capacidade de seguir tantos anos em alto nível.

Dá até para dizer que, não fosse o início de carreira atravancado, rodando por vários clubes depois de deixar o Las Palmas, Rubén Castro poderia ter números ainda mais graúdos. De qualquer forma, é preciso respeitar quem em 14 temporadas, num intervalo de 18 anos, registrou dois dígitos em gols pela liga nacional. Pode não ter a fama de um Quini, de um Zarra ou de um César, grandes artilheiros espanhóis de outrora que costumam ser exaltados como lendas de La Liga. Mesmo assim, pegou um atalho para se eternizar, e teve muita perseverança.

Foto de Leandro Stein

Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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