La Liga

A derrota do Barcelona para o Osasuna é um retrato da frustração e Messi deu uma forte entrevista ao final

A apatia do Barcelona seria completa nesta quinta-feira decisiva pelo Campeonato Espanhol. E nem tanto pelo título do Real Madrid, que já parecia bastante certo, até realmente se confirmar com uma rodada de antecipação. O pior seria a festa merengue combinada com um rara derrota blaugrana dentro do Camp Nou, a primeira nesta Liga, diante do modesto Osasuna. Lionel Messi até anotou um golaço de falta, mas isso não foi suficiente para impedir os visitantes, que abriram o placar e concluíram a vitória por 2 a 1 nos acréscimos do segundo tempo. E o craque ainda desabafou: durante a saída de campo, o camisa 10 deu uma forte entrevista indicando seu cansaço diante de tantas frustrações ao redor dos catalães – que não se contêm apenas à bola, aliás.

O Barcelona pareceu fazer questão de encerrar uma campanha melancólica em La Liga com mais um golpe em seu ânimo nesta quinta. Quique Setién preferiu poupar jogadores importantes, como Jordi Alba, Sergio Busquets, Arturo Vidal e Luis Suárez, além da ausência do lesionado Antoine Griezmann. A escalação tinha nomes mais jovens, como os ascendentes Riqui Puig e Ansu Fati, além de Martin Braithwaite no comando do ataque. E as coisas começaram a dar errado logo aos 15 minutos, com o primeiro gol do Osasuna.

Lançado pela esquerda, Pervis Estupiñán chegou à linha de fundo e cruzou rasteiro, com Gerard Piqué passando no vazio ao tentar cortar o passe de calcanhar. O ex-barcelonista José Arnáiz apareceu livre dentro da área e bateu no canto de Marc-André ter Stegen – que já tinha realizado uma boa defesa pouco antes. Era um baque aos blaugranas na noite decisiva, diante de um adversário bem mais aplicado e interessado no resultado. O Osasuna até dava a bola aos catalães, mas não concedia espaços.

Letárgico, o Barcelona seguiria ameaçado. Seu único respiro vinha nas faltas cobradas por Messi. O camisa 10 carimbou o travessão aos 22 minutos e basicamente nisso se resumiria a criação dos blaugranas no primeiro tempo. Na volta à segunda etapa, com sua equipe aumentando a intensidade, o artilheiro até carimbou o goleiro Sergio Herrera após tabela pelo lado direito da área, mas foi num tiro livre direto que arrancou o empate, aos 17 minutos. Mandou a bola certeira, rente à trave, sem que o arqueiro chegasse a tempo.

Quique Setién acionaria os medalhões no banco de reservas, com a nota positiva ao retorno de Frenkie de Jong. O Barça tentaria a virada e Suárez acertaria um voleio nas redes, em golaço anulado por impedimento. Até parecia possível o triunfo, especialmente depois que o Osasuna ficou com um jogador a menos. Aos 32 minutos, Enric Gallego deixou o cotovelo no rosto de Clément Lenglet e recebeu o merecido cartão vermelho direto. Porém, a expulsão aumentaria os contornos do vexame blaugrana. A vitória do Osasuna se concluiu aos 48 minutos, num contra-ataque totalmente aberto. Kike Barja cruzou pela direita e Roberto Torres deu a estocada fatal. Suárez ainda acertou o travessão no fim, o que não apagaria a decepção.

Messi foi aos microfones na saída de campo e fez suas críticas: “Não esperávamos terminar assim, mas essa derrota marca tudo o que foi a temporada. Somos uma equipe débil, da qual ganham por intensidade e vontade. Perdemos muitos pontos onde não deveríamos deixar. Fomos muito irregulares. O Real Madrid fez sua parte. Depois da pausa, não perdeu nenhuma partida. Temos que fazer a autocrítica, começando pelos jogadores, mas também todos os outros. Somos o Barcelona e temos a obrigação de ganhar todos os encontros”.

“Disse que, se continuássemos dessa maneira, era difícil ganhar a Champions e está claro que isso não serviu nem para La Liga. Precisamos de um pouco de ar e pensar na Champions. É uma competição que recomeça do zero. Temos que mudar muitíssimo e fazer muita autocrítica, sem pensar que perdemos porque o rival foi melhor. Jogando assim, vamos perder também para o Napoli. Deixamos uma imagem muito ruim para o que vem. Não vamos a nenhum lugar jogando assim. As pessoas no clube estão muito bravas e é normal, porque nós também estamos. As pessoas estão perdendo a paciência e é normal, porque não damos nada a elas”, completou.

Restando uma rodada para o fim da campanha, o Barcelona soma 79 pontos, sete a menos que o Real Madrid. É a menor pontuação dos blaugranas no Campeonato Espanhol desde 2007/08. O time segue com o melhor ataque da Liga porque existe um Messi, mas a dependência do craque possui seu preço e o Barça não se acertou em nenhum setor. A caminhada é longa e não deve continuar com Quique Setién, criticado pela maneira como não se deu bem nos vestiários. Para piorar, a situação política não ajuda. O enfado de Messi é totalmente compreensível, depois de uma derrota que só aumenta a exposição à crise.

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Leandro Stein

É completamente viciado em futebol, e não só no que acontece no limite das quatro linhas. Sua paixão é justamente sobre como um mero jogo tem tanta capacidade de transformar a sociedade. Formado pela USP, também foi editor do Olheiros e redator da revista Invicto, além de colaborar com diversas revistas. Escreveu na Trivela de abril de 2010 a novembro de 2023.
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