Espanha

‘Déjà vu’? 3 diferenças do Real Madrid atual para os galáticos que dão esperança aos madridistas

Quarteto Mbappé, Vini, Bellingham e Rodrygo rende comparação com histórico time dos anos 2000, mas há alguns pontos distintos

A chegada de Kylian Mbappé ao Real Madrid rendeu uma inevitável comparação com o marcante time dos galáticos dos anos 2000, mais aclamados pela forma midiática que foram tratados do que pelo resultado esportivo.

Claro, é natural comparar as gerações. Se antes tinham Zinedine Zidane, Ronaldo Fenômeno, Luís Figo e David Beckham, agora os merengues terão Mbappé, Vinicius Júnior, Jude Bellingham e Rodrygo para 2024/25.

Com as analogias, também vem o temor dos torcedores que os astros atuais repitam os resultados daquela equipe, que desde a formação (2003) até o fim do quarteto (2005, com a saída de Figo para Internazionale), não venceu os títulos mais importantes: Champions League, La Liga e nem a Copa do Rei.

Porém, não é para tanto. Há enormes diferenças entre os midiáticos Galácticos de 2000 e os atuais “novos Galácticos”, desde aspectos táticos até individuais, e a Trivela lista três delas.

1. O ambiente conturbado

Se o Real de Carlo Ancelotti em 2024 tem um legado e uma continuidade, não dá para dizer a mesma coisa do clube há mais de 20 anos.

O contexto e projeto do presidente Florentino Pérez à época era trazer uma estrela a cada ano, bombando as receitas em tudo que poderia: contratos comerciais, turnês pelo mundo na pré-temporada e muito mais. Por vezes, o esportivo ficava de lado.

Deu certo em 2000, campeão europeu ainda sem o quarteto, mas com os ídolos blancos Roberto Carlos e Raúl González, e em 2002, quando levou a Orelhuda com Figo (contratado no meio de 2000) e Zidane (2001).

Ronaldo Fenômeno veio em 2002 e, ainda sob comando de Vicente del Bosque, venceram La Liga 2002/03.

O trem descarrilhou com a chegada de David Beckham, em 2003, e a saída do esforçado, veloz e ótimo nos desarmes Claude Makélélé.

Del Bosque não teve o contrato renovado e abriu o caminho para seguintes sucessões no comando técnico que impediram qualquer continuidade de preparação e trabalho.

Juntos, entre 2003 e 2005, Figo, Zidane, Beckham e Ronaldo foram treinados por quatro técnicos diferentes, com uma média de 6 meses cada um.

Os treinadores do Real entre 2003 e 2005

  • Carlos Queiroz
  • José Antonio Camacho
  • Mariano García Remón
  • Vanderlei Luxemburgo
Vanderlei Luxemburgo orienta Beckham e Figo no Real Madrid (Foto: imago/Hoch Zwei)

Os resultados foram pífios. Na Champions, quedas para Juventus (2003) e Mônaco (2004) nas oitavas e quartas de final, respectivamente.

Já na Copa do Rei, os grandes vexames do período, com derrota na final de 2004 para o Real Zaragoza e eliminação nas oitavas de 2005 para o Real Vailadolid.

A única taça foi a Supercopa da Espanha de 2003, em cima do Mallorca, logo no início da temporada, com gols de Beckham, Raúl e Ronaldo. Uma ilusão que não se provou.

— Não são só nomes, é formar um time, o que não tínhamos [à época]. Três anos inteiros sem ganhar nada e brigar por nada. […] Essa fase é a que não gosto de lembrar — afirmou Iker Casillas, o goleiro titular daquele Galácticos, ao jornal espanhol As em dezembro de 2020.

Atualmente, é exatamente o oposto. Florentino liderou uma transição quase perfeita do tricampeão europeu consecutivo em 2016, 17 e 18, para o elenco atual.

Saíram Cristiano Ronaldo, Raphael Varane, Sérgio Ramos, Marcelo e mais recentemente Karim Benzema e a reposição foi com jovens extremamente promissores, como Vini, Rodrygo, Camavinga, Militão, Tchouaméni e muitos outros.

Ao contrário da completa desorganização na comissão técnica em 2003, agora o Real tem trabalho de maior duração com Ancelotti, no cargo desde 2021 e com contrato até 2026.

O galáctico Real Madrid (Foto: Icon Sport)

- - Continua após o recado - -

Assine a newsletter da Trivela e junte-se à nossa comunidade. Receba conteúdo exclusivo toda semana e concorra a prêmios incríveis!

Já somos mais de 3.200 apaixonados por futebol!

Ao se inscrever, você concorda com a nossa Termos de Uso.

2. O equilíbrio defensivo

Obviamente falar do que será o Real com o novo quarteto é um exercício de futurologia, mas não devemos esperar um time exposto taticamente, especialmente por ser Ancelotti no comando.

Don Carlo, conhecido por ser um ótimo gestor de grupo, também é famoso por não deixar seu time frágil na defesa em prol de estrelas. Ele obviamente quer potencializar os melhores, como já faz no Santiago Bernabéu há três anos.

Se o experiente comandante italiano decidir escalar o time mais ofensivo possível, com Bellingham e Rodrygo pelos lados, Vini e Mbappé como dupla de ataque, ainda, sim, teria um time equilibrado defensivamente, projetando no 4-4-2 utilizado hoje por Ancelotti.

Isso porque Bellingham, Vini e Rodrygo são extremamente dedicados no momento sem bola — muito claro no 1 a 1 entre Real e Manchester City, nas quartas de final da Champions 2023/24, quando passaram quase 100 minutos só se defendendo.

Não dá para dizer a mesma coisa de Mbappé, normalmente criticado por sua pouca dedicação defensiva. Mas, caso ele fique à frente, responsável pela primeira pressão nos zagueiros/goleiro, não trará grandes problemas.

Atrás do quarteto ainda teria a presença física e intensa de uma dupla de volantes. As opções são ótimas: Federico Valverde, Eduardo Camavinga ou Aurélien Tchouaméni. Nesse contexto, Luka Modrić, mais experiente, traria pausa e qualidade no passe quando acionado.

Com Mbappé e trio da temporada recém-finalizada, Real Madrid continuará equilibrado em 24/25 (Foto: Sharemytatics)

Todo equilíbrio citado para o time atual não foi visto nos momentos em que os Galacticos de 2003 para frente estavam juntos, ainda mais pela obrigação de escalar o quarteto junto de Raúl.

Ou seja, era Ronaldo e Raúl na dupla de ataque, Figo e Beckham pelos lados, municiados por Zidane como meia. Na prática, apenas um volante e ainda sem Makélélé, que foi uma âncora para a equipe nos anos anteriores.

Nas partidas, o time se “dividia” em dois. Cinco (ou seis, quando Roberto Carlos subia) para atacar, e outros cinco para defender.

A recomposição era o mais grave problema, com tantos craques e alguns deles em idade mais avançada — Zidane e Figo passavam dos 30 anos e Ronaldo estava quase lá.

Essa era também ganhou a alcunha de “Zidanes e Pavones“, em referência ao craque francês e ao modesto zagueiro Francisco Pavón, vindo da base e que era a personificação da ideia de jogadores medianos correndo e se dedicando para os melhores brilharem.

– O que correu mal [no Real Madrid galáctico dos anos 2000]? O equilíbrio, muitos jogadores subiam e depois a recomposição não era tão fácil… Eu era zagueiro, era muito difícil defender com aquele tipo de jogadores. Tem que ter equilíbrio com jogadores que sobem e também descem — detalhou o zagueiro titular daquele período, Iván Helguera, em entrevista ao Marca em fevereiro deste ano.

O desequilibrado sistema ofensivo do Real Madrid a partir de 2003 (Foto: Sharemytatics)

3. O peso individual dos nomes

Comparar nome a nome também é traiçoeiro. O técnico que assumia o Real naquele momento sabia que tinha que dar um jeito que acomodar os quatro craques e Raúl.

Se não fizesse, a pressão e as críticas eram enormes. Além do preço pago por cada um (Figo e Zidane foram recordes à época), eram três atletas que tinham sido melhores do mundo recentemente e Beckham, duas vezes segundo na Bola de Ouro e na premiação da Fifa (1999 e 2001).

Para 2024/25, porém, Ancelotti não se vê pressionado. Com exceção da titularidade óbvia de Mbappé, Vini e Bellingham, Ancelotti tem liberdade para buscar o melhor encaixe.

Vinícius Júnior finge tirar foto de Bellingham (Icon Sport)

Respaldado pela gestão e dono do vestiário, o experiente técnico italiano pode, para ter mais consistência defensiva, sacar Rodrygo para colocar Valverde pela direita e Camavinga e Tchouámeni por dentro.

Apenas as próximas temporadas nos darão a exata proporção entre os primeiros Galácticos e os novos, mas tudo indica que o torcedor merengue pode ficar tranquilo e talvez possa comemorar ainda mais taças.

Foto de Carlos Vinicius Amorim

Carlos Vinicius AmorimRedator

Nascido e criado em São Paulo, é jornalista pela Universidade Paulista (UNIP). Já passou por Yahoo!, Premier League Brasil e The Clutch, além de assessorias de imprensa. Escreve sobre futebol nacional e internacional na Trivela desde 2023.
Botão Voltar ao topo