Espanha

Carvajal: “Depois da quarentena, jogo cada partida como se fosse a última, preciso aproveitar”

Dani Carvajal está mais acostumado a tocar em tópicos técnicos e circunstanciais de jogo em suas entrevistas, mas o lateral direito do Real Madrid bateu um interessante papo com a revista Esquire, abordando assuntos sob um prisma mais original. Em uma de suas respostas, o espanhol revelou como a quarentena o fez encarar de maneira diferente o dia a dia de preparação para os jogos: “Jogo cada partida como se fosse a última”.

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Aos 28 anos, o lateral direito entende que possivelmente mais de metade de sua carreira profissional já se foi, mas, por ora, prefere não pensar em aposentadoria. O período de confinamento devido ao Coronavírus lhe ensinou a apreciar mais o presente e viver nele.

“Com a quarentena, mudei meu chip e tento fazer com que cada partida seja especial, como se fossa a última que jogarei. Tudo aconteceu muito rápido, e vou sentir falta (do futebol), então tenho que aproveitar”, disse.

Este período recluso em casa, por sinal, não foi fácil para Carvajal, que, de qualquer maneira, prefere focar o lado bom, levando em consideração como muita gente em situação vulnerável passou por verdadeiras dificuldades.

“Foi como deixar um leão enjaulado. Mas não posso me queixar: vivo em uma casa grande, com academia para treinar, jardim… Tenho muita sorte, e por isso tentei ajudar no que pude quem estava realmente em dificuldades, com situações muito mais adversas.”

Para um jogador de alto nível como ele, o lateral direito reconhece que “o grande medo eram as lesões”. Elas, de fato, afetaram um bom número de atletas devido à quantidade de jogos em um curto período, mas, para o espanhol, o início de uma nova temporada não significa que elas serão coisa do passado. “No Natal, muitas equipes estarão cansadas. E os que querem chegar longe na Champions League terão que dosificar os minutos, senão é impossível. E não apenas em relação à carga física, mas também à mental.”

Tocando um assunto pouco abordado, Carvajal traz uma reflexão curiosa sobre a vida de um atleta de um clube tão grande como o Real Madrid, em que a pressão é enorme: entre a dedicação do dia a dia e o lado familiar, não é simples fazer amigos em lugares assim.

“Não é fácil. Quando fui para o Leverkusen, em que a média de idade era de 23 anos, foi mais fácil. Todos compartilhávamos passatempos, não tínhamos mulher ou filhos. No Real Madrid, todos têm sua vida feita, e é um clube tão consolidado, em que todos lutam tanto, que não há tempo para mais nada, e a vida privada fica à margem”, revelou.

No papo com a Esquire, houve espaço também, é claro, para assuntos mais do jogo. Ponderando a sua função dentro de campo, Carvajal, um dos melhores laterais direitos do mundo nos últimos anos, deu sua ordem de hierarquia de prioridades a alguém de sua posição: defender primeiro, atacar depois.

“O futebol evoluiu muito. Cada vez mais, vemos o ponta reconvertido à lateral e vemos mais pontas puros colados à linha. Há muito jogo pelo centro, com meio-campistas que deixam a faixa livre para o lateral, mas, no final, penso que o lateral pertence à linha de quatro defensores e, primeiro, precisa ser um bom defensor. Depois, atacar.”

Ao falar de seu comandante, Zinédine Zidane, o tom é menos tático e mais sentimental, reforçando a impressão que temos de que o treinador conta com qualidades de gestão humana destacáveis.

“Sua maior virtude é a tranquilidade que nos transmite. Ele nunca se altera. Mantém sua compostura se as coisas vão bem ou mal. Isso é algo que a nós, jogadores, dá muita tranquilidade. Além disso, seu ponto forte é que confia muito no elenco, nos faz sentir que todos podemos contribuir, e isso transforma sua equipe em uma equipe vencedora”, analisou.

Vencedora, de fato. O Real Madrid de Zidane conquistou três Champions Leagues seguidas entre 2016 e 2018 e, embora tenha sido eliminado cedo nas últimas duas edições, em um momento de transição de gerações ainda em curso, conseguiu voltar a vencer La Liga na temporada passada, depois de dois anos de conquistas do rival Barcelona.

Foto de Leo Escudeiro

Leo Escudeiro

Apaixonado pela estética em torno do futebol tanto quanto pelo esporte em si. Formado em jornalismo pela Cásper Líbero, com pós-graduação em futebol pela Universidade Trivela (alerta de piada, não temos curso). Respeita o passado do esporte, mas quer é saber do futuro (“interesse eterno pelo futebol moderno!”).
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