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Atitude da CBF com Diego Costa parece despeito, não interesse

Deixe seu nacionalismo, orgulho ou qualquer que seja o sentimento que você nutra pela seleção brasileira de lado. Deixe também o idealismo pela manutenção da pureza do conceito de seleções nacionais. E esqueça por um momento o que a lei prevê ou não. A questão não é apenas filosófica ou legal. É também de como a decisão das pessoas pode se pautar pelo modo como elas são tratadas pelas outras.

Diego Costa voltou a ser convocado para defender a Seleção. Dessa vez, seria para os amistosos contra Honduras e Chile em 16 e 19 de novembro. E teremos a dose semanal de constrangimento que virou o assunto. Felipão não para de dizer que querem o jogador de amarelo, mas o atacante do Atlético de Madrid dá sinais muito mais positivos para Vicente del Bosque. Pelas informações que chegam da Espanha, será uma surpresa se o atacante aceitar essa convocação. E, se ele aceitar, terá de rebolar para explicar o porquê de ter dito tantas vezes que prefere a camisa vermelha à amarela sobre o calção azul.

Ideologicamente, ele deveria defender a seleção brasileira. Nasceu em Lagarto, interior do Sergipe, deve ter crescido torcendo pela Seleção e qualquer jogador teoricamente deveria ter como sonho defender o Brasil. Mas a vida de Diego Costa não parou no 15º aniversário. Muitas coisas ocorreram, e ele entrou no universo das pessoas que têm motivos para se sentir binacionais.

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Depois de uma passagem rápida por Portugal (apenas 22 jogos entre Braga e Penafiel), ele chegou à Espanha com 19 anos. Fez quase toda sua carreira profissional lá, vestindo as camisas de Celta, Albacete, Valladolid, Rayo Vallecano e Atlético de Madrid. São seis anos de Espanha, onde terminou seu desenvolvimento como jogador, se projetou e passou a ser respeitado. O atacante tem todos os motivos de ter consideração pelo que os espanhóis fizeram por ele e para querer retribuir isso de algum modo. Não é alguém que está simplesmente escolhendo o país por uma oportunidade que pintou, como Emerson Sheik com o Catar e Olisadebe com a Polônia.

Nesse contexto em que Diego Costa pode se sentir dividido entre Brasil e Espanha, questões pontuais podem fazer a diferença para definir sua escolha. Ele foi convocado uma vez pela seleção brasileira, se apresentou, treinou, entrou em campo nos amistosos contra Itália e Rússia e só. Foi em março.

Desde então, foram quatro convocações de Felipão (Copa das Confederações, Suíça, Austrália/Portugal e Coreia do Sul/Zâmbia, desconsiderando os amistosos em que o Brasil foi representado apenas por jogadores que atuam aqui), e o atacante não esteve em nenhuma. Não à toa, Diego comentou que Felipão viu o que ele tinha a oferecer tecnicamente e, aparentemente, não teria gostado. Como o técnico não entrou em contato para dizer onde o artilheiro do Campeonato Espanhol se encaixava em seus planos, o jogador se considerou descartado e cresceu os rumores de que ele escolheria a Espanha.

Se o cenário é realmente esse, não seria inédito. Thiago Alcântara, filho de Mazinho, foi indicado para defender o Brasil nas seleções de base, mas a CBF não quis dar muita satisfação. O meia se sentiu rejeitado e, entre o país de seus pais e o país em que ele cresceu para o futebol, ficou com o segundo.

Agora, Felipão e a CBF parecem desesperados por Diego Costa, como se ele fosse indispensável à Seleção. Se o desejo de tê-lo é tão grande, por que ele ficou de fora de quatro convocações, sendo que até Leandro Damião e Alexandre Pato (desnecessário falar da fase atual de ambos) foram chamados? Se o desejo de tê-lo é tão grande, por que a comissão técnica não expôs ao atacante do Atlético de Madrid onde ele se encaixa nos planos para a Copa do Mundo?

A atitude da CBF parece a da garota despeitada que ficou anos esnobando um rapaz apaixonado, mas que começa a chamá-lo para sair só porque ele desencanou e passou a namorar outra garota. Muito mais que interesse real, é apenas reserva de mercado.

No mundo ideal, os jogadores só atuariam pelas seleções dos países em que nasceram ou têm laços familiares e não trocariam de nacionalidade futebolística depois de atuar por um país, mesmo que em amistoso. No mundo real, a nova regulamentação da Fifa permite que Diego Costa defenda a Espanha mesmo depois de jogar pelo Brasil. Mas, se Diego Costa preferir a Espanha, não é pelos conceitos utópicos ou pela permissão legal. É simplesmente porque Felipão e a CBF não souberam lidar com ele, e agora tentam recuperar o tempo perdido.

Foto de Ubiratan Leal

Ubiratan Leal

Ubiratan Leal formou-se em jornalismo na PUC-SP. Está na Trivela desde 2005, passando por reportagem e edição em site e revista, pelas colunas de América Latina, Espanha, Brasil e Inglaterra. Atualmente, comenta futebol e beisebol na ESPN e é comandante-em-chefe do site Balipodo.com.br. Cria teorias complexas para tudo (até como ajeitar a feijoada no prato) é mais que lazer, é quase obsessão. Azar dos outros, que precisam aguentar e, agora, dos leitores da Trivela, que terão de lê-las.
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