Brasileirão Série ACritério de Desempate

No Brasileirão das estatísticas, a liderança é gaúcha

Tem uma coisa que eu não gosto no xG: a pronúncia. Eu já tenho o problema de falar meio rápido, embolando as palavras, então “chisgê” soa muito mal. Se eu tentar consertar isso usando “équisdí”, em inglês, continua feio e ainda fica pedante. Mas o resto eu gosto, e hoje eu vou contar o que o xG, que é muito melhor assim, escrito do que falado, tem pra dizer pra gente sobre as primeiras rodadas.

Algumas considerações importantes: o Critério de Desempate Brasileirão. Então, é possível encontrar conclusões um pouco diferentes, como essa do GE, mas isso decorre dos diferentes modelos de cálculo de xG utilizados.

Da base que eu acessei, selecionei duas variáveis: “proj_score” e “xG”. Como eu não quero deixar espaço para dúvida, vou chamar de “xG_Pre” e “xG”. Também quero definir dois termos: expectativa e eficiência. O primeiro vai comparar os resultados com a previsão anterior ao jogo, ou seja, o xG_Pre. Quando a comparação for com o xG, vou chamar de eficiência. No fim, ainda tem o desempenho, mas aí eu comparo xG com xG.

EXPECTATIVA (gols x xG_Pre)

Time Ataque Defesa
Vasco 2.91 2.69
Atlético-MG 1.85 1.81
Corinthians 1.18 0.02
Internacional 0.98 2.57
Atlético- GO 0.67 1.54
Bragantino 0.13 0.84
Bahia 0.04 1.71
Athletico-PR -0.22 -0.21
Goiás -0.23 -0.84
Botafogo -0.28 2.31
Fluminense -0.44 1.23
Sport -0.86 0.17
Santos -1.02 0.47
São Paulo -1.43 -0.03
Fortaleza -1.77 1.49
Ceará -1.77 -3.09
Palmeiras -2.24 0.89
Coritiba -3.12 1.04
Grêmio -3.74 2.62
Flamengo -6.76 -1.11

Se você não esperava esse desempenho do Vasco, as estatísticas também não. Até agora, tanto o ataque quanto a defesa mostraram vantagem de mais de dois gols em relação à expectativa. A decepção, por outro lado, é justamente o rival. A expectativa era que o Flamengo tomasse um gol a menos e fizesse SETE a mais.

Algumas leituras possíveis são, por exemplo, o Bahia, que cumpriu à risca a expectativa no ataque, mas o desempenho defensivo está acima da média. Com o Corinthians é o contrário: dentro da previsão na defesa, o Timão já tem mais gols que o esperado.

EFICIÊNCIA (gols x xG)

Time Ataque Defesa
Vasco 4.14 2.42
Atlético-GO 1.50 0.11
Palmeiras 1.16 -0.42
Goiás 1.11 -1.39
Corinthians 0.91 1.66
Santos 0.82 2.44
Internacional 0.48 0.50
Fluminense -0.02 -0.95
Atlético-MG -0.04 1.88
Bragantino -0.39 -0.99
Coritiba -0.63 2.23
Botafogo -0.89 3.20
Bahia -1.10 2.02
Fortaleza -1.21 0.88
Athletico-PR -1.24 -1.37
Sport -1.61 -1.56
São Paulo -1.88 0.33
Ceará -2.08 -1.50
Flamengo -3.83 -1.30
Grêmio -4.24 0.85

Flamengo e Vasco não surpreendem só na expectativa, mas também no desempenho. Pelo volume de jogo do cruzmaltino, esperava-se que o time tivesse feito quatro gols a menos e sofrido dois a mais. O rubro-negro, por sua vez, deveria ter marcado quatro a mais e sofrido pelo menos um a menos. Tanto na eficiência quanto na expectativa, o futebol carioca começa curioso.

Usando o mesmo exemplo, é possível ver otimismo em ambos os times. Para o Vasco, pode ser um sinal de que o time é melhor do que as estatísticas imaginam; se o time mantiver o aproveitamento, os cálculos vão diminuir essa margem de surpresa atual, mas essa frase começa com “se”. No caso do Flamengo, considere a regressão à média: não é normal jogar assim e marcar tão pouco, então a manutenção do jogo pode trazer os gols de volta.

Também é possível ver pessimismo nos dois times invertendo essas abordagens: o Vasco regredindo à média e o Flamengo confirmando o viés negativo. Estatisticamente, o mais provável é o retorno à média, de forma que o Grêmio deve recuperar os quatro gols não marcados com o tempo, e o Botafogo pode compensar os três gols que não sofreu com o passar dos jogos.

DESEMPENHO (xG)

Time xG Saldo xG Ataque xG Defesa
Grêmio 4.39 7.24 2.85
Internacional 4.02 6.52 2.50
Flamengo 2.13 5.83 3.70
Athletico-PR 1.61 4.24 2.63
São Paulo 1.55 4.88 3.33
Bragantino 1.38 5.39 4.01
Atlético-MG 1.16 7.04 5.88
Bahia 1.08 5.10 4.02
Palmeiras 0.26 1.84 1.58
Sport 0.17 2.61 2.44
Fluminense -0.03 4.02 4.05
Vasco -0.56 2.86 3.42
Fortaleza -0.67 4.21 4.88
Botafogo -1.31 3.89 5.20
Ceará -1.42 3.08 4.50
Corinthians -1.57 4.09 5.66
Atlético-GO -1.61 2.50 4.11
Goiás -1.72 0.89 2.61
Santos -2.26 4.18 6.44
Coritiba -6.60 1.63 8.23

Aqui, olhamos apenas para o xG. O mais legal de olhar para essa classificação é que, como mencionei lá no primeiro texto, o xG é melhor na previsão de gols do que os próprios gols. Cada time tem o seu acumulado na coluna xG Ataque, e o dos seus adversários acumulado na coluna xG Defesa.

Ordenando pela diferença, na coluna xG Saldo, o líder é o Grêmio. O Tricolor foi, estatisticamente, melhor que todos os adversários até agora, mas como vimos na seção anterior, tem dificuldade em transformar o domínio em gols. O principal peso aqui é o jogo contra o Corinthians: o placar do jogo em xG foi 2.83 x 0.31 para o Grêmio, mas o placar real foi 0x0.

Se o Grêmio deveria ter melhor sorte do que o atual sétimo lugar, o mesmo não se pode dizer do Coritiba. Dominado nos quatro jogos até agora, o Coxa tem um saldo de xG duas vezes e meia pior que o do Santos, segundo pior nessa variável. Detalhe é que o time tem -5 de saldo, ou seja, pode-se dizer em meio a alguns sorrisos amarelos que está levemente eficiente.

Importante destacar que essa é uma previsão de gols marcados e sofridos, e não de pontos – consequentemente, não é necessariamente uma classificação estatística. O supracitado Santos, por exemplo, é um caso curioso: quinto lugar no Brasileiro e penúltimo no desempenho. Mas muito disso se deve ao jogo contra o Inter, em que foi dominado. Os demais jogos foram bastante parelhos, com leve vantagem santista. Uma classificação por xP (expected points) deve colocar o Peixe não com os atuais sete pontos, mas algo em torno de cinco e bem longe da vice-lanterna.

FORÇA DA TABELA 5 E 6

Por fim, seguindo a série da FoTab, segue o esperado para as rodadas 5 e 6:

Gráfico 1 – Força da tabela da rodada 5

Gráfico 2 – Força da tabela da rodada 6

Reforço aqui o seguinte: nessa análise, eu considero “fase” como um grupo de 6 jogos. Como ainda não chegamos lá, sigo considerando os resultados de 2019 pra medir a força. Por isso, um jogo contra o Flamengo ainda tem o peso de um líder, e não de um 17° colocado. Isso muda na semana que vem, quando já tivermos insumo suficiente pra chamar de boas ou ruins as fases que vivem os times.

Foto de Rodrigo Salvador

Rodrigo Salvador

Rodrigo Salvador é matemático industrial e mestre em Engenharia de Produção. Nas horas vagas e algumas outras, entusiasta da análise de dados no futebol
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