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Como é o desempenho dos times do Brasileirão nos últimos 20 anos pelo saldo de vitórias

Você conhece o saldo de vitórias? É um dado que pode nos dar uma ideia do desempenho dos times. Confira como foi nos últimos 20 anos no Brasileirão

Rodrigo Salvador é matemático industrial e mestre em Engenharia de Produção. Nas horas vagas e algumas outras, entusiasta da análise de dados no futebol. Acompanhe outros textos da coluna Critério de Desempate.

Na estreia aqui do Critério de Desempate, eu argumentei que o futebol é um esporte que produz poucos dados quando comparado com outros. Não é por isso que eles não podem ser analisados, tratados, estudados, estimados. A diferença é o desafio em fazê-lo. Esse é um ponto que eu vou retomar quando tratar de análises individuais de atletas.

No estado da arte, isso já existe. É possível – ao menos nas grandes ligas do mundo – determinar como cada jogador responde às ações do jogo, o quanto contribui com o resultado, suas qualidades e deficiências, tudo baseado em modelos computacionais.

Sobre estes modelos, uma definição importante: eles são nada mais do que exatamente o que a gente conhece, mas em maiores escalas. Um modelo só diz que uma jogada é boa se ele foi treinado por alguém que categorizou jogadas semelhantes como boas. Se o objetivo do modelo for gerar novas informações, elas precisam ser validadas posteriormente por analistas. Então não, os modelos não são bolas mágicas de cristal que te forçam a acreditar nelas.

No Brasil, porém, estamos bem distantes disso. Dos três tipos de dados apresentados no texto anterior, os dados de tracking são praticamente inexistentes. E enquanto eu não encontro a base de eventos adequada pra uma análise, vou fazendo meus malabarismos com os dados de report que, esses sim, são fáceis de achar. Caso o leitor espere mais detalhamento, eu peço calma: a gente chega lá. Vamos primeiro visitar o que a gente tem de dados na mão.

A ideia hoje é a visualização dos dados. Os mosaicos a seguir apresentam o desempenho dos times da Série A desde 2000, rodada a rodada. Não consta o gráfico do Bragantino, que não joga a elite desde 1998; e incluí o do Cruzeiro. Caso o leitor queira o mosaico de outro time que tenha jogado a Série A de 2000 pra cá, pode me solicitar diretamente via Twitter. A ordem não é nem alfabética, nem por classificação, nem por região: é aleatória. Assim o leitor não vai correr até seu time preferido, mas sim ser convidado a ver todos os mosaicos e compará-los. Em cada imagem, 20 anos de história resumidos.

Em cada gráfico, é apresentada a evolução do “saldo de vitórias”, ou seja, o total de vitórias menos o total de derrotas. Quando o saldo é positivo, o gráfico fica verde; quando é negativo, fica vermelho. Como regra geral, um saldo de vitórias próximo de zero coloca o time no meio da tabela. Gráficos sem nenhum dado indicam que o time não jogou a Série A – e provavelmente tem um gráfico bem vermelho antes deles.

Internacional

O gráfico dos últimos 20 anos do Inter no Brasileirão (clique para ampliar)

O Internacional teve cinco temporadas em que não viu em nenhum momento o número de derrotas ser maior que o de vitórias: 2003, 2006, 2009, 2012, 2014. Em 2016, o ano do rebaixamento, o que se percebe é que a queda ocorreu essencialmente pelo desempenho entre as rodadas 9 e 26, onde a queda do gráfico é muito acentuada.

Goiás

O gráfico dos últimos 20 anos do Goiás no Brasileirão (clique para ampliar)

A principal campanha do Goiás no século é o terceiro lugar de 2005. Mas dois destaques surgem daqui: a recuperação em 2003 e a reta final de 2013.

Cruzeiro

O gráfico dos últimos 20 anos do Cruzeiro no Brasileirão (clique para ampliar)

É possível que muitos gráficos dessa série não deixem tão evidentes algumas tendências. A culpa é do Cruzeiro de 2003, que obrigou o eixo y do gráfico a aumentar – o saldo final de vitórias da Raposa foi 23, um recorde absoluto. Do lado negativo, entre o rebaixamento do ano passado e o quase de 2011, a diferença principal está nas últimas rodadas: há 9 anos, o time foi capaz de conter a queda a partir da rodada 34.

Vasco

O gráfico dos últimos 20 anos do Vasco no Brasileirão (clique para ampliar)

Preocupa que, no geral, o quadro do Vasco esteja mais vermelho que verde. À exceção do período final de 2017 e inicial de 2018, o saldo negativo de vitórias é regra desde 2012. O destaque óbvio é 2011. Vice por dois pontos, o Trem Bala da Colina ganhou a Copa do Brasil e então passou a dominar o Brasileiro, mas as 10 primeiras rodadas de duplo foco fizeram falta no fim.

Atlético Mineiro

O gráfico dos últimos 20 anos do Atlético Mineiro no Brasileirão (clique para ampliar)

Dá pra chamar de surreal a guinada do Atlético Mineiro de 2010/11 pra 2012. Pro torcedor atleticano, a inconstância não é necessariamente uma novidade, dado o que ele viveu em 2003/2004. Uma comparação interessante é entre 2005 e 2010. Nos dois anos, o Galo chegou a bater -10 de saldo de vitórias e então recuperou. No primeiro caso, perdeu o controle logo depois e acabou rebaixado.

Atlético Goianiense

O gráfico dos últimos 20 anos do Atlético Goianiense no Brasileirão (clique para ampliar)

O Atlético Goianiense é claramente um patinho feio na Série A. O ponto alto do Dragão é o saldo positivo na rodada 31 de 2011.

Botafogo

O gráfico dos últimos 20 anos do Botafogo no Brasileirão (clique para ampliar)

A regra do Botafogo é não ter nenhum expoente. Quase sempre próximo do saldo zero, a principal exceção é justamente 2014. Mesmo em 2010, o melhor ano da série, só mostra o crescimento no segundo terço do campeonato, e ainda uma enorme série de empates.

Fortaleza

O gráfico dos últimos 20 anos do Fortaleza no Brasileirão (clique para ampliar)

Os analistas dizem que Rogério Ceni coloca o Fortaleza em outro patamar. É justamente o que esperamos, pra ver o Leão com mais áreas verdes nesse mosaico. Por hora, só em 2005 o time chegou nesse estágio.

São Paulo

O gráfico dos últimos 20 anos do São Paulo no Brasileirão (clique para ampliar)

O São Paulo é, junto com o Grêmio, um dos times mais dominantes no Brasileiro. A primeira década foi de domínio puro e absoluto. E mesmo rodeado de críticas recentemente, o Tricolor só esteve na área vermelha do gráfico em 2 dos últimos 6 anos. Um detalhe interessante é 2002. Quem lembra da mudança do mata-mata para os pontos corridos sabe que o São Paulo foi o principal argumento da época. Em 2002, o time terminou a primeira fase na liderança, mas demorou metade do campeonato para acelerar rumo ao topo.

Palmeiras

O gráfico dos últimos 20 anos do Palmeiras no Brasileirão (clique para ampliar)

A melhor tendência a se observar no Palmeiras é a falta de freio, tanto para o bem quanto para o mal. Em pelo menos metade dos campeonatos a tendência inicial do time se mantém até o fim. As principais exceções são 2005 e 2011, cada uma de um lado da moeda.

Flamengo

O gráfico dos últimos 20 anos do Flamengo no Brasileirão (clique para ampliar)

Isso aqui pode chocar os mais novos, mas o Flamengo já foi ruim, e bem ruim. Entre 2001 e 2015, foram apenas 3 anos aparecendo com saldo positivo de vitórias. Um caso muito especial é 2009, no qual o Flamengo fez um campeonato dentro do padrão do time por dois terços da competição. O título veio de forma totalmente inesperada na reta final – foi quando ganhou força o “Deixou chegar”.

Fluminense

O gráfico dos últimos 20 anos do Fluminense no Brasileirão (clique para ampliar)

Me chama muito a atenção a semelhança entre o 2006 e o 2015 do Fluminense. Primeiro terço bom, segundo terço péssimo, terceiro terço mais ou menos estável. Fica aí a dica pra quem quiser encontrar mais semelhanças entre as duas temporadas. Outro destaque, além do enorme domínio no título de 2012, é o milagre de 2009. O tamanho da área vermelha no gráfico normalmente condena o time, mas Flu conseguiu montar quase que uma semi-elipse no plano cartesiano por conta da campanha.

Sport

O gráfico dos últimos 20 anos do Sport no Brasileirão (clique para ampliar)

O Sport teve dois anos totalmente na área verde. Seguidos de dois anos totalmente na área vermelha. A impressão é que o Sport não tem o direito de ter um descuido sequer que logo é rebaixado. Nos anos que não caiu, as campanhas em geral têm saldo de vitórias próximo a zero.

Corinthians

O gráfico dos últimos 20 anos do Corinthians no Brasileirão (clique para ampliar)

No final dos anos 90, o Corinthians criou uma expectativa de que sempre estaria na região verde destes gráficos. É uma tendência, sim, mas apenas mais recente: foram 10 anos até emplacar campanhas positivas em sequência. Quanto ao rebaixamento, chama a atenção a comparação da campanha do Timão com a dos outros rebaixados: é quase uma campanha linear, de meio de tabela. Evidencia, na verdade, o equilíbrio do campeonato de 2007.

Athletico Paranaense

O gráfico dos últimos 20 anos do Athletico Paranaense no Brasileirão (clique para ampliar)

O título de 2001 e o vice de 2004 imediatamente se destacam. Especialmente porque, com raras exceções, o Athletico Paranaense costuma ter campanhas estáveis. Mesmo quando cria uma tendência inicial, o Furacão acaba tomando um caminho contrário no decorrer do campeonato. De repente, uma ideia é começar 2020 perdendo pra depois emendar uma série de vitórias – em 2013 funcionou.

Santos

O gráfico dos últimos 20 anos do Santos no Brasileirão (clique para ampliar)

 

A torcida do Santos é uma das mais despreocupadas com rebaixamento. Dá pra apontar nos dedos em que isso foi assunto: 2008, 2015, forçando a barra 2018. Duas observações sobre dois títulos: em 2004, o Peixe campeão ficou mais de 10 rodadas perdendo mais que ganhando – não é tão raro um campeão que começou mal o campeonato, mas é sempre uma boa curiosidade. Outra é o título de 2002 que, no gráfico, parece uma campanha absolutamente comum. Até porque foi: oitavo lugar na primeira fase. Também vale o destaque ao enorme desempenho de 2003, ofuscado pelo Cruzeiro.

Ceará

O gráfico dos últimos 20 anos do Ceará no Brasileirão (clique para ampliar)

O Ceará assustou muita gente nas 10 primeiras rodadas de 2010. De lá pra cá, foi apenas um coadjuvante. Curiosamente, no rebaixamento de 2011, quando foi semifinalista da Copa do Brasil, a queda de desempenho veio depois da metade do campeonato, e não enquanto dividia as atenções entre as competições.

Coritiba

O gráfico dos últimos 20 anos do Coritiba no Brasileirão (clique para ampliar)

Pelo volume de áreas vermelhas no gráfico é até impressionante que o Coritiba tenha só 3 rebaixamentos. Por outro lado, também impressiona a tendência de subida no final da maioria dos gráficos mais recentes; é um perigo jogar contra o Coxa no fim do campeonato. Outros dois destaques são a grande campanha de 2003, quando terminou em quinto e foi à Libertadores, e o rebaixamento de 2005, no qual o Coxa sequer era cotado para queda até a rodada 30.

Grêmio

O gráfico dos últimos 20 anos do Grêmio no Brasileirão (clique para ampliar)

A força do Grêmio fica evidente de imediato. Tanto que 2003 e 2004 parecem gráficos de outro time. Interessante é notar uma tendência: de 2000 a 2010, foram sete campeonatos praticamente iguais: começo ruim, retomada no meio e subida até o fim. Parece claro que o Tricolor Gaúcho precisava corrigir sua largada no campeonato. A partir de 2012, foi o que aconteceu. Ano passado, repetiu a tendência antiga, mas ainda finalizando com boa campanha.

Bahia

O gráfico dos últimos 20 anos do Bahia no Brasileirão (clique para ampliar)

O Bahia talvez seja o time do nordeste com maior tempo na zona verde do gráfico. Nesse quesito, o Esquadrão tem dois campeonato praticamente perfeitos: 2000 e 2019.

Foto de Rodrigo Salvador

Rodrigo Salvador

Rodrigo Salvador é matemático industrial e mestre em Engenharia de Produção. Nas horas vagas e algumas outras, entusiasta da análise de dados no futebol
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