Copa do Mundo

Uma zebra daquelas: Arábia Saudita encurrala a Argentina e consegue vitória histórica

Os sauditas venceram pela segunda vez em Copas desde 1994 e encerraram sequência de 36 jogos de invencibilidade da Argentina

Quem acordou cedinho para o primeiro jogo às 7h da Copa do Mundo não se arrependeu. Esperando um show de Lionel Messi e uma vitória tranquila da Argentina, uma das candidatas ao título, viu uma zebra histórica. Geralmente um saco de pancadas, a Arábia Saudita saiu perdendo, mas virou o jogo para 2 a 1 e ganhou uma partida de Mundial apenas pela segunda vez desde 1994. Além disso, encerrou a invencibilidade de 36 partidas da seleção argentina, a maior entre nações sul-americanas, e a impediu de igualar o recorde mundial – 37, da Itália.

O time muito bem treinado por Hervé Renard surpreendeu a favorita com uma estratégia agressiva de pressão, marcação alta e linhas de impedimento. A Argentina não soube lidar com isso. Embora tenha aberto o placar cedo, pareceu muito nervosa quando tentava atacar e sofreu com uma pane defensiva no começo do segundo tempo, muito bem aproveitada por Salel Al-Shehri e por um golaço de Salem Al-Dawsari, o craque do time. Lionel Messi, em turnê de despedida na Copa do Mundo, marcou o gol da Argentina cobrando pênalti, mas pouco fez depois disso, muito bem marcado e sem potência física.

Como virou regra no Catar, a partida teve quase 15 minutos de acréscimo, em parte por um susto quando o goleiro saudita Mohammed Al-Owais trombou com o defensor Yasir Al-Shahrani. A Argentina, porém, era puro desespero àquela altura e não conseguiu evitar uma derrota inesperada. Agora, terá que correr atrás contra México e Polônia para se recuperar na fase de grupos da Copa do Mundo. Desde a grande campanha nos Estados Unidos, quando chegaram às oitavas de final, os sauditas haviam conseguido vencer apenas o Egito, na Rússia. E agora, quem diria, a Argentina.

Escalações

Lionel Scaloni escolheu Papu Gómez pelo lado esquerdo do ataque, junto com Di María, Messi e Lautaro Martínez. Sem surpresas na escalação, com Leandro Paredes e Rodrigo de Paul fazendo dupla de meio-campo, e Nicolás Otamendi ao lado de Cristian Romero na defesa. A Arábia Saudita também não apresentou grandes mudanças. Saad Abdulhamid ganhou a disputa pela lateral direita, e Hassan Al-Tambakti foi titular na zaga.

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Argentina x impedimento

A primeira ação do lance terminou com Messi. Di María encontrou Lautaro Martínez, que perdeu um pouco o controle da bola na entrada da área. O camisa 10 chegou batendo de chapa, rasteiro, para boa defesa de Al-Owais. Pouco depois, Messi mandou escanteio para a área e o lance seguiu. Mas quando teve oportunidade, o árbitro Slavko Vincic foi ao monitor checar um agarrão de Abdulhamid em Paredes dentro da área. Ficou satisfeito e anotou o pênalti. Messi cobrou sem problemas e abriu os trabalhos de sua última Copa do Mundo.

A tranquilidade que a Argentina sentiria por ter marcado cedo foi abalada por uma combinação entre a estratégia da Arábia Saudita e um conceito do futebol chamado impedimento. Apostando na precisão milimétrica do sistema semi-automático que a Fifa está usando no Mundial, o time de Hervé Renard adiantou suas linhas, pressionou a Argentina e entregou todo seu campo de defesa. Convidou a adversária ao lançamento e aos passes em profundidade, bem disciplinada com a linha de impedimento.

Funcionou. Por muito pouco, mas funcionou. Foram sete impedimentos da Argentina, três deles anulando outro gol de Messi e dois de Lautaro Martínez – ambos bem bonitos, com um tapa elegante na saída de Al-Owais e o segundo com um bonito drible ao goleiro. Mas mais do que os lances em si, o excesso de impedimentos pareceu deixar a Argentina nervosa. Não conseguiu ajustar as corridas, errava passes na tentativa de forçar a bola nas costas da Arábia Saudita e não teve calma para trabalhar a posse de bola.

Poderia ter buscado empurrar os sauditas para trás, tentar sair da pressão com toques mais curtos, mas não resistiu à tentação de explorar aquelas linhas altas. Em resumo, caiu na armadilha de Renard. Pelo menos, com a bola, a Arábia Saudita não foi perigosa. Isso até o começo do segundo tempo.

Arábia Saudita vira o jogo

Dava para imaginar que a Argentina voltaria com um plano diferente para o segundo tempo, mas, se essa era a ideia, a Arábia Saudita não lhe deu tempo de executar. Aos dois minutos, Messi foi desarmado no meio-campo, e Al Malki emendou um bom passe para a entrada da área. Al-Buraikan não conseguiu o domínio, mas a sobra ficou com Al-Shehri, que botou na frente, ganhou de Romero e chutou cruzado para empatar. Logo depois, um golaço para a virada. Nawaf Al-Abed bateu colocado pela direita da área, a defesa afastou, e o craque Salem Al-Dawsari dominou no outro lado. Com uma puxada, deixou Di María e Molina para trás. Deu outro drible em De Paul antes de bater no canto alto de Martínez e colocar os sauditas à frente.

Argentina desesperada

Ainda havia muito tempo pela frente. Scaloni se mexeu. Romero, que fez um jogo bem ruim, foi trocado por Lisandro Martínez. Julian Álvarez entrou na vaga de Papu Gómez, buscando mais presença de área, e Enzo Fernández substituiu Leandro Paredes. Mas a Argentina claramente sentiu o golpe. Precisava de calma para sair da pressão e escolher melhor a hora de acelerar. Não fez isso. Continuava forçando passes por dentro, em vez de explorar mais os lados, onde levava vantagem.

Messi se posicionou na frente da área, encaixotado pela marcação, e teve tremenda dificuldade para jogar. Sem chance de finalização, poucos lances criados. Em um escanteio, a Argentina exigiu uma boa defesa de Al-Owais. Otamendi recolheu pela direita da área, bateu rasteiro, e Lisandro Martínez chutou de frente. A bola ainda pegou em Tagliafico, antes de ser espalmada. Aos 27 minutos, enfim um bom passe de Messi. Dominou na entrada da área e encontrou Di María. O chute do jogador da Juventus, porém, foi fraco demais.

A Argentina seguiu desesperada. Poucas vezes teve frieza para tomar a decisão certa e criar uma chance clara. A maioria dos lances perigosos surgia de cruzamentos para a boca do gol. Aos 39 minutos, Di María centrou à segunda trave e encontrou Messi livre. Cabeçada fraca, nas mãos de Al-Owais. Em outro levantamento, Otamendi dividiu com o goleiro, e Álvarez pegou a sobra. Al-Amri salvou em cima da linha, mas houve falta no lance.

O árbitro deu oito minutos de acréscimo. Um choque feio entre o goleiro Al-Owais e Al-Shahrani, porém, causou uma longa paralisação – e gerou preocupação. O lateral esquerdo pareceu desacordado em um primeiro momento, mas estava consciente quando deixou o gramado de maca. A partida seguiu até mais de 14 minutos de tempo extra, e nem isso serviu para a Argentina criar alguma coisa. Um cruzamento de Di María que encontrou Álvarez livre pelo alto foi o melhor que saiu. Outra cabeçada fraca, nas mãos seguras de Al-Owais e uma vitória histórica da Arábia Saudita.

Ficha técnica

Argentina 1 x 2 Arábia Saudita

Local: Estádio Nacional de Lusail, em Lusail
Árbitro: Slavko Vincic (Eslovênia)
Gols: Lionel Messi (Argentina); Saleh Al-Shehri e Salem Al-Dawsari (Arábia Saudita)
Cartões amarelos: Abdulelah Al Malki, Salem Al-Dawsari, Saúde Abdulhamid, Nawaf Al-Abed, Mohamed Al-Owais (Arábia Saudita)

Argentina: Emiliano Martínez; Nahuel Molina, Cristian Romero (Lisandro Martínez), Nicolás Otamendi e Nicolás Tagliafico (Marcos Acuña); Rodrigo de Paul, Leandro Paredes (Enzo Fernández), Papu Gómez (Julian Álvarez) e Ángel Di María; Lionel Messi e Lautaro Martínez. Técnico: Lionel Scaloni.

Arábia Saudita: Mohammed Al-Owais; Saud Abdulhamid, Hassan Al Tambakti, Ali Al-Boleahi e Yasir Al-Shahrani (Mohammed Al-Burayk); Abdulelah Al Malki, Firas Al-Buraikan (Mohamed Asiri), Salman Al-Faraj (Nawaf Al-Abed) (Abdulelah Al-Amri), Mohamed Kanno e Salem Al-Dawsari; Salel Al-Shehri (Sułtan Al-Ghannam). Técnico: Hervé Renard

https://www.youtube.com/watch?v=He1SRQ8CfOs

Foto de Bruno Bonsanti

Bruno Bonsanti

Como todo aluno da Cásper Líbero que se preze, passou por Rádio Gazeta, Gazeta Esportiva e Portal Terra antes de aterrissar no site que sempre gostou de ler (acredite, ele está falando da Trivela). Acredita que o futebol tem uma capacidade única de causar alegria e tristeza nas mesmas proporções, o que sempre sentiu na pele com os times para os quais torce.
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